quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Como todos os anos



Entre sons de música e barulho de foguetes, chegam notícias de que do outro lado do mundo há já algumas horas que se está no ano 2010. O que se sabe até agora é que nada mudou por causa disso. Não é o virar das folhas do calendário que faz avançar a História, mas sim a força motriz e a marcha dos seres humanos... mas isso já se sabia.

Mais uma vez, um bom 2010!


Adenda: Ainda bem que uma década é menos importante do que um século e muito menos do que um milénio. Mesmo assim é algo irritante ver e ouvir alguns fazendo “balanços” da década... que só vai terminar exactamente quando acabar o ano 2010 que agora começa. Não se aprendeu nada com as discussões sobre a tão equivocada festança da entrada no Século XXI, feita também com um ano de antecedência, no início do ano 2000.

Adeus 2009! Já vais tarde!



Não sou dos que festejam o fim de um ano e o começo de outro. Não vejo motivos para festa. Deste ano que acaba, guardarei um punhado de coisas boas. Para além dessas poucas coisas boas o que é evidente para muitos milhares de portugueses, na hora da despedida a 2009, é que foi um ano miserável.

No adeus, só tenho para lhe oferecer três badaladas e um balde de cal.

...mas mesmo assim... brindemos a um novo e melhor ano!






quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Uma amizade com futuro



“Mandaste a minha solidão embora
Iluminaste o pavilhão da aurora
Com o teu passo inseguro
E o paraíso no teu olhar”
(Jorge Palma)

Capango minha amiga e camarada



Capango era uma jovem mãe trabalhadora angolana. De uma aldeia perdida no sul de Angola, Mpupa, nas margens do Cuito. Como se não bastasse o trabalho duro na lavra, a guerra marcava o dia a dia de Capango.

Manuel Branco era um também jovem enfermeiro do exército colonial. Era um poeta. Gastava tantos medicamentos com os seus camaradas de armas como com os misteriosos e inesgotáveis “primos” de Capango e dos outros habitantes da aldeia... que constantemente se magoavam... e que ninguém via.

Abril já se insinuava pé ante pé nas cabeças e nos corações dos jovens oficiais portugueses, mas faltava ainda algum tempo para amadurecer.

O Manuel Branco – já disse que era um poeta? – que não vejo há tempo demais, escreveu um poema dedicado a esta sua “inimiga” e, no fundo, a toda a gente da aldeia. Gente doce e mansa! Eu sei, pois vi-os a quase todos, anos mais tarde, numa visita arrepiante. Quase todos. Faltou ela! Estava a trabalhar longe, na lavra... mas estava viva e soubemos que era feliz com a sua lavra, a sua filharada, o seu homem.

Quando agora tropecei nesta fotografia de outra “Capango” lembrei-me da música que fiz e gravei, para o poema que o poeta Manuel Branco fez para a sua Capango de há quase quarenta anos. A canção já tem mais de trinta... mas agora aprendeu a fazer-se ouvir nesta coisa maluca da internet.

Desculpem o descaramento, mas hoje canto eu.



Capango
(Manuel Branco/Samuel)

Capango minha amiga e companheira
Na margem do cuito à margem da vida
Esperando tanto, parecia a vida inteira
Na margem do cuito, à margem da vida

A tua terra era o fim do mundo
O teu quimbo ocupado pelo medo
E eu a dizer-te é muito grande o mundo
E a vida vai começar um dia cedo.

Capango minha amiga e camarada
Na margem do cuito, à margem da vida
Esperando tanto lutaste desarmada
Na margem do cuito, já perto da vida

Mas a luta do Povo chegou longe
Ao capim de revolta incendiado
E um poeta junto do seu Povo
Escreve a história do sangue revoltado

E o capim agora cresce milho
E o arado é a arma do futuro
A tua terra é tua e do teu filho
É o sulco que abres no chão duro.

Capango minha amiga e camarada
Na margem do cuito já perto da vida
Lutando tanto finalmente armada
À margem do cuito já chegou a vida.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Prémio Clube Literário do Porto



O facto de José Rodrigues dos Santos ter já vendido mais de um milhão de livros do conjunto da sua obra e isto sem que eu alguma vez tenha lido uma página que fosse, quer dizer pelo menos duas coisas: (i) José Rodrigues dos Santos tem um grande talento para vender o seu peixe; (ii) A minha capacidade de esquiva é assinalável.

Entre os seus leitores (e pelos vistos, grandes apreciadores) estão os membros do júri que atribuiu o mais recente Prémio Clube Literário do Porto, no valor de 25 mil euros. Entre os galardoados com o mesmo prémio em anos anteriores, encontramos os nomes de Mário Cláudio, Batista Bastos, António Lobo Antunes... e Miguel Sousa Tavares, o que deve querer dizer que o Júri não é sempre o mesmo... ou então não sei!...

Sei é que o prémio lhe foi atribuído para «galardoar o autor que mais criatividade teve no domínio da ficção».

Sei também que dois dos seus mais directos concorrentes e candidatos ao mesmo prémio de criatividade no domínio da ficção, Vítor Constâncio e Teixeira dos Santos, ficaram verdadeiramente desolados. Sócrates, esse faz de conta que nem concorria... mas na verdade está de cabeça perdida.

Com a melhor das intenções



Aqueles que se dedicam a discutir o espírito democrático ou a capacidade de dialogo do Primeiro Ministro José Sócrates, por comparação com quase todas as outras figuras públicas, laboram num erro de dimensões bíblicas. É como discutir a arte de melhor cantar, tendo como termos de comparação Frank Sinatra e Zé Cabra, ou da melhor arte da representação, discutida entre Eunice Muñoz e Rita Pereira.

Sócrates deve ter umas tantas células predispostas para o diálogo e para o debate franco de ideias... mas estão certamente bem escondidas, bem lá no fundo de si, atrás de uns músculos que raramente se mexem. Como se não bastasse um exemplar, o Senhor Presidente do Conselho fez-se rodear de colaboradores que replicam quase na perfeição as suas inefáveis qualidades.

Claro que como todas as personalidades vazias de real talento, toda esta gente necessita como do ar que respira, da constante e ruidosa publicitação dos seus passos. Para isso têm que estar diariamente nas primeiras páginas dos jornais e nas aberturas dos telejornais, vendendo a sua banha da cobra.

Aqui é que a porca torce o rabo! Para gente com passados tão mirabolantes, seja academicamente, seja politicamente, etc., etc. (infelizmente), até chegar às porcarias dos dinheiros e outras nojices aparentadas, uma grande proximidade com os jornais pode ser um perigoso pau de dois bicos. A mesma revista que numa semana os cobre de “glamour” e respeitabilidade, na semana seguinte está a contar a estória do andar de luxo do Parque das Nações posto no nome de uma tia aposentada e com Alzheimer desde 1980, da rocambolesca explicação para o novo Audi A8, alegadamente pago com um ordenado que só chegaria para um VW Golf, caixas de robalos a dar com um pau... e de repente estamos atascados em notícias esquizofrénicas em que se misturam desordenadamente actos solenes com sucateiros de Ovar, leis da República com diplomas universitários “nublados”, defesa do ambiente com “freeportes” e abates de sobreiros a pedido, Economia Nacional com agiotagem e roubo, escutas telefónicas com "espionagem pulhítica" (obrigado Carlos Acabado!), etc., etc., etc... ad nausea.

Sendo assim, mesmo sem ninguém me ter pedido nada, ofereço a Sua Excelência o Presidente do Conselho (e aos seus colaboradores, familiares e amigos mais chegados) um modesto contributo para a criação de uma “divisa” que poderá começar a usar nas suas relações oficiais e privadas com a comunicação social em geral e (alguns) jornalistas em particular:

“Faz o que eu digo... não digas o que eu faço!”

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Irreparável!



Duas das figuras mais proeminentes na política portuguesa actual são produtos do velho PPD. Detestam-se. O mais velho, entretanto, fez de conta que deixou o partido e é presidente de todos os portugueses. O mais novo faz de conta que se tornou “socialista-democrático-popular-moderno” e é primeiro ministro.

Não há muitas palavras que possam definir o asco provocado pelo espectáculo hipócrita e interesseiro que estes dois indivíduos têm actualmente em cena. Enquanto vão “cometendo” declarações pias sobres as suas boas intenções e projectos para o bem do país, gastam noventa e nove por cento das suas energias engendrando esquemas intriguistas. Um, para beneficiar o PPD e garantir a sua reeleição, o outro para se vitimizar, chantagear toda a gente com o fito de continuar a governar como se tivesse maioria absoluta e, no limite, provocar mesmo uma crise política que leve a eleições... desde que as ache lucrativas para si próprio. Os dois conseguem fazer tudo isto, enchendo a boca com a saída da crise, o investimento, a criação de postos de trabalho, o progresso e claro... o bem do povo. Está-lhes na massa do sangue. São mentirosos compulsivos.

Do lado de Belém, as novidades são poucas. O homem não dá mais do que aquilo!... Já nas hostes socratinas estão constantemente a chegar-se à frente novos peões. Os mais recentes são estes três: Francisco Assis, de quem já quase tínhamos esquecido a algo tresloucada energia que o impele a dizer “coisas”, Ricardo Rodrigues, detentor de um passado "que lá ele é que sabe”, mas que curiosamente será o paladino do PS no que respeita à luta contra a corrupção... e Sérgio Sousa Pinto, esse extraordinário ex jovem, ex esperança do PS com ar de gerente de agência funerária que, recentemente, a propósito duma declaração que não passou de uma esquiva de Cavaco Silva para não ter que falar do casamento entre pessoas do mesmo sexo, produziu a declaração pública mais idiota dos últimos anos. Todos foram publicamente elogiados e afagados pelo dono, há dias (em privado deu-lhes biscoitos da Pedigree Pal).

Enquanto uma grande parte dos portugueses não fizer algo mais concreto do que queixar-se, depois de votar neles, estes serão os políticos que continuarão a chegar ao poder em Portugal.

Quando esta estirpe de gentinha for varrida da superfície da nossa cena política a perda será “irreparável”! Quero dizer, ninguém se dará sequer ao trabalho de reparar nisso...

domingo, 27 de dezembro de 2009

Bento XVI – Missa do Galo



O senhor Ratzinger, também conhecido por Papa Bento XVI, foi derrubado por uma maluca quando se preparava para celebrar a Missa do Galo na Basílica de São Pedro.

Segundo as notícias, já no ano passado a mesma maluca tinha tentado derrubar o Papa exactamente nas mesmas circunstâncias... o que me leva a considerar que, pelo menos por esta vez, o nome da missa está muito bem achado. Realmente, ser atacado duas vezes pela mesma maluca, na mesma missa, na mesma Basílica, no mesmo dia, em dois anos consecutivos... é um "grande galo"!

sábado, 26 de dezembro de 2009

Ainda os presentes de Natal



Imagem de um tempo em que este miserável traste era ainda simplesmente um actor de décima categoria... e arruinava apenas a saúde dos amigos mais chegados com estes presentes de Natal tão bem escolhidos, personalizados e criativos.

A verdade do casamento





Segundo o senhor José Policarpo, Dom e Cardeal Patriarca, para os católicos, “a Igreja quer salvar a verdade do casamento”. Como é perfeitamente fútil ficar para aqui a divagar sobre o que raio entenderá a Igreja Católica sobre a “verdade”, nomeadamente a do casamento, presumo que isto seja mais uma indirecta para atacar a possibilidade de alguns cidadãos e cidadãs poderem casar civilmente. Podem morrer pelo país, se for necessário, podem pagar impostos, alguns dos quais o Estado entrega à Igreja... mas não podem casar. Adiante...

Claro que uma boa parte dos gays e lésbicas, ou por grande sorte na vida, ou por talento artístico, ou simplesmente por grande coragem pessoal, há muito mandaram passear os “policarpos” deste mundo, assumindo publicamente a sua liberdade individual, contra ventos e marés.

Mesmo assim, o senhor Policarpo e a sua Igreja, na falta evidente de poder divino que possam exibir, optam, como há séculos, por exercer sem pestanejar o seu ainda grande poder terreno, o único que têm e tiveram desde sempre.

A existir alguma réstia de boa fé na mente dos “policarpos”, devem pensar que “defender a verdade do casamento” é empurrar os menos corajosos para “casamentos” do género “Nelo”, em que há sempre uma “Idália” disposta a fazer de esposa (por vezes, até de mãe) e acabar como assunto para rábulas do Herman José. Conhecemos centenas e centenas destes “nelos” casadíssimos pela Igreja. Como disse, estes são os menos corajosos, cheios de dúvidas, ou muito pouco cultos... pois os mais espertalhaços descobriram desde muito cedo que a única saída era tornarem-se padres!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Verónica Ferriani – “Desse fruto”



Esta jovem brasileira está ainda no princípio da sua carreira. Chama-se Verónica Ferriani e vem cantar-nos uma canção de Edvaldo Santana, tambem este a merecer uma visita atenta. Desejo que tenha uma carreira longa e feliz... e que vá, de vez em quando, cantando mais cantigas como esta (enquanto for preciso).

Coloco-a aqui no ar, neste dia de Natal, exactamente por isso, porque é preciso e porque é Natal.

Bom dia 25 de Dezembro!


Desse fruto
(Edvaldo Santana)

Tem gente por aí vivendo que nem bicho
Foçando comida na lata do lixo
Irmã gémea da loucura
Dos gritos na noite escura
É gente dormindo debaixo do viaduto
E comendo a parte mais podre do fruto
É gente que nem parece que é gente
Mas que a gente sabe que é gente

Também tem gente por aí vivendo que nem gente
Guardando o seu ouro a unha e dente
Trancando as portas sem saber que na rua
Sangra exposta a ferida sua
É gente engordando por cima do fruto
E atirando a parte mais podre no lixo
No lixo
É gente que até parece que é gente
Mas que a gente sabe que é bicho


“Desse fruto” – Verónica Ferriani
(Edvaldo Santana)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Memórias



Dizem os muito antigos que no tempo dos seus antepassados os deuses africanos juntavam-se em clareiras para discutir o futuro das florestas, dos animais e dos humanos. Era um tempo de águas cristalinas, matas insondáveis, bichos e homens livres... e um futuro sem fim. Ficavam durante dias, trocando estórias e encantamentos, bebendo infusões de ervas mágicas feitas em grandes bules fumegantes. Depois, despediam-se até ao encontro seguinte e disfarçavam os bules de fantásticos imbondeiros, para que ninguém os levasse...

De toda essa magia já só há memória.

CIMPOR - Brasil, Angola... e confissões





Nesta estória da OPA de uma multinacional brasileira sobre a “nossa” CIMPOR, devo confessar que preferiria a permanência da grande cimenteira nacional em mãos portuguesas... mas claro que sou suspeito, pois devo confessar igualmente, que o que preferiria mesmo, independentemente das “mãos” privadas, brasileiras ou não, que venham a apoderar-se de mais uma empresa de importância estratégica para o país, seria ver a CIMPOR nas mãos do Estado, a servir realmente os interesses da nossa economia e essa economia de facto ao serviço de todos os portugueses.

Não podendo ser (pelo menos para já), devo confessar (para acabar as confissões) que antes assim! Afinal é menos uma empresa que vai parar ao pecúlio da inexplicável Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, cujos fundos de milhares de milhões para comprar meio mundo parecem inesgotáveis.

Aliás, depois de um trabalho jornalístico que li há uns dias, sobre os novos ricos e novas ricas de Angola, as suas taras consumistas, as suas jóias personalizadas, as suas vindas a Lisboa em aviões fretados, expressamente para fazer compras ou ir ao cabeleireiro, as dezenas de festas e casamentos de funcionários secundários do Estado angolano, com centenas e centenas de convidados, muitos dos quais vestidos por estilistas portugueses que lá se deslocam propositadamente para que tudo corra bem e garantir que (t’arrenego!!!) nenhum vestido se repita (um deles, por exemplo, gabava-se de só numa dessas festanças, ter mais de trinta vestidos a muitos milhares de euros cada)... depois de ler esse trabalho jornalístico, como dizia, e vendo o abismo obsceno que em Angola, um país atascado em riquezas naturais, mas que mesmo assim “precisa” da solidariedade internacional para cuidar do seu povo, separa o nível de vida desse povo e o desta classe emergente de verdadeiros “criminosos sociais”, lembro-me de um trocadilho carregado de humor negro, já com muitos anos, mas que serve aqui como uma luva:

“Quanto mais o dólar sobe, mais o Bangladesh!”

É só trocar os nomes... estraga o trocadilho, mas não muda a realidade.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Aquecimento global, Hugo Chavez... e eu



Voltando às alterações climáticas e sendo-me impossível bater a magnífica frase do Presidente Hugo Chavez, quando diz que “Se o clima fosse um banco, já teria sido salvo pelos países ricos”, contribuo com esta fotografia, mais uma prova “irrefutável” do tão discutido “aquecimento global”.

A fotografia foi encontrada (e descaradamente surripiada) no “O homem das tabernas”, blog que tive o gosto de encontrar faz muito pouco tempo. Como se não bastasse, ainda tomei a liberdade de a ampliar e “actualizar”...

A garotada...



Mais de 24 horas depois da acidental interrupção no meu contacto com este blogue, provocada por uma mudança de fornecedor de internet, gostaria de estar bastante mais bem disposto. Mas como, se uma tão grande parte do que mudou, foi para pior?

Como suportar esta indigente e irresponsável escalada de tensão institucional entre um Presidente, que não consegue dominar a sua vontade de estar com o PPD, mesmo que isso o ponha à beira de comprometer a reeleição, contra um Governo e um PS que não encontram melhor antídoto para a maioria relativa que obtiveram nas eleições do que este crescendo vingativo de vitimização, agressividade e chantagem, bastante ajudados por elementos seus no Parlamento, todos à procura de um pretexto de novas eleições?

De que valem os lúcidos reparos de alguns, que vão no sentido da denúncia destes óbvios propósitos e de chamar uns e outros para a realidade que o país enfrenta, se, tal como as bestas a quem puseram antolhos, eles já só conseguem ver o caminho que traçaram, mesmo que isso faça todo o país andar à nora?

Como não pensar que, por vezes, este tipo de “luta política” mais parece uma birra? Como não pensar, tantas vezes, que parece estarmos a ser governados por garotos?

domingo, 20 de dezembro de 2009

Alfredo Zitarrosa - "Eu sei quem sou"



Alfredo Zitarrosa foi um grande cantautor do Uruguai (1936-1989). Não viveu muitos anos, mas enquanto viveu, fê-lo intensamente. Foi um insuperável intérprete de “milongas” e outras armas directamente apontadas aos corações e à inteligência.

Alfredo Zitarrosa é um artista incontornável... mas como uma das especialidades do nosso país é, tantas vezes, contornar o que se diz incontornável... praticamente não o conhecemos.

Permitam-me que partilhe convosco este canto de um cortador de cana de açúcar. Bom domingo!


“Cana de açúcar, cana de açúcar,
porque não adoças o canavial?
Amargo mar.

Machete irmão, ao amanhecer
Sairei cedo para o canavial.
Eu sei quem sou.

E se não voltar, cana de açúcar,
machete na mão eu sei onde ir.
Olha que sim.”


Yo Sé Quien Soy
(Eliseu Porta / Alfredo Zitarrosa)

Caña de azúcar, caña de azúcar,

¿por qué no endulzas el cañaveral?

Amargo mar.



Las hojas secas, las hojas secas,

Las hojas secas del cañaveral

Ardiendo están.



Machete hermano, las cañas negras,

Las cañas negras tendrás que voltear.

Hay que cortar.



Todo picado, negro y barcino

Sudando a chorros como un animal.

Yo sé quién soy.



Me cae la sombra desde el sombrero,

Me cae la sombra como un antifaz.

Yo sé quién soy.



Ay, los riñones que se me parten,

Que se me parten por menos de un real.

Hay que cortar.



Caña de azúcar, caña de azúcar,

¿por qué no endulzas el cañaveral?

Amargo mar.



Machete hermano, mañana al alba

Saldré temprano hacia el cañaveral.

Yo sé quién soy.



Y si no vuelvo, caña de azúcar,

Machete en mano yo sé dónde ir.

Mirá que sí.

"Yo se quien soy" - Alfredo Zitarrosa
(Eliseu Salvador Porta/Alfredo Zitarrosa)


sábado, 19 de dezembro de 2009

Carlos Peixoto – Quem quer casar com a carochinha?...



Calculo que muitos de vocês nunca tenham ouvido falar deste advogado e agora deputado do PPD pelo distrito da Guarda, Carlos Peixoto. Assunto arrumado! O homem resolveu dar sinal de vida... embora da pior maneira. Em entrevista, afirmou que a existir uma lei que permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, “isso abre a porta a casamentos entre pais e filhos, entre primos direitos e irmãos.” Poderia ter continuado com a sua lista de exemplos, mas presumo que estaria já a ficar ofegante... tal terá sido a excitação sexual.

Esta descoberta genial deve ter sido bastante inspirada por anos de convivência com as ideias do seu Bispo, o senhor Manuel Rocha Felício que, num verdadeiro “flash” de clarividência, comentando esta entrevista do jovem deputado, disse que «tem alguma razão, embora a comparação que faz não tenha razão de ser». Perfeitamente lógico, não é?

Embora considere estas declarações simples terrorismo moral, eu, tal como Carlos Peixoto e o seu Bispo Dom-não-sei-das-quantas, também acho que quando as leis “abrem portas”, pode sempre dar-se o caso de entrarem inadvertidamente por essas “portas” coisas erradas, perigosas e até aberrantes!

Em todo o caso, nunca tão erradas, perigosas e aberrantes como são o próprio deputado e o seu Bispo, que alguma lei “distraída” deixou entrar... um para a Assembleia da República e o outro para a Igreja Católica.

Lula da Silva – Coisa do futuro!



Fosse eu brasileiro... e hoje estaria orgulhoso do meu Presidente! Luís Inácio Lula da Silva esteve inspirado. Falou sem papas na língua, pôs o dedo nas feridas certas, não precisou de dizer “merda” para ser aplaudido por aqueles que o entenderam realmente entre aquela multidão de presidentes, primeiros ministros outras “altas individualidades”.

Segundo ele, seja qual for o montante que os países ricos venham entregar aos países ainda em vias de desenvolvimento e aos ainda mais atrasados nessa corrida, isso "não poderá nunca ser considerado um favor ou esmola, mas sim o justo pagamento por décadas de industrialização poluente de que esses países ricos beneficiaram", quantas vezes às custas da miséria de alguns dos povos que agora se propõem ajudar.

Segundo ele, "garantir o café da manhã, almoço e jantar para cada cidadão, é uma coisa do passado para os países mais desenvolvidos, enquanto para a América Latina, África e alguns países asiáticos, é ainda uma coisa do futuro".

Segundo ele, para meia dúzia de grandes figuras mundiais acabarem a assinar não importa o quê, apenas para mascarar o fiasco, mais vale não assinar nada e partir para uma nova cimeira, onde (esperemos) compareçam mais negociadores que negociantes.

Como disse, fosse eu brasileiro... e hoje estaria (mais uma vez) orgulhoso do meu Presidente!

Exactamente ao contrário dos “obamamaníacos” que, novamente, esperavam aquilo que classificaram como o discurso mais importante e aguardado da cimeira e afinal tiveram aquilo que vai já sendo um padrão. Um discurso formalmente perfeito, dito de forma “ungida”, como se fosse feito de verdades reveladas... e com aquele “efeito-nariz-emproado” que parece agradar a alguns... mas sem nada que se pareça com acções concretas para apoiar as palavras. Tal como outros dos seus discursos, uma espécie de luxuoso bolo de noiva, com uma belíssima e doce cobertura, mas por dentro... feito de esferovite.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Haminatu Haidar



Independentemente do que venha a ser o futuro desta mulher determinada e da luta do seu povo, chegou ao fim o grande sobressalto na “ordem natural das coisas” que foi esta greve de fome de um mês. Foi uma luta totalmente pacífica, tanto por parte da grevista, como dos seus muitos apoiantes.

Chamo-lhe sobressalto na “ordem natural das coisas” porque a classe política, da mais democrata até à mais autoritária, não está habituada a ser confrontada desta maneira. Normalmente há grande gritaria, aqui e ali um excesso, acolá uma explosão de violência... que justificam os contra-ataques, avanços e recuos dos intervenientes no conflito. Esta maneira serena, pacífica e determinada de enfrentar uma injustiça deixa os injustos completamente expostos, desmascarados, injustificáveis.

Foi apenas uma batalha da “guerra” que há-de conduzir à autodeterminação do Sahara Ocidental, hoje ainda ilegal e criminosamente anexado por Marrocos, mas foi ganha de uma forma inspiradora.Foi uma bela vitória do povo sarauí!

No percurso desta batalha de um mês, fica o exemplo daqueles que desde há muito estão com a causa deste povo e dos seus representantes, nomeadamente a Frente Polisário. Esses (e não só, há que ser justo!) souberam durante estes dias tomar atitudes públicas e solidárias.

No percurso desta batalha de um mês, fica também, como se de um rasto de esterco se tratasse, a cobardia política de muitos, para quem há sempre outros “interesses” que se sobrepõe à justiça e o asco de tantos comentários insultuosos, racistas e jocosos, que todo este caso deixou espalhados aqui e ali, na comunicação social e pelas caixas de comentários de alguns blogues.

A mesma cartilha, a mesma cassete



Quem veja apenas os títulos, como acontece com uma grande parte dos “leitores” dos jornais estendidos nas bancas ou mesas de café, não pode deixar de ficar impressionado com um cabeçalho que diga em grandes parangonas “Os Economistas”... seguido de dizem isto, ou exigem aquilo, ou aconselham aqueloutro. Depois, no texto da notícia, até se poderá ver que afinal não são “Os Economistas”, mas sim apenas alguns, ainda por cima quase todos da mesma área política e pensamento único... mas já é tarde. Para grande parte das pessoas o que quer que seja que esteja escrito naquele título é a posição “Dos Economistas”.

Por vezes ainda caio na esparrela e vou ver, não se trate realmente de algum encontro de economistas e gestores das várias áreas e sensibilidades políticas que se tenham encontrado para discutir abertamente e sem preconceitos as políticas que trouxeram o nosso país até este buraco... Questionar, sei lá... o capitalismo? Estúpido!!!...

Aconteceu agora, mais uma vez, quando percebi que “Os Economistas” que vieram “aconselhar” cortes radicais e mesmo congelamento durante anos, da despesa pública, congelamento, também durante anos, dos salários da Função Pública, tudo coisas que já todos fizeram e com os resultados miseráveis que se conhecem, afinal não passavam de promotores de um "forum-das-não-sei-quantas" de que os cabecilhas que desfilaram para as câmaras de televisão debitando a sua “cassete”, eram nada mais nada menos do que João Salgueiro, ex Min. das Finanças do PPD, Catroga, ex Min. das Finanças do PPD, João Ferreira do Amaral, ex assessor da Casa Civil dos Presidentes Soares e Sampaio, o incontrolável chuveiro de perdigotos Mira Amaral, ex ministro disto e daquilo de Cavaco Silva e o ultra reaccionário e sempre muito enfastiado dirigente histórico da CIP, Ferraz da Costa.

Belo friso de figurões, hein? ...e bela comunicação social!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Copenhaga – O “negócio” da Natureza



A chuva lavou tudo. A luz, o ar, as ruas. Levou parte do frio, levou quase todas as folhas das árvores, que estão agora no chão, pintando tudo de uma cor lindíssima e indefinível...

A Natureza a mostrar que muda de aspecto e estado de humor como quer, exactamente quando quer. Sempre de forma esplendorosa! Mesmo quando ferida. Mesmo quando perde a cabeça e se manifesta, poderosa e irresistível, nas catástrofes.

A Natureza mostrando todos os dias a pequenez daqueles que tentam “negociá-la”, mas que não conseguem ver para além dos seus próprios, egoístas e mesquinhos interesses.

E que isto não se repita!!!





Já antes, pelo menos aqui e também aqui, partilhei um pouco do que penso sobre essa aberração que dá pelo nome de Tzipi Livni, dirigente de um dos partidos políticos de Israel, hoje na oposição, ex agente da Mossad, ex ministra dos negócios estrangeiros, etc., etc.

Por estes dias, passou por um pequeno “sobressalto”. Uma organização pró-Palestina, no Reino Unido, apresentou queixa contra ela, por crimes de guerra praticados na tristemente famosa última grande ofensiva de Israel sobre a Faixa de Gaza, em que muitas centenas de civis foram vítimas do que foi justamente classificado como uma chacina. Obedecendo às leis vigentes, a justiça britânica foi obrigada a emitir um mandado de captura contra a criminosa de guerra, a fim de ser posteriormente levada a tribunal e julgada.

Segundo a notícia, Tzipi Livni teve que cancelar uma viagem a Londres, para evitar ser presa e logo a seguir o mandado de captura foi revogado. A própria criminosa reagiu violentamente, afirmando entre outras coisas, que quem devia ir a julgamento seria a justiça britânica. O primeiro ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, entrou na gritaria, garantindo que Israel não admite isto, nem aquilo, nem aqueloutro... o costume.

Entretanto, o pobre ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Milliband, veio, ofegante, anunciar que o seu Governo vai examinar possíveis "alterações ao sistema judicial" para evitar que o caso se repita.

Depois, imagino eu, voltou a pôr a calças para cima… e foi à sua vida.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Cuidar dos sonhos



Aqueles que um dia sonharam este templo no cimo de uma montanha e depois o ergueram, pondo o seu esforço e o seu amor em cada pedra, em cada um dos seus frescos e decorações, nunca imaginaram que ele chegasse a este estado decrépito.

Quer isto dizer que os sonhos, mesmo quando se realizam, não se mantêm por milagre. Devem ser cuidados, alimentados e, se preciso for, energicamente defendidos...

Os novos “negreiros”



Belmiro de Azevedo, o milionário merceeiro do regime, incontestável cabecilha do Gang dos Hipermercados, vive tempos felizes. Sabe que conseguirá atravessar o deserto da crise sem ver os seus lucros muito beliscados, já que quem sofre principalmente com a falta de poder de compra dos portugueses é o pequeno comércio, esmagado pelos mesmos Hipermercados, pois mesmo em dificuldades, a classe média e média baixa tentam manter o seu nível de consumo, até na comida, à custa dos cartões de crédito... e depois lá resolve como pode os seus problemas com o outro Gang, o dos Bancos, que os assalta com juros que podem chegar aos 30 por cento.

Ao contrário do que seria de esperar em seres humanos dignos do nome, o facto de mais de 600.000 trabalhadores estarem no desemprego e desses, uma parte escandalosamente grande nem ter sequer acesso a subsídio de desemprego, não impressiona os nossos gangsters da venda a retalho. Para já, porque não são pessoas muito impressionáveis; depois, aqueles que estão mesmo a passar fome, são ajudados, por exemplo, pelo Banco Alimentar, que vai buscar os artigos onde? Exactamente! Aos Hipermercados, onde são pagos pelos cidadãos com emprego, praticamente “obrigados” à solidariedade; finalmente, o gigantesco desemprego não os impressiona, exactamente porque é a maior bênção dos patrões.

Um exército de pessoas desesperadas por um emprego é o sonho de qualquer patrão com o carácter miserável que estes exibem. Saberem que têm alguns milhares de “colaboradores” que vivem sob a ameaça de serem substituídos por outros tantos milhares, dispostos a aceitar seja o que for, trabalhando sem direitos, como “independentes”, ou com contratos renováveis ao mês.

Daí, sentirem-se seguros para fazer esta provocação obscena de proporem horários de trabalho que podem passar das 40, para chegarem às 60 horas semanais, horários marcados de forma aleatória, desprezando o facto de as trabalhadoras ou trabalhadores serem mulheres e homens com uma vida privada, familiar, fora do emprego. Daí, o mostrarem-se visivelmente “ofendidos” por os trabalhadores resistirem a esta provocação. Daí, o acharem tão estranha a resistência e a sugestão de uma greve, que lhe chamam “pequeno ataque de baixa qualidade!”

São os novos “negreiros” que continuam, séculos depois, a “marcar” os seus escravos, embora com outros ferros.

Defendo que quando a oportunidade se apresentar novamente na nossa História, este tipo de canalhas não deve ter uma segunda oportunidade... e não consigo censurar-me por isso.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Nem está frio nem está calor... estão zero graus!



As temperaturas desceram ainda mais um pouco. Era a cereja que faltava em cima do bolo...

Sociopatas




Em perfeita concordância com as obscenidades contra os trabalhadores e os seus sindicatos, que o patronato tem vindo a proferir nos últimos tempos, aí os temos! Contra a proposta de aumento de 25 euros no salário mínimo para o próximo ano, os patrões contra propõem apenas 10 euros de aumento.

Isto enquanto as suas prostitutas e amantes por conta (para além das “legítimas”) se passeiam de festa em festa, de spa em spa, de cirurgia plástica em cirurgia plástica, de estilista em estilista, de joalheiro em joalheiro, estoirando milhões e “gastando aos cem” muito mais do que as “bombas” milionárias em que se fazem transportar. Alguns e algumas têm mesmo a desfaçatez de brilhar à noite em galas de caridadezinha a favor dos desfavorecidos... alguns dos quais eles próprios despediram durante o dia.

Se já é difícil, por vezes, manter um diálogo sereno com os defensores do capitalismo e a sua sagrada economia de mercado, então quando alguém defende este género de capitalismo selvagem, criminoso e verdadeiramente sociopata...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

- O dia está fresquinho, amigo! - Então não havia de estar?! É d’hoje!...


As nódoas



Os grandes trastes têm sempre a sua corte de defensores. Na Itália, um país que a não se pôr a pau, está novamente a caminho do fascismo, o facto de Berlusconi fazer aprovar leis que apenas têm a finalidade de o livrarem da prisão, apesar de serem cada vez mais nítidas as suas ligações ao crime organizado, apesar de a sua vida, que já nada tem de privado, ser um lodaçal povoado por prostitutas pagas em repetidas orgias, com as quais corrompe outros políticos e empresários, tudo isso, ao contrário de provocar o asco generalizado da sociedade italiana, parece antes aumentar a sua popularidade, pelo menos entre os milhões de “grunhos latinos” que pensam serem essas as qualidades mais aconselháveis ao seu ideal de “homem”.

Claro que há muitos milhares de italianos e italianas que protestam, nomeadamente em grandes manifestações de rua, enquanto outros o fazem de forma mais desesperada, pelo menos a ver pelo exemplo deste jovem, certamente não Bocage, mas decididamente nada pachorrento, que resolveu, num evidente excesso de “linguagem”, remodelar a cara do “cavalieri” (o que, evidentemente, não é uma maneira legítima de resolver as coisas!)... mas isso não altera o aberrante facto de ele continuar a ter grande apoio no país.

Por cá, os nossos trastes também têm o seu séquito de seguidores, qualidade que alguns acumulam com o posto de cães de guarda. Basta dar uma volta pela blogoesfera e jornais online, nas secções de comentários, para apreciar o labor incansável de hordas de “anónimos”, de serviço aos motores de busca de palavras como “Sócrates”, “PS”, “Armando Vara”, “Face Oculta”, “Freeport”, para nomear apenas aqueles que têm estado na moda ultimamente, e ver como pessoas que certamente, fora das caixas de comentários e sem a capa do anonimato seriam incapazes, por educação ou cagaço, de dizer ou escrever um décimo do que dizem e escrevem, insultam tudo e todos, nem se dando já ao trabalho de argumentar coisa alguma ou defender os seus “protegidos”. Limitam-se ao terrorismo verbal que todos conhecemos.

Uns e outros, salvando as devidas distâncias e possíveis nuances, lembram-me as capas negras que os antigos estudantes fascistas de Coimbra cobriam de nódoas, arrojando-as no chão para que Salazar lhes passasse por cima.

Desgraçadamente, não conseguem sequer ser as capas... ficam-se tristemente por ser as nódoas!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Beatrice Mason – “Mosaico”


(Imagem retirada da página web de Beatrice Mason)

A previsibilidade é um conceito sobreavaliado. Se bem que nas instituições, na macroeconomia, nas questões de Estado... até na meteorologia, a previsibilidade seja uma coisa positiva, na vida do dia a dia pode ser um grande tédio. Resumindo, gosto de quando em vez, de ser surpreendido. Como com esta “estória” que se segue.

A jovem artista brasileira Beatrice Mason, a estrear um disco, enviou-me um mail, depois de ter encontrado o “Cantigueiro” acidentalmente, numa pesquisa na internet. Animada pelo meu alegado bom gosto musical revelado no blog, decidiu partilhar comigo esse seu trabalho de estreia, esperando apenas que eu gostasse.

Quando alguém nos bate à porta com tal delicadeza, o mínimo que se deve fazer é retribuir o gesto, o que neste caso é bastante facilitado pelo facto de eu ter realmente gostado...

Como poderão ver e ouvir, se visitarem o site da artista (um pouco lento a abrir), Beatrice Mason é uma dessas vozes frescas e limpas, que não precisam de “enganar” o ouvinte com fogos de artifício e toneladas de efeitos especiais, antes privilegiando a clareza da mensagem que querem passar. É uma jovem cantora com uma sólida formação musical e um assinalável bom gosto para escolher quem a rodeia musicalmente. Assim se explica o facto de ter escolhido o produtor de Roberta Sá para produzir este seu “Mosaico”. Assim se explica a escolha de gente que está a fazer muito boa música na nova cena brasileira, para seus companheiros de viagem. O resultado é um belo "objecto" musical.

Se, ou quando o “Mosaico” da Beatrice chegar cá... é de ouvir! Se ela própria vier... é de ir ver!
Entretanto... no vídeo que se segue, ela explica e apresenta tudo muito bem.

Bom Domingo!

Mosaico - Beatrice Mason

sábado, 12 de dezembro de 2009

Tony Blair, Bush, Aznar, Barroso - O gang da Cimeira das Lajes, ainda à solta...



O escroque e criminoso de guerra Tony Blair, que recentemente nem conseguiu juntar apoios suficientes para ser nomeado presidente (da treta) da União Europeia, cargo (da treta) criado pelo Tratado (da treta) de Lisboa, continua igual a si próprio. Numa altura em que o envolvimento do Reino Unido na invasão criminosa do Iraque é seriamente posto em causa, reage, subindo substancialmente o seu nível de arrogância, afirmando que mesmo que soubesse da não existência das tristemente famosas armas de destruição massiva, teria invado o Iraque da mesma maneira.

Primeiro, o pomposo arrogante, ainda acha que alguém pensa que ele estava convencido da existência das tais armas.

Segundo, já quase toda a gente entendeu que o que estava decidido era invadir o Iraque, independentemente do pretexto escolhido.

Terceiro, é absolutamente obsceno que este traste, em vez de, juntamente com a bestas George Bush e Aznar e o seu indigente criado Durão Barroso, ter já sido julgado, condenado e preso por crimes de guerra, ande em vez disso, a alinhar palestras umas atrás das outras e sendo pago principescamente por cada uma delas.

É que nem pensar!!! Hein?!!! Pronto... então está bem...



Sendo verdade que não tenho conhecimento suficiente do processo para achar isto ou aquilo sobre a proposta (do PSD) de autorização de endividamento extra que beneficiará a Região Autónoma da Madeira e (esperemos) o seu desenvolvimento, também é verdade que tenho olhos e ouvidos... e esses deliciaram-se com mais este capítulo da verdadeira maré de azar que se tem abatido sobre o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos.

Poucos minutos depois de o homem, em nome do governo, proclamar na Assembleia da República (talvez até um pouco alto demais) que “o país não vai continuar a pagar os desvarios da Madeira”, a mesmíssima Assembleia, com a “abertura” dos deputados do PS e, supõe-se, o acordo do Governo, aprovou a proposta!

Mais concretamente, em resultado de alterações de última hora no seu documento, por parte do PSD, nomeadamente uma forte redução dos valores em discussão, todos os restantes partidos (excepto o BE) resolveram abster-se.

Então não poderia ter havido uma alma caridosa que telefonasse ao pobre homem? Então deixa-se assim um Ministro da República fazer uma tão completa figura de... pronto, vá lá... figura triste?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sempre a aprender...






Antes do mais devo esclarecer que não sei se Armando Vara fez alguma coisa de errado... assim como não sei se alguma vez terá feito alguma coisa certa. Tanto de face oculta como de face descoberta.

De qualquer maneira, gostei muito de o “ouver”, na “grande entrevista” à Judite de Sousa, dizer que o senhor Godinho das sucatas entrou “fortuitamente” no seu gabinete do BCP... pois andava realmente era à procura da EDP pra ir falar com não sei quem...

Extraordinário! Como é que nunca me lembrei disto antes? A partir de agora, sempre que andar em Lisboa desesperado para encontrar qualquer coisa ou alguém, agarro em mim, ignoro porteiros, seguranças, alarmes, funcionários, secretárias ou secretários particulares... e vou directamente a um gabinete de um qualquer administrador do Banco Comercial Português.

Espero que não me faça pagar pela informação!

O "estado"...



Desde há muitos anos, o PS e o PPD têm governado o país numa espécie de número de alterne, ou de forças combinadas, aqui e ali apimentado por um “affair” com o CDS, que desde que seja pago para isso, vai para a cama com qualquer um dos dois.

Têm uma característica comum, entre várias outras: sempre que chegam ao poder aproveitam o chamado período de “estado de graça” para desbragadamente (antes que ele se acabe) inundar os cargos públicos e de confiança política com milhares de amigalhaços e a partir daí, durante o resto do mandato, entrar em velocidade de cruzeiro nas negociatas, nomeações, ajustes directos com empresas de amigos, concursos públicos “martelados”, obras de fachada, orçamentos derrapantes, etc., etc., etc. Ao fim de pouco tempo está assim criado um verdadeiro exército de dependentes e lacaios sempre prontos a vir cobrir de areia, ruído e propaganda, todas as borradas, ou mesmo crimes, cometidos durante o processo, enquanto vão gritando vivas ao chefe e cantando as suas inigualáveis virtudes.

Há até quem se entretenha a contar os dias de “estado de graça” de cada novo Governo. Por mim, nunca consegui distinguir claramente onde está a linha que separa o “estado de graça” do “estado de graxa”.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Valha-me Santa Tecla!!!



Realmente... apreciando a dimensão, o sorriso maroto e o teor das leituras da sua azougada namorada, quem não compreende o pobre homem?

Barack Obama – “Tá a despachar... que a minha vida não é esta!!!”



Hoje, o Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, desloca-se a Oslo, na Noruega, para receber o Prémio Nobel da Paz, recentemente atribuído às suas apregoadas boas intenções.

Não ficará por lá muitas horas. Será pouco mais do que o tempo estritamente necessário para sacar o prémio das mãos de quem lho entregar... e ala que se faz tarde!

Os noruegueses, esses dividem-se entre o sentimento de desapontamento e a ofensa, pelo facto de Obama ter cortado drasticamente o seu tempo de permanência em Oslo, o que o “obrigou”, entre outras coisas, a não participar numa conferência de imprensa, a rejeitar o convite para tomar um pequeno almoço com o Rei da Noruega e a não assistir ao “Concerto Nobel”, que é realizado em honra do laureado... ele próprio.

Não entendo de que se queixam os noruegueses!

Primeiro: O homem foi laureado com o Nobel da Paz... não o da boa educação!

Segundo: O homem tem duas guerras para gerir em dois países. Num, que os EUA invadiram e praticamente destruíram (menos o petróleo!) e outro, que está em pantanas e em estado de guerra civil, provocada e acirrada exactamente pela presença americana e seus aliados, que insistem em ali procurar o que já há muito sabem que nunca encontrarão... a não ser mais mortes.

Entretanto, um dos inevitáveis "spin doctors", neste caso o especialista em relações públicas Kjell Terje Ringdal, já justificou a atitude de Obama, sustentando que "É inteligente por parte dele, já que ele quer manter uma atitude discreta e evitar que a medalha do Nobel brilhe em demasia."

Não vale a pena preocupar-se. Já conseguiu. Não brilha!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Para todo o serviço





Esta “mulher de confiança” é uma espécie de salazarista salta-pocinhas que enquanto vai apregoando umas ideias, na realidade move-se em função de cargos e lugares na ribalta. É uma oportunista vulgar!. O cruzamento entre a finíssima origem “Avilez” com o também ultra salazarista trauliteiro Jaime Nogueira Pinto, deu esta coisa reaccionária, retorcida e invertebrada que é a “pronta-para-todo-o-serviço” Maria José Nogueira Pinto.

Na imagem, era a “mulher de confiança” do CDS. Entretanto já fez a campanha de António Costa para a CML pelo PS e, ao mesmo tempo, é deputada pelo PPD-PSD. Imagino que deve igualmente ter cartão do Benfica, Sporting e Porto e que aos Domingos frequente intercaladamente a Igreja Católica, a Luterana e um terreiro de Candomblé.

É sempre triste ver a que ponto pode descer o nível da estatura de alguns dos nossos políticos e da qualidade do trabalho realizado na nossa Assembleia da República, para desespero dos que felizmente lá estão para fazer um trabalho sério.

É sempre um espectáculo degradante ver uma dama de tão fino berço a comportar-se como uma arruaceira e, sobretudo, ver que tem ainda a ilusão de poder desfrutar de um centímetro que seja de margem de manobra para chamar “palhaço”... seja a quem for. Um asco!

Pilhas



Sócrates acaba de queimar, com a pompa que é seu timbre e que o Centro Cultural de Belém permite, uma das várias inaugurações a que a futura fábrica de baterias para automóveis eléctricos terá direito até que produza a primeira bateria. Até lá, e não será pouco tempo, ainda teremos, no mínimo dos mínimos, a inauguração da “primeira pedra” e a inauguração propriamente dita.

Não se faça confusão! Eu acho que a aposta portuguesa nas energias renováveis e mais limpas, como a eólica, a foto voltaica, etc., que inclui o futuro apoio à comercialização de carros eléctricos, é uma coisa boa. Acho que a instalação em Aveiro de uma fábrica da Renault-Nissan, onde se produzirão as tais baterias, é uma coisa boa. Acho que criar uma unidade fabril, que segundo o projecto, resultará em mais de duzentos novos postos de trabalho, num concelho martirizado pelo desemprego, é uma coisa boa.

Daí ter gostado de ver a satisfação genuína do Presidente da Câmara de Aveiro, por participar num projecto inovador e por ver instalar-se no seu concelho uma estrutura que pode dar mais solidez à fábrica da Renault já ali implantada e que, juntamente com outros projectos, poderá começar a inverter o sentido da ladeira dos números do emprego.

Já o Presidente da Câmara de Sines, Manuel Coelho (na imagem) fez-me pena, na sua não menos genuína decepção. Não sei se a ida para Sines desta fábrica da Renault-Nissan fazia parte do pacote de “convicções e ideais” com que o convenceram a abandonar de forma feia um projecto de gestão autárquica da CDU, com muitos anos e trabalho feito, para ir criar um dos costumeiros “movimentos de independentes” trânsfugas que tanto se vêem por aí. Não sei que promessas lhe fizeram e que agora saíram furadas... mas tive uma certa pena do homem.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Manuel Alegre - Rica prenda!





Sabem os deuses e sabem os responsáveis pela propaganda do PS, que o partido, o “seu governo” e José Sócrates mais que todos, precisam como de pão para a boca, de muito ruído mediático e cortinas de fumo, para afastar as atenções dos portugueses do essencial.

Estas respostas que Manuel Alegre “não consegue encontrar dentro de si”, este “nem abrir nem fechar portas”, esta súbita vontade de jantar aqui e ali, sempre seguida de muito “tabu”, muito “a mim ninguém me cala”, muito “não sou refém de ninguém”, muito faz de conta que “tem um pé dentro e outro fora do PS”... ou “deslarguem-me", senão candidato-me!, serão tudo coisas que acontecem por acaso, ou serão antes uma preciosa prenda de Natal do poeta ao seu atrapalhado partido?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tudo a seu tempo...



Hoje partilho convosco uma bela fotografia destas simpáticas e certamente aplicadas alunas da Gunston Hall Preparatory School, tirada no ano lectivo de 1904/1905.

Esta histórica escola dos EUA ficou famosa por apenas ter aulas no período da tarde. Não por qualquer razão pedagógica, ou falta de professores, mas porque era humanamente impossível ter estes extraordinários penteados prontos antes do meio dia. Digo eu, claro…

É urgente parar com isto!



O país está a ficar exausto de aberturas de telejornal e primeiras páginas de jornais atascadas em crimes, julgamentos que “não andam” e corrupção em doses gigantescas; escandalizado pelos espectáculos degradantes, dados pelos mais altos agentes da justiça e do Estado; enojado por figuras públicas que deveriam ser exemplos de cidadania; confundido com fortuitas escutas ao Primeiro Ministro, cujo maior interesse seria o de sabermos se é afinal nos telefonemas privados que ele consegue não mentir...

O país sufoca sob o cenário de lixeira a céu aberto e o cheiro nauseabundo que nos são servidos pela comunicação social, diariamente e aos gritos.

Se um pouco de humidade, sal e tempo, conseguem fazer o que a imagem mostra a uma gigantesca corrente de aço, imagine-se o que este clima de suspeição generalizada, funda e antiga, pode fazer a um país! Ainda por cima um pequeno país sem recursos capazes de, só por si, o tirarem da depressão e onde muitos milhares de cidadãos estão sempre prontos a abraçar e dar as boas vindas a um qualquer “salvador da pátria que mande a sério e ponha tudo isto na ordem”.

A História diz-nos que é exactamente para estender a passadeira a esses “salvadores da pátria” que servem estes longos e exaltados climas de paranóia carregada de chavões como “a corrupção, os desentendimentos dos políticos, a criminalidade e a insegurança, os imigrantes que tiram os empregos aos nacionais”...

É neste cenário abjecto, criado e ampliado até ao delírio que singra o fascismo.

É urgente virar a luz para o “outro” Portugal que não é nem quer ser assim... para a outra vida que é possível!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Víctor Jara – Ao fim de 36 anos



Ao fim de 36 anos confirmou-se o que já se sabia. Víctor Jara foi torturado, esmagaram-lhe as mãos, vararam-no com dezenas de balas.

Ao fim de 36 anos voltamos a lembrar o Estádio Chile cheio de trabalhadores, intelectuais, estudantes, militantes de partidos de esquerda e democratas em geral, que aos milhares ali foram encerrados, para dia após dia serem torturados e assassinados, enquanto se instalava definitivamente a ditadura militar de Augusto Pinochet, idealizada, cozinhada e levada a cabo a partir dos gabinetes da CIA e da Casa Branca.

Ao fim de 36 anos o seu país tentou sarar essa ferida, dando-lhe um funeral de Estado, acompanhado por milhares de chilenos. Não o que merecia, pois o que Víctor Jara merecia era continuar vivo, ou, a ter já morrido, que tivesse sido de morte natural, rodeado pela ternura da sua família e amigos e não vítima de assassinos.

Ao fim de 36 anos proclamou-se o que já se sabia. Víctor Jara era um homem íntegro e bom!

Manifesto

(Victor Jara)


Yo no canto por cantar

ni por tener buena voz

canto porque la guitarra

tiene sentido y razon,

tiene corazon de tierra

y alas de palomita,

es como el agua bendita

santigua glorias y penas,

aqui se encajo mi canto

como dijera Violeta

guitarra trabajadora

con olor a primavera.


Que no es guitarra de ricos

ni cosa que se parezca

mi canto es de los andamios

para alcanzar las estrellas,

que el canto tiene sentido

cuando palpita en las venas

del que morira cantando

las verdades verdaderas,

no las lisonjas fugaces

ni las famas extranjeras

sino el canto de una alondra

hasta el fondo de la tierra.


Ahi donde llega todo

y donde todo comienza

canto que ha sido valiente

siempre sera cancion nueva.

"Manifesto" - Víctor Jara

(Víctor Jara)