domingo, 24 de agosto de 2008

Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer, qualquer coisa que eu devia resolver. Porquê, não sei, mas sei que essa coisa é que é linda!




Está a tornar-se recorrente a minha afirmação de grande apreço por praticamente tudo o que José Mário Branco compõe e escreve. Mesmo assim, há nesta espécie de electrocardiograma da audição das suas canções, uns “picos” ainda mais “inquietantes” que os outros.

Inquietação

A contas com o bem que tu me fazes 

A contas com o mal por que passei 

Com tantas guerras que travei 

Já não sei fazer as pazes

São flores aos milhões entre ruínas 

Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas 

Oiro em pó que o vento espalha

Cá dentro inquietação, inquietação 

É só inquietação, inquietação 

Porquê, não sei 

Porquê, não sei 

Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer 

Qualquer coisa que eu devia perceber 

Porquê, não sei 

Porquê, não sei 

Porquê, não sei ainda

Ensinas-me a fazer tantas perguntas 

Na volta das respostas que eu trazia 

Quantas promessas eu faria 

Se as cumprisse todas juntas

Não largues esta mão no torvelinho 

Pois falta sempre pouco para chegar 

Eu não meti o barco ao mar 

Pra ficar pelo caminho

Cá dentro inqueitação, inquietação 

É só inquietação, inquietação 

Porquê, não sei 

Porquê, não sei 

Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer 

Qualquer coisa que eu devia perceber 

Porquê, não sei 

Porquê, não sei 

Porquê, não sei ainda

Cá dentro inqueitação, inquietação 

É só inquietação, inquietação 

Porquê, não sei 

Mas sei 

É que não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer 

Qualquer coisa que eu devia resolver 

Porquê, não sei 

Mas sei 

Que essa coisa é que é linda


(José Mário Branco)

"Inquietação" - J. M. Branco
(José Mário Branco)


18 comentários:

Maria disse...

Para mim é uma das melhores que ele já fez... foi cantada nos Trovadores na semana passada...
Esta inquietação ainda nos inquieta...

Abreijos

Anónimo disse...

"Ensinas-me a fazer tantas perguntas"... É isso aí... Há sempre gente mais disposta a ensinar respostas do que a ensinar a fazer perguntas...

Lúcia disse...

"Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação"
Muito bonito. E é pela inquietação que vamos, digo eu...
Grande J M Branco!
Beijos

Anónimo disse...

Pois companheiro, não há nada afazer porque:-esta coisa é mesmo linda!
abraço

Chapa disse...

Como todos os "grandes" da nossa cultura, insuficientemente valorizado nestes tempos que passam.

Justine disse...

Belíssima canção, assim daquelas que ficam uma vida inteira!
E serviu para alegrar um domingo demasiado calmo...
Abraço

Mar Arável disse...

BOM BELO

É PRECISO ESTAR INQUIETO

SEMPRE IRREVERENTE

Anónimo disse...

Boa malha...

BlueVelvet disse...

São flores aos milhões entre ruínas 

Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas 

Oiro em pó que o vento espalha

Inquietação, inquietação

Haja sempre alguém que se inquiete.
Lindo demais.
Abreijinhos

Fernando Samuel disse...

Asim como quem diz: Vamos fazer qualquer coisa de louco e de heróico...

Um abraço.

ferroadas disse...

O país está inquieto, o Povo está demasiado "quieto", é preciso desinquietá-lo.

Abraço

beta disse...

Chegar da Atalaia depois de mais um dia de construção de festa e sentir esta inquietação é uma delicia!Esta procura constante de perguntas do Zé Mário deveria alargar-se a este país sem perguntas!
Obrigado Samuel. Já agora, sabem que a inquietação deste magnifico cantor continua? Com mais de 60 anos voltou á faculdade. E é dos melhores alunos da Faculdade de Letras!! E continua a ensinar os colegas a fazerem perguntas.
Abraços

Anónimo disse...

(Porque será que só as almas tranquilas se sobressaltam?
Alguém que explique o paradoxo?)

Hilário disse...

Este é um dos trabalhos mais lindos do José Mário Branco.

vamos continuar a estar sempre inquietos.

Ana Camarra disse...

Ainda há pouco tempo fiz um texto assim também, Zé Mário Branco é especial, lê-me por dentro!

Ana Camarra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
linhadovouga disse...

Eh pá, o poema é bom. Mas não gosto do tipo, nem como cantor (canta malzito, pobre voz), nem noutros aspectos do seu percurso e da sua atitude. Às vezes tem canções giritas, mas sem mais.
Desculpa lá destoar - mas esta opinião só me compromete a mim, enquanto músico e enquanto comunista, e não a ti, nem ao teu blog, como bem sabes.
Mas - e em adenda ao que escrevi no teu último post - digo-te que me custa encontrar este tipo, e outros "cantores de intervenção oficiais" numa Fnac e não encontrar cantores de intervenção bem mais interessantes.
Um abraço

Anónimo disse...

Recordo-me e já lá vão muitos anos de um parente meu ter escrito o Campo de Flores, escreveu ainda a Cartilha Maternal; sei que não me comparo com ele, já que não era capaz de escrever o Crucifixo, mas em sua homenagem e desejando outro destino às flores de nosso Povo, deixo este pequeno poema, em jeito de Charola, em homenagem a João de Deus:
ÀS FLORES
Uma flor abre de dia
fica cheia d'esplendor
e nasce flor de Maria
É Jesus O Redentor!
-
o craveiro dá cravos
que belos qu'eles são
mas não são Cravos
d'Ele na Sua Paixão!
-
uma roseira dá rosas
as dou com carinho
e as hastes dolorosas
foram d'Ele espinho!
-
e ter flores dá sorte
dá-nos força a viver
já que Ele foi forte
ai por nós a morrer!
-
A louvar ao Menino
e à Sua Mãe no Céu
eu peço outro destino
a flores de País meu!
-
Pisco