domingo, 2 de outubro de 2011

José Afonso – Já o tempo se habitua





Nem o voo
Do milhano
Ao vento leste

Nem a rota
da gaivota
ao vento norte

Nem toda
a força do pano
todo o ano

Quebra a proa
do mais forte
nem a morte
Os autores de quadros, esculturas, livros, sinfonias... ou simples canções, têm as suas preferências por esta ou aquela das suas obras, preferências que muitas vezes não coincidem com os gostos do público. Picasso não seria excepção, Saramago não era excepção, eu próprio (apenas pela vaidade de figurar na lista) não sou excepção... o Zeca não era excepção.
No caso do Zeca, esse carinho especial por algumas das suas menos cantadas cantigas, era evidente. O facto de mesmo o seu público mais fiel se limitar a uma lista de canções que quase nunca passou das mesmas cinco ou seis, era um “desgosto” que ele escondia bastante mal.
Aprendi pois com ele, também... e entre tantas coisas, este gosto pelas cantigas menos “gastas”. Por qualquer razão... acho que esta, “Já o tempo se habitua”, do disco “Contos velhos rumos novos”, editado em 1969, um disco em que não sou capaz de escolher uma preferida, tal é a mão cheia de "paixões absolutas", como “Era de noite e levaram”, “A cidade” (com versos do Ary), “Qualquer dia”, “Bailia”... melhor dizendo, todas... como dizia, por qualquer razão, esta parece-me especialmente adequada ao dia de hoje.
Bom domingo!
“Já o tempo se habitua” – José Afonso
(Popular/José Afonso)



5 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Não conhecis,mas gostei muito.
Gosto tanto de música e tão pouco conheço!!!!
Também gostei da manifestação de hoje. Senti-a quase como a materialização da 3ª sinfonia de Beethoven.

Um beijo.

RC disse...

Um instrumento contador do tempo, só podia gostar desta (e outras, claro) canção do Zeca.
Um bom domingo também para si, Samuel Cantigueiro.

trepadeira disse...

"...nem a morte.".

Um abraço,
mário

Zé Povinho disse...

O gosto era aguçado pelas vezes que os temas eram tocados na rádio, ou tinham maior difusão, o que se compreende. O Zeca tem muitas mais pouco divulgadas.
Abraço do Zé

Fernando Samuel disse...

É isso mesmo: há dias ouvi uma canção do Zeca que não é cantada por aí e de que eu próprio quase me tinha esquecido: Maria - uma pérola!

Um abraço.