domingo, 10 de julho de 2011

Ai Deus, e u é? – Para descansar do “lixo”...



O grupo chamava-se Barahunda... e, ao que me diz o amigo “MarkinhosGZ(Youtube), a quem surripiei o vídeo, já acabou. A cantora que dava a voz principal ao grupo continuou, entretanto, com um projeto em seu próprio nome. Chama-se Helena De Alfonso. Hoje a Helena canta para nós um tema de um dos discos dos “Barahunda”, de 2002.

Felizmente, enquanto por cá não há muita gente que dê atenção à nossa música antiga, existe muito pessoal da Galiza (e da Espanha em geral), que faz da nossa música – como é o caso do Zeca – a sua música. No que diz respeito à canção de hoje, isso faz todo o sentido... ou não se chamasse este género de música feita nos idos dos séculos XIV e XV, “música trovadoresca”, neste caso, “galaico-portuguesa”, com que os Trovadores portugueses, então famosíssimos e requisitados por toda a estranja, se entretinham a cantar os seus amores, os seus amigos... e a escarnecer e maldizer isto e aquilo. Chamavam-lhe, muito apropriadamente, diga-se, “cantigas de amor”, “cantigas de amigo” e “cantigas de escárnio e maldizer”.

A letra desta cantiga varou vários séculos até chegar aqui, hoje. Provavelmente, porque soube evitar os contactos com “agências de rating artístico”... e quanto à “notação”, ficou-se, avisadamente, pela notação musical. Foi escrita alguns anos depois de 1261... e forçosamente antes de 1325, pelo nosso famoso Rei D. Dinis, “que fez tudo quanto quis”... e ainda lhe sobrou tempo para escrever uma bela braçada de canções como esta.

Bom domingo!

Ai flores, ai flores do verde pinho
(D. Dinis)

Ai flores, ai flores do verde pinho,
se sabedes novas do meu amigo
Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do qui mi há jurado
Ai Deus, e u é?

Vós me perguntardes polo voss'amigo,
e eu bem vos digo que é sã'e vivo.
Ai Deus, e u é?

Vós me perguntardes polo voss'amado,
e eu bem vos digo que é viv'e são.
Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é sã'e vivo
seera vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é viv' e são
seera vosc'ant'o prazo passado
Ai Deus, e u é?

“Ai flores, ai flores do verde pinho” – Helena De Alfonso
(D. Dinis - Recolha e adaptação, grupo Barahunda)



6 comentários:

Luis Filipe Gomes disse...

Este ao menos parece que tinha algumas ideias sobre agricultura,e não tinha necessidade de ser doutorado em literatura já que era um praticante de mérito. Se calhar era porque a mulher dele era uma Santa,

do Zambujal disse...

Mesmo a calhar para o começo de domingo. De muito trabalho pela frente.
Curiosamente, aqui pelo Zambujal houve quem, com intenções ao que parece semelhantes (ausentes de ratings...), tinha agendado uma coisa com açucar e afecto para começar bem o domingo.
Somos dois a querer criar um bom ambiente de domingo (e de trabalho) para a família toda.

Abraços e beijos

Fernando Samuel disse...

Se as agências de rating as caçassem... adeus, flores do verde pinho que o vosso destino era lixo.
Mas receio que ainda venham a cair nas malhas da rede da política de direita, que é estrume...

Um abraço e bom domingo.

trepadeira disse...

Esta é uma das nunca esquecidas.

Tive um professor que passou várias aulas a obrigar a dividir as orações.
Por aqui e também nos Lusíadas.

Ficou a marca.

A voz é,"e u é " divinal.

Um abraço,
mário

Maria disse...

Se existem deusas, esta voz é de uma delas, com certeza...
Não conhecia. Obrigada, Samuel.

Abreijo.

Justine disse...

Já descansei e soube-me bem:)))
Agora, toca a voltar à raiva...