quarta-feira, 30 de junho de 2010

Grande calor (9)



Está calor demais por estas bandas! Fosse eu capaz de dançar sobre a água, como esta minha amiga... mas não sou!

Vou escolher uma boa sombra e esperar pela noite.

Passos Coelho – Ideias velhas



Nenhuma loja de fatos usados desdenharia ter este manequim na montra. Estou mesmo a ver: de uma lado da montra, este... em promoção; do outro lado, Cavaco, em campanha... de saldos. Não podendo ser, é bem provável que tenhamos que suportar esta figura de plástico como primeiro ministro, substituindo o actual “modelito”, já completamente roto e preso por arames.

Passos Coelho insiste nos seus profundos conceitos políticos, dignos das melhores barbearias de bairro... ou táxis em hora de ponta. «Encolher o Estado e liberalizar a economia», planeia ele.

O resultado da sucessiva e ruinosa alienação, por parte do Estado, de ferramentas fundamentais para garantir a sua dignidade, independência e influência na saúde económica e financeira do país, acompanhado da tal “liberalização”, um triste eufemismo para selvajaria capitalista sem controlo, está aí à vista de (quase) toda agente. Passos Coelho quer ainda mais! Compreende-se... se virmos o aumento das grandes fortunas dos seus donos, aos quais, por enquanto, é o Partido “Socialista” que se encarrega de fazer os favores. Acresce ainda o asco de vermos que estes “génios” económicos, sempre exigindo menos Estado e mais liberalização, são os mesmo que andam a saltitar pelos conselhos de administração de tudo o que é empresa pública, intercalando, para disfarçar, com alguma actividade no sector privado, sempre embolsando milhões, acumulando benesses e privilégios, roubando descaradamente.

Sobre esta novela das SCUT, vi um pouco da conferência de imprensa do “pobre” Jorge Lacão, desolado e algo agoniado, pareceu-me, por estar a ter que mastigar e engolir algum do seu próprio veneno: o oportunismo, o manobrismo, a deslealdade, a demagogia barata, a má fé nas negociações, o combinar uma coisa aqui e ir imediatamente dizer o contrário ali. Como bem se vê são coisas que Jorge Lacão e o seu Governo bem conhecem e convictamente praticam... só que, segundo ele, agora cometidas pela cúpula do PPD-PSD, com quem estão a tentar negociar a trapalhada do pagamento das portagens. São farinha do mesmo saco!

Arriscamo-nos, portanto e a fazer fá nas sondagens, a ver um Governo PS de incompetentes e aldrabões, ser substituído por outro Governo, PSD, de aldrabões igualmente incompetentes, como o resultado miserável da sua “intermitência” ao leme dos destinos do país durante as últimas décadas deixa bem claro.

Mas nada é de admirar, vindo de uma estirpe de políticos, gestores e “economistas” que, desprezando os tremendos problemas que provocam e ignorando a miséria que infligem a milhões de trabalhadores, por todo o mundo, dizem descarada e impunemente que «as crises são uma grande oportunidade de negócio».

terça-feira, 29 de junho de 2010

Mário Soares & Fernando Nobre, Lda.



Confesso que ia dar a este texto o título de “Mário Soares, Fernando Nobre & Cia”, o que seria uma grande injustiça para com Soares, já que ele é o único dos dois a poder ostentar a “CIA” no cartão de visita pessoal.

Vem isto a propósito de um texto do “Cravo de Abril” onde, mais uma vez, se faz um certeiro retrato de algumas das características particulares de Soares, às quais, em condições normais, se poderia até chamar "carácter"... digamos assim. Ali se vê o manobrador profissional a “não indicar” o seu candidato presidencial, ao mesmo tempo que tece elogios, porventura merecidos, a Fernando Nobre que, pateticamente, continua a parecer acreditar que o manobrismo de Soares não tem nada que ver com o aparecimento da sua candidatura e, portanto, a não se aperceber de que não passa de um joguete de uma vingança pessoal de Soares sobre Alegre... o que me lava à passada noite de 23 deste mês de Junho, noite de festas populares em Almada.

Estava eu, acompanhado de todos os restantes elementos que compõem o júri das Marchas Populares de Almada e mais alguns amigos, preparado para começar a jantar, quando reparei que um conjunto de mesas dentro do restaurante estava ocupado por um grupo de apoiantes de Fernando Nobre. Com uma grande bandeira portuguesa agrafada à parede e por detrás de si, lá estava o candidato à presidência da República.

Compreendo que não pudessem reservar uma sala de um bom restaurante para o evento. Sendo assim, o candidato teve que confiar na solidariedade e boas maneiras dos vários cidadãos que, para além de nós, ali jantavam e que poderiam muito bem não estar na disposição de ter um comício integrado no jantar. De facto, durante a apresentação feita por uma apoiante e o alongado e muito pobre discurso do Dr. Fernando Nobre, a coisa esteve por pouco, mais do que uma vez...

A minha forma de mostrar alguma solidariedade humana, fazendo figas para que ninguém se lembrasse de começar a cantar o “parabéns a você”, ou a fazer brindes ruidosamente em alguma mesa, foi “separar-me” dos meus convivas, virar-me para trás, na direcção da mesa “presidencial”... e escutar o seu discurso, em silêncio, até ao fim.

Acabei com o pior dos sentimentos que se podem ter para com um candidato a Presidente da República de Portugal: tive pena do homem!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Estados Unidos da América – Tarados por listas...



É uma tara antiga. Foram as extensas listas de tribos inteiras de “índios” (ou “native americans”, como agora o “politicamente correcto” manda que lhes chamem) destinadas ao extermínio quase total, foram as não menos extensas listas de escravos vindos de África (presentemente "african americans"), destinados à compra, venda e abuso desumano, foram as tristemente famosas listas negras, do fascista McCarthy, o senador para quem quase toda a gente era “comunista”... e assim chegamos ao presente, em que pululam as secretíssimas listas... de “terroristas”.

Estas listas de “terroristas” e de pessoas “suspeitas de ligações ao terrorismo”, são extremamente bem elaboradas, cientificamente investigadas e analisadas... como prova o facto de o “ANC”, partido do poder na África do Sul, só ter saído da lista 18 anos depois de chegar ao poder, democraticamente e em vários actos eleitorais, exactamente na mesma altura em que também saiu da lista Nelson Mandela, Nobel da Paz, Presidente da África do Sul e embaraço constante para todos os que o convidavam a visitar os EUA, ou as Nações Unidas, dado o seu estatuto de “terrorista internacional”, estatudo de que, como disse, só se livrou em 2008.

E, chegados ao presente, lemos esta estória de uns pais que, num voo doméstico nos EUA, descobriram que a sua filha de seis anos de idade estava ser impedida de entrar no avião por figurar na lista de “pessoas suspeitas de ligações ao terrorismo”.

Claro que pediram explicações. Claro que não lhas deram! Nem pensar! A fantástica segurança dos Estados Unidos da América, não divulga nem sequer discute as suas preciosas listas de “terroristas”.

É no que dá, um grande e poderoso país ser governado e controlado por sucessões intermináveis de canalhas... aqui e ali substituídos, pontualmente, por simples idiotas.

Provavelmente



Provavelmente é perfeitamente natural que um assessor do Ministério das Obras Públicas Transportes e Comunicações, o senhor Pedro Bento, se interesse tanto, mas tanto!, pelo projecto dos chamados “chips” para pagamento automático nas SCUT... que acabe por transitar do gabinete do Secretário de Estado para a empresa pública que gere o sistema de pagamentos nas auto-estradas e daqui para a empresa que fornece os dispositivos electrónicos e de que agora é o representante.

Provavelmente é perfeitamente natural que estas notícias já nem causem surpresa... quanto mais indignação!...

Provavelmente é um exagero da minha parte ficar enojado com estas estórias e, por vezes, sentir-me um pouco como deve sentir-se a família do cidadão assassinado a quem o Hospital de Viseu achou por bem enviar uma factura de tratamentos médicos, factura que, curiosamente, diz respeito aos cuidados prestados... ao suspeito do homicídio.

Provavelmente...

domingo, 27 de junho de 2010

Chico Buarque - O que será…



Como se não bastasse a tremenda canção que é, como se não bastasse o Chico Buarque… a canção que hoje vos proponho tem esta introdução feita acapella pelo “Trio Esperança”, um grupo que já vem de 1958. Actualmente é formado por três irmãs. Duas vêm do tempo da fundação, mais uma que entretanto substituiu o irmão. Residem na Europa. Desconcertam-me sempre que as ouço cantar…

O que será que será… seja o que for, que venha!
Bom domingo!


O que será (à flor da pele)
(Chico Buarque)

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

"O que será (à flor da pele)" - Trio Esperança e Chico Buarque
(Chico Buarque)

sábado, 26 de junho de 2010

Sócrates – Heroísmo solitário




(José Sócrates, em 25|06|2010)

Frases que ficam no ouvido (bem feitas as contas...)



João Pinto, grande futebolista do Futebol Clube do Porto da década de oitenta, um atleta com uma carreira invejável e um ser humano com um percurso de vida estimável, terá produzido aqui e ali algumas frases singulares que ficaram no ouvido de quase toda a gente. Uma delas terá sido «O meu coração só tem uma cor: azul e branco!»

Cavaco Silva, conhecido técnico de contas algarvio, disse há pouco no telejornal:

«Há dois princípios que têm norteado a minha vida:
- a honestidade
- a verdade
- cumprir as promessas feitas»

Bom... acho que continuo a preferir o João Pinto! O que é que querem? Como disse o inesquecível Mário Jardel, «Clássico é clássico... e vice-versa!»

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sócrates – A mais que merecida homenagem!



De vez em quando chegam coisas interessantes por correio electrónico.

Multidão aguarda ansiosamente a inauguração da estátua de José Sócrates.

Cavaco Silva & Sampaio – Uma pequena desatenção



Ontem por volta das dez da noite, num regresso a Montemor, a Antena 1 brindou-me, não com zero... não com um... mas dois! É verdade! Dois Presidentes da República... embora um seja já “ex”.

Cavaco Silva rouquejou mais uns incentivos ao empreendedorismo jovem (não há nada como ser desempregado por conta própria!) e voltou a alertar para o facto de que Portugal está a viver uma «situação insustentável». Acrescentou que a crise que vivemos é, e foi, uma crise anunciada. Na verdade tem razão. Não faltaram os avisos... só não me lembro de que algum tenha sido feito por ele.

Depois, Jorge Sampaio lacrimejou também umas queixas sobre a crise, que é evidente para todos, que toca a todos... «Estamos no fio da navalha», diz ele... situação que requer muita concertação, muitos compromissos, muitos sacrifícios, diz ele...

Curiosamente, nenhum deles se lembrou de comentar ou explicar que sacrifícios vão fazer, ou em que fio da navalha vão caminhar, aqueles que em Portugal e um pouco por todo o mundo aproveitaram esta época de crise internacional para ficarem muito mais ricos (e pelos vistos, menos "caridosos")... exactamente embolsando os milhões e milhões de que os trabalhadores e os povos em geral, são forçados a abrir mão, espoliados e aterrorizados pelo papão da crise.

Mas pronto... deve ter sido uma distracção de suas excelências.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Ricardo Rodrigues - O prosador





O mediático surripiador de gravadores de jornalistas pelo sofisticado método da “acção directa”, o deputado, digamos assim... “socialista”, Ricardo Rodrigues, viu a sua imunidade parlamentar levantada pela Comissão de Ética. Seria muito bom que a seguir à imunidade, lhe fosse também levantada a impunidade.

Diz que está muito «disponível para colaborar» no processo em que responde pelo roubo dos ditos gravadores... mas, mesmo assim vai limitar-se a responder por escrito ao Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa.

Apenas duas notas breves:

1- Espanta-me assaz que, tal como se vê na imagem, ainda existam jornalistas com coragem suficiente para colocar microfones e outros instrumente de trabalho que custam bom dinheiro, ao alcance do meliante.

2- Espero bem que com esta conversa do “responder por escrito”, não acabe por convencer algum ingénuo a emprestar-lhe um computador... ou mesmo uma caneta que valha alguma coisa. Depois não se queixem!

A inveja - Doença infantil dos incapazes?



Todos os políticos que honestamente fazem por servir a colectividade o melhor que sabem, podem "agradecer" aos calhordas que nos têm governado em regime de "alterne" nos últimos mais de trinta anos. Por causa destes, a classe política é aquela em que os portugueses menos confiam. Segundo um estudo recente, obtêm um grau de confiança de uns miseráveis 17%... por mais injusto que isso possa ser em tantos e tantos casos.

Os estudos valem o que valem... mas por vezes revelam fenómenos interessantes. No extremo oposto da lista, podemos encontrar, por exemplo, os professores, com um grau de confiança de 92%, ou ainda os funcionários públicos, com 70%.

Curiosamente, estas são duas das classes profissionais mais perseguidas e massacradas pela classe dos incompetentes, a tal dos 17% de confiança, presentemente bem representada pelo medíocre governo de José Sócrates.

De onde virá a razão de tal “ódio”? Despeito? Inveja?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Henrique Granadeiro - Olha quem fala!...


O Jornal de Negócios chama para a sua primeira página uma frase do patrão da PT, Henrique Granadeiro, numa entrevista ao Público. «O país é governado por uma coligação entre procuradores e jornais», terá dito o mediático e milionário gestor.

É muito bem capaz de ter razão... mas entretanto, como se isso não bastasse, o mesmo país vais sendo sugado até ao tutano e espoliado em milhões e milhões por trastes como ele próprio, os seus cúmplices na PT, Zeinal Bava e o “boy” Rui Pedro Soares, mais as dezenas de outros trastes iguais, na Galp, na EDP, na CGD, etc., etc., etc... os quais todos os meses fazem correr o nosso dinheiro para os seus bolsos, como se fosse um rio.

Bem diz o povo: Uns dizem mata!, os outros dizem esfola!

PEC, crise, pobreza… e dúvidas



Serão os comunistas pessoas dignas de confiança? Eu sei, eu sei que estas perguntas “difíceis” não devem fazer-se assim de chofre, apanhando as pessoas desprevenidas... mas, na verdade, é de ficar a pensar...

Eu explico. Há dias, acorrendo a um convite do PCP, participei num desfile na baixa de Lisboa. Protestava-se ali contra as medidas deste PEC, contra a governação desastrosa deste governo PS/Passos Coelho, contra os sacrifícios pedidos exactamente aos que menos têm, contra a protecção do sector financeiro em prejuízo de quem realmente trabalha...

Apesar das más razões que motivam estes protestos e manifestações, a sensação de participar é boa. Cinco mil pessoas a gritar o mesmo que nós dá-nos o conforto de não nos sentirmos sozinhos... dá-nos a confiança necessária para seguir em frente, dá-nos alento.

Depois, desfeita a multidão, arrumadas as bandeiras, dados os abraços de despedida, voltam as dúvidas. Eu explico.

Quando já no regresso subia de carro a Avenida da Liberdade, avistei à direita uma razoável multidão que ocupava uma grande extensão do passeio, junto a um edifício que, mesmo sendo ainda dia, estava bastante iluminado. Comecei por pensar que se tratava de um grande acidente... mas vendo o ar uniformemente “lustroso” da multidão, desisti da ideia.

Mais tarde, já em casa, soube que se tratava afinal da grande inauguração de uma loja de luxo de uma das marcas mais caras do mundo: a “Prada”. Segundo li, a festa reuniu beleza, diversão e muita música. A petisqueira esteve a cargo do Ritz, correu tudo muitíssimo bem e os donos estão certos de que vêm aí vendas extraordinárias. «Em tempos de crise as pessoas entusiasmam-se a pensar noutras coisas. Tratando-se de uma marca de moda, vendemos sonhos e estilos de vida. É muito importante fornecer isso em tempos de crise», disse um dos responsáveis pela marca, esclarecendo ainda que «A crise económica é uma oportunidade de negócio para as marcas de luxo».

Quem é que não ficaria assaltado pela dúvida? Será que, apesar de um estudo dizer que cerca de 90% dos portugueses acham que a pobreza aumentou muito, afinal é a calhordas da Ministra do Trabalho que tem razão, quando disse numa Comissão no Parlamento, que se trata apenas de uma “percepção” que esses portugueses têm de pobreza? Perante o entusiasmo e mediatismo à volta da inauguração de uma loja em que uma simples malinha de mão de senhora pode “nas calmas” ultrapassar os dois mil euros... será que esta crise e, sobretudo as dificuldades e a pobreza, não serão uma tenebrosa invenção dos comunistas? Será que aqueles cinco mil manifestantes andaram comigo às voltas na baixa gritando «Este PEC está mal, só interessa ao capital!» apenas para me enganar... mas na realidade estamos todos ricos?

Dúvidas, dúvidas, dúvidas... ou então os comunistas têm razão! Tanta razão quanta teve o poeta António Aleixo quando escreveu com a demolidora simplicidade com que escrevia tudo:

O pão que sobra à riqueza
Distribuído pela razão
Matava a fome à pobreza
E ainda sobrava pão.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Saramago – O “rei”, o Vaticano e as poias...



Avançando para (espero bem que seja!) o encerramento deste assunto, não citarei nomes nem farei a "caridade" de um link para os numerosos textos e comentários abjectos, mais ou menos festivos, mas sempre abjectos, vindos de blogs, das suas caixas de comentários, ou de alguns dos já nossos conhecidos cronistas de últimas páginas de jornais diários... aqueles a quem tenho classificado como poias de cães espalhadas pelos relvados dos jardins... e que basta ter o cuidado de não pisar, para serem inofensivos, embora sempre nojentos.

Assim, avançarei para apenas duas das várias reacções à morte de José Saramago que me ficaram no ouvido. A primeira, pela patética insignificância do actor; a segunda, pelo tremendo significado... e importância (para alguns) dos protagonistas.

1- O eterno candidato a “rei” de Portugal, D. Duarte Pio, mais uma vez piou, fazendo a sua periódica prova de vida, regougando: «É simbólico que Portugal homenageie hoje um homem que é contra Portugal», referindo-se, obviamente, à homenagem a Saramago... um argumento tão balofo quanto repetido. Uma calúnia que aqueles que o odeiam nunca retiraram, mesmo sabendo-se ser mentira, mesmo sabendo-se que, embora ofendido por alguns, Saramago continuou a editar os seus livros em Portugal (e a aqui pagar os seus impostos), a honrar o nome do país e da sua cultura, nunca misturando a ofensa de uns poucos energúmenos com o povo da sua terra, povo que amou longa e publicamente, de forma arrebatada e apaixonada, para o bem e para o mal... entre zangas passageiras e comoventes momentos de ternura.

Isto mostra que D. Duarte Pio (para além da esperada Oferta Pública de Aquisição do seu cérebro pelo mediático sucateiro de Ovar) serve para muito pouco, ou mesmo nada, como invariavelmente acontece aos “reis” sempre que estão fora do baralho.

2- O Vaticano, por intermédio do seu jornal, nem esperou que o funeral tivesse lugar, para bolçar o seu ódio ao escritor e ao homem, numa série de declarações impiedosas apenas explicáveis pela distância tremenda a que esta colectividade alegadamente cristã se colocou do pensamento do seu histórico “fundador”.

Isto mostra que o facto de José Saramago ter vivido quase até aos noventa anos e, ao morrer, ter sido cremado por sua vontade, entre as lágrimas e os aplausos de muitos e muitos amigos, em lugar de ser queimado numa fogueira, entre rezas e o esgar de gozo dos inquisidores... foi um golpe que os deixou verdadeiramente “possuídos pelo demónio”.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Cavaco Silva – A ver se digo isto de uma forma simpática...



O cargo e a figura do Presidente da República Portuguesa é indiscutivelmente respeitável. O que se passa é que eu não tenho Presidente da República!

O cidadão Aníbal Cavaco Silva não é meu presidente. O cidadão Aníbal Cavaco Silva não é o presidente de todos os portugueses. Deixou isso bem claro assim que formou o seu Conselho de Estado, retirando o representante dos comunistas para lá sentar um delinquente. Depois disso tem continuado a deixar isso bem claro, sempre que pode.

Nesta ocasião, no funeral de José Saramago, em que até o Estado espanhol se fez representar pela vice-presidente do Governo e a Ministra da Cultura, o cidadão Aníbal Cavaco Silva optou por ficar de férias, mostrando a quem ainda tivesse dúvidas, que é um traste. O cidadão Aníbal Cavaco Silva não presta. O cidadão Aníbal Cavaco Silva deixa envergonhada toda a classe dos técnicos de contas decentes. O cidadão Aníbal Cavaco Silva não precisa de dizer uma única palavra para se lhe ver a profunda estupidez estampada na cara. O cidadão Aníbal Cavaco Silva é tão estúpido que nem se apercebe de quanto este acto miserável o prejudica. Enquanto tantos e tantos seres humanos se esforçam por caminhar no sentido da elevação pessoal, o cidadão Aníbal Cavaco Silva desce, desce, desce sempre... até à altura vertiginosa dos sapatos rasos. O cidadão Aníbal Cavaco Silva é um ser visceralmente "salazarento", mas demasiado ignorante para o perceber. O cidadão Aníbal Cavaco Silva estupidifica e infecta aqueles que o rodeiam. Em legítima defesa, ergo uma barreira sanitária entre mim e Aníbal Cavaco Silva.

Apenas duas notas para terminar:

1- No que respeita a José Saramago, o cidadão Aníbal Cavaco Silva tem uma grande desculpa, pois sempre que se fala da qualidade do ser humano, do carácter do escritor e, sobretudo, da dimensão, profundidade e genialidade extraordinárias da sua obra... o cidadão Aníbal Cavaco Silva não faz a mais pequena ideia sobre de que raio é que se está a falar.

2- O cidadão Aníbal Cavaco Silva acabou por, embora involuntariamente, contribuir de forma assinalável para a dignidade das cerimónias fúnebres de José Saramago... exactamente faltando.

domingo, 20 de junho de 2010

José Saramago, Luís Cília, “Contracanto”...




Estávamos em 1968. Luís Cília, o grande divulgador da poesia portuguesa, mostrava-nos em disco (“La poesie portugaise de nos jours et de toujours – 1, de 1967)” e aqui, num programa da TV francesa, este “Contracanto”, escrito por um autor pouco conhecido.

Contracanto

Aqui longe do sol que mais farei
Senão cantar o bafo que me aquece?
Como um prazer cansado que adormece
Ou preso conformado com a lei

Mas neste débil canto há outra voz
Que tenta libertar-se da surdina
Como rosa-cristal em funda mina
Ou promessa de pão que vem das mós

Outro sol mais aberto me dará
Aos acentos do canto outra harmonia
E na sombra direi que se anuncia
A toalha de luz por onde vá.

(José Saramago)

“Contracanto” – Luís Cília
(José Saramago / Luís Cília)

sábado, 19 de junho de 2010

Mário Lino – Polivalência, maleabilidade, ductilidade…




Safa!!! Estava a ver que nunca mais acertavam com um ta... perdão, cargo, à medida do talento de Mário Lino!

Francamente! Então ninguém tinha ainda reparado que o senhor engenheiro civil é um verdadeiro especialista em fiscalidade? Uma sumidade, com obra publicada, reconhecido em todo o mundo e até vários restaurantes... e “extensivamente” capaz para este cargo?

Fosse o senhor engenheiro civil Lino, licenciado no Instituto Superior Técnico, engenheiro civil, mas licenciado na Universidade Independente com a especialidade de “inglês técnico” de domingo... e seria capaz de tudo! Assim... é apenas capaz de quase tudo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago (1922-2010)



Morreu Saramago. Os amigos verdadeiros, incluindo aqueles que, exactamente por o serem, tiveram com ele este ou aquele desencontro, estão de coração apertado.

Os “génios da banalidade”, medíocres, invejosos, despeitados, falsos beatos e outros seres rastejantes que sempre o odiaram, estarão, uns, contentes; outros, apenas aliviados por não voltarem a ser confrontados com a incómoda frontalidade deste homem que sabia dizer não. Um ser humano assombrosamente "levantado do chão"!

Solução provisória



Eu sei. Eu sei e até entendo que as vaias desconcentrem e desconcertem o senhor primeiro-ministro, que o PS e o Governo detestem as manifestações da CGTP, que abominem as marchas e desfiles do PCP... e quem as apoiar. Compreende-se!

Entretanto, enquanto for faltando a vergonha na cara que os levaria a mudar de políticas e tomar as medidas e o rumo que, no limite, levariam ao fim destas manifestações e muito provavelmente (é a minha convicção), de quase tudo o que largamente as justifica... existem sempre soluções de recurso que, embora não resolvendo o problema, aliviam durante umas horas.

P.S. (PS, mesmo) Ainda falta Évora, hoje e o Porto, amanhã. Tenham paciência... mas a culpa é vossa.


quinta-feira, 17 de junho de 2010

Nascemos com o rabo virado para a lua, é o que é!





Durante mais uma conferência sobre os 100 anos da República (de que também deve ser pai... ou avô), Mário Soares aproveitou para dar mais umas caneladas na História (e de passagem, igualmente no português) para nos dizer que «se não tivéssemos aderido à União Europeia e, consequentemente, à moeda única, "estávamos” na bancarrota». Evidentemente, também aproveitou para nos esclarecer sobre o facto verdadeiramente extraordinário de a «grande crise financeira, económica, social e civilizacional» que está aí… e que ele admite existir, «nada tem a ver com governos, mas com a situação internacional».

Realmente, se não temos entrado para a UE (valha-nos a santa!) nem sei o que teria sido feito de nós! Se calhar, estaríamos com aumentos generalizados de impostos, estaríamos com salários congelados, com cortes nas despesas sociais, com 700.000 desempregados, muitos deles, quem sabe, sem subsídio de desemprego, estaríamos endividados perante o estrangeiro, teríamos a nossa indústria, agricultura e pescas de rastos, teríamos milhares de portugueses a emigrar como só emigraram nos anos sessenta do século passado, milhares de jovens sem encontrar o primeiro emprego, centenas e centenas de trabalhadores que, embora empregados e a receber um salário, têm que recorrer à solidariedade para não passarem fome. Talvez já nem fôssemos governados por políticos ao serviço do seu povo, mas sim por tecnocratas e oportunistas, ao serviço dos especuladores financeiros.

É uma imagem assustadora! Ainda bem que tivemos líderes iluminados como Soares, Cavaco, Guterres, Durão e Sócrates, para nos guiarem pelo “bom caminho” e nos trazerem até ao brilhante momento histórico que hoje vivemos!

Exactamente... é isso! Vu-zu-zela!



O sketch verdadeiramente cómico protagonizado no Parlamento por Jorge Lacão, insistindo en tropeçar na língua, repetindo “vuzuzela” enquanto vários deputados desmanchados de rir lhe soletravam repetidamente “vu-vu-zela”, lembrou-me a estória, ainda mais engraçada, que ontem a metade do casal que frequenta o assombroso complexo das Piscinas Municipais, trouxe para casa.

Um “very tipical” cidadão encomendava “à mulher”, que se deslocava para o bar:

- Traz-me uma água de “cravalhêros!”

E ela: “O quêi?”

E ele, bem sonoro, definitivo e com destaque: “Cra-va-lhê-ros!!!”

Infelizmente, o restante da intervenção do senhor Ministro dos Assuntos Parlamentares, apregoando rigor governamental para aqui e rigor orçamental para acolá, não me lembrou nada de divertido... para além de confirmar de que o único rigor que este Governo poderia ter e que me daria alguma satisfação... seria o rigor mortis.

Isto, claro, o Governo enquanto instituição, pois às senhoras e aos senhores ministros, secretários, subsecretários, boys e restante “família”, desejo muita saúde e uma vida suficientemente longa para assistirem à derrota das suas políticas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Inadiável



Depois de ter acabado de “brincar” um pouco com o Photoshop, fantasiando sobre uma fotografia feita no Rossio, em Lisboa, a 1 de Março de 2008, devo informar que amanhã, dia 17, não poderei ser contactado em Montemor-o-Novo. Assuntos de força maior obrigam-me a ir a Lisboa, novamente ao Rossio. Assuntos urgentes, inadiáveis! Assuntos que só têm solução se esta for colectiva.

Todos sabemos que o pouco de muitos é mais importante do que o muito de quatro ou cinco... por isso, apareçam por lá. É por volta das 18 horas.

António Guterres - Tendências globais?



Segundo leio, o Alto Comissário da Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, declarou que «o Século XXI é das pessoas em fuga». Não resisto a lembrar que ele próprio, bem no início do século, em 2002, protagonizou uma espectacular “fuga”... mas adiante. Enquanto a fuga de Guterres foi motivada por calhordice, aquelas de que ele fala devem-se ao medo, à miséria, à luta pela sobrevivência, à exploração, à injustiça.

Guterres aponta vários dos fenómenos que estão na origem do flagelo que cai sobre milhões de refugiados, a falta, ou desequilíbrio no apoio aos necessitados, o eterno egoísmo dos de sempre. Apela ao debate internacional. Faz bem!

Pessoalmente, preferia que quando se referiu a algumas das causas da tragédia, causas que estão na base de quase todos os conflitos passados ou actuais, geradores de milhões de deslocados e refugiados, fenómenos como «o desenvolvimento demográfico, a urbanização, a escassez de víveres e de água potável, de matérias-primas, e sobretudo as mudanças climáticas», não lhes tivesse chamado «grandes tendências globais».

Primeiro, porque “tendências globais” é uma expressão que remete para o universo fútil da moda.

Segundo, porque essas realidades não são “tendências”, mas sim crimes! Crimes contra a Humanidade. Crimes cujos responsáveis são sobejamente conhecidos.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Istvan Sandorfi – A realidade segue dentro de momentos...



Já todos alguma vez criticámos alguém por “nunca acabar o que começa”, ou pelo menos, por aquele tique irritante de manter uma conversa sem acabar as frases.

Na realidade, isso nem sempre é uma coisa má, como prova esta imagem (em cima) das fabulosas capelas inacabadas (que de “imperfeitas” não têm nada) do Mosteiro da Batalha... ou a fantástica arte deste pintor húngaro (1948-2007). Chamava-se Istvan Sandorfi e tinha o hábito, por vezes arrepiante, de “não acabar” os quadros...

Istvan Sandorfi - "Madeleine"


Istvan Sandorfi - "O silêncio de Adèle"


Istvan Sandorfi - "A intriga de Néa"


Istvan Sandorfi - "Charada"


Istvan Sandorfi - "Fonte dos inocentes"

PEC e desemprego – De mal a pior...



Este PEC não é um acidente na vida deste Governo. É apenas o corolário lógico de todo um programa, uma atitude de arrogância face ao mundo do trabalho, por contraste com o servilismo face ao capital financeiro, o resultado previsível de uma política... que é preciso mudar.

É preciso não pactuar com este PEC e este (des)governo. É preciso não lhes dar descanso. É preciso estar na rua... em Lisboa, em Évora, no Porto, em todo o lado onde seja possível acender uma mais do que justa indignação. É preciso levar os amigos pelo braço, pela mão, pela inteligência (embora a alguns por vezes apeteça levá-los pelas orelhas, mas enfim...), é preciso não parar!

Os números do desemprego que chegam da OCDE confirmam o desnorte que se tem vivido e o crime de, em cima de tais números, só parcialmente justificáveis com crise internacional, aprovarem-se medidas de uma demente e desequilibrada austeridade que, todos sabem, os irão agravar.

Anseio pelo dia em que políticas de tal maneira desastrosas, cometidas repetidamente, arrogantemente, manhosamente e ao serviço de interesses inconfessáveis... sejam classificadas como o que realmente são: crimes. E os criminosos chamados à responsabilidade, muito para lá da simples e hipotética perda de votos.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Lady Godiva - Isto já não vai lá com lendas


"Lady Godiva" - John Collier

Diz a lenda que, vai para quase mil anos, Lady Godiva, condoída pelas agruras que passavam os cidadãos da velha Coventry, esmagados sob os impostos e taxas com que eram sangrados pelo seu próprio marido, o conde Leofric, não se cansava de lhe pedir para ser menos duro nos sacrifícios que pedia aos cidadãos, ou pelo menos, que esses sacrifícios lhes fossem muito bem explicados, como à época aconselhou um tal Cavack Silver... que não ficou na História.

Tanto a Lady pediu, que o Leofric, só para a calar, desafiou-a a percorrer as ruas da cidade, a cavalo e sem roupa. E então não é que Lady Godiva lhe pegou na palavra e foi pela cidade, toda fresca e louçã (passe a expressão), cavalgando ao natural?! O conde Leofric viu-se obrigado a cumprir a sua palavra e presume-se que foram felizes para sempre.

Ai de nós! Hoje os tempos são outros e não há Lady que possa acudir a tanta portagem, tanto IVA, tanto IRS, tanto IRC, tanto corte, tanto congelamento, tanto desemprego, tanta promessa enganosa “tanta loja de perfumes”, “tanta pomba assassinada”.

Ai de nós! Ao nosso conde Leofric não se lhe conhece Lady de qualidade nenhuma... e mesmo que a tivesse, duvido que a senhora estivesse disposta a meter-se ao trânsito da capital coberta apenas... de boas intenções.

Razão mais do que suficiente para que busquemos, urgentemente, outra solução!

Soares e Durão – A falta...


Duas imagens surripiadas, como elas própria dizem, ao "WeHaveKaosinTheGarden"

As grandes festanças, como esta, espanhola e portuguesa, a propósito da adesão dos dois países à CEE, em que os políticos locais, vendidos aos grandes interesses dos grandes países e um pouco à imagem dos “Eunucos” do Zeca Afonso, “Enquanto os mais são feitos em torresmos, defendem os tiranos contra os pais”, são sempre momentos de grande “glamour” político e arejo de farpelas... mas têm os seus pontos negativos.

Um, muito negativo, é o momento em que, mais tarde, chega a conta para pagar, sempre pelos povos desses países, que nem foram sequer convidados para a festa, como bem se escreveu aqui.

Outro, embora menos importante, é que há sempre umas “tias” que, ou por irem com vestidos iguais, ou por trocas e baldrocas de amantes comuns, ou por razões ainda mais pedestres, se “pegam” e dizem umas coisas desagradáveis umas às outras.

Nesta festança luso-espanhola, para não variar, a conta não deixará um dia destes de chegar ao nosso bolso e Mário Soares e Durão Barroso pegaram-se. Soares diz que os actuais dirigentes europeus têm falta de coragem, falta de visão, falta de qualidade, falta disto e daquilo... Barroso riposta que não senhor, que isso é normal, que antigamente também havia dirigentes maus e incompetentes e porque torna... e porque deixa... e que havia igualmente falta de isto e daquilo.

Coisas lá deles. Ambos devem ter as suas razões para se despentearem assim em público. Pela minha parte, vendo o percurso político de cada um e sobretudo a obra que deixam, acho que uma falta, indiscutivelmente, se lhes pode apontar: a grande falta de vergonha na cara!

domingo, 13 de junho de 2010

Álvaro Cunhal (10.11.1913 – 13.6.2005) – "E nunca mais foi apanhado"



Uma chama não se prende

Rodeado de paredes
rodeadas de muros altos
que foram depois muralhas
um preso encarcerado
ao longo da terrível década de 50

inteira
Não cedeu.

Levado a tribunal
em 3 e 10 de Maio de 1950

só então fica a saber que Militão e Sofia
presos com ele torturados não «falaram»

não cederam E que esse grande patriota Militão
Ribeiro fazendo greve da fome foi morto
Perante o tribunal acusa os seus acusadores
Defende o seu Partido a sua acção
e a sua orientação política

Ponto a ponto responde às calúnias
que são os porcos argumentos do ódio
e do terror de estado Ponto a ponto
responde com o orgulho do homem livre
e o vigor da inteligência Responde por si
e pelos seus como quem acusa
e ameaça Ameaça o inimigo que o tem preso
Dos 11 anos seguidos, preso,
14 meses incomunicável,
8 anos em isolamento
E não cedeu Nunca cedeu
Agora na humidade salina da cela
contra o eco do estrondo do mar
que não esquece/e grita/contra a fortaleza
contra a corrente contínua dos dias e das noites
este homem livre é uma chama
uma lâmpara marina

Não cede lê e desenha lê
e estuda e escreve este homem livre
que está preso e é uma chama
açoitada pelo vento e pelo silêncio
numa cela
Não cede e escreve
A Questão Agrária
As lutas de classes em Portugal nos fins da Idade Média
e escreve uma tradução do Rei Lear
e escreve
Até Amanhã, camaradas

o homem livre encarcerado
fugiu enfim
colectivamente
a 3 de Janeiro de 1960

e nunca mais foi apanhado


Manuel Gusmão

(de «Três Curtos Discursos em Homenagem Póstuma a Álvaro Cunhal»)

Lido no "Cravo de Abril" e "pedido emprestado"


Danny Boy – Prazer vezes cinco...



Hoje, para além do já quase habitual post sobre uma música bonita, uma canção importante, uma interpretação notável, decidi fazer também um texto contra as ideias pré-concebidas. Já todos nos confrontámos com alguém que sobre tudo e mais alguma coisa e o que hoje interessa, uma música, tem a certeza absoluta e inegociável de como ela deve ser tocada, cantada, orquestrada... no limite, até como devem estar vestidos os intérpretes. Este post é, portanto, contra isso.

Peguemos numa canção pouco conhecida em Portugal, para estarmos de espírito mais aberto para a experiência. Uma canção extremamente bonita, que embora não sendo totalmente irlandesa, foi escrita sobre um trecho da sua música tradicional, “Londonderry Air”, uma espécie de hino da Irlanda presente no país e na diáspora, sendo que (quase) nenhum irlandês se faz rogado para verter uma lágrima sempre que a canta ou ouve cantar. Chama-se “Danny Boy” e deve ter milhares de versões, interpretações e gravações diferentes.

Não dêem por perdido o tempo que levarão a “ouver” cinco vezes a mesma canção. A ideia da “experiência” é mesmo essa.

Em primeiro lugar, a versão das “Celtic Woman”, na pureza do original, na irrepreensível beleza das vozes, no ambiente “celta”...

Em segundo, a versão de um miúdo de oito anos, Declan Galbraith, que obviamente, não tem a menor ideia daquilo que o faz a cantar assim.

No terceiro, a arte de um senhor da história da música popular, Eric Clapton, que depois de dizer que, para melhor respeitar uma melodia que acha quase sagrada decidiu fazer uma versão muito “simples” e o mais pura possível, presenteia-nos com a simplicidade da lapidação de diamantes... ou de uma renda...

Em quarto, um momento fantástico de criação, por um dos melhores pianistas de jazz de uma geração que produziu vários pianistas de jazz inexplicáveis, Keith Jarrett.

Finalmente, em quinto e porque hoje estou nos meus dias, a versão que é de longe a minha preferida. O génio em estado puro, a interpretação definitiva... dos “Lepricon Brothers”.

Bom domingo!

“Danny Boy” – Celtic Woman
(Frederick Weatherly/Traditional)



“Danny Boy” – Declan Galbraith
(Frederick Weatherly/Traditional)



“Danny Boy” – Eric Clapton
(Frederick Weatherly/Traditional)



“Danny Boy” – Keith Jarrett
(Frederick Weatherly/Traditional)



“Danny Boy” – Lepricon Brothers (The Muppet Show)
(Frederick Weatherly/Traditional)

sábado, 12 de junho de 2010

Campeonato do Mundo de Futebol – Cala a boca, Galvão!



Aí está a sessão de hipnose global com que o sistema nos brinda mais uma vez , como muito bem ilustra este cartoon do artista catalão Jaume Capdevila, KAP, surripiada ao António Vilarigues . Os adeptos e apreciadores de futebol terão a oportunidade de, aqui e ali, irem assistindo a alguns momentos de arte e génio, infelizmente inquinados pela consciência daquilo que realmente está por detrás destas gigantescas organizações, os interesses que se movem, as “esperanças de tranquilidade” que alguns políticos sempre depositam nelas.

Outra realidade que teima em inquinar qualquer possível momento de arte e génio é o facto de irmos conhecendo o número inquietante de “comentadores desportivos” que têm cérebros ainda mais vazios do que as bolas de futebol. É o triste caso de um tal Galvão Bueno, comentador brasileiro de sucesso, um daqueles “especialistas” que se sente perfeitamente à vontade seja em que desporto for... e muito conhecido por praticamente só abrir a boca para dizer asneiras.

Neste Mundial da África do Sul, terra de muito sangue, suor e lágrimas, terra da mais tremenda história de discriminação racial, felizmente, também, a terra de Nelson Mandela e daqueles que com ele lutaram por um futuro diferente... o tal Galvão Bueno, num apontamento de grande cultura e respeito por todo um povo, resolveu declarar, referindo-se à abertura do Campenato, que «aquele era o dia mais importante da História da África do Sul».

Volta Gabriel Alves... estás perdoado!

PT/TVI – Manda dizer o senhor engenheiro...



Segundo “A Bola”, Almeida Santos diz que «relatório da Comissão de Inquérito é político». Segundo a Renascença, «o primeiro ministro sabia quando disse que não sabia». Segundo a “RTP”, «Sócrates “conhecia” a intenção da PT em comprar a TVI». Segundo o “JN”, João Semedo diz que «não foi possível provar que o primeiro ministro mentiu»... mas mesmo assim, segundo o “SOL”, «relatório conclui que Sócrates mentiu ao Parlamento»… o que leva o mesmo Sócrates, segundo a Renascença, a criticar duramente o relatório, garantindo que «a única conclusão que se pode tirar é que disse exactamente a verdade no parlamento».

Confuso? Talvez. Na verdade esta estória está no ponto de saturação e cheira mal. Já cheira muito mal! Cheira mesmo tão mal, que acabei por deixar que o pensamento me levasse para a galhofa, esse caminho pecaminoso onde raramente ponho os pés, como se sabe, e mesmo assim sempre com grande constrangimento… como se adivinha… e lembrei-me de uma célebre piada atribuída ao Bocage, envolvendo... “vento”.

Francamente, nesta altura da farsa PT/TVI/Sócrates, porque é que não arranjam um “boy” suficientemente descarado para ir ao Parlamento parafrasear o grande poeta sadino, declarando solenemente:

- Senhor Presidente, senhoras e senhores deputados, senhoras e senhores jornalistas. Manda dizer o senhor engenheiro, que o “vento” que ele deu… não foi ele, fui eu!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Vá lá! Agora todos juntos... patrões, empregados, desempregados...



Quem se coloca a si próprio na pouco invejável situação de ouvir, mesmo que com bastantes “intervalos”, os discursos cometidos em cerimónias como esta do 10 de Junho... depois não se pode queixar. É exactamente por isso que não me queixo. São rigorosamente aquilo que se espera. Discursos soporíferos, redondos, pretensiosos, “patrioteiros”, manhosos.

Do sociólogo Barreto, o tal que diz orgulhar-se acima de tudo de ter contribuído para a destruição da Reforma Agrária, poderei dizer simplesmente que não foi com o discurso de ontem que arranjou novo motivo de orgulho. Aquilo foi uma coisa penosa! Para explicar uma coisa simples, mas que ele deve ter muito mal resolvida no cérebro já um pouco despenteado, a ideia de que os soldados que cumpriram o seu serviço militar na guerra colonial não ficaram por isso equiparados aos colonialistas nem aos “pides”, nem ao regime que os enviou para a guerra, não sendo portanto legítimo (salvo excepções) que sejam olhados de lado... para explicar esta coisa tão simples, como dizia, andou para ali às voltas, repetindo as mesmas frases vezes sem conta, enrodilhado em justificações e comparações inúteis. Poderia, sei lá... ter-se lembrado de que os “velhos militares de Abril” foram todos (ou quase todos) “velhos combatentes” na Guerra Colonial...

Quanto à estrela da companhia, Aníbal Cavaco Silva, mesmo sem talento para ler em voz alta nem um menu de restaurante, nem lhe sendo conhecidos grandes rasgos de coragem, mesmo retórica, era de esperar que o seu apurado oportunismo o impelisse a abrir oficialmente, ali, a sua campanha eleitoral.

Enquanto a coisa se ficasse pela “patrioteirada” inconsequente, genérica e apologética dos oitocentos anos de História, do dar mundos ao mundo, do levar a Europa a todo o globo, etc., ou então, num registo mais imediatista, defender a «equidade nos sacrifícios» e a «transparente explicação dos mesmos»... ainda se suportaria, mesmo que cabeceando; mas quando se passa para o tal discurso manhoso em que, a pretexto de uma alegada unidade nacional para vencer a crise tenta vender-se a ideia de que as (tantas vezes) profundas diferenças na luta política, não passam afinal de «querelas partidárias», ou de «quezílias ideológicas», de que é possível e aceitável promover a união de trabalhadores e patrões («pedir às vítimas para ajudar os carrascos», como horas mais tarde diria certeiramente Jerónimo de Sousa), aí o caso muda de figura.

Primeiro, pelo perigo que representa o enorme número de portugueses que, na falta de melhor conhecimento, ainda acha que assim é que devia ser... “deviam era juntar-se todos!”...

Segundo, porque este tipo de discurso, profundamente ideológico, ao contrário do que quer parecer, um discurso em que se quer substituir uma sociedade dinâmica, pensante, dialogante, comprometida, por uma espécie de “lamaçal” em que todos estariam com todos... é o paraíso dos oportunistas, aproveitadores e, no limite, dos “homens providenciais”, aqueles que põe “ordem nas coisas”.

Felizmente, mesmo quando parece que não há outros caminhos... há! E há gente para os fazer, caminhando!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

10 de Junho – “Que eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos” *



Aí estão elas, as condecorações! Vou (mais logo) fazer um esforço para entender o disseram suas excelências, no decorrer das cerimónias. A austeridade e a crise, ao que parece, chegaram também às comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades... com o corte do cachet aos artistas. Depois do rio de milhões que tem saído e vai continuar a sair do país, nos bolsos das centenas de artistas estrangeiros que enchem a verdadeira revoada de “Festivais” disto e daquilo, tem no mínimo graça este corte no cachet dos artistas do 10 de Junho... mas adiante! Não é com isso que eu estou abespinhado hoje.

A verdade é que, por mais telefonemas e empenhos que tenha tentado, não consegui convencer a “comissão das condecorações” a agraciar colectivamente o Governo de José Sócrates com esta bela medalha, que tanto trabalhinho me deu a “inventar”:

A “Grã-Cruz da Ordem de Marcha”

* Como diz a cantiga do Tê e do Rui Veloso “A valsinha das medalhas”

O aumento do PIB... e uma questão de siglas


(Velha ambulância do "U. S. Naval Hospital", instituição a que peço desculpa pelas ligeiras alterações que fiz ao seu respeitável veículo)

O nosso Produto Interno Bruto teve um tímido estertor no sentido da subida, como quem se estica por um segundo e ergue o nariz uns milímetros acima da linha de água... para respirar. Diz o INE que a coisa se deu no primeiro trimestre deste ano. Houve uns portugueses que compraram mais meia dúzia de automóveis e uma exportações que (felizmente!) aumentaram...

Sócrates entrou num estado de êxtase pré-orgásmico! Quer fazer-nos acreditar que agora, já no terceiro trimestre do ano, alguns dos fenómenos irrepetíveis que provocaram a pequena (mas positiva) subida ainda farão efeito. Espera que não vejamos – uma coisa que já toda a gente percebeu e previu – que as tremendas medidas de austeridade que estão a ser impostas aos trabalhadores, às famílias, aos consumidores em geral e às pequenas e médias empresas, o aumento generalizado de impostos e o crescente desemprego, etc., etc., não só anularão essa tímida subida do PIB, como a empurrarão para baixo.

Não quero, nunca é demais repeti-lo, meter a foice em seara alheia para fazer o que não sei, pondo-me para aqui a interpretar números, descodificar indicadores, fazer previsões. Não quero, isso ainda menos, fazer humor com a nossa desgraça colectiva (bem... isso quero... só um pouquinho...); mas a continuar este desastre a prestações, este acidente em cadeia, este choque e encarceramento das vítimas, o sangrar constante... não seria altura de estas “novidades” económicas que nos são dadas pelo INE passarem antes a ser dadas pelo INEM?