domingo, 17 de julho de 2011

Aldina Duarte – Já sabe meia Lisboa...


Adaptando uma piada recorrente no meio das cantigas, desde que comecei a escrever... ainda não apareceu uma nova "fadista". Esta piada um pouco ácida retrata o fenómeno das modas nas artes, modas que fazem aparecer e desaparecer artistas em revoadas de que se “salvam” sempre apenas alguns, muito poucos. Tenho ainda contra mim o facto de não “ser do fado”. De muito dificilmente ser agarrado por uma interpretação da chamada canção de Lisboa e, por isso, os dedos das mãos chegarem e sobrarem para contar os cantores e as cantadeiras de fado que me tiram do sério. É aqui que entra a convidada de hoje.
Aldina Duarte é uma intérprete emocionante. Desconfio, não a conhecendo pessoalmente, que o ser humano que dá corpo à artista, não o será menos.
Aldina Duarte é uma espécie de "vedeta relutante", que durante vários anos colocou o seu empenho e curiosidade de estudiosa do fado, apenas ao serviço de outros artistas. Durante muito tempo acreditou e apostou no talento de muitos... mas não no seu. Até que resolveu soltar a voz. E de que maneira!
Apaixonada pela renda de variantes melódicas quase infinitas que é possível tecer à volta da mão-cheia de músicas consideradas como tradicionais, as matrizes do fado, Aldina optou por andar, “eito fora”, reanimando a terra, revolvendo as raízes, semeando palavras novas no mesmo campo lavrado. 
Este mais recente disco, "Contos de fados", é um fruto desse teimoso cultivo... e é um fruto admirável! A intérprete pediu a vários letristas (Maria do Rosário Pedreira, Manuela de Freitas, José Luís Gordo, José Mário Branco) para inventarem palavras que ilustrassem estórias conhecidas tiradas de romances, contos, peças de teatro, fábulas. Juntou algumas palavras suas... e nasceu este trabalho sumptuoso.
A partir daqui, qualquer coisa que escrevesse seria inútil, para além de um estorvo para quem quer começar já a “ouver” este vídeo, onde o humor anda à solta, o bom gosto é servido à descrição, os músicos (grandes músicos!) tanto podem dançar como servir ao balcão... e a fadista mostra que a cada disco que passa está a cantar ainda melhor... e quando fala é capaz de nos “acertar” em cheio com frases como esta:
«Depois do 25 de Abril tive a minha segunda infância, de que me lembro cheia de alegria e muita esperança.»
Bom domingo!
“Gato escaldado” – Aldina Duarte
(Maria do Rosário Pedreira/Fado Marcha-Manuel Maria Marques)
(A partir da fábula “O pastor e o lobo”, de Esopo)



11 comentários:

Maria disse...

É assim como dizes...
Só a descobri a sério há uns 3 ou 4 anos :)))

Bom domingo e abreijos.

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Gostei. A ver se quando chegar o dia 24 dá para o comprar.
Bom domingo.

vovó disse...

Aldina Duarte, a MulherCantadeira, o SerHumano de grande dimensão, que está de Parabéns!... por Tudo!

vovómaria

Anónimo disse...

Em contrapartida, aqui, coomo já me habituei, aos Domingos. nada a dizer... Apenas palmas no final.

Apenas a explicação de existirem profissões, você é músico, e a avaliar pelo bom gosto "domingueiro", será de ceteza, um, excelente!

Abraço

Maria disse...

Irrequieto, saltitante, vivo! Como resistir a um pé de dança?
Excelente voz, servida com todos os temperos que ao fado são devidos.
Bom domingo!

Maria Pereira

do Zambujal disse...

Muito bom! Apetitoso, a fazer pular o pé e aguçar o ouvido.
Obrigado pá... e Aldina.

Umabraço

Graciete Rietsch disse...

Muito bom. Já a conhecia, mas achei o fado e a voz dela

Um beijo.

Fernando Samuel disse...

Tudo muito bom!

Um abraço.

Ana Alves Miguel disse...

Uma mulher fabulosa é esta a recordação que tenho de a ver fechar o dia imenso no palco do Auditório 1.º de Maio e de não recusar perante os fortes aplausos dum público emocionado de regressar uma, e outra e ainda outra vez para cantar... a memória fica-me presa ao instante em que por que a Festa - dado o adiantado da hora - tem de mesmo de "fechar as portas" o concerto memorável da Aldina também.

zmsantos disse...

Bom, muito bom, como ela já nos habitua.

Obrigado.

Anónimo disse...

Há uns anos no Porto, casa da música, ouvia cantar. Depois disso interroguei-me porque não era conhecida, pois só em circulos muito pequenos ouvi falar desta voz, e daí desconfiei.
Tinha razão. Tudo o que é bom, os médias não falam. GRANDE VOZ.
Valem os blogues como o teu para não nos sentirmos na selva.
Um abraço da Serra da Estrela