domingo, 6 de novembro de 2011

Bolero - Maurice Ravel


O célebre “Bolero de Ravel” não é apenas a infinidade de notas e símbolos musicais que Maurice Ravel arrumou artisticamente em folhas de papel cheias de “riscos” paralelos. Como qualquer música ou outra obra de arte, o “Bolero” é hoje o conjunto de experiências e emoções que fomos vivendo enquanto o disfrutávamos.
A História do “Bolero” é feita de (milhares?) de ousadias mais ou menos privadas e íntimas, mais ou menos públicas... de que destacarei apenas umas poucas.
Tudo começa na bela bailarina Ida Rubinstein, nascida na Rússia em 1885, e que entre as incontáveis ousadias que rechearam a sua vida, como ter posado nua para o quadro que vemos aqui em cima, pintado por Valentin Serov, teve a ousadia (que conta para esta estória) de, em 1928, quando fundou a sua companhia de dança, pedir a Maurice Ravel uma música que marcasse esse acontecimento, em que ela própria dançaria. Pediu expressamente uma música que tivesse qualquer coisa de espanhol...
Ravel, nessa altura um cinquentão que, muito provavelmente, devia pertencer ao enorme grupo de homens e mulheres que não eram capazes de dizer não aos encantos de Ida, escreveu o “Bolero”.
É uma peça musical que deve ser tocada “moderato assai”, o que a faz durar mais ou menos 15 minutos, dependendo do gosto do maestro... ou 18 minutos e meio, numa célebre interpretação do maestro Pedro Freitas Branco, que teve um dia a ousadia de inventar um “moderato” muito mais “assai” do que o costume.
A curtíssima melodia é ela própria de uma tremenda e minimal ousadia. Sempre na tonalidade de Dó (salvo uma pequena ousadia lá para o fim) e repetida até à exaustão. Ravel ousou, e conseguiu, fazer com que essa melodia, sempre igual, “cresça” em dinâmica a cada segundo que passa, sempre, sempre, sempre... até ao fim.
Dando um razoável salto no tempo, foi uma bela ousadia de Maurice Béjart, propor esta música, com uma coreografia ousadamente sensual e solada por um homem, como ponto alto do filme de 1981, “Les uns etles autres”, do realizador Claude Lelouch, proposta que este teve a ousadia de aceitar.
Poderia continuar... mas prefiro saltar para uma última ousadia... esta a raiar a insanidade, cometida por um jovem guitarrista da Coreia do Sul, de seu nome Sungha Jung, que, numa versão curta, ousa tocar o “Bolero”, convocar orquestras invisíveis e contar todas estas estórias, mais as que aqui ficaram por contar, servindo-se apenas dos seus dedos, da ousadia... e de uma simples guitarra acústica.
Bom domingo!
“Bolero” – Sungha Jung
(Maurice Ravel)



15 comentários:

Maria disse...

Não conhecia. É fantástico!
Obrigada, Samuel.
Bom domingo.

Abreijo.

Carolina disse...

Que maravilha! Foi tão comovente.
Obrigada por esta bela prenda!
Bom Domingo!

do Zambujal disse...

Obrigado, Samuel!

Grande abraço

Fernando Samuel disse...

Regressado de férias, aqui estou a dizer-te: bom dia, amigo!

Abraço grande.

samuel disse...

Fernando Samuel:

Bem vindo!
Tantas coisas para saber... para perguntar...

Abraço.

Anónimo disse...

Obrigado Samuel. Para quem está no principio da iniciação ao cavaquinho isto é ao mesmo tempo deslumbrante e incentivador.

trepadeira disse...

Lindo.

Depois de quatro dias de música contemporânea,aqui pelo TMG,deliciosos,alguma compopsta e interpretada por amigos,com a estreia mundial de três peças,foi também excelente descobrir esta interpretação.

Um abraço,
mário

lino disse...

Um espectáculo!
Abraço

RC disse...

É diferente mas igualmente bom.

Justine disse...

Os avanços na vida são feitos com ousadias!
Obrigada pela "visita guiada" ao Bolero!

Graciete Rietsch disse...

Uma ousadia que resultou muitíssimo bem.

Um beijo.

Carlos O. disse...

Hummm... A mão esquerda está sincronizada mas a direita está.... estranha... mas se eu estiver enganada o jovem dá-lhe bem!

Aten disse...

Uma virtuosissima ousadia de um jovem, que mostrou um talento que, muitas vezes, só aparece mais tarde.
Obgdo.

Manuel Veiga disse...

ousadamente belo.

grato pelo texto ("aprender, aprender, sempre"!)

Joaquim disse...

Fabuloso. Não conhecia esta versão. Muito linda. O Bolero de Ravel é um hino à beleza quando assim é interpretado. Obrigado por partilhar.