domingo, 29 de maio de 2011

Viola enluarada – Se for preciso...



Ouvi pela primeira vez esta canção no disco “Cri du Chili” da mítica editora “Chant du Monde”, a editora “diferente”, que me tinha dado, entre muitos,  discos de Luís Cília, Paco IbañesAtahualpa Iupanqui, o brasil até aí desconhecido para mim da Zélia Barbosa e o seu “Sertão e favelas” (saudades da “Chant du monde”!).
O disco “Cri du Chili” era (e é) do grupo chileno “Aparcoa”, um fantástico projeto de recuperação de música tradicional e de produção de canção de intervenção... que era “a menina dos olhos” do poeta Pablo Neruda. A sua versão em castelhano desta canção, que ficou com o nome de “Guitarra enlunarada”, era tão boa... que durante algum tempo pensei que fosse deles... apesar daquelas referências ao “samba” e à luta “capoeira”, que me intrigavam. Tanto intrigaram que, mesmo sem internet (estávamos em 1975 e o disco era de 73), acabei por “descobrir” que se tratava de uma versão da canção brasileira, “Viola enluarada”, dos irmãos Marcos Valle (música e voz) e Paulo Sérgio Valle (letra), gravada num LP de 1968.
Diz a “lenda” que os jovens irmãos Valle terão participado num concurso artístico, num programa de televisão, em que os concorrentes eram desafiados a “ir lá para dentro” e, num curto espaço de tempo, produzirem uma canção capaz de ser tocada e cantada em direto no programa. Saíram-se com esta verdadeira pérola que, para além de um belo acto cultural, foi também um acto de coragem, se pensarmos que nessa altura o Brasil vivia em pleno regime militar ditatorial (e sangrento), um período negro que ficou conhecido como “Os anos de chumbo” e que se estendeu bem para lá do nosso 25 de Abril de 74.
Como “extra”, a gravação tem a participação vocal (no final da canção) do então muito jovem Milton Nascimento.
Como disse, este disco foi gravado corria o ano de 1968. A ditadura brasileira estava para durar... e cá em Portugal, o fascista Salazar teve o seu mui feliz encontro com a famosa e abençoada cadeira...
Bom domingo!

Viola enluarada
(Paulo Sérgio Valle/Marcos Valle)

A mão que toca um violão

Se for preciso faz a Guerra
Mata o mundo, fere a terra

A voz que canta uma canção

Se for preciso canta um hino

Louva a morte


Viola em noite enluarada

No sertão é como espada

Esperança de vingança

O mesmo pé que dança um samba

se preciso vai à luta

Capoeira


Quem tem de noite a companheira

Sabe que a paz é passageira

Pra defendê-la se levanta

E grita: Eu vou!


Mão, violão, canção, espada
e viola enluarada

Pelo campo e cidade

Porta bandeira, capoeira

Desfilando vão cantando liberdade!

Quem tem de noite a companheira

Sabe que a paz é passageira

Pra defendê-la se levanta

E grita: Eu vou!


Porta bandeira, capoeira

Desfilando vão cantando liberdade, liberdade!

“Viola enluarada” – Marcos Valle e Milton Nascimento
(Paulo Sérgio Valle/Marcos Valle)



7 comentários:

do Zambujal (em viagens...) disse...

Bonito! Este Milton!

"Nós vamos!"

Um abraço domingueiro

Fernando Samuel disse...

«Ir lá para dentro» e fazer isto, é OBRA! - mais ainda tratando-se de dois brasileiros no «ano de chumbo» de 1968...

Um abraço e bom domingo aí para casa.

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Bom domingo, e obrigado pela bela oferta.

Graciete Rietsch disse...

Nós também tivemos vários corajosos.
A canção e o video são mesmo lindos.

Um beijo.

Anónimo disse...

Samuel
Que belo dedo que tens para escolher música.
Vitor sarilhos

Maria disse...

Lindo! Não conhecia...

Lu Oliveira disse...

Oi,
boa postagem!
Ele é muito bom!
Abraço,
Lu Oliveira
www.luoliveiraoficial.com.br