Ouvi pela primeira vez esta canção no disco “Cri du Chili” da mítica editora “Chant du Monde”, a editora “diferente”, que me tinha dado, entre muitos, discos de Luís Cília, Paco Ibañes, Atahualpa Iupanqui, o brasil até aí desconhecido para mim da Zélia Barbosa e o seu “Sertão e favelas” (saudades da “Chant du monde”!).
O disco “Cri du Chili” era (e é) do grupo chileno “Aparcoa”, um fantástico projeto de recuperação de música tradicional e de produção de canção de intervenção... que era “a menina dos olhos” do poeta Pablo Neruda. A sua versão em castelhano desta canção, que ficou com o nome de “Guitarra enlunarada”, era tão boa... que durante algum tempo pensei que fosse deles... apesar daquelas referências ao “samba” e à luta “capoeira”, que me intrigavam. Tanto intrigaram que, mesmo sem internet (estávamos em 1975 e o disco era de 73), acabei por “descobrir” que se tratava de uma versão da canção brasileira, “Viola enluarada”, dos irmãos Marcos Valle (música e voz) e Paulo Sérgio Valle (letra), gravada num LP de 1968.
Diz a “lenda” que os jovens irmãos Valle terão participado num concurso artístico, num programa de televisão, em que os concorrentes eram desafiados a “ir lá para dentro” e, num curto espaço de tempo, produzirem uma canção capaz de ser tocada e cantada em direto no programa. Saíram-se com esta verdadeira pérola que, para além de um belo acto cultural, foi também um acto de coragem, se pensarmos que nessa altura o Brasil vivia em pleno regime militar ditatorial (e sangrento), um período negro que ficou conhecido como “Os anos de chumbo” e que se estendeu bem para lá do nosso 25 de Abril de 74.
Como “extra”, a gravação tem a participação vocal (no final da canção) do então muito jovem Milton Nascimento.
Como disse, este disco foi gravado corria o ano de 1968. A ditadura brasileira estava para durar... e cá em Portugal, o fascista Salazar teve o seu mui feliz encontro com a famosa e abençoada cadeira...
Bom domingo!
Viola enluarada
(Paulo Sérgio Valle/Marcos Valle)
A mão que toca um violão
Se for preciso faz a Guerra
Mata o mundo, fere a terra
A voz que canta uma canção
Se for preciso canta um hino
Louva a morte
Viola em noite enluarada
No sertão é como espada
Esperança de vingança
O mesmo pé que dança um samba
se preciso vai à luta
Capoeira
Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira
Pra defendê-la se levanta
E grita: Eu vou!
Mão, violão, canção, espada
e viola enluarada
Pelo campo e cidade
Porta bandeira, capoeira
Desfilando vão cantando liberdade!
Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira
Pra defendê-la se levanta
E grita: Eu vou!
Porta bandeira, capoeira
Desfilando vão cantando liberdade, liberdade!
“Viola enluarada” – Marcos Valle e Milton Nascimento
(Paulo Sérgio Valle/Marcos Valle)
7 comentários:
Bonito! Este Milton!
"Nós vamos!"
Um abraço domingueiro
«Ir lá para dentro» e fazer isto, é OBRA! - mais ainda tratando-se de dois brasileiros no «ano de chumbo» de 1968...
Um abraço e bom domingo aí para casa.
Bom domingo, e obrigado pela bela oferta.
Nós também tivemos vários corajosos.
A canção e o video são mesmo lindos.
Um beijo.
Samuel
Que belo dedo que tens para escolher música.
Vitor sarilhos
Lindo! Não conhecia...
Oi,
boa postagem!
Ele é muito bom!
Abraço,
Lu Oliveira
www.luoliveiraoficial.com.br
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