domingo, 28 de fevereiro de 2010

Ana Vidovic - Memórias de uma valsa...



O Pedro Caldeira Cabral é um enorme músico. Toca "mil" instrumentos... e guitarra portuguesa. Quando interpreta a música de Carlos Paredes é (para mim) o único guitarrista que realmente o faz “aparecer” aos nossos ouvidos... e quase aos olhos.

Há muitos anos, andei “na estrada” durante algum tempo com a fadista Maria Amélia Proença. Eu cantava uma canções que iriam mudar o mundo... ela cantava (bem) fado. Era acompanhada à viola pelo parceiro de muitos anos do Carlos Paredes, Fernando Alvim e Pelo Pedro Caldeira Cabral, jovem guitarrista, apenas dois anos mais velho que eu. Uma noite, antes de um espectáculo e aproveitando o raro conforto de um (ainda mais raro naquele tempo) camarim para os artistas, mostrava-lhe eu uma bela guitarra clássica de construção artesanal que tinha comprado na Alemanha (chamava-se “Anika”). O Pedro pediu-me para a experimentar, gostou do peso, gostou do som... e com um ar muito natural tocou uma pérola que me deixou de boca aberta. Por ser tão bonita e tão bem tocada. Até esse dia nunca o tinha ouvido tocar outra coisa além da guitarra portuguesa de fado.

Fiquei então a saber que aquela pequena maravilha era uma das valsas venezuelanas, compostas para guitarra clássica por António Lauro, o que nos traz finalmente à música e à guitarrista de hoje, que já tinha ameaçado aqui divulgar. Presumo que um grupo de “deuses” desocupados tenham tropeçado numa guitarra clássica e gostado do som... e que tenham resolvido criar (mais) um ser perfeito para a tocar. Saiu-lhes esta Ana Vidovic. É um conjunto perfeito de técnica, claridade impressionante do som... e tudo o mais que se vê e ouve.

Ficam aqui apenas dois dos muitos vídeos possíveis. No primeiro toca duas dessas valsas venezuelanas, sendo que a segunda, que começa passado 1 minuto e 45 segundos, é exactamente a da tal da estória com o Pedro. No segundo vídeo (com muito má imagem) e ainda muito miúda, toca com uma igualmente miúda violoncelista... de que ainda ouviremos falar.

Fiquem com a Ana Vidovic. Nasceu em Karlovac, Croácia, em 1980. Começou a tocar em palco em 1988. Chamo, finalmente, a atenção para a desconcertante semelhança entre a maneira de tocar da Ana e a minha: ambos tocamos sentados!

Bom domingo!

“Valsas venezuelanas 2 e 3” – Ana Vidovic
(António Lauro)



“Ana Vidovic”

sábado, 27 de fevereiro de 2010

História desmontável...



À chegada a Montemor-o-Novo, mesmo avistado ainda de um acesso à cidade, o estado do nosso castelo não escapou ao veredicto da neta:

«Este castelo... faltam-lhe muitas peças!...»

Infelizmente, nem a excelência de análise e profundo rigor científico de diagnósticos como este (e outros ainda mais a sério, muitos outros!), têm evitado que o castelo e o Convento da Saudação tenham chegado ao estado em que se encontram.

Os muitos projectos de recuperação deste nosso património histórico e cultural têm subido uns lugares nas pilhas de papelada que no ministério aguardam por atenção e dinheiro... mas não conseguem acompanhar a cadência a que os vários responsáveis vão mudando... voltando sempre tudo quase ao ponto de partida.

Se ao menos lá se jogasse à bola...


Maria de Medeiros... e uma crónica ao lado



O pior pesadelo de quase todos os cronistas é poderem ser confundidos com Carlos Castro. Imagino a situação: “Sim, sou cronista... não, não, cavalheiro... não é bem desse género de crónica...” mais ou menos o mesmo embaraço de alguém que diz “Sim, sou astrónomo... não, não, minha senhora... não deito cartas, nem sei ler nas mãos... isso são astrólogos...”

Vem isto a propósito de uma dessas “crónicas” de Carlos Castro, que li no Correio da Manhã e não resisti a recortar. O cronistas do “social”, a propósito das viagens semanais para Paris pagas à mais mediática das novas deputadas do PS, atira-se com unhas e dentes a... Maria de Medeiros. Com direito a fotografia e tudo.

Portanto, todos estes meses depois das eleições e já com várias aparições em público, o pobre homem ainda não conseguiu reparar, ou perceber, que a nova deputada do PS não é a Maria de Medeiros, mas sim a sua irmã, Inês de Medeiros. Desgraçadamente, também não houve uma alma caridosa em toda a redacção do jornal que reparasse. Ainda me dei ao trabalho de ir ver, quatro ou cinco vezes, se o jornal corrigia a “crónica”, mas já passaram vários dias... e nada.

É uma pena que Carlos Castro não tenha acertado na irmã certa. Primeiro, porque fez uma triste figura. Segundo, porque a Maria de Medeiros não era para aqui chamada. Terceiro, porque a estória de uma deputada eleita pelo distrito de Lisboa manter a residência “permanente” em Paris e, por esse motivo, auferir de chorudas ajudas monetárias para estar em Lisboa e viagens de ida e volta, em primeira classe, para paris, todas as semanas... é um pouco esquisita. Quarto, e aqui já é só o meu mau feitio a falar, porque começa a fazer falta alguma coisa que apague aquele ar de troça, misturada com desprezo, numa espécie de caldo de superioridade snob e arrogância, que a deputada exibe sempre que está a ouvir alguma coisa que não lhe agrada durante os trabalhos da Comissão de Ética da Assembleia da República... e que, infelizmente, a fazem ficar muito pior na fotografia, mesmo na televisão e a cores, do que aqui em cima, a preto e branco.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Rui Pedro Soares – Mal empregada tarde!






Por vezes fala-se de leques salariais e de fossos salariais. O que nem toda a gente sabe é quantas vezes esse fosso é um abismo e quanto Portugal está na “vanguarda” dessa verdadeira arte “social”. Era praticamente só isso que me ocupava a cabeça enquanto, ontem pela tarde, ouvia falar perante a Comissão de Ética da Assembleia da República aquele “gaiatão” que o PS enfiou na Portugal Telecom, presumo que para servir mais o próprio PS do que o Estado e, evidentemente, com a promessa de que fariam dele um homem muito rico. Durante uns tempos parece que funcionou na perfeição!

Até há poucos dias, o jovem Rui Pedro Soares foi cumprindo os objectivos. Ganhava por ano cerca de dois milhões e meio de euros. Para um outro jovem, possivelmente, licenciado em qualquer coisa, contratado pela PT para integrar o numeroso exército da famosa “geração 500 euros”, o ordenado de Rui Pedro Soares levaria um pouco mais que quatrocentos e dezasseis anos a ganhar. Isto é que é uma empresa com um verdadeiro “leque salarial”... ou melhor, o tal abismo.

E era basicamente nisto que eu ia pensando enquanto ou ouvia “não falar” disto, “não comentar” aquilo, “recusar-se a responder” a aqueloutro. Tirando isso, foi falando, falando, falando, empurrando para outros, não sabendo de quase nada sobre coisa nenhuma, não conhecendo pessoalmente este, nunca tendo falado com aquele, tudo num tom meio manhoso, pastoso, errático, confuso, balbuciante, dito num português de fancaria, convencendo-me de que o mediático jovem afinal não tem dimensão para ser administrador de porcaria nenhuma, tendo-se limitado nos últimos anos a ser apenas um “boy” utilitário.

Parece que deixou tudo ainda mais confuso, diz-se que necessita urgentemente de esclarecer contradições... dizem até que terá faltado à verdade...

Ou então o rapaz é mesmo um génio... e eu é que devo ser uma besta. Decididamente, nunca hei-de ser rico!

Pobre e triste "milagre"!



Segundo o Jornal Nacional da TVI, o Jornal da Madeira, a Agência Ecclesia e claro, o padre local, o sr. Giselo Andrade, uma espécie de “testemunha” do sucedido, a bonita capela que até aqui existira na Freguesia do Monte foi completamente destruída pela catástrofe que se abateu sobre a Madeira. Disse o padre, «As casas situadas abaixo do largo tragicamente desapareceram. O largo das Babosas ficou irreconhecível. Todos contemplavam incrédulos para este cenário dramático que profundamente destroçava o coração», acrescentando que «miraculosamente, no meio do lamaçal» foi encontrada intacta a imagem da Senhora da Conceição.

Temos portanto um milagre: “nosso senhor”, num prodígio de concentração no meio de um caos total, conseguiu salvar uma boneca que supostamente é uma imagem da sua mãe! Se foi isto o “milagre”, foi um bocado mesquinho... mas temo que não, senhor padre!

Um verdadeiro “milagre”, seria ter-se estragado a “boneca” e terem-se salvo as centenas de casas, caminhos, terrenos de cultura, animais, lojas e, principalmente, as dezenas de vítimas mortais do desastre.

Um verdadeiro “milagre” seria que no meio da tragédia não aparecesse ninguém a vender milagres e o “seu peixe”, aproveitando um momento de ainda maior fragilidade da espiritualidade simples do povo... mesmo que faça passar isso como um sinal de «esperança e consolação».

A consolação há-de vir com tempo... como sempre vem... e da esperança (activa) de que no futuro algo se faça para que uma qualquer intempérie, tão inevitável quanto esta, não tenha resultados tão devastadores, em parte amplificados pela incúria e ganância de uns poucos.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Verde-esperança



- Mas tu tens mesmo, mesmo, mesmo a certeza absoluta de que o cortejo das princesas beijoqueiras passa por aqui hoje?

José Mourinho – Uma de mil explicações





O que não falta são razões para que o país tenha chegado ao estado de indigência política, económica, moral e cultural a que chegou. Hoje assisti a mais uma. Ou, dizendo melhor, alguém pretendia que assistisse.

É praticamente um dado adquirido o facto de os principais jornais televisivos do dia irem para o ar às 20:00h. De vez em quando, por razões de “força maior”, uma ou outra televisão resolve substituir o serviço noticioso, adiando-o ou adiantando-o na grelha de programas. Quase sempre é por causa do futebol.

Seria de esperar que a televisão pública fosse capaz de resistir a este tipo de tentação pedestre. Qual o quê? Às oito da noite, lá estava a RTP1 a fazer “serviço público”, transmitindo um incontornável jogo entre o Inter de Milão e o Chelsea de Londres... com José Mourinho, que treina um e já treinou o outro. Como é que Portugal poderia passar sem esta emoção?

Desespera-me o facto de pagar, para ter uma televisão pública assim.

Entristece-me pertencer à esmagadora minoria que se ofende com isso.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A idade das perguntas...



Já toda a gente deve conhecer pelo menos uma versão... mas não resisto a deixar aqui uma “misturas” das várias que já me chegaram, mais uma fotografia a condizer.

Durante uma visita a uma escola, José Sócrates dispôs-se a responder a algumas perguntas dos alunos.

- Vá lá, tu... como é que te chamas?
- Sou o Paulinho.
- Então o que é que queres saber, Paulinho?
- São só três perguntas:
Onde é que estão os 150.000 empregos que prometeu?
Porque é que assinou aquelas casas tão feias, lá na Guarda?
Sabe mesmo falar inglês técnico?

Entretanto toca a campainha e Sócrates propõe que as respostas fiquem para depois do intervalo. Quando recomeçou a aula Sócrates lembra:

- Parece que havia uma perguntas... tu, aí... como te chamas?
- Manel.
- Então pergunta lá, Manel.
- São só cinco perguntas:
Onde é que estão os 150.000 empregos que prometeu?
Porque é que assinou aquelas casas tão feias, lá na Guarda?
Sabe mesmo falar inglês técnico?
Porque é que a campainha tocou meia hora mais cedo para o intervalo?
Onde é que está o Paulinho?

António Barreto – A arte da “calhordice”



Sim, porque o verdadeiro calhordas não faz o que faz, à sorte. Sabe muito bem porque faz o que faz... e para quê. O verdadeiro calhordas, ao contrário do que erroneamente se possa pensar, tem uma missão a cumprir.

Lendo um texto do “Cravo de Abril”, em que mais uma vez é demonstrado, preto no branco, um dos milhentos casos de censura (de classe) selectiva e sem contemplações, praticados diariamente pela nossa comunicação social, tornou-se impossível deixar de tropeçar novamente no Doutor António Barreto, que desde bem antes do tempo em que se tornou, juntamente com Soares, a cara visível do ódio à Reforma Agrária, criando as condições que levariam à sua destruição e sendo moralmente responsável pelos vários crimes que então se cometeram, culminando no assassínio de dois trabalhadores agrícolas do Alentejo... desde bem antes, como dizia, sabe muito bem ao que veio.

O sociólogo, que é pago para dizer coisas sobre as mais variadas coisas, desta vez veio tecer considerações sobre a “liberdade de expressão”. Apesar de ter descoberto que «Hoje em dia haverá 2.500 a três mil pessoas cuja função, no aparelho de Estado, é organizar a informação e fazer a agenda política. Na televisão, nos jornais, na rádio, há uma verdadeira agenda política feita à volta do Governo, pelas agências e gabinetes de comunicação», concluindo, «Isto chama-se condicionar a opinião pública», acrescenta logo que, nomeadamente, porque é livre de escrever estas coisas nos jornais, «vivemos num país em que reina a liberdade de expressão».

Não fosse dar-se o caso de nós, os estúpidos, não entendermos a mecânica da coisa, acrescenta decididamente: «Não é verdade que condicionar a opinião pública seja a mesma coisa que retirar a liberdade de expressão».

Pois. Pode ser que não seja, doutor. Também dar grandes pontapés nas canelas e nos joelhos de alguém, não é a mesma coisa que retirar-lhe a liberdade de andar... mas dificulta como o raio que o parta, doutor!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Canal da critica *


Esta madrugada, certamente em repetição, vi o novo programa televisivo que assinala a estreia da nova aquisição da SIC para esta temporada, Miguel Sousa Tavares. O convidado para a primeira edição foi Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa. Falou fundamentalmente das “ignomínias”, das “insinuações”, das “suspeições”, das “infâmias”, em que obviamente tem o papel de vítima...
O programa chama-se “Sinais de Fogo” (pagarão direitos aos herdeiros de Jorge de Sena?). Vi e ouvi durante um bom pedaço... e depois dei por bem empregue a despesa que fiz neste extintor que até hoje ainda nunca tinha usado.

* Com um grande olá! ao Mário Castrim.

Felizmente, tudo não passou de um “susto”...


A historiadora Irene Flunser Pimentel, que produz mais livros do que o pessegueiro do quintal da minha vizinha produz pássaros, tem mais um livro a sair... quentinho. É sobre a vida e figura do Cardeal de Salazar e do fascismo, António Cerejeira.

Não li, nem vou ler o livro, logo, não posso nem poderei falar sobre ele. De qualquer modo, de uma mini entrevista que a autora concedeu à revista de domingo do Correio da Manhã, sobre esta sua última obra, posso destacar uma pergunta e uma resposta que me ficaram na retina:

CM: E qual era a opinião do Cardeal sobre o regime de Salazar?

IFPimentel: Nunca considerou o regime totalitário e nunca falou de ditadura, embora temesse, sobretudo nos anos trinta de "fascização" do Estado Novo, que este pudesse cair em atitudes totalitárias, nomeadamente quando criou a Mocidade Portuguesa.

"Que este pudesse", senhora doutora?!

Ufff!!! Livra!... Ainda bem que nada disso aconteceu, não é?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

«Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!»



A acreditar no que leio, o Vaticano, por intermédio do seu órgão oficial, o “O Osservatore Romano”, certamente muito interessado em contribuir para o refrigério das nossas almas musicais, decidiu incluir na sua lista de obras musicais autorizadas, vários discos de música Pop/Rock, que vão de Paul Simon a U2 e Oásis, passando pelos três da imagem, “Revolver”, dos Beatles (1966), “Dark side of the moon”, dos Pink Floyd (1973) e “Thriller”, the Michael Jackson (1982).

Pelo menos em relação e este três é de assinalar o fabuloso timing da “aprovação” do Vaticano, tendo em consideração as datas de edição dos discos, há 44, 37 e 28 anos, respectivamente.

Igualmente de assinalar é a admirável evolução do Papa, que ainda há bem poucos anos, em textos carregados da profundidade intelectual e rigor científico que tantos lhe admiram, considerava que a música rock era «obra do diabo».

Poderia ficar para aqui a tecer considerações sobre o mau ou bom gosto musical do Vaticano, ou a tentar explicar o quanto me "encanita", apesar não ser nada comigo, esta tão antiga mania do Vaticano de proibir e autorizar coisas, caindo mesmo no ridículo de elaborar listas de música ligeira autorizada (mania em que está, infelizmente, acompanhado por outros cristãos e outras religiões)... mas uma coisa gostaria mesmo de saber:

Como é que os católicos, em pleno ano 10 do século XXI, aturam uma coisa destas.

Sementes do fascismo





De certa forma ajudado pela contribuição de uma das reflexões do “anónimo do Séc.XXI”, não posso deixar de reflectir eu também nos resultados de séculos de poder quase absoluto do dinheiro sobre a vida das pessoas e da formatação das suas mentalidades.

No caso português, por exemplo, quarenta e oito anos de fascismo, seguidos de mais de trinta anos de governos de alguns falsos socialistas e sociais-democratas empenhados em atacar, destruir e fechar quase todas a portas que Abril abriu, resultam na situação de lamaçal político, social e ético em que vivemos.

Produziu um exército de falsos “enganados”, que vão votando sempre nos mesmos, ou que já nem votam sequer, pois habituaram-se ao “eu quero é o meu”, ao “eles são todos iguais”, ao “a minha política é o trabalho”, sendo que, se de algum benefício gozam, é sempre às custas das lutas travadas pelos outros... quase sempre companheiros de trabalho que desrespeitam diariamente, quando não desprezam mesmo.

Produz patéticas manifestações, como a deste fim de semana, juntando protestantes, evangélicos, católicos, militantes de extrema direita e outros que ainda sabiam menos do que estes porque é que ali estavam, todos muito preocupados com a “vida”, a “família” e “deus” (presumo que também com a “pátria), enquanto iam deixando escapar uma ou outra tirada mais carregada de ódio. Este tipo de manifestações, supostamente “movidas a religião”, têm pelo menos um aspecto positivo que é lembrarem-me o quanto esteve certo o miúdo de 14 anos que eu era, ao bater ruidosamente com a porta de uma destas “congregações”... para nunca mais.

De qualquer maneira, a semente de fascismo que mais me impressionou por estes dias, foi a que se instalou e germinou no cérebro de uma quase ex-operária da Delphi da Guarda. Falando para a televisão, à porta da empresa, praticamente certa de figurar na lista de centenas de trabalhadores que vão ser despedidos, produziu, mais palavra menos palavra, esta frase absolutamente obscena:

«Isto aqui já está de rastos. Já não há serviço para fazer. Eles levam tudo para os países onde a mão de obra é mais barata... mas temos que compreender... eu se fosse patroa também fazia o mesmo!»

Desanimar? Não… mas magoa!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Prémio "Grande (grandessíssima!) Lata"



«O país precisa da voz do PS para lutar pela decência na vida pública e pela elevação do Estado de direito»

(José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa - Porto, Fevereiro de 2010)

E a justiça oficial acha bem o que sabemos todos que está mal



Nos últimos tempos temos assistido a uma frenética competição, nas modalidades “Eu defendo mais a justiça do que tu”, “Eu gosto muito mais da liberdade de expressão do que tu!”. O fenómeno de popularidade deste “desporto” tem atraído ranchos de recém-chegados à ideia de “justiça” e da “liberdade de expressão”, ideias a que nunca tinham dado uma grande importância.

Curiosamente, talvez sob o efeito do típico entusiasmo dos principiantes, estes recém-chegados, muitos vindos mesmo da direita trauliteira, são os mais ruidosos na defesa apaixonada da justiça e liberdade... enquanto aqueles que toda a vida as defenderam, que todos os dias vêem a verdadeira justiça adiada e a sua liberdade de expressão cerceada e silenciada pelos famosos “critérios jornalísticos” dos meios de comunicação social do sistema, apreciam o espectáculo algo exótico desta súbita paixão colectiva.

Por isso e também depois de ler um comentário aqui deixado pelo “real” leitor “Pata Negra”, que a propósito do meu post “Não tive nada que ver... nem voltarei a ter!” nos diz: «De que me vale a liberdade de expressão se eu não souber, ou possuir meios para a exprimir!», lembrei-me de uma grande canção do Grupo Outubro (acho que já vos disse que o Outubro foi o melhor grupo de música popular portuguesa de intervenção, na minha opinião algo suspeita), do álbum “Cantigas de ao pé da porta”, editado em 1977.

O Pedro Osório pegou neste poema do Brecht, adaptou-o para uma bela letra cantável, criou uma melodia que lhe assentou como uma luva, vestiu tudo com um belíssimo arranjo “orquestral”... e saiu este “Diz-me companheiro”, uma cantiga para ouvir e pensar, uma das que fazem muita falta.

Bom domingo!

Diz-me companheiro
Letra: B. Brecht / Pedro Osório
Música: Pedro Osório

Diz-me companheiro
Pra que serve a bondade
Se os bondosos forem sempre perseguidos
Forem presos, torturados, abatidos
E se a vida for roubada
Aos humildes a quem a bondade é destinada

Não basta ser bondoso
É preciso construir o homem novo
O mundo novo
Onde já não seja necessária a caridade
E ninguém defenda o valor da humildade

Diz-me companheiro
Pra que serve a liberdade
Quando os homens que são livres estão cercados
Por irmãos que continuam explorados
Quando os homens têm medo
De perder a liberdade pela manhã cedo

Não basta ser livre
É preciso construir o homem novo
O mundo novo
Onde a liberdade já não seja discutida
E por ser de todos nunca mais seja perdida

Diz-me companheiro
Pra que serve a justiça
Quando só quem não é justo pode ter
O que todos necessitam pra viver
E a justiça oficial
Acha bem o que sabemos todos que está mal

Não basta ser justo
É preciso construir o homem novo
O mundo novo
Onde quem for justo nunca seja condenado
E quem for injusto venha sempre a ser culpado.

(“Clicar” no meio da cassete para ouvir)

“Diz-me companheiro” – Grupo Outubro
(Bertolt Brecht e P. Osório / Pedro Osório)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Então não é que concordo com Sócrates?! Há uma primeira vez para tudo...



O calhordas que nos tocou como primeiro-ministro, talvez para tentar sacudir as vagas de lixo que faz cair sobre si próprio diariamente, tentando recorrer a uma triste imitação de humor, afirmou perante apoiantes e alguns cúmplices:


Não posso estar mais de acordo com José Sócrates. Independentemente das causas que levaram à sua ascensão e chegada a líder, esse desastre foi efectivamente um enorme azar. Enorme azar para Portugal, enorme azar para o Partido Socialista... e até para o próprio Sócrates, que sem esta visibilidade, bem poderia ter feito toda a sua vidinha passando por ser uma pessoa minimamente capaz. Azar!

A noite passada *



A noite passada foi uma noite de candidaturas. Eu próprio, estive vai não vai... mas adiante. Assistimos primeiro ao discurso de candidatura de Aguiar Branco dentro do PPD-PSD. Diz que se candidata a Primeiro-Ministro de Portugal. O facto da figura constitucional de uma tal candidatura pura e simplesmente não existir, não deve passar de um pormenor. De toda a cerimónia apenas retive a cor que escolheu para fundo, digamos, assaz encarnada. Não digo vermelha, pois isso já seria um exagero.

Da segunda candidatura da noite, a do Dr. Fernando Nobre à Presidência da República, apenas vi uma entrevista (fraquinha!...) feita cerca de uma hora depois do discurso oficial «movido por um imperativo moral de consciência e de cidadania».

Retenho que a candidatura do Dr. Fernando Nobre «não é à esquerda, nem à direita, nem mesmo ao centro»... (não cheguei a perceber se é aérea). Reparei também que já está a provocar alguns estragos na área “alegrista”. Mesmo que esta candidatura do mediático médico humanitário não tenha sido, como ele assegura, inspirada e incentivada por “soaristas”, o facto deve estar a dar muito gozo ao próprio Soares.

Terminando, se possível, num registo mais sério, repito que o percurso pessoal e cívico do Dr. Fernando Nobre é nada menos que louvável e respeitável. Já o trajecto político é um pouco mais complicado. O Dr. Fernando Nobre já foi apoiante de Durão Barroso, de Mário Soares, do Bloco de Esquerda, do PSD e António Capucho para a Câmara de Cascais, do PS e António Costa para a Câmara de Lisboa... A menos que esteja firmemente convencido de que esta vasta “sementeira” de apoios vai ter um retorno em fartas colheitas vindas de todos esses quadrantes, a coisa pode não passar, por enquanto, de uma salgalhada.

Mais, e mais importante, quando um cidadão chega de rompante à política activa declarando estar de mãos completamente limpas no que respeita às maleitas e “desgovernos” que infernizam há décadas a vida do país, isso é perfeitamente aceitável se estivermos a falar de alguém com 18 ou 20 anos de idade. Tratando-se de uma pessoa como o Dr. Fernando Nobre, a caminho dos seus sessenta anos, para além das “mãos limpas” em relação aos vários “desgovernos” que tivemos, também gostaria de lhe conhecer um historial de luta política activa, militante e consequente, contra esses “desgovernos”. Confesso que, possivelmente por desatenção, não tenho dado por isso.

Diz ele de si próprio na entrevista: «Quem quiser conhecer o Fernando Nobre (não lhe conhecia este lado futebolista) leia os meus livros». Só assim, sem um razoável esforço adicional do candidato, não será fácil! Uma grande parte dos portugueses não lê livros desses...

* Com um pedido de desculpas ao Sérgio Godinho. Agora dei pra isto...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sinais de Figo *





Apesar de, inteiramente no seu direito, Luís Figo ir repetindo a frase que mais se ouve nestas ocasiões, «Estou tranquilo com as minhas acções e com a minha consciência», isso não parece estar a ser suficiente para convencer os investigadores policiais, que continuam a desconfiar seriamente do pagamento ao ex-atleta pela PT de verbas exorbitantes em troco de um “apoio” à Taguspark, que ainda ninguém percebeu... e do apoio a José Sócrates, que toda a gente viu.

Ficamos, pelo menos, a saber da facilidade com que centenas de milhar de euros são entregues para fins nebulosos e a tranquilidade com que gestores de dinheiros públicos ou semi-públicos enterram fortunas em offshores, talvez na esperança de que nunca mais ninguém tenha notícia deles.

A serem fidedignas as escutas divulgadas aqui, este tipo de gastos são, segundo o aparentemente “certinho” Marcos Perestrelo, jovem estrela do PS, uma coisa que «vale muitos votos», mesmo reconhecendo que «essa m... dá muitos subsídios de emprego»... o que deve ser uma espécie de amostra do humor negro destes “novos socialistas”.

A investigação fará o seu caminho e, na melhor das hipóteses, demonstrará que Luís Figo é afinal apenas mais um português doido por dinheiro... e que gosta genuinamente de José Sócrates. Não é o único. Existem muitos portugueses doidos por dinheiro.

Adenda: Como é hábito quando alguém não consegue desmentir alguma declaração que lhe foi atribuída, também o nosso Secretário da Defesa, Marcos Perestrelo, já veio dizer solenemente que aquelas frases estão... «descontextualizadas». Portanto, ficamos a saber que sim, Marcos Perestrelo terá dito a Paulo Penedos que “alguma coisa renderia muitos votos” e que “aquela m... daria para muitos subsídios de desemprego”... só que foi noutro “contexto”.

Acho que fiquei na mesma.


* Com um pedido de desculpas ao Jorge de Sena.

Não tive nada que ver... nem voltarei a ter!





O Partido Socialista e o seu Secretário Geral decidiram tocar a reunir e resistir, resistir, resistir. Fazem bem, estão no seu direito. Dentro dessa programação de festas, o evento de ontem ao jantar foi garantido por um primeiro-ministro que, pontualmente, às 20:00 horas, veio dirigir-se ao país desfiando aquilo a que foi chamando verdades, verdades, verdades.

Ninguém me poderá acusar de estar a olhar para Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho... mas com a cabeça no Hertha de Berlim-Benfica, pois eu não ligo por aí além à “bola”. Estava portanto a ouvi-lo com uma razoável atenção. Lamentavelmente, não consegui descortinar as tais auto crismadas verdades. Pelo meio da correnteza de vacuidades intercaladas com coisa nenhuma, ouvi, isso sim, algumas declarações preocupantemente salpicadas com as "imprecisões" do costume... e mais do mesmo.

«Duarte – Pois é tal e qual como lho digo... uma senhora brasileira – marquesa, que é o menos que lá há; a marquesa de Paraguaçu. Engenhos de açúcar a moer, trezentos e seis; pretos... entre pretos, mulatos, cabras e cabritos, é uma conta que mete medo; sem falar em cajus, bananas, farinha-de-pau, papagaios e periquitos, que isso anda a rodo pela casa – pois a mesma em pessoa é que me pediu, a mim.
Brás Ferreira – Uma marquesa deveras!
Duarte – Marquesa deveras. E eu recusei: escuso de dizer porquê...»

Este Duarte, personagem de “Falar verdade a mentir”, uma peça de Garrett com a qual travei batalhas épicas durante semanas, por volta dos meus treze anos de idade, numa guerra que ganhei (eu e principalmente o público), já que esse massacre da dita peça nunca foi à cena... este Duarte, como estava a dizer, defendia que «as estórias contadas como são, não têm graça».

Qual será a desculpa de José Sócrates?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Reforma Agrária - 35 anos



Não se deixem enganar pelo silenciamento imposto pelos donos da comunicação social e pelo silêncio acobardado das suas redacções. A sessão comemorativa dos 35 anos da Reforma Agrária, anunciada para Montemor-o-Novo, ontem, realizou-se mesmo. Eu sei. Estive lá e não estive desacompanhado. A sala, que é grande, foi muito pequena. Os mais curiosos podem saber mais pormenores, aqui.

Nenhuma nacionalização de empresas ou bancos teve uma reacção tão pronta e feroz do capital e seus representantes, como o avanço dos trabalhadores agrícolas do Alentejo e Ribatejo para os campos. Era um sonho antigo, uma luta começada muito tempo antes da Revolução de Abril. Para além dos milhares de alentejanos e ribatejanos que viram a sua vida transformada para melhor, com a conquista da terra, também os muitos outros portugueses que visitaram e viram com os seus próprios olhos a realidade da Reforma Agrária, nunca engoliram as patranhas, calúnias e ataques criminosos, desenhados e financiados pela CIA e postos em prática pelo seu mais fiel representante em Portugal, Mário Soares e pelo idiota útil para a execução do crime, António Barreto.

O silenciamento e as continuadas mentiras não apagam o sangue que foi derramado lutando pelo trabalho, pelo pão, pela Reforma Agrária, nem alteram a cristalina verdade: aquela página da História do nosso país foi a única em que se viu um Alentejo (e parte do Ribatejo) sem desemprego, sem diminuição de população, com progresso económico e social, com mais produção... com mais felicidade.

Tendo estado ao serviço de quem esteve (e está) é natural que o calhordas Barreto continue a afirmar que a destruição da Reforma Agrária foi «o acto político de que mais se orgulha»... mesmo que toda a gente veja, se quiser ver, um Alentejo novamente ao abandono, novamente coberto de áreas de lazer para grupos de amigos de latifundiários e em parte vendido a espanhóis, que aproveitando os poucos investimentos públicos feitos na região, vêm cá fazer uma espécie de “agricultura furtiva”, intensiva, que certamente encherá alguns bolsos, mas que a médio prazo acabará com a vida e qualidade dos terrenos.

É preciso voltar a falar da terra. É preciso voltar a discutir a posse e uso da terra. É preciso repensar e refazer uma Reforma Agrária!

Mudar de vida



Enquanto o Partido Socialista reúne intensamente em repetidas iniciativas voltadas para dentro de si próprio, enquanto os seus históricos vão dizendo (com visível incómodo) que não há suspeitas nem nada para explicar por parte do primeiro-ministro, ou que há suspeitas... «mas não não foi acusado de nada que precise de ser explicado», como diz Almeida Santos, a realidade, demonstrando uma grande “insensibilidade”, não tem um pingo de compaixão.

Cá fora, na vida real, as suspeitas adensam-se, os braços do “polvo” crescem, cabeças de “boys” já rolam. José Sócrates, quando devia esclarecer e sossegar o país sobre tudo o que se está a passar com a sua imagem, a sua credibilidade e, portanto, também a do Governo, escolheu dar prioridade ao partido, marcando para 15 dias mais encontros, reuniões, conversas e manifestações, do que tinha tido em todo o ano anterior.

É evidente que Sócrates tem o direito de se dizer afirmar alheio a toda esta estória da TVI e da PT, de negar tudo, caso por caso, notícia por notícia, escuta por escuta, recuando até às casinhas monstruosas da Guarda. Está mesmo no direito de jurar a pés juntos que sabe falar inglês e é mesmo engenheiro a sério...

Infelizmente para o PS, de pouco adiantará. Quando alguém, mesmo que por acidente, permite que lhe cubram a camisa de nódoas, o facto de se tapar aqui e ali, de saltar muito, de correr desesperadamente de um lado para o outro, apenas impede as pessoas de verem as nódoas com nitidez, mas apenas durante algum tempo. Fatalmente, algum dia vai ter que parar... e vestir uma camisa lavada. Estou certo de que tem mais do que uma...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Por uma questão de higiene



Quando se constrói um blog é na esperança de que alguém o veja. Que alguém aprecie as receitas culinárias, admire as fotografias, partilhe os desabafos íntimos, ouça as músicas, sinta a poesia, leia os textos. Depois queremos mais. Se escrevemos textos que veiculam opiniões, opções, críticas, desejamos que quem nos lê reaja, que interaja. Que aplauda, que corrija, que discorde, mesmo que o faça rijamente... mas que diga alguma coisa, que não fique indiferente. Abrimos a caixa de comentários de par em par e ficamos à espera. Com sorte, cumprem-se os nossos desejos.

O que eu desejava para o “Cantigueiro” está a fazer o seu caminho. Os leitores diários nunca pararam de aumentar. Mesmo que sejam algo resistentes a ir à caixa de comentários deixar um sinal da sua passagem, os poucos que o fazem, embora sejam uma percentagem muito pequena das várias centenas de leitores e visitantes que já passam aqui todos os dias, raramente me deixam “pendurado” sem uma reacção ao que escrevo.

Aquilo de que nunca estamos à espera é de que, aproveitando a porta escancarada, comecem também a aparecer, disfarçados de “discordantes”, personagens abjectas, sem uma ideia para propor ou discutir, que se limitam a insultar quem está, como é o caso deste último auto intitulado “Domingueiro” (de quem só não apago os comentários que aqui deixou para que este texto faça sentido) ainda por cima, recorrendo a um tipo de linguagem porca com a qual toda a vida convivi mal.

Ainda pensei repetir o conselho que às vezes dou: que os leitores andem pela caixa de comentários com muita atenção, contornando os tais “comentadores”, tal como nos relvados dos jardins se evitam as bostas dos cães.

Ainda pensei perguntar a esses energúmenos se, a dar-se o caso de eu atirar um pau para longe, jurando não querer o pau para nada, eles iriam a correr atrás dele... não voltando mais.

Não adianta. Creio que a única solução razoável e prática é mesmo activar a moderação de comentários que, felizmente, o blog permite.

Assim, para além de desafiar os leitores (aqueles que concordam com o que escrevo, aqueles que acham que ainda é pouco, aqueles que discordam...) a continuarem por aqui, gostaria mesmo que aumentassem o número de comentários, quanto mais não seja para que fique claro que não será por não aplaudir o que eu escrevo que alguém terá uma opinião barrada.

O limite será mesmo a ordinarice, os insultos a outros comentadores, posições fascistas, xenófobas, racistas, etc.

Esses, passam a ficar do lado de fora da porta, que é o seu lugar. A partir deste post, os vossos comentários não ficarão visíveis imediatamente, como até agora, mas sim logo que eu os leia (o que tanto pode demorar uns minutos, como algumas horas...), para decidir quais os “domingueiros” que ficam na rua a ruminar o seu próprio esterco.

Peço desculpa pela falta de paciência e pelo possível incómodo. Grande abraço!

A constância do Constâncio compensa constantemente...





O capitalismo e particularmente muitas das suas instituições financeiras, com os bancos à frente, apanharam recentemente um susto feio. Nada que a falta de vergonha na cara e a insensibilidade social que caracterizam o sistema não tenha já praticamente resolvido.

Os de sempre, mais uma vez perderam empregos, perderam as casas por que trabalharam durante anos a fio, perderam economias de uma vida inteira... em muitos casos, perderam mesmo a esperança. Os (realmente) grandes tubarões e os especuladores sem escrúpulos fizeram dinheiro como nunca.

Nesta “retoma” dos lucros gigantescos, dos ordenados e prémios obscenos, dos negócios escuros, da lavagem de dinheiro, do crime económico organizado, da fuga generalizada aos impostos, a banca e demais jogadores desta economia de casino europeia, precisavam de relançar as suas actividades sem esbarrar em grandes obstáculos. Precisavam de um Banco Central Europeu com um responsável pela supervisão dos mercados financeiros que fosse, digamos... fofo. Não podiam deixar de “adquirir” o Dr. Vítor Constâncio, tais foram as provas que deu, enquanto supervisor atento e implacável para com as bandalheiras que recentemente se passaram em bancos portugueses.

Lá vai ele, contente e principescamente pago, servir ainda melhor aqueles a quem sempre serviu. Dizem por aí os tristes do costume que isso é um «êxito da diplomacia portuguesa»... ou mesmo uma «honra para Portugal».

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

GNR – A dignidade... dos cavalos



O posto da GNR de Mértola é uma humilhação diária para os homens que ali trabalham. Ganhou o “honroso” título de pior posto do país. Ali, os homens dormem, escolhendo estrategicamente o lugar em que não caia água do tecto, água que é artisticamente aparada por baldes de plástico. Ali, os arquivos e demais papelada, têm que estar cobertos com grandes plásticos, porque como já disse, a chuva não consegue distinguir lá muito bem o que é o exterior e o interior do posto. Está em risco de ruína há vários anos. Em 2007 a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) ordenou o seu encerramento, por não reunir o mínimo de condições de funcionalidade. É uma vergonha! Porém nem tudo é mau, a saber:

1. A renda que o Ministério da Administração Interna paga pelas maravilhosas instalações que não quer largar é apenas de 12 euros por trimestre, o que para o Estado (a que chegámos) deve compensar largamente a hipotética perda da vida de algum dos militares a quem caia um pedaço do tecto na cabeça, enquanto dormir.

2. À cautela, desde 2008 que o esquadrão de cavalaria foi retirado dali, para local mais seguro, o que é um gesto bonito e bastante humano da parte de quem manda, já que os cavalos da GNR são, na maior parte, animais maravilhosos e muito valiosos.

Agora os militares da GNR de Mértola só têm que lutar por conseguir um Ministro da Administração Interna que tenha por eles, pelo menos, a mesma consideração que tem para com os cavalos.

José Sócrates e o “polvo”





Mesmo correndo o risco de ser mais uma vez visitado pelos sócios mais malcriados e activos da “Liga dos Pêésses Anónimos”, tenho que voltar a abordar a figura do nosso “primeiro ministro tipo engenheiro”, o qual, diga eu o que disser, já reservou um lugar na História de Portugal. Se alguma vez se elencar a performance dos governos dos últimos trinta anos, ele terá garantido o título de “coisa mais miserável que aconteceu ao país”, acumulado com o de “maior tragédia para o seu próprio partido” (Mário Soares foi ainda pior... mas está numa classe à parte). E tudo isto por coisas que realmente fez e não pelas que quase todos suspeitamos que tenha feito. Por essas, que não estão de todo provadas, o mais que poderia conseguir, seria um lugar em casa... ou na pior das hipóteses, um tempito na penitenciária... daí a azáfama que para aí anda de encobrimentos, destruições de provas, declarações desencontradas, mentiras, areia, areia...

Mesmo assim, quanto mais não seja por uma questão de organização de todos os factos históricos, para memória futura, há sempre quem, felizmente!, se dê ao trabalho de escrever sobre esta personagem textos muito acima da fasquia, como é este “O polvo”, publicado no “Autoridade Nacional”. Cheguei lá, alertado pelo “Anónimo do Séc.XXI” e depois com mais um empurrão do “5dias.net”. Dêem lá um salto. Respirem fundo, que o texto é longo, mas muito bom. No fim verão se o autor não tem toda a razão em perguntar: «E depois de fazer tudo isto às claras, ainda é preciso especular sobre o que fez às escondidas?»

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Fortes com os fracos...






O “ganita” e o “pistolas” estão a ser julgados por terem roubado (comprovadamente) um pacote de amêndoas e uma garrafa de whisky que nunca ninguém viu. Segundo o Procurador do Ministério Público, ficaram dúvidas sobre o roubo da garrafa, «mas das amêndoas temos a certeza que foram no bolso».

Em parte alguma são mencionadas armas envolvidas no audacioso golpe. Pelo roubo da garrafa invisível e do saco de amêndoas, agravados pelo empurrão à funcionária que os abordou, dado por um, e pelas ameaças, feitas pelo outro, enfrentam uma pena que pode ir até oito anos de prisão.

Como obviamente sou contra os assaltos e roubos, sejam eles de que “qualidade” forem, não me ocorre comentário algum, a não ser que tenho imensa pena de que a Justiça seja assim rápida e severa... mas quase sempre só para com os fracos. Isso, infelizmente, tem um nome bastante feio...

Alberto João Jardim



Segundo as notícias, o inenarrável Alberto João Jardim mascarou-se de Vasco da Gama e, entre copos, tambores, pernas e mamocas ao léu, declarou “solenemente” que ia à procura de Portugal.

Pena, que não se tenha mascarado de Dr. Miguel Bombarda e ido “solenemente” à procura do seu quarto no hospital...

A equipa médica está a ficar muito preocupada pois desde que abandonou as instalações já faltou a vários tratamentos, nomeadamente de alcoologia e de hiperactividade, que são os que toda a gente conhece... os restantes estão protegidos pelo sigilo médico.

Exigência de ruptura - Oh, não, outra vez...



Num zapping por vários jornais online, passei pelo “Jornal Avante!” e dei com este título: «Exigência de ruptura» – PCP analisa dez anos de política de direita. Trata-se do título de um documento extenso, primeiro resultado visível de um seminário promovido por aquele partido, onde se dissecaram as políticas de direita que nos trouxeram até ao ponto em que nos encontramos, apontando causas para essas políticas e, como é costume dos comunistas, propondo «outros caminhos» que, segundo o seu entendimento, são melhores para «um Portugal mais justo, solidário e desenvolvido». É, decididamente, um documento a ler.

Se no nosso país as redacções dos jornais e telejornais não estivesse de gatas perante o poder económico que na realidade controla as suas linhas editoriais, este seminário teria sido seguido em termos noticiosos, as suas conclusões divulgadas e alguns dos participantes, numa altura em que o país tanto precisa de contributos que abram horizontes de opções políticas futuras, teriam sido entrevistados em vários órgãos de comunicação para expor as suas teses. Só dessa forma os cidadãos interessados na nossa realidade, independentemente de serem militantes comunistas, simpatizantes, adversários ou inimigos, poderão ter opiniões informadas e correctamente formadas sobre essas conclusões e propostas.

Claro que isso é o que fariam os jornais decentes, com jornalistas livres. Claro que isso é o que fariam os cidadãos interessados. No meu caso, como não passo de um palerma, prendo-me sempre pelos pormenores... e fico a contar as horas e os dias até vir um “génio” da candidatura de Paulo Rangel a líder do PPD-PSD, com o seu programa de “ruptura”, dizer que os comunistas lhes surripiaram o “conceito”, como já antes tinham espoliado o pobre Obama, com o «Sim, é possível!»... e tal como então, não vai adiantar nada esclarecer até à exaustão há quanto tempo andam os comunistas portugueses a propor e exigir em discursos e documentos vários uma verdadeira política de ruptura.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Viva José Sócrates! – Quem?!...



Anda bem o Partido Socialista ao demarcar-se da patética tentativa de convocar, por SMS, uma “grandiosa” manifestação de apoio a José Sócrates. Os misteriosos promotores da manifestação de desagravo ao “chefe” não fazem a coisa por menos: querem encher a Alameda da Fonte Luminosa, em Lisboa... e assim esmagarem as “aleivosias”, “campanhas negras” e outras coisas ainda mais sinistras, de que o Primeiro Ministro é alvo, sem que, evidentemente, tenha feito seja o que for para o merecer...

Repito que anda bem o PS ao dizer que não tem nada que ver com a iniciativa, pois esta não pode ser mais do que um grande fiasco, por três razões principais:

1. Nunca encheriam a Alameda. Esse nível de mobilização do PS está lá bem longe na História, perdido no tempo em que o demagogo traidor do 25 de Abril, Mário Soares, agitava por todo o lado, incluindo a famosa Alameda, a bandeira do papão comunista, ajudado e financiado pela CIA.

2. Mesmo que apareçam muitos apoiantes, todo o país percebe que uma grande parte será gente do tipo fiel/bóbi, do nível de alguns que aqui vêm insultar-me (e aos comentadores) sempre que se toca num cabelo de Sócrates.

3. O mais certo é ser um flop, o que constituiria uma vergonha insuportável mais, a somar às outras que andam há tanto tempo a amarfanhar a imagem de “socialista democrático, popular e moderno” que o ex jovem do PPD e Secretário Geral do PS tanto queria ostentar.

Andarão ainda melhor se (como parece já estar a acontecer) começarem discretamente a gizar um bom plano para se livrarem dele, no caso de pelo menos alguma parte do que está a sair nos jornais (o que será mais do que suficiente) vir a revelar-se verdadeiro.

Se fosse possível!...


(Imagem surrupiada ao "Jumento")

Inspirado num comentário de uma amiga num blogue, ainda pensei organizar uma petição online para que este nosso “carnaval”, ruidoso, gigantesco, desavergonhado, porco, em que os mais variados fantoches e caricaturas de gente tomaram de assalto a nossa vida política e económica... acabasse realmente na quarta feira.

Só que isto não vai lá com petições!...

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Alvo errado






Esta é apenas mais uma entre as catadupas de notícias que, ao longo de décadas, nos têm dado conta do estado do nosso Produto Interno Bruto. Recuos, avanços milimétricos, estagnação, mais estagnação, recuos...

Perante uma tão indisfarçável e reiterada incompetência revelada ao longo de tantos anos por parte dos responsáveis pela nossa economia, juro que não entendo porque é que se insiste em continuar a chamar “bruto” exactamente ao coitado do Produto Interno... que não tem culpa nenhuma.

Unicórnio azul



Caminhando pela alameda das velhas árvores, trespassado de frio, senti no chão o vibrar de um trote fugidio... o som de uma respiração pesada. Olhei para trás ainda a tempo de ver de raspão um cavalo feito de névoa... ou, quem sabe?... seria o unicórnio azul...

Talvez seja apenas o meu grande cansaço de ver e ouvir o lixo que escorre das rádios, televisões e jornais.

Unicórnio azul
(Sílvio Rodriguez)

Mi unicornio azul ayer se me perdió,
pastando lo deje y desapareció.
Cualquier información bien la voy a pagar.
Las flores que dejó
no me han querido hablar.

Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
no sé si se me fue,
no sé si extravió,
y yo no tengo más
que un unicornio azul.
Si alguien sabe de él,
le ruego información,
cien mil o un millón
yo pagaré.
Mi unicornio azul
se me ha perdido ayer,
se fue.


Mi unicornio y yo
hicimos amistad,
un poco con amor,
un poco con verdad.
Con su cuerno de añil
pescaba una canción,
saberla compartir
era su vocación.

Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
y puede parecer
acaso una obsesión,
pero no tengo más
que un unicornio azul
y aunque tuviera dos
yo solo quiero aquel.
Cualquier información
la pagaré.
Mi unicornio azul
se me ha perdido ayer,
se fue.

“Unicórnio azul” – Sílvio Rodriguez
(Sílvio Rodriguez)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Rir faz bem



Eu sei. Eu sei que olhando para a cara ninguém suspeita, mas a verdade é que este deputado é um comediante de mão cheia. Chama-se Afonso Candal e sim, é filho do histórico Carlos Candal, de Aveiro.

O nosso jovem Afonso Candal resolveu discursar longamente e de improviso, na Assembleia da República e no final da discussão do Orçamento, sobre as incontáveis maravilhas da governação “socialista”. A coisa foi avançando, entre sorrisos daqui, bocejos dacolá... até que alguém reparou que a doutora Manuela Ferreira Leite já ria a bom rir, sem o conseguir esconder, chegando mesmo a chorar de tanto rir. Claro que uma coisa destas é altamente contagiosa e não tardou a alastrar para alguns dos seus companheiros e companheiras de partido e logo depois para todos os outros grupos parlamentares.

Dir-se-á que fazer Manuela Ferreira Leite chorar a rir e conseguir mesmo um “consenso” de toda a oposição... é obra. É... mas também é verdade que, numa altura destas, durante um sermão laudatório sobre o governo, na passagem em que falava das energias renováveis, resolver enaltecer o “grande potencial do Sol... é um toque de génio.

É nestes pequenos pormenores que se revelam os grandes comediantes.