Hoje é um dia de grandes decisões para milhões de eleitores brasileiros. Nas mãos do cidadão comum, do “povão”, como se diz por lá, está a possibilidade de colocar no poder Dilma Rousseff e uma ideia de continuidade e desejado aperfeiçoamento do trabalho com muitos aspectos positivos, mesmo que com problemas e contradições, realizado pelo Presidente Lula da Silva... ou recolocar o Brasil nas mãos da direita mais reaccionária que, se não detém o poder político, é ainda dona e senhora da esmagadora maioria das riquezas que fazem do país uma grande potência económica regional e mundial.
Tudo se joga na urna de voto, embora a direita morra de saudades das décadas e décadas em que dominou o país na ponta das armas. Mas já que, como disse, tudo se vai jogar nos votos livres dos cidadãos, tudo, ou quase tudo vale, para ganhar esses votos.
Ninguém fica pois espantado pelo facto de o ultra reaccionário cidadão do Vaticano, o senhor Ratzinger, com a profissão de Papa católico e que se intitula “vígaro de Cristo”... ou vigário... ou lá como é que isto se diz, tenha decidido, à última hora, intervir ruidosamente na campanha eleitoral, pedindo a todos os Bispos brasileiros que exortem os fieis a votar... mas no candidato da direita e não em Dilma Rousseff.
Gostaria de agradar aos meus amigos católicos mostrando-me “surpreendido” com a atitude do Papa... mas não consigo. De facto, o homem não perde uma única oportunidade para demonstrar qual o verdadeiro deus a quem pressurosamente serve na Terra.
Como um dos desabafos mais “desesperados” que li nas diversas caixas de comentários dos jornais que têm tratado o tema das eleições brasileiras aqui em Portugal, todos, ou quase todos, fazendo igualmente campanha descarada contra Dilma e o PT, foi escrito por uma senhora rosnando que (cito de memoria) «o Brasil estará, se Dilma ganhar, a um passo da ditadura do proletariado... ainda por cima dirigido por essa continuadora da política do “pinguço” iletrado do Lula», eu, como hoje é domingo, dia de música aqui no estabelecimento e porque imagino que a ofendida e assustada senhora deve ser uma verdadeira “madame”, vou dedicar-lhe a canção de hoje... que aproveito para também dedicar ao senhor Ratzinger, que como toda a gente já viu, usa vestidos ainda mais compridos do aqueles que, quase de certeza, usa a “madame”.
A canção escolhida é uma pérola de ironia, já com muitos anos de estrada, desde sempre identificada com o repertório do mestre absoluto da “bossa nova”, João Gilberto, mas que eu vos ofereço na encantadora e contagiante versão da jovem Teresa Cristina que, dizem os entendidos por lá, está destinada a recolocar o bom samba tradicional dos bairros populares do Rio novamente no “mapa” e no lugar que sempre mereceu.
Pra quê discutir com madame
(Janet de Almeida / Haroldo Barbosa)
Madame diz que a raça não melhora
Que a vida piora por causa do samba
Madame diz que o samba tem pecado
Que o samba coitado devia acabar
Madame diz que o samba tem cachaça
Mistura de raça, mistura de cor
Madame diz que o samba é democrata
É música barata sem nenhum valor
Vamos acabar com o samba
Madame não gosta que ninguém sambe
Vive dizendo que samba é vexame
Pra que discutir com madame?
No carnaval que vem também com o povo
Meu bloco de morro vai cantar ópera
E na avenida entre mil apertos
Vocês vão ver gente cantando concertos
Madame tem um parafuso a menos
Só fala veneno, meu deus que horror
O samba brasileiro democrata
Brasileiro na batata é que tem valor
“Pra quê discutir com madame” – Teresa Cristina
(Janet de Almeida / Haroldo Barbosa)