sexta-feira, 30 de abril de 2010

Predadores e terroristas



De vez em quando lá chega mais uma “envergonhada” e discreta notícia sobre novos bombardeamentos norte-americanos, feitos com estes belos objectos tecnológicos de destruição, os aviões não tripulados que, muito a propósito, foram baptizados de “predadores”.

Sempre que uma destas aeronaves assassina cegamente inocentes que, por infelicidade, estavam perto dos alvos a abater, vítimas a que os senhores da guerra chamam candidamente “danos colaterais”, uma das coisas que mais me espanta é a passividade com que a comunidade internacional aceita o facto consumado.

Isso... e não saber lá muito bem como classificar o acto. Vejamos:

A um qualquer militante, mais ou menos fanático, mais ou menos equivocado nos métodos, que decide imolar-se num qualquer ataque suicida que acabará por vitimar cegamente quem quer que seja que o rodeie... a opinião pública classifica rapidamente como “terrorista”.

Ao “bravo” militar dos EUA que fica sentado numa sala protegida, quem sabe, climatizada, operando o computador que comanda um destes “Predator”, com a frieza de quem joga um jogo de vídeo numa “playstation”, ouvindo a sua música preferida enquanto vai matando homens, mulheres e crianças a centenas de quilómetros de distância, sem dar a cara, em perfeita segurança... poderemos, em justiça, chamar exactamente o quê?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

De partida



Dentro de poucas horas aterrarei num dos paraísos atlânticos, uma das “ilhas de bruma” açorianas. Desta vez será em Santa Maria. Gente que não se deixa “cercar”, nem pelo oceano nem por coisa nenhuma, decidiu festejar Abril em Maio. Para isso contarão, espero, com o Zeca Medeiros, vizinho de ali mesmo ao lado, com o Manuel Freire e comigo. Cantaremos no dia 30 e no dia primeiro de Maio. Vai ser bom!

Como não levo computador portátil, nem sei se por lá terei acesso ao blog, os textos irão entrando... mas os comentários à espera de publicação irão acumular-se até eu voltar. Apenas isso...

Tomem conta aqui do “rectângulo”... e fiquem bem.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Irracional





O cão da minha vizinha, um daqueles pequenotes e desajeitados que parecem feitos por curiosos, passa horas a correr no quintal, convencido de que vai apanhar os pássaros que poisam, imperturbáveis, no limoeiro, na ameixoeira... e onde querem. Quando descobre que está a fazer figura de urso, continua a correr em círculos excêntricos, mas desta vez com um patinho amarelo de borracha entre os dentes. Daqueles que têm um apito. É uma alegria! A cada passo do cão, o pato apita. Isto, durante horas. Claro que o animal tem uma boa desculpa: é irracional. Quase tão irracional como “o mercado”, onde, pelo menos segundo as “regras” que têm vigorado até aqui, uma empresa (ou mesmo um país) pode perder milhões de euros, não porque alguma coisa tenha acontecido à empresa, às suas encomendas, ou aos seus accionistas... mas porque uma gralha num artigo de um qualquer jornal económico, uma asneira num qualquer discurso de um Presidente da República (tipo o “gato por lebre” de Cavaco), uma má disposição de um analista, ou as conspirações e manobras concertadas dos verdadeiros braços armados dos gangs da finança, que são as agências de rating, cada uma por si ou todas juntas assustam “o mercado”, que fica a correr em círculos, fazendo coisas ainda mais estúpidas do que o cão da minha vizinha.

Claro que para os “analistas”, as ondas de despedimentos e os milhares de vidas e projectos pessoais e familiares que assim são empurrados para o desespero, são meras movimentações dos mercados.

Claro que essa grande luminária da SONAE, Belmiro de Azevedo, tinha que vir garantir-nos que «o mercado tem sempre razão».

Está cada vez mais clara a manobra de chantagem sobre os trabalhadores. Até já se acena com uma possível coligação, caso não seja suficiente a “unidade” de todos os partidos da oposição, para alinhar com o Governo quanto às medidas excepcionais que por aí vêm, a somar, evidentemente, ao PEC.

Quanta gente conseguirão enganar?

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ana Jorge - Grande “contributo”!






O IPO (Instituto Português de Oncologia) decidiu manter gratuitos os lugares de estacionamento para uma série de gente... menos para as ambulâncias que de todo o país ali se deslocam transportando doentes com cancro. A medida, que deve ter um alcance económico suficientemente fantástico para resolver os problemas orçamentais do Ministério da Saúde e financiamento do Hospital, já provocou o caos entre as ambulâncias de bombeiros, para além da incompreensão de uma medida que, aparentemente, é apenas estúpida.

Convidada a pronunciar-se sobre o problema, a brilhante Ministra da Saúde, Ana Jorge, descobriu que as alterações das regras de estacionamento no IPO podem ser um «contributo para que as pessoas apenas estacionem quando precisam».

Das duas uma: ou a Ministra estava a pensar naquelas dezenas e dezenas de bombeiros que apanharam o vício de, sempre que não têm nada para fazer em Faro, Braga, ou na Covilhã... vêm para o IPO, apenas para estacionarem as ambulâncias, sem precisarem; ou então, não estava a pensar coisa nenhuma, que parece ser a força que a faz produzir frases destas. A violenta pressão do grande vácuo cerebral expele estas “ideias” que devem andar por ali, à toa...

Símbolos



Os dias que antecedem, mais os que se seguem ao 25 de Abril são, há muitos anos, uma oportunidade de ouro para os lacaios dos donos de jornais, que se disfarçam de jornalistas, cronistas, ou analistas, justificarem o dinheiro que todos os meses levam para casa, vomitando umas boçalidades sobre a Revolução e aqueles que a fizeram. Uma das suas técnicas preferidas é tentarem (pelo menos gostariam...) gozar com a esquerda, os ideais de esquerda e os seus símbolos. Os símbolos deixam os coitados enervadíssimos. Este infeliz que escreve umas colunazitas no CM é apenas um dos muitos casos.

Confesso! Simpatizo com os símbolos. Nos actos, na vida, nas cantigas e artes em geral e, portanto, nas palavras. Daí voltar a este belo texto publicado há dias pelo Sérgio Ribeiro, onde a dada altura, para ilustrar a ideia de que não estamos condenados ao abismo e à “falência”, ou, como única alternativa, a fazer ordeiramente o que quer o capital internacional, como nos dizem os discursos oficiais, produziu estas palavras fortemente simbólicas: «Há é que mudar de políticas, das políticas que nos trouxeram à borda do precipício. E não há que recuar, há é que dar dois passos atrás, virar à esquerda e aproximarmo-nos da ponte que nos leve ao futuro.»

Quanto mais não seja para irritar aqueles que detestam os nossos símbolos, apeteceu-me acrescentar a estas belas palavras do Sérgio a imagem de uma ponte com uma cor a condizer com a força que nos anima os passos, com o futuro a que nos leva e com o intenso verde da esperança activa que a enquadra.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Cavaco Silva – A aversão aos cravos



Para além da já habitual “grande ambição” temática, cultural e ideológica dos discursos de Cavaco Silva nas cerimónias comemorativas do 25 de Abril que, desta vez, para além das generalidades se ficou por um “ataque” aos roubos, perdão... aos prémios e ordenados que alguns gestores arrecadam, “ataque” que amedrontou esses gestores ao ponto de o calhordas António Mexia declarar, com ar de gozo, que o discurso foi «muito mobilizador», para além de tudo isto, como dizia, aquilo que mais se destacou, como sempre, na performance presidencial, foi a famosa ausência de cravo na lapela.

Só uma qualquer espécie de atavismo, esse misterioso método de transferência de características de geração em geração (muitas vezes as piores) pode explicar este verdadeiro medo/pânico de Cavaco ao uso do cravo, medo/pânico apenas encontrado em alguns cavalos, vítimas de experiências traumáticas às mãos de ferradores desastrados, ferraduras... e os respectivos longos e pontiagudos cravos.

Acho que alguma alma caridosa devia explicar ao homem a diferença entre os vários cravos: Cravos de Abril, cravos para tocar música, verrugas, especiarias, et cetera, et cetera, et cetera... e cravos para espetar nos cascos.

Olá amigo! Prazer em conhecer...



Muitas vezes os animais encarregam-se de nos dizer, com uma clareza quase brutal, que não é deles, mas sim dos “humanos”, a culpa de o mundo ser a montureira e verdadeiro coio de canalhas em que se tornou.

E nem precisam de ler jornais, nem ver televisão...

domingo, 25 de abril de 2010

25 de Abril... sempre?










Sempre bonitos, exaltantes mesmo, estes dias em que ano após ano se lembra Abril, fala-se de Abril, canta-se Abril. Grita-se “fascismo nunca mais, 25 de Abril sempre!”...

E agora? O que fazer com os outros mais de trezentos e sessenta dias para os quais também se fez o 25 de Abril? Em quantos deles vamos lembrar Abril, falar de Abril, cantar Abril?

Viana do Castelo - Um grande salto... até no tempo e na memória



Terminada a sessão de cantigas no Couço há que fazer, durante a noite, a ligação para Viana do Castelo (que é já mesmo ali...) onde cantarei à tarde, nesta bela praça... se o estado do tempo o permitir.

Outro cenário. A “velocidade” contagiante do Minho, a cor em doses desmedidas, o mar que chega em ondas carregadas de iodo vindas directamente da Praia do Norte da minha infância.

sábado, 24 de abril de 2010

Voltar ao Couço




À hora a que entra “no ar” este texto, já me fiz ao caminho para o Couço, onde cantarei à noite. Para uma grande parte daqueles que se dão ao trabalho de ir visitando este blog o Couço não precisa de nenhuma apresentação. Para aqueles que não sabem... teria que ficar aqui por um bom par de horas a desfiar estórias, História, heroísmo, anos de prisão, uma Reforma Agrária muitos anos antes de Abril, repressão feroz, firmeza de convicções, resistência, saudades de algumas pessoas...

Vai ser uma noite boa! Num Couço que já viveu muito desde a altura em que o fotógrafo italiano Fausto Giaconne ali aterrou nos idos de 75 e se apaixonou pela terra, pela gente, pela Reforma Agrária... e foi fazendo fotografias e mais fotografias e foi voltando... vendo as pessoas crescer...

E agora?





Descansado pelo facto de saber que por esta altura já ninguém me confundirá com um admirador de nenhum dos dois irmãos Sá Fernandes, fico à vontade para dizer que fui estando de acordo com quase tudo o que o advogado foi dizendo ao longo do dia de ontem.

Provado que foi, em tribunal, que o corruptor Névoa, da Bragaparques, quis mesmo corromper José Sá Fernandes, e que este, conjuntamente com o seu irmão advogado, decidiu denunciá-lo, mesmo assim o tribunal decidiu absolvê-lo, porque apenas tentou que o vereador mudasse publicamente um sentido de voto. Como a decisão final que o corruptor estava a tentar comprar não estava directamente nas mãos do vereador, essa tentativa de corrupção, segundo o raciocínio e julgamento aberrantes do juiz... não é crime.

O calhordas Domingos Névoa recorreu da primeira condenação (multa de 5.000 euros) e ganhou! Nem a multa vai pagar! Portanto, a fazer fá na, chamemos-lhe assim... jurisprudência desta triste imitação de juiz, passa a ser normal que empresários e promotores disto e daquilo, tentem comprar, ou comprem mesmo, os votos (por exemplo) de deputados suficientes para fazer aprovar esta ou aquela lei que melhor lhes convenha... já que os posteriores actos admninistrativos que daí advenham, não serão da sua responsabilidade. Fantástico!

E agora? Como é que se convence um cidadão normal, ou um funcionário de uma repartição pública qualquer, a denunciar uma tentativa de corrupção? Sabendo que vai ser publicamente enxovalhado, gozado - “Devia era ter-se calado e embolsado a massa!”, “Ganda parvalhão!”, “Havia de ser comigo!...A mim é que ninguém oferece nada!” - que no fim de tudo ficará a ver o traste que tentou enfiar-lhe o dinheiro nas mãos a rir, livre como um passarinho... e que, com “sorte”, ainda terá que lhe pagar uma indemnização, como aconteceu ao advogado Sá Fernandes... não será fácil!

De que raio de “escolas” sai esta estirpe de “juízes”?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Face oculta - Se for verdade... foi uma bela imitação de processo!



Vários CDs contendo escutas de conversas gravadas no âmbito do processo “face oculta”, dado incluírem algumas baboseiras e uma ou outra ordinarice, proferidas pelo Primeiro Ministro, foram declaradas nulas e ordenada a sua destruição, independentemente do que mais por lá se ouvisse, pudesse ou não esclarecer alguns dos crimes em investigação.

Apesar dos protestos de advogados dos arguidos que, com razão, defenderam que a destruição de provas prejudicaria a defesa dos seus clientes; apesar da opinião contrária de vários juristas; apesar de, como se sabe, a oposição, até do Ministério Público, o “Supremo Juiz” do Supremo Tribunal, Noronha do Nascimento fez voz grossa (passe a graçola...) e avançou mesmo com a destruição das gravações.


Devo estar a tornar-me uma pessoa má... pois a verdade é que uma coisa destas já nem consegue surpreender-me. No entanto não deixa de enojar-me. Fica a enjoativa sensação de que era este exactamente o resultado que sempre se pretendeu alcançar.

A solução é seguir em frente. Cuidadosamente, para não pisar...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Inês de Medeiros - Soluções “gourmet”



E pronto. Chega ao fim a novela das viagens da deputada Inês de Medeiros. Fazendo uma “adaptação” do seu caso àquilo que já é praticado em relação aos parlamentares madeirenses e açorianos, ficou resolvido que a deputada terá direito a uma viagem semanal a Paris, onde reside, mais as devidas ajudas de custo.

Ainda bem, pois a existir alguém culpado nesta estória, seria certamente quem a convidou a candidatar-se pelo círculo de Lisboa, sabendo perfeitamente que ela mora em Paris. Inês de Medeiros sai assim da desconfortável posição de “saco de pancada”, posição em que se encontrava por culpa de uma situação que não criou... e a partir de agora, como deve ser, será criticada ou elogiada pelas coisas que efectivamente faça no exercicio das suas funções.

Claro que o facto de esta solução ter enquadramento legal não me impede de discordar, nem da situação em si, nem do dito enquadramento, embora tendo que aceitar ajudar a pagar as passagens... mesmo não votando em Lisboa e muito menos no PS.

E perguntam vocês: ó Samuel, então se estás conformado com “a coisa” para quê o post? São os pormenores. Sempre os pormenores e as suas fantásticas revelações! Diz o título do “Sol” que, dada a votação renhida e perante o empate final, a solução foi conseguida com o «voto de qualidade» do deputado do PS, José Lello... o que quer dizer que ainda há quem ache José Lello capaz de produzir alguma coisa “de qualidade”... nem que seja um voto.

Mi Buenos Aires querido *



É notoriamente um bem escasso... mas de vez em quando lá nos chega uma boa notícia. Esta vem da Argentina, terra de gente boa, grandes espaços e música forte, farta e bonita (sim... incluindo o tango). Diz-nos a notícia que um tribunal argentino não se impressionou com os 82 anos de idade de um réu, condenando-o a 25 anos de cadeia. Trata-se do cidadão Reynaldo Bignone, General em título, mas assassino de profissão.

O General Reynaldo Bignone foi, entre 1978 e 1979, vice-chefe da base militar Campo de Mayo, centro especializado em prender, torturar e assassinar os opositores à ditadura. Para além deste “serviço exemplar”, responsável por mais de 30.000 mortos e “desaparecidos”, foi ainda Presidente da Argentina, entre 1982 e 1983. O Tribunal conseguiu ligar o nome desta "hiena" a 57 homicídios e a 500 dos célebres raptos de bebés, cujas mães eram obrigadas a dar à luz em centros clandestinos.

Se tudo correr bem, o bandido verá o fim dos seus dias atrás das grades. Até lá, irá certamente ruminando fantasias de vingança e mais assassínios em massa, enquanto os seus advogados, como é o costume nestes casos, alegarão, uns, o seu sentido arrependimento, outros, que está doentinho...

É uma boa notícia esta que nos chega da Argentina. Ao contrário da Espanha, onde a estrema direita franquista se agarra e defende com unhas e dentes (e ameaças) a “Lei de Amnistia”, cuja aprovação forçaram durante a chamada transição para a democracia, lei que faz tábua rasa de todos os crimes do franquismo. Ao contrário de Portugal, onde falar dos crimes do salazarismo e do asco provocado pela bela vida que levam os torturadores e assassinos da PIDE, por exemplo, para já nem falar daqueles a quem são concedidas boas pensões e até, condecorações... é uma coisa que parece mal. Estraga qualquer ambiente, sei lá... não é fino...


* Com um grande “olá” ao Carlos Gardel que, decididamente, não entra nesta estória.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Espécie realmente muito rara, ou simples lenda?


(Francis William Edmonds – “O especulador”)

A actividade frenética das “aves de rapina”, ou “animais ferozes”, visando fragilizar ainda mais a economia portuguesa, para com isso ganhar alguns milhões, está ao rubro. Estou a falar das agencias de rating, mais os economistas e analistas avulsos que se têm dedicado a “enterrar” Portugal, declarando uns, a bancarrota, outros a morte lenta... outros, sei lá... a perda total do cabelo, mas sempre, sempre, sem denunciar as causas reais que nos trouxeram até aqui.

Devo esclarecer que a feliz designação de “aves de rapina” e “animais ferozes”, não é minha, mas sim de um secretario de Estado, mais exactamente, do orçamento, como se pode ler no “Anónimo do Séc.XXI”, o blog do meu amigo (de infância) Sérgio Ribeiro. O Sérgio é uma das pessoas mais indicadas para falar e escrever, acertadamente, sobre a actividade desta “bicharada” daninha, sobre as razões e interesses que têm e a quem servem. Feita a apresentação do tema cá vou eu, como de costume, direito a um pormenor.

Num dos canais de televisão, um jornalista comentava (preocupadamente) que toda esta barragem de artilharia sobre a nossa economia deixaria Portugal «à mercê de especuladores menos escrupulosos».

Posso ter entendido mal... mas fiquei com a impressão de que, pelo menos para quem escreveu o texto da notícia, existe a fantástica possibilidade de, algures, se poder encontrar algum especulador com escrúpulos.

“Pia” – Um nome... tantos significados!



O tristemente famoso julgamento do “Processo Casa Pia” caminha para o fim. Depois de vários anos, a conclusão aproxima-se, lenta e penosamente, ainda não é para já... mas já se fala em admitir possíveis condenações, embora alguns advogados ainda classifiquem as acusações dos jovens violados como «fantasias», ou tenham a lata de dizer que, a haver condenações, os seus clientes «não tiveram oportunidade de se defenderem».

Infelizmente, declarações como estas, ou o facto de já me parecer que foi neste pequeno autocarro que as primeiras testemunhas se deslocaram para o tribunal para as sessões dos primeiros anos (a memória já me trai...), não são aquilo que mais me espanta. Não. Aquilo que me deixa o maior amargo de boca é ir ficar definitivamente convencido de que, independentemente da culpa ou inocência destes acusados, muitos outros, tão ou ainda mais culpados do que estes, nunca viram a cor do banco dos réus... e vão safar-se!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Vítor Constâncio – Mostrar serviço







O futuro vice-presidente do Banco Central Europeu ataviou-se com as vestes de sábio, leu as conchinhas e os búzios... e recomendou «prudência» na futura taxação dos lucros da banca e na regulação das suas actividades.

É evidente que os bancos não podem pagar mais impostos do que aquilo que tão penosamente já pagam... e se for possível, deve haver ainda menos regulação do que aquela que nos trouxe à brilhante situação em que estamos! Então não é?

Porra!, que já está a fazer o jeito aos banqueiros europeus que lhe pagam! – pensam vocês com as vossas mentes retorcidas e mal intencionadas.

Pergunto eu: se não for assim, como é que o homem começa a justificar o mais que generoso aumento de ordenado? Hein?

Ricardo Rodrigues – No país das “costas quentes”



Logo a abrir os trabalhos e para deixarem a sua “marca registada” os deputados do PS na Comissão Parlamentar de Inquérito ao negócio PT-TVI, aceitaram ser figurantes numa espécie de "Teatro de Fantoches” que alguém, de cima, lhes ditou. Com a grande superioridade moral dos impolutos, declararam a sua suspeição sobre a idoneidade do deputado João Semedo (BE) para exercer a função de relator da CPI, por este ter declarado numa entrevista estar convencido de que houve “mão” do Governo em toda a estória do abortado negócio. Como aos olhos dos “socialistas” o homem, por pensar o que disse (e dizer o que pensa), deve ser no mínimo um malandro da pior espécie, estão seguros que mesmo vindo a provar a CPI que o Governo e Sócrates não foram perdidos nem achados em toda a trapalhada... é evidente que João Semedo irá escrever no relatório final aquilo que muito bem lhe der na cabeça.

O deputado João Semedo não precisa da minha defesa para nada... sendo que, e muito bem, todos os partidos presentes se demarcaram daquela garotice.

De qualquer maneira, não posso deixar de ficar a pensar em como é extraordinário que o Partido Socialista, depois de já ter tido a lata de colocar o deputado Ricardo Rodrigues a dar a cara pela luta contra a corrupção, vir colocá-lo também à frente da delegação “socialista” nesta CPI... e em posição de questionar a idoneidade seja de quem for. É quase tão extraordinário como o facto de o próprio Ricardo Rodrigues ter o descaramento de aceitar essas tarefas, quando as suas estórias (alegadamente) passadas na sua açoriana ilha de S. Miguel ficaram tão, mas tão mal contadas. As que tinham que ver com banditismo económico e as outras...

Não vou pegar em nenhum link de nenhuma dessas estórias... porque nada foi nem provado, nem cabalmente desmentido... estando tudo, como vai sendo costume, algures, debaixo de um já gigantesco tapete atascado em lixo. Além de que, a partir daqui, o texto começaria a ficar muito “feio”.

«O PS não gostaria de participar numa comissão em que o seu relator já demonstrou qual é a sua convicção, a qual conduzirá à conclusão do seu relatório», afirmou o deputado Ricardo Rodrigues. Pois tenha Paciência! Eu, por exemplo, gostaria muito que o meu país não tivesse deputados como ele… mas (por enquanto) tenho que o suportar.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Um belo par de jarras



Não vou falar das prioridades no que diz respeito à reconstrução das zonas afectadas pelo temporal na Madeira. É evidente que o alindamento e recuperação da baixa do Funchal, com o objectivo de atrair turistas e alimentar a auto-estima local era um objectivo importante. Foi transformado na prioridade numero um. Sobre os restantes trabalhos de reconstrução, a minha vista de leigo diz-me que as casas continuam no chão, os caminhos escangalhados, as pessoas desalojadas...

De qualquer modo, este texto de “reflexão” pós fim de semana não pretende ir por aí. Assim, destaco apenas três pontos:

1. Os madeirenses estão de parabéns pela sua bonita Festa da Flor.

2. Tanto a Jardim como a Sócrates, ficam-lhes mesmo a matar não só esta súbita “amizade”, como os chapéus de pulha, perdão... de palha.

3. Tenho imensa pena de que estas ausências festivas do Primeiro Ministro nas terras de Alberto João, ou de Cavaco Silva recém chegado da sua forçada digressão europeia, tenham afinal durado tão pouco. Se por qualquer razão, climática ou outra, as suas viagens durassem três ou quatro meses, poderíamos começar a ter uma ideia dos benefícios que as suas ausências definitivas trariam ao país. Assim, só por uns dias, não dá para perceber...

domingo, 18 de abril de 2010

“Desenredo” - Me espanta tudo o que vejo...



Nesta altura do campeonato já toda a gente entendeu que gosto da Roberta Sá. Também... o que é que há pra não gostar? Hoje, a sua brasileira e doce serenidade vem fazer companhia ao já maduro grupo “Boca Livre”, há mais de trinta anos nos caminhos da MPB.

"Desenredo" é uma canção em que gosto de tudo, o que a candidatou, há muito tempo, para integrar este grupo “selecto” das nossas partilhas domingueiras. É hoje.

Bom domingo!

Desenredo
(Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro)

Por toda terra que passo
Me espanta tudo o que vejo
A morte tece seu fio
De vida feita ao avesso

O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego
Eu me enredo
Nas tranças do teu desejo

O mundo todo marcado
A ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo
A morte é o fim do novelo

O olhar que assusta
Anda morto
O olhar que avisa
Anda aceso

Mas quando eu chego
Eu me perco 

Nas tramas do teu segredo

Ê, Minas
Ê, Minas
É hora de partir
Eu vou
Vou-me embora pra bem longe

A cera da vela queimando
O homem fazendo o seu preço
A morte que a vida anda armando
A vida que a morte anda tendo

O olhar mais fraco anda afoito
O olhar mais forte, indefeso
Mas quando eu chego
Eu me enrosco
Nas cordas do teu cabelo

Ê, Minas
Ê, Minas
É hora de partir 

Eu vou
Vou-me embora pra bem longe

"Desenredo" - Boca Livre e Roberta Sá
(Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro)

sábado, 17 de abril de 2010

Governo lida mal com um Parlamento em forma de arena. Mais uma vez... dá nisto!...

Vaticano, pedofilia... e as palavras dos outros



O vendaval de escândalo que tem abalado a Igreja Católica, não poupando mesmo o Papa, fez e fará correr rios de tinta. Desatado o nó que as vítimas traziam na garganta, alguns há décadas, soltou-se um caudal de denúncias, que não para de crescer, onde nos são contadas as estórias asquerosas de padres que repetidamente abusaram sexualmente de crianças, nalguns casos não poupando sequer as portadoras de deficiências.

Do muito que se tem escrito, destaca-se, por um lado, a hipocrisia desavergonhada e fria de alguns representantes da Igreja, na sua defesa formal e desapiedada da instituição, desrespeitando as vítimas, por outro, aqueles que, de boa fé, tentam justificar os silenciamentos, encobrimentos e cumplicidades das hierarquias religiosas, embora estejam contra os crimes... e por fim, aqueles que, libertos de peias e fidelidades religiosas mal dirigidas, denunciam sem meias palavras este fenómeno, como sendo um dos maiores crimes dos nossos dias.

Estes últimos, não poucas vezes usam o humor – sim, o humor pode ser uma arma – para melhor ilustrar o seu pensamento. Alem disso, talvez o sopro de liberdade que impele os seus textos, os faça escrever melhor. Apenas três exemplos, lidos aqui pela blogosfera, sendo que apenas consigo identificar a proveniência do primeiro.

1. Pormenor de um texto muito bem escrito, como sempre, no regresso de Rui Vasco Neto ao seu blog, retratando as movimentações do Vaticano: «Um jogo de vergonhas que só ganha quem não tem».

2. Grande “reflexão”: um blogueiro, até admite a possibilidade da existência de Deus... mas sobre este papa é taxativo. «Não existe!»

3. Genial adaptação de um velho ditado popular aos nossos tempos:

«Quem tem boca vaia Roma!»

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ilusões



Quem se der ao trabalho de fixar os olhos nesta imagem, durante alguns segundos, verá que tudo ganha movimento, tudo está a mexer. É mentira! Nada se move. A única coisa que está a acontecer é o vosso cérebro a deixar-se enganar por uma ilusão de óptica.

Vem isto a propósito de um post bem humorado e certeiro do “Cravo de Abril” sobre as inauditas guerras das esquadras “laranja” e “rosa”, com a ajuda esporádica do “comando” do CDS, guerra que tanto “agita” o nosso meio político, judicial, comunicacional... o que afinal também é mentira!

A parafernália de “armamento” dos dois exércitos sociais-democratas - que apenas se distinguem entre si pelo “laranja” e pelo “rosa” – não passa de armamento táctico. São verdadeiros arsenais de estrondosas bombas de lama, que têm como único objectivo esconder o escândalo provocado pelo anterior ataque do “inimigo”, criando um novo escândalo. Tal como as forças policiais e militares reais, também estas “armadas” dão às suas operações nomes sonantes: Cova da Beira, Diploma de Sócrates, BPP, Face Oculta, BPN, Freeport, Submarinos do Portas, o novinho em folha e a fervilhar de novidades, Taguspark, etc., etc., etc... ad nausea.

Ninguém está realmente interessado em fazer justiça, em investigar profundamente, em saber a verdade, em defender elevados valores. Como não sou capaz de deixar uma frase feita “sossegada”, a todas estas lutas pretensamente justiceiras, chamo:

“Ilusão de ética”

Cantigas e estórias...



Daqui a poucas horas farei a pequena viagem que me levará até Alpiarça, ao encontro de um bom punhado desses “maduros” que saem de casa para se encontrarem e falarem destes temas... com este tipo de “artistas convidados”. O Sérgio contará grandes estórias da nossa recente História, eu tentarei ser a banda sonora. Este tipo de “madureza” pode encontrar-se um pouco por todo o país, com uma forte incidência em militantes e simpatizantes da CDU. A tendência (e esperança activa!) é de que a “doença” alastre.

Até logo ainda tentarei encontrar a voz que ontem perdi no Coliseu dos Recreios... mas isso é outra estória.

TGV - Janela de oportunidade de negócio


(Casas típicas da Costa Nova do Prado - Aveiro / Recuperação ou recriação dos velhos "palheiros" piscatórios)

Cavaco silva, salvo uma ou outra excepção, encontrou a forma ideal de mostrar, com grande veemência, a sua profunda discordância com as políticas de José Sócrates e do seu governo: fazer as promulgações... mas contrariado. Aí temos mais uma! O TGV Lisboa/Madrid vai partir, por enquanto para obras, mas Cavaco acha que falta isto e aquilo e, na dúvida... promulga. Contrariado.

Feliz deve estar o Ministro das Obras Públicas Transportes e Comunicações, António Mendonça, um “ex” que, agora livre da grande opressão politico-ideológico-partidária em que antes vivia, logo se viu livre para sonhar, já não com “amanhãs que cantam”, mas com “amanhãs que vão ao banho”. Com o TGV, «Lisboa pode transformar-se na praia de Madrid!» – disse ele há uns dias, numa genial antevisão da vocação de um Portugal guiado pela mão do seu patriótico Governo.

Eu também estou feliz. Se há coisa que me deixa desvanecido (para compensar estas baboseiras que se ouvem) é ver abrir-se uma janela de oportunidade de negócio. Estou ainda indeciso entre três:

1. Alugar barracas de praia.

2. Fabricar e vender bolas de Berlim.

3. Fabricar, empacotar e vender batatas fritas caseiras.

Talvez me decida pela terceira, em homenagem à Costa Nova do Prado, a minha saudosa e aveirense praia da juventude... e o seu slogan que nunca esqueci:

«Baaaatatinha friiita! A menina chora e a mãezinha grita!»

Que irá vender Sua Excelência o Senhor Ministro?!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

PEC – Claro que há quem goste...



Sobre as medidas constantes do PEC já muito se escreveu e há-de ainda escrever. Sobre a mais que justa luta contra o PEC, apenas sabemos que está no princípio e será longa, travada palmo a palmo, dia a dia, por todos aqueles que acreditam ser possível outro caminho, outra vida, outra política.

Claro que, como acontece sempre nestas coisas, há quem goste do PEC. Banqueiros, grandes capitalistas, grandes empresários e, sabemos agora, embora exija medidas ainda mais duras, a Comissão Europeia, garbosamente dirigida pelo nosso conhecido moço de recados desses grandes capitalistas, empresários e banqueiros europeus e mundiais.

E é tudo. Por agora não tenho mais nada a dizer sobre o PEC, a não ser deixar aqui este singelo texto sobre o quanto Durão Barroso gosta do PEC... e uma fotografia do dito, com cara de quem acabou de se sentar mesmo em cima dele.

Eu não sou religioso; mas se fosse...



Há dias assim. Fiquei a saber pelas vias do costume, que «a Direcção Nacional da PSP estabeleceu números mínimos de multas, detenções, viaturas a bloquear e a rebocar, operações Stop, entre outras actividades, que devem ser atingidos pelos comandos de todo o País». A dita Direcção Nacional acha que é a uma maneira aceitável de aferir a eficácia operacional dos diversos serviços. Como seria de esperar, os polícias, que são os que vão estar na rua enfrentando a desconfiança dos cidadãos sobre se estão ou não a esforçar-se por preencher os mínimos, estão contra.

Pessoalmente, acho esta directiva tão aparvalhada que não quero fazer grandes comentários. Nem quero rir demais, nem escandalizar-me exageradamente, nem gozar com os senhores que devem ser todos, pelo menos, Generais. Mas olha que francamente…

Apenas me ocorre, em legítima defesa, andar menos de automóvel sempre que se aproximar o fim do mês e os polícias estiverem sob pressão para encher as “folhas de obra”.

Eu não sou religioso; mas se fosse, passaria a rezar todos os dias para que quem manda no Instituto de Medicina Legal não decrete uma medida igual a esta… senão, onde é que os pobres funcionários das morgues irão buscar “material” nos meses em que a coisa esteja mais parada? O que é que serão obrigados a fazer? Hein?!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Presunção de inocência



Os investigadores e acusadores públicos do caso “Taguspark” afirmam-se convencidos de que Luís Figo foi comprado para participar na campanha de José Sócrates. Apesar disso, apoiados no extraordinário conceito ainda em vigor, segundo o qual a corrupção, desde que não envolva dinheiros públicos, é uma actividade tolerável e dado acreditarem que Figo não conhecia a origem dos 750 mil euros, decidiram não acusar o ex futebolista. A bem da verdade, as “convicções” movidas a dinheiro são uma coisa mais ou menos natural para o atleta, sendo até de admirar que, à imagem do que já antes fez com dois clubes de futebol, não tenha apoiado também o PPD-PSD, ao mesmo tempo.

Quanto ao pequeno (mas caro!) “boy” do PS, Rui Pedro Soares, mais os seus comparsas, a acusação é clara. Houve utilização de dinheiros públicos para a compra ilícita dos favores de Figo... pelo menos. Sentarão os estimados traseiros no banco dos réus.

Mesmo dispensando a “água benta”, não me importo de tomar uma grande dose de “presunção”, em três goladas:

1. Presumo que Luís Figo é mesmo ingénuo.

2. Presumo que Rui Pedro Soares & Amigos são inocentes, até prova em contrário.

3. Presumo que ainda exista quem ache normal que José Sócrates e a sua máquina de campanha eleitoral não tivessem conhecimento de nada disto e que uma estória deste calibre, tal como as anteriores, também não o vai manchar.

E pronto! Por hoje, esgotei quase toda a minha dose de “presunção de inocência”.

Solte-se o beijo!


(Gustav Klimt - "O beijo")

Felizmente, de vez em quando, há especialistas que publicam estudos sobre coisas realmente importantes. É o caso da psicóloga Rute Reizinho, que nos brinda com uma bem recheada lista de maravilhas produzidas por um simples beijo.

Podem consultar a notícia aqui. Entretanto, os nossos políticos e as suas misérias, que esperem um pouco. Vou sair da frente do computador e “tratar-me” da depressão, aumentar a auto-estima, etc., etc., etc...

Até mais logo!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Sócrates e escutas - Falta de coragem...



Contra a vontade de uns, certamente com o aplauso de outros, para desespero de Marinho Pinto, o veemente representante daqueles que perdem as estribeiras sempre que se menciona o nome de Sócrates sem ser para o elogiar ou bajular... e perante a indiferença de muitos, a notícia aí está: as gravações das escutas que envolveriam (ou não) José Sócrates, digamos... numas coisas, vão finalmente ser destruídas.

Pffff!!! Grande coisa! Coragem, coragem, seria ficar com a colecção dos CDs e despachar José Sócrates para o lixo!

O sol e o vento já dão lucros? Privatizem-se!





Passos Coelho faz parte do imenso grupo de neoliberais que, sem um pingo de vergonha na cara, pouco tempo depois dos desastres provocados pelas suas práticas que escandalizaram até alguns dos defensores do capitalismo, assim que assentou a poeira e sem um único dos problemas da famosa “crise” realmente ultrapassado, já estão novamente ao ataque propondo exactamente as mesmas ideias e medidas que afundaram parte da economia mundial.

Aí o temos, defendendo congelamento de salários, cortes e “maior controlo” das prestações sociais (é sempre aos mesmos que vão extorquir o dinheiro!) e privatizações aos molhos. Nem a RTP e a RDP escapam!

A cada dia que passar irá gostando mais do som da própria voz, adulado pelos capachos que enquanto acharem que isso lhes serve, lhe atapetarão o caminho para o poder. Quanto tempo faltará até que recupere a fantástica ideia desse monumento do reaccionarismo delirante, o salazarista neoliberal Pedro Arroja, de privatizar, para além de toda e qualquer empresa, claro, as forças de segurança, o próprio Parlamento e, cereja no topo do bolo, a possibilidade de os pobres e trabalhadores em geral, venderem os seus votos (normalmente mal empregados ou desperdiçados) a “pessoas de bem”, como por exemplo, os seus patrões, que saibam votar “como deve ser”?

O senhor Pedro Arroja, na sua espécie de demência trágico-cómica, defendeu mesmo isto há uns tempos. Passos Coelho, com os incentivos certos, vindos do Convento do Beato e do Compromisso Portugal, entre outros, acabará por chegar lá.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Direita popular e colorida



Há muito, muito tempo, era eu uma criança... (mas chega de plagiar o José Cid) que descobriu a maneira de se livrar da Mocidade Portuguesa de Salazar. Muito simplesmente, decidi inscrever-me em tudo o que era actividade circum-escolar, com grande prioridade para o atletismo... e pronto. Adeus à fardinha idiota, aos desfiles sem sentido e à gritaria dos “direitaaaaa vooolver!!!” insuportáveis, que desta maneira só aturei por umas três vezes. Claro que fui ajudado pelo facto de, nessa altura, em Águeda, a Mocidade Portuguesa não ser propriamente a actividade ou ideia de diversão juvenil mais popular.

Vem isto a propósito da forma displicente (nalguns casos apologética) com que a generalidade dos politólogos e comentadores oficiais observam a “viragem à direita do PPD-PSD de Passos Coelho, como se isso fosse o mais natural e necessário para o país. Assim como que uma espécie de sol na eira... ou chuva no nabal.

Com a espantação própria dos parolos, aplaudem a chegada atrasada a Portugal de um discurso neoliberal – como se ele não estivesse já entre nós – depois de este ter feito por todo o mundo os estragos que se vêem. Claro que o discurso neoliberal tem sempre ouvintes receptivos. O discurso neoliberal, para ser propositadamente redutor, resume-se a pegar nas baboseiras reaccionárias que correm nas tascas, nos táxis, nos barbeiros, subúrbios de cidades, campos dominados por senhores e párocos retrógrados e em todos os meios profundamente despolitizados e ignorantes, onde foi fácil amadurecer ideias furiosamente individualistas e anti-sociais, transformadas em cartilha contestatária do sistema político e dos políticos em geral, abrilhantada pelas eternas frases feitas tipo “eu quero é o meu”, “pra quem quer trabalhar há sempre trabalho”, “cada um que se oriente”, “os políticos são todos iguais”, etc., etc., etc... e intelectualizá-las. Juntar-lhes a teoria recorrente do “Menos Estado” e a cegueira não menos recorrente da “Revisão da Constituição”, é a cereja em cima do bolo.

Um político neoliberal, como Passos Coelho, tem apenas que vestir estas “bocas” de tasca com umas roupagens de teoria económico/filosófica, exactamente como fizeram antes dele alguns “gurus” da economia e filosofia (nos quais dirá inspirar-se...) e aí vamos! Direitaaaaa vooooolver!, acompanhados pelos fantasmas de Margareth Tatcher, Pinochet, Reagan, Bush ou Tony Blair, entre outros trastes, perante o ar enlevado dos comentadores e politólogos, encantados com a “indiscutível viragem à direita do PSD”, viragem que, somada à de Sócrates, é precisamente o que está a fazer falta a Portugal. Então não é?

A imagem aí em cima não é de uma manifestação dos delegados deste Congresso do PPD-PSD. Não! É mesmo de um desfile, em Lisboa, da velha Mocidade Portuguesa de Salazar. Faz a sua diferença... mas há que ficar atento!!!

domingo, 11 de abril de 2010

London, London... e o Zeca



Por causa de um dos meus próximos compromissos musicais, que terá lugar no Couço, lembrei-me da grande figura que foi José Labaredas, um amigo que fazia questão de ser a cara do Couço e melhor “porto de abrigo”, nas minhas várias passagens por lá, nos anos extraordinários do “Canto Livre” e da "Reforma Agrária”. Este homem da cultura, da política, dos petiscos, da fadistice e do jazz terá sido uma das personagens da estória de hoje.

Reza a “lenda” que tudo se terá passado por alturas da gravação do grande disco “Traz outro amigo também”, do José Afonso, gravação que foi feita em Londres. Numa das saídas nocturnas destinadas (pelo menos costuma ser a desculpa) a descontrair, recuperar forças e ideias para as gravações do dia seguinte, juntaram-se num restaurante português o José Labaredas, músicos do disco, mais uns amigos e amigas, a Zélia (companheira do Zeca) e ele próprio. Quis o acaso que aparecessem por lá nessa noite dois jovens exilados artístico/políticos brasileiros, de seu nome Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Feitas as apresentações de quem ainda não se conhecia, o Caetano Veloso, ainda muito verde nas “coisas do exílio”, fazia muitas perguntas, sobre como era a realidade do dia a dia. Justificou-se com o facto de muitos amigos que deixara no Brasil lhe perguntarem como era a sua vida em Londres, pedindo-lhe até, alguns, que escrevesse uma canção sobre isso... sendo que não tinha ideia alguma do que pôr nessa canção.

Reza a “lenda” que por essa altura, o Zeca terá trauteado “do nada” uma das suas frases musicais, quase sempre originadas por um ritmo... técnica que lhe servia para compor boa parte das suas cantigas.

Reza a “lenda” que essa pequena frase musical despoletou a primeira canção que o Caetano Veloso fez e gravou sobre a sua vida em Londres, a que chamou “London London”. Ouvidos mais treinados, juram que a frase do Zeca está lá, misturada na cantiga. Eu juraria que é no pequeníssimo refrão «While my eyes go looking for flying saucers in the sky».

Se isto nunca aconteceu, pelo menos foi bem imaginado. Na verdade já tinha há muitos anos ouvido esta estória, mas quando a li aqui, “recontada” por alguém que, ainda por cima, diz que estava lá…

De qualquer modo, ouçam a cantiga, em inglês no original, aqui numa deliciosa versão da jovem cantora brasileira Cibelle, um valor a descobrir, na novíssima música do Brasil, ela própria, embora por sua vontade, “exilada” em Londres.

Bom Domingo!


“London, London”
(Caetano Veloso)

I'm wandering round and round, nowhere to go

I'm lonely in London, London is lovely so

I cross the streets without fear

Everybody keeps the way clear

I know I know no one here to say hello

I know they keep the way clear

I am lonely in London without fear

I'm wandering round and round, nowhere to go


While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)
Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me

And people hurry on so peacefully

A group approaches a policeman

He seems so pleased to please them

It's good at least, to live and I agree

He seems so pleased, at least

And it's so good to live in peace

And Sunday, Monday, years, and I agree

While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)


I choose no face to look at, choose no way

I just happen to be here, and it's ok


Green grass, blue eyes, grey sky (2x)

God bless silent pain and happiness

I came around to say yes, and I say

While my eyes go looking for flying saucers in the sky.

"London, London" - Cibelle
(Caetano Veloso)

sábado, 10 de abril de 2010

Ecos do passado



Chegam notícias que nos falam da descoberta, por paleontólogos da África do Sul, de mais um antepassado que ainda não nos tinha sido apresentado. Classificado como uma nova espécie, foi baptizado com o chamativo nome de "Australopithecus sediba". Este hominídeo vem, segundo os seus descobridores, preencher uma lacuna no tempo, de que quase não havia registos (entre 1,78 e 1,95 milhões de anos).

É muito interessante… só que eu estava convencido de que desde o dia em que, no mesmo estaleiro arqueológico sul africano, foi encontrado o Comendador Joe Berardo (Australopithecus Confusus), os cientistas paleontólogos tinham decidido, à cautela, fechar definitivamente o local das escavações.

Procissão do Passos



Vai de andor. O cheiro a fim de ciclo que exala o pré-cadáver político de Sócrates, atrai como um íman as tropas do PPD-PSD. Como notaram alguns comentadores, há já quem esteja a transformar e moldar a sua vida profissional, de maneira a poder começar a estar muito mais “próximo” do partido.

O cheiro a poder que anda no ar, possibilitou a Passos Coelho fazer o "milagre" de transformar ódios velhos em súbitas disponibilidades para a convergência e unidade. Sabendo-se que as práticas e as políticas que defendem enquanto grande partido do “centrão”, são decalques das políticas e práticas dos outros sociais-democratas agora no poder, terão muito trabalho pela frente. Primeiro, o mais fácil, garantir aos senhores, detentores do grande capital, que tudo ficará na mesma e a seu gosto; segundo, o mais difícil, fazer os eleitores acreditar que são efectivamente diferentes.

Enquanto lhe cheirar a poder e enquanto acreditar que Passos Coelho a poderá levar lá, a tropa do PPD-PSD avançará, como que em procissão, encenando discursos alternantes, encenando profundas diferenças com o PS, encenando patriotismo, encenando valores éticos, encenando até a unidade.

Não tenho nada para dar a Passos Coelho nem ao PPD-PSD... a não ser, talvez, um projecto de slogan:

“A união faz a farsa!”

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Até onde é possível descer?



A excelsa ex-sindicalista da UGT e actual Ministra do Trabalho, Helena André, segundo o jornalista que ontem à noite reportava a sessão do dia na Assembleia da República, em vez de responder às críticas que foram sendo dirigidas ao executivo, optou por elencar as medidas e políticas “sociais” do Governo do PS nos últimos meses.

Teve ainda tempo e falta de vergonha na cara suficientes para protagonizar uma provocação tristemente acanalhada, ao afirmar que os partidos à esquerda do PS, quando dizem opor-se à pressão exercida sobre os trabalhadores que estão no desemprego, para aceitarem ordenados de miséria, estão na realidade a defender que «é melhor estar no desemprego do que estar a trabalhar». Confrontada por Bernardino Soares (PCP) com o facto de jamais alguma bancada ter afirmado tal coisa e desafiada a provar essas afirmações ou retirar o que havia dito, optou "corajosamente"... por ignorar o desafio.

Está no seu direito. Cada um consome os cogumelos alucinogénios que muito bem entende e profere as declarações que o seu fraco carácter lhe dita... mas o pior, aquilo que é intolerável, é que enquanto a senhora ministra, com Sócrates e os seus restantes cúmplices, vão elencando as maravilhas das suas políticas, a maioria dos portugueses vai alancando com as miseráveis consequências dessas mesmas políticas.

O "enganing" dos papalvos



Podia ter calhado ao senhor Ferreira de Oliveira da GALP, ao alegadamente assucatado José Penedos (ex) da REN, ao idiótico Rui Pedro Soares do PS, perdão, da PT, ao campeoníssimo António Mexia da EDP, Podia ter calhado a tantos outros... mas a fava hoje calhou ao grande comunicador Zeinal Bava (na direita baixa), também da PT, na forma deste vídeo. É uma montagem (feliz) das declarações prestadas pelo grande gestor na sua visita à Comissão de Ética do Parlamento, feitas naquela língua de trapos que eles falam com o único objectivo de se “armarem em salientes”, como diria o grande Alfredo Marceneiro, ou de baralhar quem os ouve.

Desgraçadamente, a verdade é que enquanto estamos todos a tentar o “compreending” do que eles dizem, eles vão calmamente fazendo todo o “trafulhing” que lhes permite o “roubing” e o respectivo “embolsing” de milhões de euros todos os anos.

Até ao dia em que tratemos do seu “despeding” definitivo, com guia de "marching" prá... †˙ı†ˇ˜‘¸„∂®ƒ˙!!!


quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dá gosto sustentar governantes desta estirpe!



Um cidadão mais frágil e indefeso, natural de Valença, não sobreviveu a um incidente de saúde que requeria tratamento e cuidados urgentes. Teve a infelicidade de viver num país em que o Governo, que andou uma vida inteira a sustentar com o seu trabalho e os seus impostos, acha que a sua terra (com cerca de 15 mil habitantes) não merece um Serviço de Urgências. Morreu à porta do Centro de Saúde! José Araújo, cidadão português de 82 anos, resistiu a tudo na vida, menos a mais esta medida economicista do Ministério da Saúde de um governo alegadamente socialista... ou então era de facto o seu dia de partir. A família e os amigos nunca saberão ao certo.

Alguns cidadãos, ainda vivos, mas descontentes com o fecho das Urgências, ousaram ligar a morte de José Araújo à falta de assistência adequada, o que foi razão suficiente para terem da Ministra da Saúde esta resposta: «Eles não sabem de saúde o suficiente para poder fazer qualquer ilação ou tirar qualquer conclusão sobre a morte de um cidadão».

Não há muito a dizer. Na verdade, logo depois da falta de saúde propriamente dita, “não saberem de saúde o suficiente” é, sem dúvida, o segundo maior problema dos doentes... seguido de todos os outros que tão bem conhecemos.

Já sobre qual será o real problema de uma Ministra da Saúde que tem a extraordinária “sensibilidade” de responder a um acontecimento destes com esta declaração, ou sobre o que ela “não sabe o suficiente”, tenho algumas ideias que não vou escrever aqui... por uma questão de decoro.

Problemas de impressão





Nos últimos dias tenho recebido vários mails relatando as dificuldades técnicas, mais concretamente, «problemas de impressão», segundo o nosso Expresso, que impediram o jornal francês Libération de sair em Portugal, no último dia 18 de Março. Este último que recebi da Maria, foi a gota de água. Não resisto mais à pressão... vou dizer o que “realmente” penso sobre o assunto!

Eu sei que o mais das vezes aponto o dedo a Sua Excelência o Presidente do Conselho pela sua manifesta falta de apego à verdade, pela trapalhada que é o seu passado académico, pela fealdade do seu passado profissional manhoso, pelo estado miserável em que está a deixar o país, pela forma delinquente como tira a milhões de remediados e pobres para dar a meia dúzia de ricos, alguns dos quais, seu amigos ou “boys”, mas quase sempre me esqueço de realçar o aspecto mais relevante deste homem: o azar! Um azar de dimensões bíblicas! Azar com os membros da família que lhe calharam em sorte; azar com quase todos os amigos e, sobretudo, com os telefonemas da treta que alguns lhe fazem; azar aos jornalistas... perdão, com os jornalistas portugueses, etc., etc., etc.; azar até com os jornais estrangeiros.

E perguntam vocês “ó Samuel, e por que diabo é que esta estória do Liberation é azar?” Exactamente pelo estupor do dia que escolheu para ter «problemas de impressão». Podia ser num dia em que não tivesse uma linha sobre Portugal, como é o costume de quase todos os jornais estrangeiros, podia ser num dia em que, a falar de Sócrates, fosse para lhe gabar a forma atlética, a excelência na escolha dos fatos, sei lá... mas não! Tinha que ser logo no dia em que um enviado especial a Lisboa desancava o primeiro ministro português, a sua política económica, a sua débil reeleição, as suas dificuldades no novo Parlamento, o envolvimento já recorrente do seu nome em escândalos de vária ordem... uma vergonha, digo eu, mesmo sendo escrito em francês... que sempre fica “mais fino”. Tinha que ser logo num dia assim que o raça do jornal havia de ter «problemas de impressão»... e não sair!

Desconfiados como andamos, quem é que mesmo sem querer, não fica com a impressão de que ali houve qualquer outra coisa? Como é que isto vai logo acontecer a um primeiro ministro e a um governo que toda a gente sabe perfeitamente incapazes de manobrar ou pressionar, fosse como fosse, para provocar os tais «problemas de impressão»? Uma coincidência destas é ou não é um azar impressionante?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O silêncio dos criminosos





Já todos em alguma ocasião ouvimos falar do super juiz espanhol Baltazar Garzón. Confesso que não é figura que me inspire simpatia, mas aceito que isso possa dever-se à minha grande desconfiança para com pessoas que detêm demasiado poder, o que nunca é bom.

De qualquer maneira, este juiz ficou famoso por ter tentado julgar o ditador chileno Augusto Pinochet e pela insistência implacável a roçar muitas vezes a paranóia, com que persegue o movimento separatista ETA... perseguição que se fosse dirigida exclusivamente aos autores de crimes de sangue, facilmente se entenderia, concordando ou não, mas que, ao perseguir amigos, conhecidos, gente que lhes disse “bom dia!” na rua, o gato, o periquito, alegando que tudo é a mesma coisa, entra decididamente num caminho de cegueira persecutória de conotações preocupantes. Seja como for, o juiz Garzón, tinha-se habituado aos aplausos quase unânimes em “casa” e no estrangeiro.

Certamente para ficar na História, ou reforçar a ideia de não estar apenas virado para a ETA, decidiu iniciar um processo de investigação sobre os milhares de desaparecidos na Guerra Civil e, em geral, sobre o caudal de crimes do caudilho, o assassino Francisco Franco. Foi um passo maior do que a perna, pois desta vez mexeu com o “sagrado direito ao esquecimento”, que a extrema direita espanhola terá imposto para não provocar uma nova guerra civil, quando a Espanha fez a transição para a democracia que hoje vive, silenciamento a que chamou “Lei de Amnistia Geral”.

De nada lhe adiantou ter entretanto desistido das investigações. A direita espanhola, que ainda tem no seu seio, vivos e de boa saúde, os criminosos e cúmplices dos hediondos crimes praticados pelo fascismo espanhol, não lhe perdoa ter sequer tocado no assunto. Quer vê-lo sentado no banco dos réus, julgado e condenado.

Nós, na realidade, não tivemos um banho de sangue como foi a Guerra Civil de Espanha e, segundo os historiadores que estão na moda (e lavam mais branco do que o OMO), tivemos uma PIDE que «prendia pouco» e, como ditador, um criminoso que «matava pouco». Mesmo assim, o que aconteceria se alguém publicamente se propusesse investigar em profundidade e divulgar abertamente os crimes de Salazar e do fascismo português?