Por causa de um dos meus próximos compromissos musicais, que terá lugar no Couço, lembrei-me da grande figura que foi José Labaredas, um amigo que fazia questão de ser a cara do Couço e melhor “porto de abrigo”, nas minhas várias passagens por lá, nos anos extraordinários do “Canto Livre” e da "Reforma Agrária”. Este homem da cultura, da política, dos petiscos, da fadistice e do jazz terá sido uma das personagens da estória de hoje.
Reza a “lenda” que tudo se terá passado por alturas da gravação do grande disco “Traz outro amigo também”, do José Afonso, gravação que foi feita em Londres. Numa das saídas nocturnas destinadas (pelo menos costuma ser a desculpa) a descontrair, recuperar forças e ideias para as gravações do dia seguinte, juntaram-se num restaurante português o José Labaredas, músicos do disco, mais uns amigos e amigas, a Zélia (companheira do Zeca) e ele próprio. Quis o acaso que aparecessem por lá nessa noite dois jovens exilados artístico/políticos brasileiros, de seu nome Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Feitas as apresentações de quem ainda não se conhecia, o Caetano Veloso, ainda muito verde nas “coisas do exílio”, fazia muitas perguntas, sobre como era a realidade do dia a dia. Justificou-se com o facto de muitos amigos que deixara no Brasil lhe perguntarem como era a sua vida em Londres, pedindo-lhe até, alguns, que escrevesse uma canção sobre isso... sendo que não tinha ideia alguma do que pôr nessa canção.
Reza a “lenda” que por essa altura, o Zeca terá trauteado “do nada” uma das suas frases musicais, quase sempre originadas por um ritmo... técnica que lhe servia para compor boa parte das suas cantigas.
Reza a “lenda” que essa pequena frase musical despoletou a primeira canção que o Caetano Veloso fez e gravou sobre a sua vida em Londres, a que chamou “London London”. Ouvidos mais treinados, juram que a frase do Zeca está lá, misturada na cantiga. Eu juraria que é no pequeníssimo refrão «While my eyes go looking for flying saucers in the sky».
Se isto nunca aconteceu, pelo menos foi bem imaginado. Na verdade já tinha há muitos anos ouvido esta estória, mas quando a li
aqui, “recontada” por alguém que, ainda por cima, diz que estava lá…
De qualquer modo, ouçam a cantiga, em inglês no original, aqui numa deliciosa versão da jovem cantora brasileira Cibelle, um valor a descobrir, na novíssima música do Brasil, ela própria, embora por sua vontade, “exilada” em Londres.
Bom Domingo!
“London, London”
(Caetano Veloso)
I'm wandering round and round, nowhere to go
I'm lonely in London, London is lovely so
I cross the streets without fear
Everybody keeps the way clear
I know I know no one here to say hello
I know they keep the way clear
I am lonely in London without fear
I'm wandering round and round, nowhere to go
While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)
Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me
And people hurry on so peacefully
A group approaches a policeman
He seems so pleased to please them
It's good at least, to live and I agree
He seems so pleased, at least
And it's so good to live in peace
And Sunday, Monday, years, and I agree
While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)
I choose no face to look at, choose no way
I just happen to be here, and it's ok
Green grass, blue eyes, grey sky (2x)
God bless silent pain and happiness
I came around to say yes, and I say
While my eyes go looking for flying saucers in the sky.
"London, London" - Cibelle
(Caetano Veloso)