(Amália em pintura de rua, numa rua de Vieux Lille, França - Jef Aérosol)
Numa vista de olhos feita à pressa, poucas seriam as coisas que teriam em comum o Fausto Bordalo Dias e Amália Rodrigues. No entanto não é bem assim. Vários seriam os pontos comuns, se analisados mais atentamente, mas hoje interessa-me apenas um.
Fausto e Amália partilham o feito de terem gravado, muito pouco depois do 25 de Abril de 74, e com um pequeníssimo intervalo entre si, duas canções que abordaram um tema em que até aí muito pouco se pensava... pelo menos em termos artísticos: a defesa do ambiente.
O fausto gravou a sua belíssima “Rosalinda” e Amália deu-nos esta divertidíssima “Caldeirada”, da autoria de Alberto Janes, o farmacêutico do Redondo que lhe escreveu vários dos seus famosos fados.
Bom domingo... e divirtam-se!
CALDEIRADA (Poluição)
Alberto Janes
Em vésperas de caldeirada, o outro dia,
Já que o peixe estava todo reunido,
Teve o goraz a ideia de falar à assembleia,
No que foi muito aplaudido
Camaradas: principia a ordem do dia!
É tudo aquilo que for poluição,
Porque o homem, que é um tipo cabeçudo,
Resolveu destruir tudo, pois então!
E com tal habilidade e intensidade
Nas fulguranças do génio,
Que transforma a água pura numa espécie de mistura,
Que nem tem oxigénio
E diz ele que é o rei da criação!
As coisas que a gente lhe ouve e tem que ser!
Mas a minha opinião, diz o pargo capatão,
Gostava de lha dizer!
Pois se a gente até se afoga!
Grita a boga, por o homem ter estragado o ambiente!
Dar cabo da criação, esse pimpão,
Isso não é decente!
Diz do seu lugar: tá mal!, o carapau,
Porque, por estes caminhos,
Certo vamos mais ou menos ficando todos pequenos,
Assim como “jaquinzinhos”
Diz então o camarão, a certa altura:
Mas o que é que nós ganhamos por falar?
Ó seu grande camarão, pergunta então o cação,
Você nem quer refilar?
Se quer morrer, diz a lula toda fula,
Com a mania da cerveja e dos cafézes,
Morra lá à sua vontade, que assim seja!,
Para agradar aos fregueses!
Diz nessa altura a sardinha prá tainha:
Sabe a última do dia? A pescadinha, já louca,
Meteu o rabo na boca,
O que é uma porcaria!
Peço a palavra! gritou o caranguejo,
Eu, que tenho por mania observar,
Tenho estudado a questão e vejo a poluição
Dia e noite a aumentar
Cai do céu a água pura
E a criatura pensa que aquilo que é dele é monopólio.
Vai a gente beber dela e a goela
Fica cheia de petróleo!
A terra e o mar são para o cidadão
Assim como o seu palácio.
Se um dia lhe deito o dente
Pago tudo de repente ou eu não seja crustáceo!
É um tipo irresponsável, grita o sável,
O homem que tal aquele!
Vai a proposta prá mesa: ou respeita a natureza,
Ou vamos todos a ele!
8 comentários:
Não gosto de Amália Rodrigues, mas gosto de caldeirada... obrigado pela caldeirada.
Não conhecia esta...
Obrigada e bom domingo!
Abreijos.
Amigos.
Pedindo a todos desculpa pela intromissão fora do tema do post, peço a vossa atenção para o seguinte:
Fiquei doente quando ouvi a notícia do fogo no Parque Ecológico do Funchal.
Só mãos criminosas de labregos com poder, mas sem o verdadeiro amor à ilha da Madeira, puderam cometer tal afronta, concretizando um crime destes!!!
Sinto-me de luto...
Este atentado cheira-me a verdadeira represália, sobre as criticas/avisos efectuados por alguns amigos do Parque, aquando do trágico acidente do passado dia 20 de Fevereiro.
"Alguém" não gostou, e a vingança não tardou a chegar...
Neste blog "http://bisbis.blogspot.com", podemos todos apreciar o excelente trabalho que foi progressivamente desenvolvido pelos amigos do Parque, ao longo deste início de milénio. Está recheado de excelentes, belas e emocionantes fotografias...
Faço aqui a sua divulgação e convido-vos a fazerem uma visita, pois vão certamente apreciar.
Neste momento, penso que os amigos do Parque devem sentir-se um pouco desanimados, pois em apenas algumas horas o fogo destruiu o seu trabalho voluntário de muitos fins-de-semana, ao longo de vários anos.
Sugiro pois a todos os visitantes, uma palavra amiga e solidária neste momento de tristeza, pois eles bem a merecem.
Deixo aqui a minha vénia e sentida homenagem a todos os amigos do Parque Ecológico do Funchal.
Mª Irene
Qualquer caldeirada temperada na voz de Amália degusta-se primeiro e. pouco a pouco, com sensibilidade dos "artistas" ouvintes saboreia-se e reparta-se, tal qual o Samuel.
De amália só me ficou a primeira versão de Mãe Preta,depois ficou só a música,a letra era uma coisa qualquer.
Teremos de ir todos a ele.
Espero que o concerto tenha sido como desejava.
Esta nação,ainda existe?,também precisa,muito e com urgência de conserto.
Um abraço,
mário
Amália e Fausto, vejam bem!...
(bonita caldeirada...)
um abraço.
Não conhecia esta canção, mas acho uma óptima maneira de mostrar a acção nefasta do ser humano sobre o meio ambiente.
Um beijo.
Caro Samuel
por falar em Amália porque não publicar no blog o Fado Peniche?
è lindo! e até arrepia ao ouvir.
fica a sugestão.
um abraço
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