quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Álvaro Cunhal (10.11.1913 – 13.06.2005)


Todos os dias nascem milhares de seres humanos. Nascem rodeados e condicionados pelas realidades mais diversas. Nascem do amor, do acaso, da violência... mas todos, todos com o inalienável direito a conquistar um lugar no grande navio da História.
A grande maioria vem engrossar as fileiras dos explorados pelos “senhores da Terra”.
Muitos, pela sua “diferença”, estão condenados à discriminação, às humilhações, ao martírio.
Outros, exatamente por serem “diferentes”, serão capazes de, ainda que milimetricamente, desviar o leme e o rumo do navio... para melhores portos, praias mais suaves, manhãs mais claras, dias mais justos...
Este, Álvaro Barreirinhas Cunhal, nascido a 10 de Novembro, há 98 anos, foi, e até ao limite das suas forças, um ser humano decididamente muito diferente... como eu tive o grato privilégio de constatar.
“Até amanhã...”

18 comentários:

Olinda disse...

Alvaro Cunhal foi,sem duvida,o mais completo dos seres humanos,um revolucionário incansável,que entregou toda a sua vida aos trabalhadores.Um ser com luz própria,que ficará para sempre na nossa memória.

Maria disse...

Subscrevo. Palavra por palavra.

Abreijo.

Anónimo disse...

"Até sempre camarada"!Ontem, hoje e sempre, quer muitos queiram, quer não queiram, Álvaro Cunhal libertou-se da leia da morte. Pois, quanto mais se lê o que escreveu mais se reconhece quanto ele sempre esteve muito à frente do nosso tempo.
As maiores saudações
Vicky

Ana Martins disse...

Sim, sim! Mais uma "pessoa bonita" muito bonita mesmo!

Bem lembrado

Abraço

Ana

trepadeira disse...

Por isso ainda há esperança.

Um abraço,
mário

Carlos Fernandes disse...

Mesmo na noite mais triste/Em tempo de servidão/Há sempre alguem que resiste/Há sempre alguem que diz não.

A luta Continua

Até Sempre Camarada

do Zambujal disse...

Lembrar o Álvaro não é só lembrança. É acto. Revolucionário.

Um grande abraço

De disse...

Um belo texto
Um abraço

Graciete Rietsch disse...

Subscrevo tudo o que escreveste e também aqui deixo a minha homenagem a ÁLVARO CUNHAL,grande em tudo.
Por curiosidade e comovida, acrescento que a minha Mãe tinha imenso orgulho em ter nascido um mês exato depois de Álvaro Cunhal.

Um beijo.

Fernando Samuel disse...

FOI.

Um abraço.

Tétisq disse...

...a não esquecer.

Sem dúvida!*

lino disse...

Continua presente!
Abraço

Eduardo Miguel Pereira disse...

Único, simplesmente único.

Antuã disse...

E aqueles que da lei da morte se vão libertando....

João Caniço disse...

Por muito que custe a certos fascistas disfarçados de democratas - como comprovei no post seguinte - Álvaro Cunhal é e continuará a ser por muitos e bons anos a referência para muitos milhares de portugueses.

Cardo disse...

Cardo
Um coração muito generoso, fiel aos seus princípios e a todo o povo português. Eternamente na história...

Márcio Guerra disse...

Gostaria, se fosse possível, de partilhar um pouco da minha história e a relação com este Homem.

Antes de mais, no outro dia comentei aqui com um nick que uso para blogar sobre parvoíces de bola, o Bimbosfera, mas parece-me que este meu, pessoal, é mais indicado para isto.

Tenho 32 anos... Nada de especial aqui. Até há pouco tempo, sei lá, uns 5, 6 anos, um pouco mais, um pouco menos, não ligava de forma substancial à política. Vim para Portalegre estudar no ensino superior (??), e passear os livros uns anos, em 98, e ao longo do tempo, naturalmente, vamos conhecendo pessoas. Umas marcam-nos mais do que outras.

Em casa, desde novo, filho de pessoas humildes, mesmo no sentido da apreciação política da vida, fui educado com visão de esquerda, ou, melhor dizendo, socialista, mas um pouco ao género do que lá se passa com o Benfica, em casa. É-se do Benfica porque sim, é-se do PS porque sim. Como não se sabe explicar porquê, simplesmente não se discute. Havia um ou outro argumento que valiam para que o PS fosse bom, como por exemplo «Mário Soares ter tirado o país da bancarrota»... A vida traz-nos sempre a paga de tudo. Mais cedo ou mais tarde, e a verdade vem sempre ao de cima...

Na minha ignorância política, e insatisfeito com o que fui vendo dos vários partidos que se alojavam, à vez, no poder, nunca me revi em nenhum, pelo menos dos que lá «calçavam».

Houve momentos em que a «febre» Bloco de Esquerda andava aí, mas como não bebe, nem fumo, muito menos drogas, também não me chamou muito. Concordava com algumas coisas, mas nada que me fizesse «abraçar» a causa.

O tempo passa e conhecemos então pessoas. Uma delas, aqui há uns... sei lá, 5 ou 6 anos, no meio de várias conversas (ele era Comunista, filho de Comunista) e deixou-me um livro, coisa pequena, que eu, como bom mandrião que sou, deixei para trás, para trás, para trás... Até há um ano, ou coisa e tal, e só há pouco tempo é que o li. Sim, ainda não o devolvi e espero que o dono se esqueça do mesmo (tem preço de capa 300 escudos, mas como duvido que ele mo venda por esse preço e não o encontro online para descarregar ou fisicamente para comprar...) e acabe por ficar com ele como meu.

O dono é da minha idade, um mês e pouco de diferença, não que seja relevante, mas foi-me abrindo os olhos para algumas coisas. Chegou a conhecer Cunhal quando mais miúdo/adolescente e ficou particularmente impressionado com ele. Pelo menos assim mo contou.

Aqui há uns tempos, então, ganhei coragem, e, provavelmente por estar para ser pai, por estar desempregado e ter muito tempo livre nas mãos, peguei num livro, não esse, ainda, e resolvi ler.

Era o «Manifesto do Partido Comunista» de Engels e Marx. Coisa breve, também, de ler, e fiquei estupefacto. Com mais de 100 anos de distância e ainda a fazer todo o sentido. Sim, para mim fez todo o sentido ainda nesta altura. Pode já não fazer para toda a gente, mesmo comunista, mas a mim fez.

Claro que não compreendi tudo. Por exemplo, na sociedade em que vivemos, faz-me confusão abdicar do conceito de posse. Algo que é meu. Mas pensando as coisas de forma mais abrangente, e algum tempo passado sobre a leitura do livro, já faz muito mais sentido.

Naturalmente, no seguimento desse livro tinha que ler o outro, e este sim, o que considero ter sido a pedra de toque no meu Comunismo.

«Portugal no ano 2000». Um debate, umas conferências, passadas na Faculdade de Direito, em 1987, com Cunhal a debater alguns assuntos com os alunos de direito dessa altura presentes na conferência, e o livro é uma transcrição do possível dessa conversa, digamos, entre ele e os alunos.

(Continua)

Márcio Guerra disse...

(Continuação)

Para mim, brutal. A clarividência nos assuntos, a forma assombrosa como se podem traçar paralelismos das situação social de 1987 com a de 2010, por exemplo, fala-se de Chernobyl no livro, na altura em que o li havia sido o desastre de Fukushima, falava-se de uma das anteriores intervenções do FMI em Portugal (tudo se paga, como vim a descobrir) e falava-se já na intervenção do FMI novamente (que já aconteceu) em Portugal agora. Falava-se já na altura de Timor e do que poderia acontecer, e qual a posição do Partido Comunista Português sobre o tema.

A palavra «assombrado» é capaz de ser pouco para definir o que senti ao ler o livro e o que senti sobre a pessoa Álvaro Cunhal.

Nunca senti que em tão pouco, umas 100 páginas, letra bem grande até, ficasse a saber tanto, ficasse a perceber tanto, abrisse tanto os olhos, como me aconteceu.

Daí que devo dizer que Álvaro Cunhal é para mim, por isso, e por aquilo que fui «tirando» depois, de tudo o que aconteceu, pois passei a ver imagens e vídeos do passado com outros olhos, um ser muito, mas muito à frente do seu tempo. Ou talvez não... Talvez a sociedade simplesmente não o tenha aproveitado e acompanhado.

A sua clarividência, reafirmo-o, é tão grande que me assusta. A maneira como, nos anos 40 e 50 ele lidera o partido, isto perceptível em poucas palavras no livro, sem ligações, como hoje, com internet, telemóveis, satélites, etc., sob a força de um regime ditatorial, mostra, acima de tudo, que ele era sábio. Quando se está sozinho e se consegue ainda assim ser lúcido, sinceramente, não podemos ser normais.

Ele não o era. Não o foi e não foi aproveitado para endireitar o país.

Do que percebi, a sua postura ao abdicar do poder, por causa do golpe do 25 de Novembro, se não me engano (falo meio por alto por saber pouco sobre isto) é de dignidade e mostra a índole da pessoa no sentido do bem comum, do bem do país.

Cunhal, para mim, é um ídolo. Gosto de bola (sei que o autor do blog não é grande fã), gosto de muitos jogadores, mas nenhum é um ídolo como foi Cunhal no pouco que conheci dele.

Por tudo, até agora, obrigado. E lamento não ter tido conhecimento no dia para, pelo menos, invocar a sua memória na minha conta de Facebook, ou simplesmente ter falado disso com algum amigo Comunista... Foi uma pena, espero que não se repita para o ano, se ainda cá estiver também!

Obrigado por me deixar... exprimir nestas palavras todas. O seu blog é realmente um espaço que tive o prazer de conhecer recentemente e onde me sinto bem!

Grande abraço, e mais uma vez obrigado!

Márcio Guerra