Hoje é o Dia da Terra! Não, não é o dia de pensarmos em Vila-Nova de Folgazões, a nossa santa terrinha perdida lá bem no interior "desquecido e ostracizado". É mesmo o "Dia da Terra"!
Acho que é uma excelente ocasião para aqui desabafar sobre as comichões que me anda a provocar esta coisa dos "biocombustíveis".
Quando há um bom par de anos os brasileiros de saíram com aquela ideia maluca de andar com automóveis movidos a álcool produzido a partir da cana do açúcar, quase ninguém lhes ligou muito e se o fez, na maior parte dos casos foi para se rir. A promessa de futura indústria por pouco não faliu completamente, mas o nascimento do biocombustível, ou agrocombustível, aí estava.
Os cientistas foram insistindo na ideia e anos depois, quando o petróleo deixou de correr à farta e mesmo o que corre, vem de regiões mais explosivas que o próprio crude, com os preços a subir sem parar, países do tamanho de continentes a aumentar exponencialmente as suas necessidades de energia, somados ao "mau nome" que ainda tem por todo o lado a energia nuclear, a situação mudou radicalmente. Os cientistas que entretanto aperfeiçoaram muitíssimo as técnicas para conseguir o "combustível verde", já conseguem fazê-lo a partir da cana, do milho, trigo, arroz, etc, juram a pés juntos que este já é tão eficiente como a gasolina ou o gasóleo, muito menos poluente e (tchan tchan tchan tchan...) pode render muito dinheiro.
Palavra mágica! A partir deste momento, muitos políticos atraídos pelo "verde" dos dólares (que verde é que pensavam ser?) começam a apoiar entusiasticamente a ideia, fazendo a felicidade dos especuladores e num primeiro tempo, de alguns ecologistas mais ingénuos.
Agora a realidade está aí para quem a quiser ver, embora os que já estão a fazer fortunas da noite para o dia, façam tudo para a desmentir.
Apesar de ainda não se ter começado a produzir agrocombustível em grandes quantidades, o "trabalho" dos especuladores já começou, os preços dos cereais dispararam e milhões de pobres já estão a deixar de ter acesso aos seus alimentos tradicionais, em muitos casos, os únicos possíveis...
Populações inteiras começam a ser empurradas para fora das suas terras que serão ocupadas por grandes empresas cerealiferas multinacionais.
A opção por monoculturas intensivas em solos onde existia biodiversidade, vai fatalmente levar à destruição desses solos.
Os "génios" esqueceram-se de que os simpáticos números da baixa poluição provocada por estes novos combustíveis seriam completamente arrasados pela realidade da procura cega de cada vez mais solos agrícolas, o que levará à destruição de milhões de hectares de florestas, os tão falados (e mal tratados) "pulmões da Terra".
Podia continuar a aborrecer-vos com as minhas queixas, neste texto longo e sem links interessantes. A verdade é que não os procurei. Escrevi assim, de cabeça, como falaria com os amigos no café.
Uma última referência a um alto funcionário das Nações Unidas, ligado aos problemas da energia, que recentemente classificou o biofuel como "crime contra a Humanidade". Isto mostra que entre as entidades oficiais já há quem comece a detectar o mau cheiro que exala toda esta estória. Nós por cá, ainda temos uma Comissão Europeia muito feliz com o imenso verde dos agrocombustíveis.
E agora deixo-me de "ecologices" senão o Cantigueiro ainda vai parar à lista das "organizações terroristas", por obra e graça do mesmo imbecil que lá colocou os miúdos que andaram aos pontapés a uns pés de milho no Algarve (embora não devessem tê-lo feito).
12 comentários:
Interessante que certos representantes da burguesia, desta globalização capitalista, desacordam desta saída para a crise energética. Nem unidade há entre eles. O capitalismo conseguirá resolver esta crise? Como?
Mas o Lula continua dando esperança nesse negócio. Os latifundiários que usam mão-de-obra quase escrava estão com ele.
Por cá, os parvos do PS depois de atacarem forte e feio o Louçã acabaram por votar a favor de uma proposta do BE contra os biocombustíveis. Ou então viram que meteram tanto a pata na poça que tentaram emendar a mão.
Esse comentário anterio é ideal-comunista.blogspot.com, ficou anónimo por engano
não lhes chamemos biocombustíveis mas necrocombustíveis já que eles irão espalhar a morte depessoas, animais e territórios. São as máquinas a concorrer com a vida na luta pelos bens alimentares.
A melhor maneira de começar o dia é visitar o Cantigueiro, onde há sempre um texto carregado de bom humor, incisivo e que diz aquilo que é necessario. Um abraço
Mandei umas bocas acerca do assunto, a partir do entusiasmo estatal (i.e., dos politico-capitalistas locais) moçambicano por essa coisa, em http://antropocoiso.blogspot.com/2008/01/farsas-e-tragdias.html e em http://antropocoiso.blogspot.com/2008/02/verdes-sementes-revolucionrias.html
Se estiverem para aí virados, dêem uma vista de olhos.
Escreves-te assim, de cabeça, e muito bem, como com amigos no café. Este tema dos combustíveis é bem complexo, mas uma coisa é certa - seja no petróleo ou nos cereais, é a especulação que destrói a relação benefício/preço.
E dizia mais caro "estafermococus" é o capitalismo a mostrar as garras.
Abraço
No meio de tantos crimes que diariamente são cometidos impunemente contra as pessoas,o ambiente, a cultura, os direitos, este é mais um, vergonhoso, que acumula consequências malévolas, sempre em nome do deus-lucro!
Raiva e repugnância a crescerem...
É mais uma forma de contentarem os ignorantes,e eles encgerem a mula, o capital alguma vez se preocupou com o ambiente?
O negócio deles é a exploração de tudo, por todos os meios!
Abraço
José Manangão
Não que também não me queixe de comichões mas, no caso, sempre que há um 'dia-qualquer-coisinha'; por que raio não serão, antes, 'dia-todo-o-ano'; mas, isso são outros quinhentos...
É que, sendo assim (dia da Terra), dificilmente acharia melhor forma de lhe encontrar assunto tão bem apropositado. E voltam-me as comichões: agora porque, subscrevendo inteiramente o que aqui se diz,sei bem que... a procissão ainda vai no adro!...
abraço!
Tens muita razão quando dizes que os biocombustiveis vão acabar com o planeta.É que além das florestas arrazadas, cada vez mais as monoculturas exigirão adubos não orgânicos ou então vamos todos ter estrumeiras a céu aberto para fertilizar os campos.
Com todo o respeito que tenho pelo ambiente e por quem o defende, eu já ando um pouco desiludida com os movimentos ecologistas!
Desde que assisti a uma série de tontices em determinada altura, descobri que ,por vezes , enfim...
Saudações repartidas, como sempre!
Enviar um comentário