Já nos vamos habituando, ainda que não conformados, à forma de tratamento que os jornais, televisões e comentadores vários, vêm dando a casos como a recente invasão violenta de um Centro de Trabalho do PCP, por gorilas de uma empresa que não gostou de um comunicado distribuído aos trabalhadores à porta das suas instalações, a condenação no Tribunal de Viseu, de dois jovens, por escreverem num viaduto da cidade, um anúncio ao seu congresso, pressões sobre os professores sindicalistas, com ameaças de prejuízo para as suas carreiras, perseguição generalizada a dirigentes sindicais, o reaparecimento em força do execrável exército dos “mais papistas que o papa”, sempre dispostos a defender violentamente os chefes, denunciando quem quer que seja que lhes pareça “do contra”, a constante ocultação da maior parte das realizações e posições daqueles que realmente denunciam a mentira em que assenta este sistema político, o clima de constante terror imposto a milhares e milhares de trabalhadores precários, que têm a sua sobrevivência sempre nas mãos do patrão... e incontáveis outras situações que nem é preciso enumerar.
Os órgãos de comunicação social da classe dominante, fazem-no por militância, para servir os donos. O efeito desejado é cultivar a indiferença. O espírito do “isto sempre houve e haverá”, a ideia de que não existem propostas alternativas. Uma indiferença surda e cega, apenas interrompida aqui ou ali, por campanhas “solidárias” mais ou menos beatas, que nunca denunciam nem atacam as causas da miséria que pretendem combater.
A indiferença é um flagelo. Nunca saberei exactamente onde se situa a fronteira entre a indiferença provocada pela ignorância e a indiferença “criminosa” dos que têm sempre o célebre “eu quero é o meu” como credo.
Desgraçadamente para uns e outros, qualquer que seja o tipo de indiferença, ela é sempre suicidária. Quando passar pela nossa rua a cavalgada dos assassinos da liberdade, ao contrário da estória bíblica da matança dos primogénitos, não haverá sangue de cordeiro aspergido nas ombreiras das portas, que os salve.
Essa cavalgada tem que ser detida. É preciso que os indiferentes sejam acordados... o que me traz sempre de regresso a este terrível texto de Brecht:
Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.
(Bertolt Brecht)
Adenda: Embora sabendo que existem discussões sobre a verdadeira autoria deste texto, normalmente atribuído a Brecht, decidi publicá-lo, pois o texto em si é que me interessa, dando-o como autor, como faz a maioria das pessoas que o citam.
Um leitor do blog (que não gosta de andar pelas primeiras páginas) já me enviou por mail duas pistas sobre autorias “alternativas”, a saber, o poeta russo Maiakovski e (ainda mais interessante) o Pastor Niemöller, ele próprio vítima dos Nazis.
Mesmo o texto do poema tem mais do que uma versão.
Quem achar que pode contribuir com tijolos para esta construção… não se coíba de o fazer mesmo aqui, na caixa de comentários. A BlueVelvet já tinha dado “um toque”, quando se referiu ao Maiakovski…
Abreijos colectivos!