quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

António Barreto – A arte da “calhordice”



Sim, porque o verdadeiro calhordas não faz o que faz, à sorte. Sabe muito bem porque faz o que faz... e para quê. O verdadeiro calhordas, ao contrário do que erroneamente se possa pensar, tem uma missão a cumprir.

Lendo um texto do “Cravo de Abril”, em que mais uma vez é demonstrado, preto no branco, um dos milhentos casos de censura (de classe) selectiva e sem contemplações, praticados diariamente pela nossa comunicação social, tornou-se impossível deixar de tropeçar novamente no Doutor António Barreto, que desde bem antes do tempo em que se tornou, juntamente com Soares, a cara visível do ódio à Reforma Agrária, criando as condições que levariam à sua destruição e sendo moralmente responsável pelos vários crimes que então se cometeram, culminando no assassínio de dois trabalhadores agrícolas do Alentejo... desde bem antes, como dizia, sabe muito bem ao que veio.

O sociólogo, que é pago para dizer coisas sobre as mais variadas coisas, desta vez veio tecer considerações sobre a “liberdade de expressão”. Apesar de ter descoberto que «Hoje em dia haverá 2.500 a três mil pessoas cuja função, no aparelho de Estado, é organizar a informação e fazer a agenda política. Na televisão, nos jornais, na rádio, há uma verdadeira agenda política feita à volta do Governo, pelas agências e gabinetes de comunicação», concluindo, «Isto chama-se condicionar a opinião pública», acrescenta logo que, nomeadamente, porque é livre de escrever estas coisas nos jornais, «vivemos num país em que reina a liberdade de expressão».

Não fosse dar-se o caso de nós, os estúpidos, não entendermos a mecânica da coisa, acrescenta decididamente: «Não é verdade que condicionar a opinião pública seja a mesma coisa que retirar a liberdade de expressão».

Pois. Pode ser que não seja, doutor. Também dar grandes pontapés nas canelas e nos joelhos de alguém, não é a mesma coisa que retirar-lhe a liberdade de andar... mas dificulta como o raio que o parta, doutor!

15 comentários:

Carlos Machado Acabado disse...

Havia um que dizia que não partia pratos: 'pendurava-os no ar' e eles se quisessem que caíssem...
Era "à conta deles"...
A "filosofia" é a mesma: "pegou", pelos vistos...

Maria disse...

Quando se começa com os 'condicionamentos' vem logo a seguir a 'proibição'...
No teu último parágrafo acho que 'partir o peróneo' dava mais jeito, pelo que sei...

Abreijos
:)

cetautomatix disse...

Este energúmeno tem, de facto, como dizes, uma missão. Leu (?) Chomsky porque lhe terão dito que era melhor ler. Retirou (dos resumos das contracapas?) a expressão "condicionamento" e talvez tenha ido ler alguns digests na internet sobre as opiniões do Chomsky. E depois vem papaguear coisas que aparentam uma vaga relação com o que Chomsky diz e que é indesmentível para, com essa falsa capa de verosimilhança, concluir exactamente o contrário. Jogar com as palavras pode muito bem ser a missão de um calhordas. Deste é concerteza, sempre mal intencionado. No fundo, dá-me pena porque a frustração deve ser imensa e ele não dá conta (?).

Joseph disse...

Vêmo-lo na TV, inúmeras vezes, a arengar «suciologia» e a querer convencer os icautos.
Acabou com Reforma Agrária por processos e métodos anti-democráticos e fascisantes pois a lei Barreto era um aborto aberrante no contexto da Revolução de Abril.A Direita franqueou-lhe os acessos e «temos que levar com ele».
VADE RETRO!

João de Sousa Teixeira disse...

Pois é, Samuel. Chamas-lhe calhordas. Também é isso a prolixa criatura.
Há já algum tempo, numa crónica, chamei-lhe estropício:
"Há dias, apareceu-me subitamente num canal de televisão, publicitando um qualquer programa da nova grelha, naturalmente de sua autoria, julgo que apelando à nossa memória colectiva, patati-patatá. É claro que não se pode exigir vergonha a toda a gente e muito menos a quem nunca a teve. Mas que memórias nos trará este estropício?"
Abraço
João

Anónimo disse...

pois aqui está um homem com o transito intestinal em forma.
se estivesse condicionado, não seria a mesma coisa que obstipado.
é tudo uma questão de mais rolha menos rolha...
abraço do vale

Antuã disse...

Fala-se agora da liberdade de expressão,de informação, etc., mas o PCP já é censurado há décadas.

amigona avó e a neta princesa disse...

Soube-me tão bem o "raio que o parta, doutor"!

Abreijos,

do zambujal disse...

... não metam o perónio nisto... Aliás, caneladas é na tíbia!
Mas... 'tá bem, esse calhordas tem tíbia e perónio que baste. E gosto muito da fotografia com o tutor atrás do sôtor.
Boa, Samuel. Mais uma!

Abraço

Pata Negra disse...

Dois ou três parágrafos a negrito exprimem. Mas duas ou três palavras tuas a "não-negrito" exprimem mais / esclarecem! Parabéns pela reflexão-trabalho e, a propósito, nunca percebi bem o que é que esse alvarinho faz!
Um abraço com expressão

GR disse...

Parabéns pelo texto.
Esta besta tem um bom curriculum; anticomunista, destruidor da Reforma Agrária, socialista, apoia a censura. Será que quer ser director do futuro gabinete do “lápis azul”?
Tanta maldade fez à Democracia, à Constituição da República, ao espírito de Abril.
Se ele tivesse consciência, estava corcunda!

Bjs,

GR

Luis Nogueira disse...

No meu tempo de Coimbra, este montículo andava pelo CITAC e a dada altura dizia-se maoista.
Andou a tentar fazer "A Excepção e a Regra" do Brecht, mas não conseguiu. Ele e uns quantos tolos como ele, passavam os ensaios a terntar "andar sem sair do mesmo sítio".
Deixei de ver o bimbo. Apareceu nas comemorações dos 25 anos do CITAC, no palco, a perorar e... de capa alentejana. Já então tinha feito as pulhices contra a reforma agrária. Era esta figura que dizia de si mesmo: "Eu não sou um anticomunista primário, sou um anticomunista universitário". O que ele é, é um calhordas universitáro. Olha que gajo! 'Inda por cima feio!


Luis Nogueira

samuel disse...

Per tutti:
Obrigado por alguns elogios ao texto... mas o mérito é do doutor Barreto. É um manancial... de que, infelizmente, iremos tendo muitas mais notícias...

Abraços generalizados.

João Neta disse...

Parece que a ocupação ilegal das terras, da qual derivaram indemnizações chorudas àqueles a quem queriam combater, desrespeitando o mais elementar princípio de qualquer sociedade de Direito, a propriedade privada, terminada em boa hora pelo tal maoísta arrependido, ainda incomoda alguns saudosos. Claramente não terão sido estes saudosos os que foram chamados a pagar os desvarios desse comunismo utópico e violento. Nem tão pouco sentiram-se minimamente incomodados com o facto da própria experiência social que iniciaram com essa aberração da reforma agrária ter falhado redondamente, demonstrando a ineficiência económica e a má gestão que tanto queriam combater.

samuel disse...

João Neta:

E que tal se fosse dizer parvoíces para a sua rua? :-)