sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Shiu!!!




De vez em quando, Cavaco Silva presenteia-nos com uma frase “para mais tarde recordar”. Quem não se lembra da famosa “Deixem-me trabalhar”, ou a genial “Não tenho dúvidas e raramente me engano”, todas dignas de serem gravadas em mármore, como o nome da sua antiga casa algarvia, a “Vivenda Mariani”?.
A frase de hoje, que fez parte da Mensagem de Ano Novo da Presidência da República, é um pouco grandota para graver numa placa, mas merece toda a nossa atenção… A dado passo, diz o nosso Presidente:
Ficamos portanto a saber, que para sermos bons portugueses, devemos estar com muita atenção ao que decidem os senhores importantes que nos governam e que decidem o que “é essencial para o nosso futuro comum”.
Se estivermos de acordo, podemos “discutir” essas ideias, de preferência aplaudindo bastante.
Se não estivermos de acordo, tivermos outras ideias para o nosso futuro comum e ao discutirmos essas nossas ideias acabarmos por “dividir a sociedade portuguesa”, então devemos ficar de bico calado… amochar… fechar a matraca… ter juizinho!
Lindo, não é?
Para além de constituir uma chantagem “baratucha” sobre as pessoas que querem discutir de facto os assuntos, não temendo discordar e que assim “seriam os responsáveis” pelo atrazo do aparecimento de soluções para resolver “as dificuldades de crescimento da nossa economia, perante a angústia daqueles que não têm emprego e a subsistência de bolsas de pobreza”, é um conceito de democracia, no mínimo, exótico!
O que possa dividir as opiniões, não se discute! 
Já tivemos “Deus, Pátria, Família e Autoridade”… O que é que entretanto apareceu mais, que não é “conveniente” discutir?
Mesmo dito assim, camuflado no meio de um discurso comprido, parece-me algo inquietante!
Ou sou só eu que acho?


Se lhe parece que a imagem do presidente está muito "estreita e acanhada", a culpa não é minha... ele é mesmo assim!...

11 comentários:

gaivota disse...

por tudo isto é que há quem "chore" pelo outro! aquele que dizia "Deus, pátria, família, autoridade",
dizia e obrigava a dizer...
beijinho

GR disse...

A maioria do cidadão fica à espera que alguém mande, não tem iniciativa própria!
Não concordam, “mas eles decidiram”!
De repente o povo torna-se novamente submisso.
“fica de bico calado”!
Discute muito nos locais, onde não sai o barulho, casa, cafés e pouco mais.
É certo que quando “lhe pedem” para se manifestar, vão!
Mas por si só, tomar uma decisão. Isso é bem pior.

Muito bem, bastante atento ao discurso do PR.
Pareço um velho Marreta, a dizer mal de todos mas,
por acaso é outro que me irrita solenemente!

GR

Maria disse...

Não há uma única vez que não veja este tipo e não me lembre do gajo a comer a famosa fatia de bolo rei, há uns tempos.....

Kaotica disse...

Olá Samuel

Vim retribuir a visita e dar uma espreitadela. Se é quem eu penso acho que até já fomos quase vizinhos, numa altura em que eu era uma miúda e o 25 de Abril era o abrir de todas as portas. Vivi intensamente cada canto livre passado no Rádio Clube Português e participei o mais que pude da grande alegria contagiante que foi a liberdade.
Agora quanto ao "branqueamento": vou tentar explicar de uma forma muito frontal, se é que não o fiz lá no meu post. Tenho pena que se tivesse feito uma homenagem ao Adriano sem referir o Zeca Afonso (se isto não é branquear, não sei o que seja!). É quase o que aconteceu quando se quis escrever toda uma biografia do Cazuza sem falar no Ney Matogrosso (mas por outros motivos). É que há relações que não se podem esconder e o Zeca e o Adriano são dois protagonistas da mesma história!
Um abraço

samuel disse...

Olá Kaotica

Talvez eu seja esse mesmo...

Quanto à homenagem ao Adriano, eu também acho que a festa da Voz do Operário, foi aparentemente "apropriada" pelo PCP, mas isso ficou a dever-se mais à militância e entusiasmo de alguns dos organizadores, do que a uma intenção real. Isso já foi comentado por alguns dos participantes, mas nunca nos passou pela cabeça o tal do "branqueamento"...
Se no alinhamento das cantigas (e não estou certo disso) ninguém referiu o Zeca, isso só terá acontecido no espectáculo, pois nas outras iniciativas, as "faladas", o Zeca é uma figura sempre presente nas histórias de vida e da carreira do Adriano. Nem podia ser de outra maneira!
Pessoalmente, estou de "consciência tranquila", pois contam-se por muito poucas as sessões de cantigas em que não cante o "responsável" pelo facto de ter começado a cantar. E quando digo responsável, não é em sentido figurado, como "inspirador", blá, blá... não! Ele "pôs-me" mesmo a cantar. Com ele, no princípio, a gravar o primeiro disco muito rapidamente... tudo.
Por isso e muito mais, o Zeca vai comigo para os concertos, sempre!
De qualquer maneira, como já tinha dito lá no seu blog, eu estive todo o tempo lá nos bastidores, em franco convívio com vários dos "cantantes" convidados e posso não ter a noção do conjunto do espectáculo...

(Isto ficou grandote. Sorry!)

Abraço.

Anónimo disse...

Com esta dupla (Cavaco/Sócrates) a governar, inquietante é pouco. O cidadão cada vez tem menos direito a participar nas decisões. A prova esta no tratado de Lisboa que ninguém que referendar.

APC disse...

A cidadania é algo com que os portugueses não estão habituados e habilitados a trabalhar. E digo-o com mágoa. Perturba-me este silêncio colectivo, esta submissão criminosa, esta omissão voluntária. Cabe-nos inverter o rumo da história enquanto povo, mas em lugar disso o que faz esse povo que não o silêncio omisso e criminoso?
Um abraço
P.S. Vou linká-lo.

samuel disse...

Aos "novos" que chegaram

Zé (do beco)
Desconfio mesmo que era o tratado uma das coisas que o presidente tinha em mente quando falou em não trazermos para a discussão coisas que dividam a sociedade...

Spectrum
As pessoas hão-de fartar-se de silêncio.
Por mim, está mais que na hora de pôr alguma música no ar...

P.S. Bom timing! Estava a tratar exactamente do mesmo...

Fernando Samuel disse...

Ai, não és só tu que achas, não...

E quando ele disse que uma vez tinha lido um livro que era a Utopia, do Thomas Mann?

E quando ele disse que não se lembrava de quantos cantos tinham os Lusíadas, porque já os tinha lido há muito tempo?

E quando ele disse...

jrd disse...

Obrigado pela visita.

Sim! É conveniente não esquecer quem, depois de nos ter acabado com a esperança, quer agora que sejamos felizes...

Olaio disse...

Esta é mais do género: Os patrões mandam, o governo executa e o resto do pessoal trabalha e cala-se...para não prejudicar a nação, ou "a bem da nação", seja lá isso o que fôr para esta gente.