Os poderosos "holofotes" de propaganda apontados à agora ainda mais mediática figura de Ingrid Betancourt, passados que são os mais que justificados momentos de felicidade junto da família e amigos, mostram-nos com estrondo que a ex-refém iniciou uma "cruzada" pela libertação (que se deseja) dos restantes homens e mulheres retidos na selva pelas FARC. Para isso, ainda não se sabe se vai utilizar peças de teatro, livros, filmes, séries de televisão, peregrinações a Fátima para somar à peregrinação a Lourdes, se tudo ao mesmo tempo... mas vê-se que a actividade é frenética. Curiosamente, talvez para não aborrecer o seu mais recente "ídolo, herói e benfeitor", o narco-fascista e mandante de assassinos Álvaro Uribe, Ingrid continua a não ter uma palavra para os muitos milhares de colombianos que foram já assassinados por Uribe e seus antecessores e para as suas famílias (muito menos selectas que a sua!...), nem para os milhares de presos políticos que o presidente mantém nas suas prisões, nem para os milhares de "desaparecidos", que só muito raramente aparecem e quando o fazem... é enterrados em valas comuns.
Todos faríamos bem em desviar a vista da brilhante luz dos holofotes que estão sobre Ingrid Betancourt e olhar à volta... para a realidade de um país controlado pelo negócio da droga, pelos assassinos das forças "para-militares", por forças militares regulares e de polícia minadas pela corrupção e ao serviço do capacho da CIA, Álvaro Uribe.
O que posso fazer hoje para ajudar é, por exemplo, copiar aqui a seguir o post publicado por Vítor Dias, no "O tempo das cerejas", já que é possível alguns dos meus leitores não serem visitantes do seu blog (o que é pena).
Uma vez mais graças a uma preciosa informação do meu amigo e camarada Carlos Almeida, é importante que se saiba: nestes dias de regozijo pela libertação de Ingrid Betancourt, há uma outra mulher colombiana também com esse mesmo apelido - só que escrito Betancur (por ser hispânico e não afrancesado) - de seu primeiro nome Sónia que, desde 22 de Abril, vive horas, dias, semanas e meses de angústia e de dor com a sua pequena filha Chiara Rivera.
É que, desde aquela data, não sabem do paradeiro, estado ou situação de Guillermo Rivera Fúquene, seu marido e pai, comunista e membro do Polo Democrático Alternativo que governa o munícipio de Bogotá, e ainda e sobretudo Presidente do Sindicato dos funcionários da autarquia da capital do país.
Foi visto pela última vez no já referido dia 22 de Abril, às 6.30 da manhã, numa rua do bairro «El Tunal» onde tinha ido levar a filha à escola, em Bogotá, onde reside. Uma testemunha e câmaras de video instaladas no local atestam que foi abordado por um grupo de agentes policiais e foi forçado a entrar num carro da Polícia Metropolitana.
Apesar de todas as iniciativas da família e dos seus companheiros e dos apelos de organizações sindicais internacionais (ver aqui comunicado e carta a Uribe da ITUC (International Trade Union Confederation), quatro meses depois do seu desaparecimento, as autoridades dependentes do Presidente Álvaro Uribe não prestam nenhum esclarecimento cabal sobre este drama (que se deseja não se transforme em mais um crime.)
Daqui lanço um apelo sincero à expressão de formas de solidariedade com Sónia Betancur que permitam salvar a vida de seu marido e do pai da pequena Chiara Guillermo Fúquene. E conto, daqui por 15 dias, poder informar os leitores de «o tempo das cerejas» do número de blogues que se referiram a este assunto.
10 comentários:
A imagem de Guillermo Rivera Fúquene devia ser enviada a todos os hipocritas dos governos ocidentais.
que post fabuloso.Dois artigos que merecem ser lidos com bastante atenção
bom fim de semana
Perante a comunicação social que nos saiu nesta "rifa", que seria de nós sem posts como o teu e outros, em que se desmascara sem ambiguidades os jogos de embuste com que nos querem enredar.
Importantes escritos!
Abraço
Secretariado das Farc, informa hoje, em TELESUR, que fuga dos prisioneiros de guerra foi devida a traição dos dois "guerrilheiros" que já foram para a América.Traidores há por todo o mundo, né? O insuspeito DN fala de "amores e desamores" da Ingrid com senador colombiano solto em Fevereiro que pode dar divórcio com marido colombiano.Entretanto,sobre povo pobre e trabalhador preso e assassinado os nossos "opinions" bico calado, senão levam tau-tau da embaixada USA e o cheque não cai na conta.....
É vergonhoso, este nosso mundo.
É mesmo triste aquilo que se está a passar.
E a campanha de desinformação é imensa, e à escala mundial, o que só coloca em evidência a forma premeditada de como estas coisas são pensadas...
Como leste, também falei sobre isto ontem. Ainda não tinha dito nada porque queria deixar passar a histeria em torno da I. Betencourt.
Beijinhos, bom fim de semana
É execrável o que se está a passar mas não podemos desistir de lutar
Cada qual come do que gosta. Foi de facto uma pena terem existido "traidores" que possibilitaram a fuga de Ingrid.
Para quem assim pensa, esta burguesa Ingrid poderia bem permanecer sequestrada na selva, já que se recusa a ler pela mesma cartilha dos comunistas.
Pena que nos dias de hoje se continue a pensar como no tempo dos dinossauros.
Só os "outros" têm comportamentos criminosos.
As más acções dos "nossos" sempre têm alguma desculpa...
A ver se o comentário não vai ser apagado, para não dar mau aspecto ao blogue..
Eu sempre pensei que esta mediática libertação fosse encenada para ofuscar outras verdades.
Amigo Samuel, não conseguiria expressar melhor o apelo que aqui fazes, por isso tomei a liberdade de o transcrever no meu.
Beijinhos
como todos nós sabemos, há solidariedade e solidariedade, Samuel...
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