sábado, 1 de novembro de 2008

O maravilhoso mundo do ensino para os filhos dos ricos e dos mais ou menos abastados



Agora, todos os anos é a mesma pândega. Mais ou menos por esta altura, somos obrigados a assistir, nos jornais, revistas e televisões, às sessões contínuas de propaganda do ensino privado, conhecer os nomes dos maravilhosos colégios que ocupam todos os lugares da frente da lista de escolas de sucesso e das coitadas das públicas que, embora nunca chegando ao topo, lá se vão arrastando...

É o famoso ranking das escolas!

Verdadeiramente espantoso, é que funcionários dos órgãos de comunicação social, alguns até, jornalistas, se prestem a este triste papel.

Em que altura da sua vida é que esta gente deixou de saber que só se pode comparar o que é comparável?

Que comparação pode haver entre uma escola pública onde entra toda a gente, sem excepção (e bem!) e um desses colégios de luxo, onde é preciso prestar provas para conseguir entrar, como se de um casting artístico se tratasse?

Que resultados teria um desses maravilhosos colégios de “Saint-Qualquer-Coisa” se no próximo ano lectivo tivesse que trocar os seus queridos alunos bem fardados, bem nascidos, filhos e netos de gente muito bem na vida, criados desde o berço sob a influência de avós e pais letrados, etc, etc, pelos alunos de uma qualquer escola pública implantada num dos famosos bairros “problemáticos”?

Quantos professores desse maravilhoso colégio ainda se manteriam no seu posto ao fim de um mês?

Mesmo entre as escolas públicas, como é possível comparar uma escola de uma cidade média do litoral, com uma outra isolada no interior, quando sabemos bem das condições de vida em algum desse interior?

Se quisermos dar de barato todas estas questões que abordei, se não for de facto para promover descaradamente o negócio do ensino privado, para que raio servirá esta mania do ranking das escolas?

Querer ganhar dinheiro com o chorudo negócio dos diplomas da futura elite e classe dirigente (pois é disso que se trata) e fazer propaganda desse negócio, será certamente legítimo (?)... o que é lamentável é que o façam, espezinhando a dignidade de tantos milhares de professores que de Norte a Sul país fazem o que podem (alguns mais...), com as tremendas condições que lhes são dadas, para levar a cabo um bom trabalho.

Aplaudir estudantes que têm boas notas é simpático... pena é que o façam espezinhando o amor-próprio de tantos milhares de moças e moços, que desde o dia em que nasceram, nunca tiveram as mesmas facilidades e oportunidades das meninas e meninos dos “Maravilhosos Colégios”.

Viva o Ensino Público (universal, de qualidade e sem ranking)!

9 comentários:

Pata Negra disse...

A prova de que o ensino privado não é assim tão bom é a de que precisa dos rankings para se publicitar! Ensinem os filhos dos ricos à vontade mas deixem a escola pública em paz!
Um abraço educadíssimo

Anónimo disse...

VIVA!

Anónimo disse...

afirmando que não sou fascista sempre vos digo que naquele tempo os alunos dos colégios tinham que estudar porque os exames eram feitos nos liceus. Em anos de exame era um ver se te avias de chumbos entre os colegiais.

duarte disse...

samuel,desde já ola, fui durante uma boa parte da minha vida,morador de um desses bairros problemáticos.no inicio eram belos os dias que dividia entre a escola, o"centre social des chaillots"(onde se davam aulas de música,se organizavam excursões,se apreendia carpintaria,pintura,escultura,etc... a um preço baixíssimo)e a minha casinha.esses dias mudaram quando um idiota qualquer(creio que Chirac)decidiu cortar nas despesas.nos dias que se seguiram os jovems como eu passaram a dividir o seu tempo entre a escola,a casinha e... a rua! aí sim o bairro,que até nem era problemático,transformou-se num barril de polvora.resultado:70% dos meus aamigos de infancia foram presos 10% morreram de overdose e o resto saíu do bairro!!!
é preciso educar!!!

Justine disse...

Puseste o dedo mesmo dentro da ferida! É isso mesmo!
E vivó Ensino Público de qualidade!
Abraço

Anónimo disse...

... e mesmo vivaaaaa!!!!
beijocasssss
vovó Maria

almocreve disse...

O problema é que o ensino público tem vindo a ser destruído por este Governo, transformando as escolas púiblicas em locais de burocracia asfixiante, de permissividade, de ausência de esforço e de incentivo à mediocridade. Talvez estes rankings também sirvam para mostrar como - apesar do esforço de muitos professores - o ensino público tem vindo a decair por causa de uma política que promove, como bem supremo, o sucesso administrativo.
O seu comentário é feito num tom em que quase crucifica os colégios que têm boas notas! Parece que cometem um crime por conseguir bons resultados. É um pouco a visão predominante neste país em que nunca se aproveita o que se faz bem para servir como modelo. Independentemente de tudo o resto, os colégios que conseguem bons resultados, devem ter algum mérito, ou não? Será que não têm nada para ensinar aos outros? Será qe não se pode aprender com os bons exemplos, sejam eles públicos ou privados?
Deixe-se lá destes discursos maniqueístas em que público é bom e privado é mau. Há boas e más escolas públicas e boas e más escolas privadas. E, neste momento, as melhores escolas privadas conseguem melhores resultados académicos que as melhores escolas públicas. Não aceitar isto, e não apoveitar os exemplos de quem tem sucesso, é deitar fora a experiência de quem sabe fazer bem.

samuel disse...

Caro Almocreve

Eu gosto muito de colégios! Alguns têm mesmo edifício lindíssimos que deviam ser classificados e tal...
Não. O que eu detesto são os privilégios, a batota que é conseguir melhores resultados apenas por usufruir de melhores condições trabalhando em ambientes ideais e ainda se vangloriar disso, etc, etc, etc. Só por isso é que dou muito mais valor aos milhares de professores, que em condições tão degradadas conseguem igualmente fazer um bom trabalho.
Quanto ao lugar-comum segundo o qual existem coisas más e boas tanto no privado como no público (como em tudo na vida)... estamos de acordo.

Ah... e não me considero maniqueísta. Estou constantemente a ver coisas boas em sítios em que por vezes nem devia... :-)))

Abraço

almocreve disse...

"a batota que é conseguir melhores resultados apenas por usufruir de melhores condições trabalhando em ambientes ideais e ainda se vangloriar disso"

Mas quem teve a ideia dos rankings foi o Ministério da Educação - supostamente o principal defensor da escola pública!. Será batota que uma instituição que é considerada boa ou muito boa, por critérios que nem foi ela a definir, não use essa catalogação? Só se for masoquista!
Mais uma vez sublinho que não é crime ser bom, e se há colégios bons e que conseguem bons resultados, talvez haja neles alguns aspectos que poderiam servir de exemplo para outras escolas (públicas e privadas).

Há por parte de uma fatia ideologicamente marxizante da sociedade portuguesa esta noção de que temos de nivelar tudo, nem que seja por baixo. Felizmente que há colégios que se destacam da pobreza a que os sucessivos governos portugueses têm conduzido o ensino público na sua generalidade (independentemente do esforço de muitos professores).
O mais curioso é ver como se "atacam" colégios que se limitam a publicitar os seus bons resultados nos rankings que nem são elaborados por eles, e depois não se criticam as escolas públicas que conseguem ser "as melhores" do ensino público, e que também são entrevistadas, e que tb "se vangloriam" dos seus resultados e os justificam. Ou será que só os privados deveriam ser proibidos de colher os frutos do seu trabalho?

Mas quando se tem preconceitos sobre algo, é difícil ser justo nas análises. E, pelo que leio dos seus comentários meu caro Samuel, parece-me que neste tema, há por aí umas ideias pré-concebidas que desvalorizam muito do bom trabalho que se faz em muitas escolas privadas.
Até posso concordar que os rankings não dizem tudo de uma escola, mas é indesmentível que nesse parâmetro objectivo, há colégios a quem se deve dar os parabéns pelo trabalho que desenvolvem ano após ano. E não é crime conseguir bons resultados. Talvez mais criminoso seja retirar aos professores do ensino público os meios e a autoridade para poderem aumentar a qualidade nas suas escolas. E é isso que tem feito este Governo, na linha dos governos anteriores.