domingo, 23 de dezembro de 2012

Elis e Maria Rita – A fusão total


Durante cinco anos foi apenas a menina da sua mãe. Tímida, armações de óculos muito grossas, um olho vendado, extremamente estrábica. E ficou órfã.
Depois “descobriu” realmente o que é ser-se filha de Elis Regina. Foi uma adolescente esmagada pela memória da sua mãe. Descobriu que fora uma artista genial, cantora inesquecível, figura inultrapassável na cena artística brasileira, um ícone da força que foi precisa nos anos de chumbo do Brasil fascista.
Só aos 24 anos teve a coragem de cantar para o mundo, embora o quisesse fazer desde muito mais jovem. Mesmo assim, deve tê-lo feito com a noção de que lhe cairiam em cima as suspeitas do costume nestes casos: que quereria fazer carreira à custa da mãe, que a imitava propositadamente... isso para além da inveja daqueles que nem precisam de razões ou desculpas para a inveja... para além da própria inveja.
Venceu! Agora, ao fim de vários anos de carreira e muitos prémios conquistados, achou finalmente que podia e devia fazer aquilo que até agora nunca tinha ousado: cantar Elis Regina.
Em vez de incluir, discretamente, uma qualquer canção do reportório da mãe num novo disco, decidiu montar um espectáculo inteiro (acompanhado de CD e DVD), em homenagem à grande Elis. O resultado é tremendo!
No primeiro vídeo podemos ouvir Elis Regina cantando um dos seus grandes clássicos, “Como nossos pais”.
No segundo, vemos a Maria Rita cantando a mesma canção, invadida, como sempre, pela herança avassaladora que carrega na voz... mas inda “resistindo” fazendo diferente aqui e ali...
No terceiro, é a rendição total. Este “Águas de Março” é arrepiante. Como se fosse um dueto cantado por um corpo só.
Há particularidades nas interpretações de uma e de outra.
Claro que a Maria Rita tem o toque extra que é a emoção de ver, segundo a segundo, concerto a concerto, o quanto a sua própria mãe é lembrada, amada e cantada em coro por tantos milhares de pessoas
Claro que a interpretação da Elis, na primeira canção, traz um dramatismo e um rasgar de voz únicos que, para além de serem a marca de água da cantora eram o resultado do facto de ser cantada sob um regime brutal de ditadura militar e censura... um “pormenor” que pode mudar para sempre a nossa maneira de cantar, como nós bem sabemos.
Bom domingo!
“Como nossos pais” - Elis Regina
(António Carlos Belchior)


“Como nossos pais” – Maria Rita
(António Carlos Belchior)


“Águas de Março) – Maria Rita
(Tom Jobim)




6 comentários:

Maria disse...

E tenho que interromper porque estou a ver outro monstro da canção brasileira na rtp - o Ivan Lins.
Já volto.

Maria disse...

Pois, dizem que filha de peixe... sabe cantar!
Maravilha!
Bom domingo.

Beijos.

Anónimo disse...


Elis!
Maria Rita!
a Grandiosidade, como muito bem dizes, da "fusão total".
fica-se...

vovómaria

Graciete Rietsch disse...

Lindo texto! Tão lindo como as canções que apresentaste.
Acho que se nota a influência da Elis Regina na voz da Maria Rita, que também é uma grande artista. Mas a Elis fez-me vibrar mais.
Gostei muito das duas.

Um abraço grande.

lino disse...

Arrepiante!
Abraço

Luis Filipe Gomes disse...

Gostei muito!