sábado, 13 de setembro de 2008

Cavaco Silva e a "cooperação institucional, ou a tão incompreendida actividade de "espanta pardais".



A ver se entendo. O Presidente da República, Cavaco Silva, muito recentemente e a propósito do Estatuto dos Açores, teve algumas dúvidas, o que é só por si um facto espantoso, sobre a constitucionalidade de algumas disposições do diploma aprovado por unanimidade na Assembleia da República.
Fez então o que devia, enviando o diploma para apreciação pelo Tribunal Constitucional, das tais disposições que no entender dos seus assessores (ou no seu, vá lá...), iam contra o espírito ou a letra ou as duas coisas, da nossa Constituição.
O TC fez também o que devia. Rapidamente respondeu, dando em alguns casos, razão às dúvidas do PR e noutros não, mostrando que Cavaco Silva... se enganou, facto igualmente, se não ainda mais espantoso!
O caso é que Cavaco, na sua dramática e estrondosa comunicação ao país, havia referido igualmente mais umas coisitas que teriam também que ver com os seus próprios poderes, blá, blá, blá... mas que (pensava eu) não deviam ser inconstitucionais, senão teriam sido incluídas no "pacote" enviado ao TC. Grande engano! Afinal o homem está furioso, envia recados em todas as direcções mesmo do meio da rua, diz que aquelas é que eram as questões mais importantes e que não admite que uma lei ordinária mexa com os poderes de um presidente extraordinário (ou é ao contrário... agora francamente, não sei).
Diz a minha vasta ignorância pobremente esclarecida, que qualquer lei (excepto uma nova Constituição) que tente retirar poderes ao Presidente, é liminarmente inconstitucional.
-Então diga lá, Dr. Aníbal, por que raio não suscitou a inconstitucionalidade da coisa...
-Ah... sei lá... porque era de tal maneira grave, que decidi dar pessoalmente a cara nesta luta, em vez de encarregar “terceiros” de o fazer.
Aqui, volta a dizer-me a minha “ignorância tal e coisa”, que estes a quem o PR chama de “terceiros”, são os juízes do Tribunal Constitucional, o único órgão de soberania com competência para decidir da constitucionalidade ou inconstitucionalidade de qualquer lei.
Pronto. Esta espécie de historial comentado da “crise” fica por aqui, pois se escrever mais alguma vez neste texto, as palavras constitucional, anticonstitucional, constitucionalidade, logo eu que nem sou constitucionalista... dá-me uma coisa má.
Ainda por cima, começo a estar desconfiado que esta “crisinha”, este "conflitinho", não passa de um sketch teatral de má qualidade, que afinal faz parte da “cooperação institucional” e se destina a tapar a nossa vista para o que realmente se está a passar na vida dos portugueses, como a real crise económica, o desencanto, o desânimo, os célebres empregos criados por Sócrates, que afinal, em grande número, são também uma aldrabice, o Código Laboral que está aí à porta, a descida de trinta por cento no preço dos medicamentos genéricos, que afinal era mentira, esta novidade da comparticipação do Estado na compra de medicamentos que passará a ser fixa, seja o medicamento barato, caro, ou muito caro, fazendo os doentes passar a pagar muito mais, etc, etc, etc, etc...
A ser assim, não é que a “função” esteja desenquadrada com a “figura”, mas é triste ver um Presidente da República a pôr-se à frente do Governo, fazendo de espantalho e gesticulando muito, para desviar as atenções das pessoas.
Mas lá está... posso estar muitíssimo enganado e o senhor esteja a fazer tudo isto... mas sem querer.

Ah... e desculpem a quilometragem deste texto. O Sábado não se fez para uma maratona destas. Se chegaram até aqui, obrigado pela grande atenção! :)

15 comentários:

alex campos disse...

O Samuel é que deve estar enganado. O espan..., perdão, o Cavaco nunca se engana e raramente tem dúvidas. Foi ele que disse, não estou a inventar.

um abraço

Anónimo disse...

É mais uma cavacada ao nível duma socretinada. Se fosse a sério e se se matassem uns aos outros ficaria o país mais limpo. porém, é uma manobra de diversão para que os portugueses se afastem daquilo que realmente é essencial.da

Anónimo disse...

Ainda havemos de ver uma ménage a trois: o silva, o sousa e a manela, podes crer.

Lúcia disse...

"A ser assim, não é que a “função” esteja desenquadrada com a “figura”, mas é triste ver um Presidente da República a pôr-se à frente do Governo, fazendo de espantalho e gesticulando muito, para desviar as atenções das pessoas." Hmmm... esta ainda não me tinha ocorrido - Cabaco's Fantoches!

Beijos
Inevitável, meu caro, chegar ao fim dos teus textos!

Fernando Samuel disse...

Certeiro (e delicioso...) este relato comentado da «crise» - e não menos certeira a «desconfiança» de que a «crisinha» se destina a desviar as atenções da real e grave crise de que são responsáveis todos os intervenientes na «crisinha»...

Um abraço.

Anónimo disse...

Qual quê?! É sábado de manhã, deitei-me tarde ontem - umas reuniõeziitas por causa de balanços de Festa, campanha Código Laboral, Congresso e outras minudências - (ou já hoje bem dentro?), levantei-me a custo, e o teu texto, na quilometragem certa (podia ter mais umas léguas, aliás...), ajudou-me a acordar.
Bom dia! A luta continua! Também ao sábado, e é bom que seja com raiva e alegria (já repararam que a dislexia dá para escrever em vez de alegria - a cavacos e socretinos?)
Bom dia outra vez!

Susete Evaristo disse...

Ao contrário do que dizes acho que o sábado é o dia ideal para uma martona, se bem que ler o que escreves não é esforço nenhum.
Além disso, gostaria de acrecentar que novas directrizes na "defesa" das familias e do seu endividamento, está a chegar ao Banco de Portugal.
O braço negro do governo está a querer controlar até os contratos entre privados e instituições bancárias, mesmo as particulares.
É certo que o endividamento está cada vez mais, a levar a ruina aos lares portugueses, mas a "ajuda" governamental devia ser traduzida em leis que atribuissem um salário justo, para que as famílias não chegassem ao ponto de ruptura.
No entanto a minha leitura de toda esta "protecção" é o controlo desenfriado e a todos os níveis da vida dos portugueses, a passagem de um atestado de menoridade às familias e um descarado apoio à banca.

Anónimo disse...

Resumindo e concluindo Companheiro. "A montanha pariu um ratinho", ai que pena, mas cuidado este Partido Nacional Socialista, continua a avançar :-ou acordamos, ou dormiremos o tal sono profundo!
Passo a imodestia (depois não digam que ;eu não avisei)
abraço

BlueVelvet disse...

Li até ao finzinho.
É espantoso que ele já tenha dívidas e se engane.
Quem sabe até já lê jornais...
A ver vamos no que vai dar esta história.
Abreijinhos

duarte disse...

se o gaijo vos ouvisse dizia:
" deixem-me trabalhar!!!"
sim porque o homem é espantoso(não é espantalho à toa)... alias, vou promovê-lo a palhaço! sim porque até já lhe acho alguma piada... as intervenções do homem,lembram-me uma cena do herman josé(de óculos graduadíssimos e fato rasca)no papel dum individuo ,que repetidamente, se interpõe entre a camara e a paisagem dizendo:
"eu é k'sou o prrrezidente da junta"!
duarte

Ana Camarra disse...

Olha zangaram-se?!
Que chatice ainda pedem de volta as cartas, o anel de compromisso e as fotos....

bjks

Anónimo disse...

Ainda não me passou a alergia!

Anónimo disse...

Este Cavaco leva-me a pensar que para se ser Presidente da república deveria haver uma prova de português.

Crixus disse...

Se calhar foi por isto que o Cavaco não promulgou o diploma sobre o divorcio, já estava a antever o que se ia passar no seu casamento com o Governo/Socrates. Mas esperemos que não passe de um arrufo de (e)namorados...

Justine disse...

Ora aí está uma boa utilização da figura: espantalho!! É isso mesmo que ele é. Belo texto!