segunda-feira, 31 de agosto de 2009

José Sócrates (zito)



“Ela sorriu
E ele foi atrás
Ela despiu
E ela o satisfaz

... ... aqui ao luar... ...”

Foi recorrendo à profundidade poética deste texto de uma cantiga dos “Xutos & Pontapés” (grupo que de há uns tempos para cá, passa os dias a tentar provar que já fez as pazes com o Primeiro Ministro), que Sócrates mostrou que é moderno, popular, socialista, democrático, jovem e com uma posição “futurista”, para usar a expressão do Zé Pedro, dos ditos “Xutos”, numa recente entrevista.

Lá estavam todos. Os jovens, a fazer moldura, mas que depois daquela estória dos “estudantes” do Magalhães, já nunca podemos saber se são figurantes pagos... e os artistas que por estes dias mais se têm notabilizado por abraçar a causa “socrática”, como Carolina Patrocínio e outros menos importantes, que são do conhecimento geral.

De qualquer modo, o que quero fazer neste post é agradecer à Revista Visão a publicação de um trabalho sobre as vivências infanto-juvenis, tanto da Mané, como do Zezito (na imagem acima). Agradecer simplesmente o facto de, finalmente, ter conseguido entender a irritante alergia que me ataca, sempre que vejo ou ouço falar o Zezito, hoje já com 52 aninhos, mas que nesta altura (talvez com 10 anos) ter-me-ia conhecido com cerca de 15... se tivéssemos andado na mesma escola.
Não falo por mim, que era um jovem extremamente calmo e atencioso, mas, se bem me lembro do feitio de alguns dos meus colegas, de cada vez que este catraio fizesse asneira grossa (tem ar de quem era especialista) e ainda por cima, a seguir, adoptasse esta “pose” mais a cara descarada que exibe na fotografia... “já estava a achar!!!”

Não mudou nada!


Adenda: Alertado por um leitor, reparo que, na verdade, a cantiga “A noite”, aqui citada e usada por Sócrates para se “armar em saliente” (como diria o Alfredo Marceneiro), é dos “Sitiados”. Os poucos e algo acidentais contactos que tive com a dita foram sempre de raspão e na versão dos “Resistência”, cantada pelo Tim, a voz dos “Xutos”... daí a confusão.

Resumindo: Mesmo depois de reposta a verdade autoral, a qualidade da letra não melhorou nada... e a "declamação" de Sócrates, idem.

domingo, 30 de agosto de 2009

Pina Moura - Pequenas dúvidas de fim de dia



O ex várias coisas Joaquim Pina Moura diz que o programa eleitoral do PSD é "clarificador, mais duro e mais focado do que o do PS”, num mais que evidente apoio a Manuela Ferreira Leite. Para além deste gosto pela dureza e focagem do PSD (seja lá isso o que for), num outro debate sobre economia, na Renascença, mostrou-se também “muito preocupado” com o excesso de estado na nossa economia (tal como a restante direita neoliberal).

Eu sei que isto é apenas uma pequena dúvida de fim de dia... e sobre uma pequena personalidade, mas mesmo assim, que diabo quererá o homem, desta vez?

Ciranda da Bailarina



Já muitos de nós ouvimos uma ou mais versões desta ternurenta e brincalhona cantiga de Chico Buarque e Edu Lobo, a “Ciranda da Bailarina”.

No meu activo já levo várias. Umas mal cantadas, por pessoas que até gosto de ouvir cantar, outras bem cantadas, por pessoas que não gosto de ouvir... mas, como quase sempre, a curiosidade compensa!

Esta é uma deliciosa interpretação da “ciranda”. Em fundo ouve-se o tema cantado por Mónica Salmaso (que o canta bem e que eu gosto muito de ouvir...) e a interpretação principal é dita. Para além da originalidade do facto de ser dita, é muito bem dita! Pela actriz Fabíola Nascimento, que por qualquer razão, quem sabe se muito boa, não passa a vida escarrapachada nas telenovelas.

Boa “auvisão”! Bom Domingo!



Ciranda da Bailarina
(Chico Buarque/Edu Lobo)

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem

E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem

Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem

Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem

Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem

Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem

O padre também
Pode até ficar vermelho 

Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem

Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem

Procurando bem
Todo mundo tem...

“Ciranda da Bailarina” – Fabíola Nascimento
(Chico Buarque/Edu Lobo)

sábado, 29 de agosto de 2009

Grande calor! (6)



Cerca de 40° lá fora!!! Nestas alturas o espírito tende a emigrar para outras aragens...

Hoje “fui” de malas aviadas para este jardim no paraíso... perdão, nos Açores, mais exactamente, nas Furnas , ilha de S. Miguel.

Mesmo só olhar já faz bem!

Voltando à "vaca fria"...



Eu sei que isto não é imagem com que se abra um Sábado, no ano da graça de 2009, mais de trinta e cinco anos depois do dia 25 de Abril de 74. Acontece que este meu texto, sobre a “oportunidade” da RTP2 em colocar no ar, de rajada e antes da Festa do Avante, o tal famigerado “documentário” alemão, feito em 2005, com o sugestivo título de “Comunismo - História de uma ilusão”, provocou algumas dúvidas em alguns leitores, como por exemplo, “ah... sei lá... deve ter sido por acaso”, ou, já mais acintosamente, “lá está a mania da perseguição dos comunas!”

Um leitor mais atento chamou a minha atenção para um “pequeno pormenor”, uma crónica escrita por Correia da Fonseca, dias depois da Festa do Avante... do ano passado, que diz assim:

“A Festa do «Avante!» decorreu nos passados dias 5 a 7. Nos três dias exactamente anteriores, a RTP, estação pública, transmitiu de rajada no seu segundo canal os três episódios de uma espécie de mini-série documental produzida na Alemanha em 2005 com o saboroso e didáctico título de «Comunismo – O Fim de uma Ilusão». Poderá dizer-se, decerto, que o fez nesses três dias em consequência apenas de um curioso acaso. Poderá dizer-se, mas será então difícil encontrar alguém que acredite na explicação.”

E segue por aí fora… se quiserem ir lá e ler.

E agora? Independentemente de o tradutor de serviço na RTP ter mudado “O fim de uma ilusão” para “História de uma ilusão”... onde querem os nossos adeptos de coincidências esfregar esta “coincidência?

Triste é concluir que, sob a capa da liberdade de imprensa, muitos órgãos de comunicação social, alguns do Estado, como a RTP, ainda hoje parecerem, por vezes, dirigidos de facto e na sombra por gente com os olhos (e o coração) postos no Boletim da Legião Portuguesa e no Jornal da Mocidade.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!



Segundo dos Poemas da Infância

Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?...
... Como nasci poeta,
devia ter sido muito antes que as mães se apercebecem disso
e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, não sei ao certo.

Mas a história dos peitos, debaixo das blusas,
foi um grande mistério.
Tão grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.

E desafiava,
sem razão aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tão certeira,
que levou o chapéu do senhor administrador!
Em toda a vila,
se falou, logo, num caso de política;
o senhor administrador
mandou vir, da cidade, uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário,
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o céu...

Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!


Manuel da Fonseca
(15 Outubro 1911 - 11 Março 1993)

Compreende-se...





No passado dia 23, Domingo, integrei-me numa grande caravana de alentejanos e rumei ao terreno da Festa do Avante para uma jornada de trabalho. Pelo menos para os outros foi, já que eu, desde que alguns elementos do meu sistema cardiovascular se desentenderam uns com os outros, estou tecnicamente dispensado de trabalhos pesados.

Havia muito para fazer. Ainda se estava na fase de pregar painéis para paredes, bancadas do espaço de restaurante, pintar assaz... e sobretudo, colocar várias coberturas. Foi a minha safa! As grandes redes de ráfia são leves e, cá de baixo, com a ajuda de uma ripa comprida, pode-se sempre ir ajudando a desprender daqui, desenriçar acolá...

Aqui e ali, de berbequim ou martelo na mão (foices não havia...), uns tantos Presidentes de Câmara CDU (alguns ainda por eleger), que eu só distinguia dos outros voluntários... porque os conheço. Em cima dos ferros das estruturas, desde que chegámos até a manhã terminar, o deputado pelo distrito de Évora e primeiro candidato da lista, a esbanjar energia suficiente para um regimento, sob o olhar atento (e a sempre presente objectiva) do Abílio Fernandes, como que a confirmar a forma física do seu jovem substituto na Assembleia. Por falar no Abílio, grande figura! Conversar com ele, assim sem "destino" certo na conversa, é como água fresca...

Depois veio a feijoada em três grandes mesas de bancos corridos, o convívio retemperador, palavras de mobilização para o que ainda falta fazer... e alargando o ângulo de visão, como se subíssemos num balão, a imagem de centenas de outros militantes, de todas as idades, vindos de outros pontos do país, ocupando tempo da suas férias ali, como se estivessem no melhor dos destinos turísticos (pelo menos pelos sorrisos, parecia). Animados por uma espécie de cansaço bom, uma energia feliz que só partirá no dia 7. Sorrindo já com a antevisão das caras de assombro e prazer que a sua obra provocará nos visitantes, mal assomem o alto da Avenida Central.

Tenho que compreender a estupefacção que esta realidade provoca nos outros partidos. Tenho que compreender a raiva funda que isto entranha nos inimigos da Festa. Um fenómeno destes pode ser mais irritante do que um pacote de pimenta pelo nariz acima. Isto deixa-os fora de si... pois nunca o poderão entender. Pode ser até “assustador”... daí a raiva!

Compreende-se...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Que fazer?



Que fazer?
Sentarmo-nos a construir um sonho feito de viagens e fazê-lo crescer, crescer...
ou saltarmos para o barco e "partirmos" já?

Afeganistão – Eleições “justas”, para quem?



Enquanto alguns apontam inúmeras irregularidades e fraudes no processo eleitoral no Afeganistão, enquanto a morte é diariamente servida como prato principal pelos talibãs, ainda há poucos anos sob a protecção, financiamento e treino, dos norte-americanos, enquanto o criado da Casa Branca, Hamid Karzai, luta voto a voto para conseguir desempatar os malditos resultados das votações, observadores da União Europeia dizem que aquilo foi uma eleição justa.

Hamid Karzai, na tentativa de atrair mais uns votos, fez aprovar leis que, independentemente de costumes e crenças, deviam envergonhar qualquer ser humano, tal é a abjecção de princípios que defende, por exemplo, em relação aos direitos da mulher. Não resultou. Fica apenas o asco de ver os dirigentes ocidentais a assobiar para o ar, pois o que importa é fazer eleger o seu criado.

Não há como esconder. A operação dos EUA no Afeganistão é um estrondoso fiasco. O país é um barril de pólvora, a democracia afegã é uma anedota que vive apenas na cabeça de uns tantos hipócritas na Casa Branca e na CIA e meia dúzia de tontos, espalhados pelo mundo, cuja função é aplaudir tudo o que Washington decide, mais os lacaios... que o fazem de forma calculada e consciente.

Ainda sou do tempo em que, quando a CIA decidia intervir, digamos, num cenário político que lhe fosse adverso, comprando e promovendo políticos locais que estivessem dispostos a colocar-se ao seu serviço, faziam-no de maneira a garantir resultados que durassem mais de trinta anos, pelo menos. Como fizeram na nossa Revolução de Abril... e com Mário Soares. Lembram-se?

Já nem a CIA tem a competência que tinha...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Há sempre alguém



Há sempre alguém
A quem
Levar uma flor.
Há sempre alguém
Que para nós é belo
E que por sê-lo
Nos dá o calor
De um malmequer
Que nos faz bem.

(Samuelin “Haja descaramento para se
estar p’ráqui a armar em poeta!”)

Moita Flores e Sócrates - A valsa...



Nota prévia: Antes que alguem o venha "lembrar", quero esclarecer que acho quase todas as pessoas que embora sem inclinação para a militância partidária, nem por isso deixam de ser activas politica e civicamente, pessoas interessantes. Mais, acho que nenhum campo ideológico tem o exclusivo destas pessoas. Portanto, não se trata aqui de ser-se, ou não, independente.

No passado 10 de Junho, Moita Flores foi agraciado com uma medalha (Ordem do Infante D. Henrique - Grande Oficial) em Santarém, ou mais exactamente, no peito, pelo engenheiro Cavaco Silva, na presença do professor José Sócrates e uma multidão de doutores e arquitectos. A coisa deve ter-lhe caído no goto, já que ali mesmo ficou decidido que trocaria de posições com Sócrates e lhe espetaria uma Medalha de Ouro da Cidade de Santarém no armani, mas desta vez sem Cavaco, que já recebeu também a sua prá troca.

A coisa ficou dever-se à transferência do Convento de São Francisco para a gestão da Câmara de Santarém. Sócrates gabou-lhes muito a coragem pela atribuição da medalha e lá seguiu a festa.

Moita Flores bem necessita de coisas que o alegrem, pois entre declarações terríveis sobre a liderança do partido que o apoia para a reeleição na autarquia escalabitana, acompanhadas de dúvidas sobre se vai votar no PS (ou até no BE) e grandes "incompreensões" de toda a gente, deve andar algo stressado.

Eu também conheço de vista alguns cidadãos que a esta distância das eleições, não fazem a menor ideia sobre qual o partido em que votariam... se soubessem sequer que vai haver eleições e para quê. Claro que quase todos esses têm a desculpa de não saberem ler, nem escrever, falarem pouco e nem verem televisão a não ser de vez em quando e nunca mais que um joguito de bola, uma novela da TVI, ou vá lá... os Malucos do Riso. Qual será a desculpa de Francisco Moita Flores?

Salvam-se então as medalhas, que são sempre uma coisa bonita e proporcionam cerimónias brilhantes... ou ao contrário... o que me leva, uma vez sem exemplo, a citar Carlos Tê e Rui Veloso e a sua “Valsinha das medalhas”:

“Quem és tu donde vens
Conta-nos lá os teus feitos
Que eu nunca vi pátria assim
Pequena e com tantos peitos”

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Marilyn Monroe - Tal como sempre...



Segundo esta notícia, o túmulo vizinho da sepultura de Marilyn Monroe foi leiloado por 4,6 milhões de dólares. Mais um que quer passar a eternidade deitado ao lado da actriz. Era essa, aliás, a ideia da frase publicitária do leilão.

A viúva do dono actual precisou de dinheiro para coisas mais ligadas ao mundo dos vivos. O morto que vai ter o azar de ser exumado, um negociante com ligações à Máfia, tinha comprado o túmulo a um dos maridos de Marilyn, confessando ser esse o seu sonho: ficar deitado ao lado dela.

Curiosamente, um outro túmulo mesmo “porta com porta”, pertence ao patrão da “Playboy”, o multimilionário Hugh Hefner.

Pobre Norma Jean! Salvo honrosas e raras excepções, tal como durante a vida, também na morte ficou encurralada por imbecis, aproveitadores e bandidos.

Cavaco veta que se farta!



Cavaco Silva não tem um pensamento sobre o que quer que seja. Faz contas. Por estes dias, tem mandado a aparência de equidistância às malvas e faz contas aos votos no PPD. Como arma de campanha, agora tocou a vez do veto à “Lei da uniões de facto”, para gáudio do CDS, do PPD mais retrógrado e de mais uns tantos conservadores avulsos.

Se os “casais” em estado de “união de facto” querem ter direitos, por exemplo, no que toca a pensões, direitos sobre a casa comum, bens comuns, etc, etc, a dar-se o caso de morrer um dos elementos do casal, ou de uma separação menos amigável... então casem-se, como manda Deus, a Igreja e os bons costumes. Senão, como insinuava uma luminária na televisão, se quis "armar-se em livre", agora aguente-se!

É no que dá ter santarrões, hipócritas e falsos cristãos a tentar manipular as consciências de um país e a controlar, de facto, o cérebro limitado do Presidente da República.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Televisão Pública – Sobram os programas, escasseia a vergonha!




A RTP2 anuncia por estes dias, muito prazenteiramente, aquilo a que chama “uma fascinante série documental”, em três episódios, com o título sugestivo de “Comunismo - História de uma ilusão”. É, segundo parece, de origem alemã. Da apresentação promocional da série fazem ainda parte algumas considerações de que destaco estas: “Como é que é possível que esta ideia possa fascinar tanta gente, incluindo centenas de intelectuais? De que modo é que milhares de pessoas acabam com a repressão a indignidade e a opressão económica e mesmo assim continuam fiéis ao conceito de comunismo?”. Confesso que adorei o perdulário número de “centenas de intelectuais”! Foram contados no bairro do autor? No mundo inteiro? Mistério...

Devo dizer que sou normalmente cliente deste tipo de documentários, feitos de sinais contrários, de polémica, maior ou menor rigor, etc. De qualquer modo, este não vou ver. Já conheço o género, coalhado de “testemunhos”, que no caso presente incluem, segundo o anúncio, questões postas a “conceituados cientistas e antigos membros do KGB”, ou seja, o sketch completo.

Vamos partir do princípio que eu nem teria opinião sobre um “documentário” destes. Um princípio disparatado... mas poderia acontecer...

Agora do que tenho seguramente opinião é sobre a total falta de vergonha na cara da direcção de programas de uma Televisão Pública e da tutela do Partido Socialista (que é a mesma coisa que o Governo) que puxa os cordelinhos da televisão, os quais têm a desfaçatez de no início de uma campanha eleitoral a que concorre um Partido Comunista, força política maioritária da CDU, beneficiarem de maneira cega e ostensiva todos os restantes partidos concorrentes, promovendo esta campanha de pedestre anticomunismo, que, num toque de humor rasca, os milhares de contribuintes comunistas são também obrigados a pagar.

Faço questão de dizer, sobretudo a quem não me conhece, que este documentário (ou qualquer outro) tem toda a legitimidade para integrar a programação do Serviço Público de Televisão, desde que fora de um ambiente de campanha eleitoral e sendo observados os princípios de pluralismo e equidistância, por parte da Estação do Estado.

Felizmente, muitos milhares de portugueses, independentemente destas manobras, vão votar comunista em 27 de Setembro e 11 de Outubro próximos, confirmando os piores receios daqueles que não se conformam com a recusa dos comunistas portugueses em desaparecer de cena e que, antes pelo contrário, dão passos no sentido do crescimento e rejuvenescimento.

Infelizmente, poderiam ser alguns mais, mas para isso seria neccessário estarmos a bater-nos politicamente contra adversários que cumprissem “os mínimos” de decência democrática, honestidade e, como disse logo a abrir, de vergonha na cara.

domingo, 23 de agosto de 2009

Torga - Endurecer a forma da emoção



Identidade

Matei a lua e o luar difuso.
Quero os versos de ferro e de cimento.
E em vez de rimas, uso
As consonâncias que há no sofrimento.

Universal e aberto, o meu instinto acode
A todo o coração que se debate aflito.
E luta como sabe e como pode:
Dá beleza e sentido a cada grito.

Mas como as inscrições nas penedias
Têm maior duração,
Gasto as horas e os dias
A endurecer a forma da emoção.

Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'

Adenda: Por obra e graça da Maria Maia, fiquei a saber que este lugar é na Noruega, sobre um fiorde. Podem saber mais aqui e ver mais aqui.

Morais e Castro (1939-2009)



Quem, por parte do PCP e inspirando-se em Bertold Brecht, disse que com a morte de José Morais e Castro se perdeu “um dos imprescindíveis”, foi tão feliz nessa classificação, que me dispensa de tentar dizer mais.

Não sendo eu “do teatro”, quase sempre que as minhas cantigas se cruzavam com Morais e Castro ele estava generosamente fazendo de apresentador da sessão, ou algo assim igualmente afastado do que foi a sua paixão maior, depois da liberdade, o teatro. Sempre grande companheiro, sempre disponível, sempre com o ar simples de quem não tivesse, por exemplo, ajudado a renovar o teatro em Portugal, nomeadamente no Grupo 4, que fundou com os seus amigos Rui Mendes, João Lourenço e Irene Cruz.

Apesar de todo o trabalho desenvolvido em 50 anos de teatro, quiseram a vida e as opções artísticas das nossas televisões, que Morais e Castro se tornasse conhecido do grande público pela participação em novelas e, sobretudo, pela série do “Menino Tonecas”, onde o seu personagem de professor pretensamente severo (sem nunca conseguir sê-lo realmente), fez rir milhares de portugueses, que na sua maioria nunca souberam que também lhe deviam um pouco a possibilidade de rir assim, sem medo, sem censura prévia, em liberdade.

Obrigado, Zé!

sábado, 22 de agosto de 2009

Michael Jackson - Os necrófagos





Eu sei que o assunto não interessa por aí além a muitos daqueles que me lêem, mas dado tratar-se da minha “profissão” (passe a comparação algo forçada) o fenómeno Michael Jackson não deixa se me impressionar.

O miúdo tinha um talento assinalável, não tanto que justificasse a “instituição” em que se tornou. Outros, com o mesmo, ou muito mais talento do que ele, tiveram e têm carreiras mais ou menos brilhantes, mais ou menos reconhecidas, tudo isso sem precisarem de perder o contacto com a realidade e os mínimos de sanidade mental.

No caso infeliz deste artista talentoso, uma infância passada entre as alegrias da fama e grandes tareias do crápula que lhe tocou como pai, para subir ao palco as vezes que fossem necessárias para enriquecer rapidamente a família, seguida de uma adolescência, juventude e idade “adulta”, dominadas pelo dinheiro a mais, isolamento a mais, fama a mais, controlo feroz por parte de agentes, editores e produtores, sobre o que vestir, o que fazer, o que cantar, o que dizer, não lhe apagaram o talento, mas transformaram-no numa espécie de débil mental, com as manias, taras e peripécias que se conhecem.

Para ser curto e grosso, “mataram-no”! Todo este tempo depois da sua morte, as violações e os abusos de que durante toda a vida foi vítima, continuam. Para além das devidamente autorizadas vendas maciças de produtos e mais produtos, “inventados” ou não para a ocasião, a somar aos discos, DVDs das “homenagens” já feitas ou ainda por fazer, com a participação de magotes de colegas, alguns sinceros, outros apenas cúmplices do grande negócio necrófago, a família, sempre capitaneada pela asquerosa figura do pai, o mais antigo e "fiel" parasita do cantor, anda a jogar com a data do funeral. Por "razões familiares”, diz o crápula. Para acertar bem e em pormenor todos os possíveis patrocínios, direitos televisivos e presenças mediáticas, digo eu. Enfim, mais dinheiro!

Pobre Michael Jackson!

Pobre cultura e criadores, que se deixam assim manietar pelas correntes da "economia de mercado", nome com que tanto gostam de mascarar o capitalismo mais selvagem!

Quando eu for grande...




Primeiro, sei que esta não é a melhor maneira de se entrar num fim de semana. Segundo, longe de mim pretender interessar alguém pelo conteúdo da última “Grande Entrevista” dada pela Dona Manuela Ferreira Leite à Dona Judite de Sousa, ou pelas suas teorias da “asfixia democrática”. Muito menos pretendo que algum dos meus leitores se sinta entusiasmado com as suas promessas de baixa de impostos... não! O que eu quero é falar-vos do fim, mesmo, mesmo no finzinho da entrevista. Tão no fim, que a entrevista propriamente dita já tinha acabado.

Eu conto, mas quem quiser confirmar pode ver a coisa aqui. Como disse, a entrevista tinha já acabado e enquanto passava a ficha técnica do programa, a Dona Judite, com o som muito baixinho, mas que os técnicos se esqueceram de cortar, chega-se à frente, toda sorridente para a Dona Manuela e faz-lhe notar, muito prazenteira, “Tivemos mais cinco minutos!”. Como nestas coisas, já que é para dar barraca, então “perdido por cem, perdido por mil”, Judite perguntou a Dona Manuela, como quem pede festinhas na cabeça: “Esta última pergunta foi gira, não foi?”

Mãe! Quando eu for grande posso ter uma Televisão Pública sem jornalistas destes? Posso?


Adenda: Gostaria de esclarecer que só “apanhei” o tal finzinho da entrevista, porque estava a ouvir a televisão com auscultadores. Esperei até poder ver o vídeo com a gravação do programa, para ter a certeza... e mesmo assim, já tinha constatado (com muito agrado) não ter sido o único a reparar na coisa, o que quer dizer que, felizmente, não sou o único doido a topar estas tolices.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Usain Bolt



A fotografia maior, aqui em cima, é o melhor resultado de várias tentativas de apanhar o jovem jamaicano Usain Bolt... a correr. Pronto... sempre dá para ver a bota cor de laranja e metade do fato...

A única solução foi apanhá-lo parado, como se pode ver. Também... quem raio é que se lembra de correr os cem metros em 9 segundos e 58 centésimos e os duzentos metros em 19 segundos e 19 centésimos?!!!

Fantástico... e algo inquietante! Qual será o limite?

Parque Arqueológico do Vale do Côa



Há poucos meses, entre um almoço no “Júlio” (em Gouveia) e um espectáculo musical de alunos de uma amiga, fui de excursão, na melhor das companhias, a Foz Côa, ver as célebres gravuras. Calhou-nos a grande sorte de ter como anfitrião o amigo que dirige as operações (e gere as angústias) de todo aquele projecto.

Já muito se escreveu e se viu sobre estas e outras gravuras, por todo o mundo, logo, sabia mais ou menos ao que ia... mas fica-se sempre impressionado. Fica-se sempre esmagado pelo peso de tanta História. Fica-se sempre minúsculo perante o gigantismo da viagem que conduziu o Homem até aos dias de hoje. Fica-se sempre sem uma resposta para o que levava alguns deles a “fotogravarem” a sua vida...

Sabia ao que ia... só não esperava que a verdadeira estória de amor que esta visita me gravou na memória, fosse afinal a própria história do nosso guia, jovem engenheiro integrado na equipa que se preparava para “liquidar” as gravuras (literalmente) debaixo do lago de uma barragem. O jovem engenheiro apaixonou-se pelas “vítimas”, abandonou o poderoso “exército” agressor, passou-se para o lado certo da História e da cultura e ficou ali, a trabalhar todos os dias, entre pedras, gravuras, falsas promessas e dificuldades de toda a ordem.

Indiferente às minhas “memórias poéticas”, a realidade é bem mais terrena. As gravuras de Foz Côa estão hoje submersas por rios de promessas por cumprir, indiferença, falta de carácter do poder e, aqui e ali, quando uma possibilidade de lucros interessantes espreita, minadas por negociatas mal explicadas.

Cumprindo a sua obrigação para com o país e o seu património cultural, os partidos que compõem a CDU têm-se batido por uma outra realidade para o dia a dia daquele “monumento histórico-cultural”.

Mostrando ter entendido algumas das razões que me levam a alimentar um blogue, mão amiga fez-me chegar um texto que, ontem mesmo, foi lido numa sessão que tinha como convidado Jerónimo de Sousa, na sua deslocação a Foz Côa. Em contraste com o palavreado oficial, um documento com ideias claras e propostas reais. Senão, vejamos:


“Por um Parque Arqueológico do Vale do Côa ao serviço efectivo das populações”

“Camaradas e amigos,

Em 1996 foi aberto o Parque Arqueológico do Vale do Côa, um serviço descentralizado do Ministério da Cultura, que tinha por funções gerir, proteger, musealizar e organizar para visita pública a arte rupestre do Vale do Côa, classificada como Monumento Nacional em 1997.

Em 1998 esta arte foi integrada na Lista do Património Mundial, tendo o Estado português assumido um compromisso perante a UNESCO de preservar este património. Após a criação do Parque, o governo PS Guterres começou logo pelo não cumprimento das promessas em termos de canalização de verbas comunitárias (ProCôa e AIBT do Côa), que viriam beneficiar toda a região.

A estrutura deste serviço assentou desde o seu início na precariedade das relações de trabalho e na subvalorização dos seus funcionários, levando esta situação à saída de muitos, alguns deles para a emigração.

Foi-se assim assistindo a um gradual desinvestimento que veio a provocar, entre outras gravosas consequências...”


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"Grande é a poesia, a bondade e as danças..."



Digam lá se a infância não é ou não uma coisa maravilhosa! Segundo a nossa neta mais idosa (cinco anitos...), estas duas míticas personagens de dois dos filmes clássicos da Disney são respectivamente:

“Boneca de Neve” & “Bela Merecida”

Dentro de “dias”, nunca mais dirá coisas destas... até lá vamo-nos deliciando.

A democracia e as eleições valem a pena e a despesa?


(Não reparem na arrumação deste "Parlamento". É apenas a minha opinião...)

O nosso “novo jornalismo” adora agarrar assuntos que por não terem grande sumo, não dêem trabalho, mas que ao mesmo tempo, façam algum barulho mediático.

Agora calhou a vez às despesas que os diversos partidos vão ter com as suas campanhas eleitorais. Independentemente de achar que alguns devem ir gastar mais do que anunciam, que a máquina de montar espectáculos do PS talvez seja demasiado cara, que o caminho pelo qual enveredam as campanhas nem sempre é o mais útil nem esclarecedor... independentemente de tudo isso, o que me prendeu em algumas das abordagens jornalísticas, foi um certo tom com que o fenómeno foi sendo abordado.

Para falar apenas de um programa de televisão, o “Opinião Pública”, ao apresentar o tema que iria estar em “debate” durante parte da tarde, todas as perguntas e “sugestões” iam no sentido de atrair os telefonemas típicos, uns, carregados de ressentimentos contra o 25 de Abril, outros, apenas desinformados, outros ainda (poucos) ingénuos, que alagam o programa com argumentos contra o despesismo dos partidos, o que se gasta com as eleições e, bem “conduzidos” por uma das perguntas da redacção, “acha que os partidos gastam demais?”, mais uma vez insistirem na mistificação de que os partidos são todos iguais.

Primeira reflexão, é triste que jornalistas profissionais, tentem passar a ideia de que sem um regular e livre funcionamento dos partidos políticos poderia existir uma democracia saudável. É lamentável que constantemente alinhem neste bacoco e perigoso discurso anti-partidos.

Segunda reflexão, mesmo somando todas as previsões de gastos dos vários partidos e o que o Estado pagará pelos boletins de voto e despesas correlativas, mesmo que a grande maioria do dinheiro venha dos cofres públicos, numa soma muito por alto, cada voto poderá custar aos contribuintes bem menos de 2 Euros, ou seja, algo como 3 cafés... ou metade de um maço de cigarros!

Espero que este meu “orçamento” ajude a pôr esta grande discussão nacional sobre o preço da democracia e das eleições, no seu devido lugar: no ridículo!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Federico Garcia Lorca (1898-1936)


No ano passado, exactamente neste dia 19 de Agosto, escrevi aqui um post sobre Lorca. Este ano não me lembraria de o fazer, não fosse o post d' “O cheiro da Ilha”, onde a Maria publica exactamente o mesmo poema de Lorca de que se serviu há um ano para comentar o que escrevi.
É um excelente pretexto para repetir, palavra por palavra, imagem por imagem, o que publiquei então, mudando apenas o vídeo final, desta vez “Chove en Santiago”, igualmente de Lorca, musicado pelos Luar na Lubre e cantado pela voz de veludo da que era até há pouco tempo a sua cantora.

Retrato do jovem Lorca, no documento de entrada na Universidade, em que se pode ver a sua juvenil assinatura, que a vida e um intenso contacto com as artes viriam a transformar nesta:
“Adivinha da guitarra”

Na redonda 
encruzilhada,

6 donzelas
bailam.

3 de carne
e
3 de prata.

Os sonhos de ontem procuram-nas

porém têm-nas abraçadas

um Polifemo de ouro.

Ai!, guitarra!
(Federico Garcia Lorca)

Lorca é a grande poesia, a voz que vem do mais fundo de uma Espanha culta e a transbordar de História, é o grande teatro representado em milhares de palcos por todo o mundo. Já faz parte dessa entidade vibrante e inexplicável que dá vida às danças e ao “cante” a que os espanhóis chamam “duende”.
Em 19 de Agosto de 1936, Lorca era um jovem adulto com 38 anos de idade. Já se tinha afirmado como grande poeta, grande dramaturgo, praticante de música, pintor e desenhador compulsivo. Era um amante da liberdade, do seu povo, da sua cultura e um defensor do socialismo, tudo coisas ofensivas para os fascistas espanhóis.



Em 19 de Agosto, em Granada, um dos membros da matilha de Francisco Franco, com a lucidez assassina que guia as feras, declarou “Ele é mais perigoso com a caneta do que muitos com o revólver!” e deu ordens para a sua execução, sem qualquer acusação ou julgamento, com um tiro na nuca.
A onda de revolta contra esse crime abjecto, que percorreu o mundo nessa altura e a presença constante que a obra poética e teatral de Lorca mantêm no mundo da cultura até aos dias de hoje, mostram que efectivamente, o assassino “tinha razão”...

"Ay qué terribles cinco de la tarde!
Eran las cinco en todos los relojes!
Eran las cinco en sombra de la tarde!"
(Lorca - Excerto de “La cogida y la muerte”)

"Chove en Santiago" - Luar na Lubre
(Federico Garcia Lorca / Luar na Lubre)

Os (verdadeiros) homens da luta



Já algumas vezes, embora sem grande gravidade, fui acusado de ser muito pouco simpático para quem não pensa como eu. Lá fui explicando que não... e tal... mesmo admitindo que aqui e ali, poderia ter sido menos sarcástico (uma coisa que azeda a ironia e o humor) e que em relação a uma ou outra personalidade, poderia igualmente ter passado sem lhes chamar... aquilo que são.

Entretanto, tal como outros, fui obrigado a reparar no nível de mimos que são trocados entre os “ultra-rosas” e “ultra-laranjas” dos blogues “simplex” e “jamais”, respectivamente, a propósito das paternidades e maternidades de uns e outros.
Claro que a polémica já alastrou a outros sítios, mas não merece a pena estar a fazer links para todos...

Mesmo impressionado pela sanganheira que por ali corre, não posso deixar de ficar feliz por saber que ao pé deles sou, afinal, um rapaz extremamente bem educado.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ainda os sonhos



Muitos dos livros de estórias e sonhos que alimentaram a infância e juventude de alguns de nós, sobretudo os que já passaram os cinquentas, foram ilustrados por imagens que, mais coisa menos coisa, eram parecidas com esta.

Depois fomos crescendo... mas alguma coisa, talvez na qualidade dos materiais de que eram feitos esses sonhos, fez com que chegassem aos dias de hoje como novos. O futuro é já ali, certas amizades arrepiam a espinha, os "papagaios" continuam a voar, o verde da esperança é ainda mais intenso, o amor é urgente e o perfume da liberdade... ainda e sempre, imprescindível!

Ter razão compensa!




O nosso amigo Aníbal Pires, do blogue “Momentos” teve a gentileza de me oferecer este prémio, concebido para assinalar blogues comprometidos culturalmente, politicamente, socialmente...

Agradeço o gesto e passo-o aos muitos blogues comprometidos que estão na minha lista, mas desta vez, subvertendo a minha própria regra, concentro essa “passagem” em dois deles, que (cada um à sua maneira) são para mim, todos os dias, grandes exemplos desse “comprometimento”, o “Cravo de Abril” e o “Anónimo do Séc. XXI”.

Esta “cerimónia oficial de aceitação do prémio” é, entretanto, uma excelente ocasião para contar uma singela estória já com alguns dias. Passa-se exactamente com o Aníbal Pires, que vive actualmente nos Açores, onde coordena o trabalho político do PCP e da CDU, força política que representa como deputado na Assembleia Regional.

Há já bastante tempo, foi convidado a título pessoal (não como dirigente partidário) para colaborar, com uma coluna de opinião, de forma regular e rigorosamente gratuita, no “Açoriano Oriental”, que desta forma, juntando as suas crónicas às de outros colaboradores de cores ideológicas diversas, arejava os seus pergaminhos de jornal adepto do pluralismo de ideias.

Nos finais da última campanha eleitoral para as Eleições Regionais, o Governo Regional dos Açores, ou melhor, o Partido Socialista, fez distribuir dentro do “Açoriano Oriental” um encarte com a sua propaganda eleitoral. Perante a ilegalidade deste acto a CDU foi a força política que “não se ficou” e apresentou queixa à Comissão Nacional de Eleições.

A coisa foi passando sem consequências de maior, até há poucos dias. Quando a CNE tomou finalmente uma decisão sobre o caso, dando razão à CDU e aplicando um “raspanete” ao jornal e ao PS, a situação mudou. Num mundo ideal, tanto o jornal como o Partido Socialista teriam feito chegar à CDU um qualquer gesto “diplomático”, um reconhecimento do erro... mas não em Portugal! Em Portugal, 35 anos depois do 25 de Abril, o Aníbal Pires foi chamado a uma reunião informal numa mesa de café, por um representante da “Açormedia”, proprietária do jornal, o qual, algo encavacado, o informou de que o “Açoriano Oriental” dispensava a sua colaboração a partir desse mesmo dia. Assim mesmo, a seco. Ficou acordado, então, que o Aníbal escreveria uma última crónica, como forma de despedida dos leitores, acordo esse que o jornal viria a não honrar.

Aqui fica o texto dessa crónica que não chegou a ser publicada:

“Hasta!”
“Por ora chega ao fim a minha colaboração semanal com o Açoriano Oriental (AO). Ao longo dos últimos 6 anos partilhei com os leitores aquilo que penso sobre um leque variado de assuntos mas, mais do que difundir opinião pessoal procurei deixar espaço para reflexão e discussão, até porque considero que a realidade observada pode ter várias leituras e, não me cabe mais do que dar a minha própria visão deixando espaço para a opinião de quem foi tendo paciência para ler o “Olhares”.
Iniciei a minha colaboração regular com o AO em Janeiro de 2004… …”


Como, felizmente, o mundo ainda é povoado por muitas pessoas com colunas vertebrais maravilhosamente verticais, pessoas essas de que a CDU, embora não pretendendo (obviamente) ter o exclusivo, pode gabar-se de ter nas suas fileiras um número invejável, o nosso companheiro José Decq Mota, indiscutivelmente uma dessas pessoas, actualmente vereador da CDU na Câmara Municipal da Cidade da Horta (Faial) e igualmente colaborador de forma graciosa do “Açoriano Oriental”, fez imediatamente chegar às mãos do director esta "luminosa" carta de solidariedade para com Aníbal Pires:

“Caro Senhor Director: O repulsivo afastamento do meu Camarada Aníbal Pires da lista de colaboradores graciosos do "Açoriano Oriental", determina que eu cesse de imediato a colaboração, também graciosa, que há muitos anos mantenho com esse Jornal. A Administração da Açormedia, ao agir como agiu… …”



E assim, este bonito passeio pelo nosso pluralismo nacional de inspiração socrática, traz-me de volta ao título deste post.
Ter razão compensa... mesmo quando tudo parece indicar o contrário!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ferro Rodrigues – Coligações pós-traumáticas



Ferro Rodrigues deu cabo do seu precioso silêncio, vindo declarar para a imprensa que o Partido Socialista, a dar-se o caso de não obter uma maioria absoluta nas próximas eleições legislativas, devia tentar fazer uma coligação com o PCP e o BE... ou com o PSD.

Independentemente dos, “contentamentos descontentes”, apoios, criticas e respostas (com som) que estas declarações originaram, eu (presumo que por uma questão de feitio) acho que uma coisa tão séria como uma coligação para o Governo de um país, ou de uma autarquia, deve resultar de profundas, sérias, francas e (obviamente) prévias negociações entre os partidos envolvidos, desde que estejam inequivocamente interessados em romper com “o que está” (e as políticas que lhe deram forma), não abdicando do essencial dos princípios, mas criando uma “coisa” nova, na qual se cedeu aqui, não cedeu ali... sendo que numa situação dessas deixam de estar em causa “perdas e ganhos”, em prol do que se considerar ser um “bem maior”. Mas isto sou eu, com a mania dos pormenores.

Na verdade, para meu divertimento, esta questão das coligações posta assim deste modo algo “simplex”, teve a vantagem de me lembrar uma frase atribuída ao grande comediante Groucho Marx:

“Estes são os meus princípios. Se você não gosta deles, eu tenho outros!”

Carolina Patrocínio





Carolina Patrocínio é uma jovem com uns olhos espertos que gostam de andar sempre muito juntos, uma cara patusca, um sorriso simpático e fácil. É rica, famosa e aparece em tudo o que é programa de televisão e revista cor de rosa. Ninguém sabe se aparece por ser famosa, ou se é famosa porque aparece.

Os portugueses devem gostar muito de a ver em fato de banho, atendendo a que é quase impossível arranjar na net uma fotografia da moça, vestida com outra indumentária. Muitos desses portugueses devem ter, para além disso, um especial prazer em vê-la a "ausentar-se", tal é a quantidade dessas fotografias em que aparece de costas.

Até há pouco tempo, não se lhe conhecia uma ideia sobre coisa nenhuma. Uma entrevista recente, registada neste vídeo e onde fala exaustivamente do que gosta e não gosta, embora mantendo o suspense quanto às suas ideias sobre a situação sócio/política nacional e internacional, as eleições que temos aí à porta e a sua importância para a juventude portuguesa, as saídas profissionais (ou a falta delas) para essa mesma juventude, etc, etc, etc... mesmo assim, deu-nos a conhecer outras características da jovem “apresentatriz”. Ficamos a saber que trabalha apenas para se divertir, pois “felizmente não precisa de trabalhar”, que “detesta frutas que tenham que ser descascadas” e (a partir do minuto 8) a frase que anda toda a gente a discutir, “só como cerejas se a minha empregada lhes tirar os caroços”, aplicando-se o mesmo princípio às grainhas das uvas, que, segundo ela, “são uma grande trabalheira”.

Foi escolhida para Mandatária para a Juventude pelo Partido Socialista de José Sócrates, provocando discussões acaloradas por todo o lado, até em blogues de sensibilidades tão diferentes como este, ou este, para "linkar" apenas dois.

Para além de, como quase toda a gente, também não vislumbrar o que é que Sócrates acha que a juventude portuguesa com idade para votar deve ver na jovem e mediática Carolina Patrocínio, que lhe sirva como modelo ou exemplo a seguir, gostaria de chamar a atenção para uma pequena frase da Mandatária, logo a seguir à tal das cerejas e que parece ter escapado aos espectadores, que terão, muito compreensivelmente, ficado apardalados com a problemática dos caroços e grainhas. Diz a Mandatária da Juventude:

“Sou muito competitiva. Detesto perder! Prefiro fazer batota, a ter que perder!”

Ora aí está! Quase que aposto ter sido esta a “qualidade” (para Sócrates um verdadeiro programa eleitoral...) que cativou o Primeiro Ministro e fez de Carolina uma incontornável Mandatária.

domingo, 16 de agosto de 2009

Malka Moma


(Vladimir Dimitrov-Maistor)

Na falta de um qualquer “Ambrósio” que me fosse buscar “algo bom” (que fatalmente iria derreter-se-me nas mãos), fui eu à procura de alguma coisa de excepcional para abrir este Domingo. Encontrei!

O mundo fabuloso do verdadeiro mistério da vozes búlgaras é inesgotável, mas acabei por me render sem condições a esta jovem (Neli Andreeva) e coro (Filip Kutev), ambos verdadeiramente inexplicáveis.

Nestes tempo tão “planos” tudo o que nos eleve faz bem, todo o assombro é bem vindo!

Bom Domingo!

"Malka Moma" - Neli Andreeva e Filip Kutev Ensemble
(Tradicional - Bulgária)

sábado, 15 de agosto de 2009

Grande calor! (5)


A sério?!!!



“Ao contrário de muitos, sempre fui de uma esquerda moderada, um social-democrata, um socialista democrático.
Nunca tive na minha juventude um radicalismo. Sempre fui um político moderado, sempre achei que a moderação é um valor político da maior importância, sempre achei que o compromisso era uma ideia muito positiva para a política.”

José Sócrates
(Durante um encontro com bloggers. Revista Visão nº857, de 6 a 12 de Agosto 2009, pág. 38)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Bertold Brecht (10 de Fevereiro de 1898 - 14 de Agosto de 1956)



A Troca da Roda

Estou sentado à beira da estrada,
o condutor muda a roda.
Não me agrada o lugar de onde venho.
Não me agrada o lugar para onde vou.
Por que olho a troca da roda
com impaciência?

(Bertold Brecht)

A pandemia de “Gripe (que não) A”




Todos os anos morrem milhões de adultos e crianças, vítimas de doenças que já deviam estar erradicadas e que são tratáveis e curáveis com medicamentos cujo valor comercial, não poucas vezes, ronda apenas os cêntimos de euro. Muita gente morre mesmo dessa “doença” quase inacreditável para os nossos dias, que é a fome. Não são negócio, logo, não são notícia!

Depois do fiasco da “gripe das aves”, que era suposto ter dizimado uma grande parte da humanidade, mas que afinal, matou menos de três centenas de pessoas em todo o mundo (muito menos de metade das vítimas resultantes da eventual queda do novo Airbus A380), e mesmo tendo feito a fortuna de Donald Rumsfeld (esse mesmo, o criminoso de guerra!) e dos seus amigos, donos da patente do “Tamiflu”, tal foi o pânico injectado nas populações de alguns países asiáticos, que compraram o medicamento aos milhões de unidades... depois desse fiasco, como dizia, era preciso “instalar” outra pandemia, que originasse notícias mais ruidosas que a crise económica mundial, que desviasse as atenções e que, sobretudo, amedrontasse mais as populações.

Não sei se o número de infectados pela “Gripe A” vai ou não crescer exponencialmente e, inevitavelmente, vitimar algumas pessoas mais debilitadas ou deficientemente assistidas. Sei, que a segunda fase do gigantesco negócio dos medicamentos está lançada e que, na falta de uma pandemia de gripe que se veja, os media, de forma lamentavelmente irresponsável, estão a instalar a “pandemia” do medo, do pânico cego, da desconfiança, da denúncia, da intolerância, do egoísmo.

Desgraçadamente, estes “vírus” com que, de uma forma deliberada se está a infectar impunemente uma verdadeira multidão de seres humanos, serão muito mais difíceis de “exterminar” do que uma simples gripe, tenha ela a designação que tiver.

Salvam-se as intervenções calmas, didácticas e ponderadas, que algumas pessoas e instituições vão fazendo, contra a corrente e alguns textos desmistificadores, que podem aqui e ali atingir níveis de excelência, como é o caso deste, que nos guia pelo maravilhoso mundo do "vírus da felicidade".