Não tenho elementos que me permitam comentar com propriedade a história do Bairro do Aleixo, nem a solução encontrada para resolver os seus conhecidos problemas. Sei apenas que ficaria muito mais confortável se àquelas pessoas (se não a todas, pelo menos à maioria) tivesse sido proposto um afastamento temporário do seu bairro, onde alguns viviam há décadas, para ali serem construídas novas habitações, com outras condições de modernidade, salubridade e segurança, para onde regressariam, se assim o quisessem.
Nada disso! A “solução” do espesso cérebro de Rui Rio e da teia de interesses dos que o rodeiam, passa por colocar toda aquela gente o mais longe possível dali, para construir um condomínio de luxo, aproveitando a localização privilegiada do bairro sobre a linha de água do belíssimo rio Douro.
Nenhum dos moradores parecia saber qual o destino que lhes está reservado. Também não vi os jornalistas muito empenhados em o saber. Estavam mais interessados em empolar os “momentos de tensão” vividos entre alguns moradores e a polícia... embora nada tenham levado daí. Mesmo a própria polícia teve a inteligência de desvalorizar os “desacatos”. Provavelmente porque, pelo menos alguns dos seus elementos, conseguem imaginar a revolta genuína que habita alguns desses moradores. Ah... e, obviamente, toda a comunicação social ficou extasiada com a perfeição técnica da implosão da “torre 5”.
Como disse, não tenho elementos que me permitam comentar com propriedade a história do Bairro do Aleixo, nem a solução encontrada para resolver os seus conhecidos (e graves) problemas. Muitos menos para avaliar a tal “perfeição técnica” da destruição do bairro.
Seja como for, tenho imensa pena de que o tipo de sociedade que cria as condições para o aparecimento de todos “bairros do aleixo” deste país, com a sua criminalidade e insegurança, mais as vidas de chumbo de todos aqueles que, mesmo não contribuindo para essa criminalidade e insegurança, são apanhados neste cerco de miséria, injustiça e desprezo... não possa ser, com igual perfeição técnica, implodida em menos de dez segundos.
11 comentários:
Num momento onde a falta de emprego, de alimentação, de medicamentos grassa neste país roçando a maior das misérias! Só nos bastava que um calhordas com dois olhos chamado Rui Rio que alguns lhe batem palmas, resolve-se e, claro, porque os tais edificios não têm condições e existe droga. Deitar os ditos edícios ao charco não para construir outros para que os antigos moradores voltassem a ter uma casa digna! Não... aquelas pessoas porque o são decerto vão ficar na rua ou quem sabe a serem uns mais sem abrigos! Porque não? Assim para onde iria a caridadezinha?!..... SaudaçõesVicky
Quanto à "perfeição técnica", comparando com as torres gémeas, a implosão da "torre 5", foi um trabalho de amadores sem qualquer explosão de profissionalismo; a inclinação de grande parte do prédio para um dos lados, a meio do desmoronamento,dá a entender que eram necessários mais uns quilitos de dinamite, mas, já não devia haver pilim para mais e ETA também anda pelas ruas da amargura!...
Quanto àquela gente fina que habitava muitos daqueles apartamentos, muitos deles transformados em pardieiros onde, se por azar se perdesse uma "broca ou sevilhana", a ressaca violenta seria certa por muito tempo... o mais certo era livrarem-se da dependência!...
Na verdade,e como estamos em atmosfera natalícia e a Família é um valor incomparável,se Rui Rio tivesse separado aquela gente e as ratazanas das ratazanas e das gentes, muita da proliferação que emergiu dos esgotos sem nunca lá ter estado, seria mais controlável e menos contaminante!...
Bem separadinhas, as maçãs podres das sãs, ainda dão deliciosas sobremesas, tanto cruas, cozidas ou assadas com açúcar em calda!...
Mas, como estamos no Natal... a Hipocrisia é sempre um quase eficaz enfeite da árvore que esteve escondida a um canto da memória de muita gente!...
Bom fim de semana
Abraço
Porque será que são sempre,neste sistema,os mais humildes a chorar.
Espero que sejam lágrimas de raiva para que amanhã possam chorar lágrimas de alegria.
É de estudar atentamente a implosão.Parece ser uma boa solução para o sistema.
Um abraço,
mário
A «perfeição técnica» só dá para destruir...
Um abraço.
A tua escrita é brilhante, esclarecedora como sempre, neste caso senti-a também comovedora.
Mais tijolo menos tijolo!
Eu achei toda a "propaganda" da RTP1 feita ao redor do derrube da "...5ª torre..." do Bairro do Aleixo, algo que mereceria uma simples notícia de pormenor e não uma tão exaustiva. Porquê? Porque moraram e moram pessoas que também têm sensibilidade e serão susceptíveis 8também) a terem ... sentimentos; ninguém deve e ninguém gostará (seja verdade ou mentira) de se ver "retratado" pela pior das razões.
Rui Rio, populista como é, conseguiu em mais uma operação de marketing, que a muitas pessoas paire desde já a dúvida do porquê de ter sido assim, e o que vai ali nascer, para usufruto de quem.
Seguem-se, certamente, novos episódios com mais ou menos água...
Disse-o e mantenho. Isto foi interesses especulativos com rancor acumulado daqueles que um dia teriam tido aquelas vistas mas que a ocupação por gentes empurradas de zonas históricas e degradas da cidade do Porto impediu. Isto é aquele bairro era destinado a uma pequena burguesia (funcionaria e outra) que acabou por não ir para lá.
É claro que se houvesse interesse político o bairro do Aleixo há anos que podia ter mudado que o diga a Dona Rosa, incansável lutadora e defensora de melhorias para aquele bairro que os sucessivos governos portuenses esqueceram nas gavetas.
Querido amigo
O problema não está no bairro do Aleixo e em quem lá vive. O problema está em quem o permite e proporciona as condições.
Agora ,menos a sério. a implosão da Torre 5 do Aleixo foi uma brincadeira comparada com a implosão das Torres Gémeas.
Um abraço.
Eu também acho que a perfeição técnica, ficou muito aquém da queda das torres gémeas.
Um beijo.
O post mais lúcido que vi sobre o assunto. Parabéns.
Conheço bem o local e toda a zona, vi a minha meninice e juventude muito próximo daquela zona.
Os actuais habitantes do Aleixo, futuros desterrados, são os descendentes dos desterrados do Barredo nos finais da década de 70. É isto que nos prova que neste país, a pobreza, o desrespeito e a exclusão passam de pais para filhos, ao contrário do que querem fazer crer os "Rios" desta terra. Mas, como bem diz, o mais chocante é a apatia bovina desta comunicação social que, perante o drama social e humano das gentes que, até independentemente da sua condição económica (porque desterrar alguém à força, seja quem for, deixa mágoas muito profundas), prefere relatar a precisão dos talibãs de Rui Rio.
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