quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Criança de 12 anos abatida pelas costas!



Duas execuções de civis por parte de agentes das forças policiais em dois posts seguidos, é uma média que espero poder baixar muito nos próximos tempos.
GNR mata criança durante perseguição policial.

Qualquer pessoa com mais de dois neurónios, sabe perfeitamente que a pena a aplicar a assaltantes de estaleiros de materiais de construção, depois de provados os factos, nunca é a pena de morte.
Mais, também muita gente sabe, incluindo as forças de segurança, que os agentes não devem usar de medidas ostensivamente mais gravosas do que o próprio crime alegadamente cometido, ou que ponham em risco terceiros, caso das cinematográficas perseguições automóveis em locais com forte densidade de trânsito e pessoas, acompanhadas das tradicionais salvas de “tiros para o ar”, que o mais das vezes, atinge as pessoas pelas costas...
Sendo assim, porque é que estes casos de pessoas abatidas pelas polícias, se repetem com esta cadência infernal? O que é que está a piorar tanto a gravidade destas fugas, que "justifica" o dedo tão leve nos gatilhos por parte dos agentes?
Por mais extraordinário que possa parecer, é porque de há uns bons tempos para cá (puxem pela memoria!), não há fugitivo que, ou por ser alegadamente apanhado a roubar galinhas, ou estaleiros de materiais de construção, ou por ser adolescente e estar a conduzir sem carta, etc, etc, etc... não há um, de há uns tempos para cá, como disse, que antes de iniciar a sua fuga não decida fazer um desvio para tentar atropelar um dos agentes.
Ninguém entende em que é que somar o assassinato de um agente policial ao furto de uns materiais de construção (por exemplo) iria ajudar o caso dos fugitivos e sobretudo, em que é que o facto de eliminar um potencial perseguidor, deixando todos os outro vivos e em estado de fúria, iria ajudar à própria fuga em si.
Embora seja um caso diferente do assalto-falhado ao BES, as reacções “populares” que ouvi na rádio, do tipo “deus me perdoe, mas isto é mesmo assim... tenho pena da criança, mas eles sabiam ao que iam...(?)”, somadas à alegria desmesurada dos responsáveis, não auguram nada de bom.
Quando os aplausos são exagerados e despropositados, os “artistas” em vez de se concentrarem para “fazer bem”, ficam, pelo contrário, perigosamente “entusiasmados”...
Para terminar, também eu quero (por enquanto...) dizer que de uma maneira geral, tenho confiança nas reais motivações dos agentes da autoridade, bem menos nas das chefias, muito menos nas motivações dos verdadeiros responsáveis políticos pela segurança do país.
Apesar das melhorias evidentes ao nível da qualidade humana e técnica da maioria dos agentes, por vezes (muito mais do que gostaria) a pose, a atitude geral, desde os fatais óculos escuros até à postura física fanfarrona que alguns exibem em público, fazem-me recear que estejam a ser admitidos na PSP e GNR, muitos jovens com um grande défice de cultura cívica e democrática, "compensada" por uma enorme "cultura" de jogos de guerra de tipo "playstation", nos quais, como se sabe, abater os "inimigos", seja pela frente ou pelas costas, apenas significa amealhar pontuação.


23 comentários:

Maria disse...

Já estava à espera deste post ontem...
Já não sei o que te hei-de dizer. Fiquei horrorizada quando vi o que os "guênêrrês" fizeram...
Parece que adoptámos definitivamente os costumes do país do bush...
Será que ainda vamos a tempo de arrepiar caminho?

Isto tudo perturba-me. E fico ocm uma dor no estômago...

Abreijos

Pata Negra disse...

É a guerra! Não sei que dizer! É a guerra! Salve-se quem puder e que, de preferência, ninguém vá para a guerra com os filhos atrás! À morte os ladrões de vacas!
Palavra bovina

Anónimo disse...

Dedo demasiado leve e muita playstation pela certa.

Este caso faz-me lembrar um outro semelhante em Gondomar há poucos meses.

Abraço

João Carlos disse...

Ao escreveres dois post sobre violência e violência policial parece evidente que isto merece um pouco de reflexão. E as reacções das pessoas, terão alguma explicação?
Não tenho certamente o dom da verdade, por isso, são meras suposições que gostaria de partilhar.
- Quando o tiro é disparado e tendo havido negociações quer isso dizer que a policia sabia já que se tratava de brasileiros, ou não?
- E que esse pormenor teve uma influencia determinante na altura do disparo ou não?;
- Que este comportamento violento contrasta com o pouco profissionalismo para não chamar medo dos ingleses, como o caso da Maddie foi tratado;
- Que o ministro bem sabe que o que mais "armas" dá à oposição é uma campanha sobre a segurança dos eleitores e mais ainda sobre a falta dela;
- Sabia bem o Chefe da policia que como resposta à crescente onda de violência ultimamente espalhada pelos jornais nada melhor que uma morte em directo como exemplo aos outros bandidos;
- Saberia bem o ministro que, com o pessoal na Costa da Caparica a ver areia que falta e a que vai chegar, ninguém ia ligar a isso;

E num ambiente de capitalismo selvagem que promove o nacionalismo, o egoísmo, a exploração, o desrespeito pelo outro, o individualismo, a corrupção, a mentira, o medo, a inveja, a ignorância, seria de esperar outra reacção das conversas de café ou mesmo dos blogs, supostamente mais cultos?
No século XXI ainda existe pena de morte, e onde? Já viram bem?

No entanto houve alguém que escreveu: o Homem chegou à Lua mas continua a ter necessidade de fazer chi-chi.
Se calhar, no fundo, é só o nosso instinto animal a falar mais alto.

Anónimo disse...

Será que a americanização deste país ainda vai levar ao assassinato de cidadãos que se limitam a cometer o "crime" de colar cartazes da Festa do Avante?!...

BlueVelvet disse...

Pouco tenho a acrescentar a tudo o que escreveu e que assino em baixo.
É que para este tipo de furto, de dependendo do valor até pode chamar-se de formigueiro,já houve despenalização.
Isto faz algum sentido?
Está tudo doido?
Isto está a tomar tais proporções que qualquer dia tenho mais medo dos polícias que dos ladrões.
Abreijinhos

Anónimo disse...

Agora, só posso dizer excelentes posts porque verdadeiros alertas a todos nós. Pela enorme gravidade, sobre este tema, sim, se justificaria uma comunicação ao País, para uma muito séria reflexão colectiva...
Há anos e anos que se criam condições de insegurança social e se alimenta uma mentalidade securitária até à paramoia. Começam a ver-se, aqui na nossa casa, os resultados...
Afinal, só queria dizer excelentes posts, e já estou a embalar. Travo.
Grande abraço

Anónimo disse...

... e quando começam abater os ladrões (autenticos e conscientes)de colarinho e punho branco? Que talvez (de certeza) levam à existência destes pequenos ladrões de galinhas, mercearias...e atá de sucursais bancárias
misa

Anónimo disse...

Querem resolver os problemas pela rama, mas, o problema é da raiz, e isso não lhes interessa.
O problema tem raizes mais profundas, que tem a ver com o social, condições de vida , emprego,salários, outra política.
Existem ladrões a outra escala, para os quais não é usada a mesma severidade, e até são chamados de Vª Exª!
Penso eu, de que!

Ana Camarra disse...

Samuel

O que sobra disso tudo é uma criança morta...
Parece que estamos em Jerusalem...no Rio de Janeiro?
se nos indignamos com o que se passa nessas cidades, entre muitas mais infelizmente, é pavoroso pensar que acontece AQUI e AGORA, na Europa civilizada...

bjs

Anónimo disse...

Entretanto-1
Os verdadeiros ladr�es, os que roubam descaradamente todos n�s, continuam impunes. Se o ministro nos viesse dizer que as "autoridades" engavetaram um desses filhos de puta (o Vale Azevedo foi a �nica excep�o, mas com o graveto que recebeu para estar calado, valeu-lhe uma reforma milion�ria em Londres) que continuam � solta e bem de vida, a� sim, eu tirava-lhe o chap�u, agora assassinar um brasuca � queima roupa, quando provavelmente o dito j� estaria mais que arrependido do acto que fez, assim sr. ministro........

Entretanto-2
Desta vez foi um mi�do o alvo, agora a culpa vai de certeza morrer solteirona, nos brasis, � pouco tempo, aconteceu uma cena id�ntica, os pol�cias a disparar para o alvo errado assassinando um puto inocente.
� o que eu digo, andam a ver muita TV Record.

Abra�o

Enviei o mesmo coment�rio para http://wehavekaosinthegarden.blogspot.com/

Delfim Peixoto disse...

Afinal, ainda são os inocentes que pagam pelos adultos... mas, deixemos os inquéritos seguirem... a morte seja de quem fôr é sempre de lamentar
abraço

Sal disse...

Playstation a mais e analfabetização (e não me refiro aos assaltantes...)

Qualquer dia começam a matar gente por engano como no Brasil, ou pessoas com ar de árabe às portas do metro, como em Londres...

beijinhos

Fernando Samuel disse...

Bem visto.
Quando a preocupação é amealhar pontuações... deixa de haver preocupação em amealhar fraternidade, solidariedade - e as consequências disso são conhecidas...

Um abraço.

Anónimo disse...

Tenho sempre um enorme respeito em relação a qualquer morto, mas sobretudo se for uma criança. Por isso nem me atrevo a comentar, porque posso ser influenciado por algum excesso de sentimentalismo. Se é que há excesso dele, num caso como este.

AC disse...

Polícias Municipais estão a ser avaliados pelas multas que passam...terão as outras forças políciais e para-militares a receber prémio do sheriff?

LuisPVLopes disse...

Só posso dizer, que lamento imenso o ocorrido, a irresponsabilidade de levar uma criança para um assalto, mesmo que a uma vacaria, é incomensurável, os que a levaram são de facto os verdadeiros culpados e sem dúvida criminosos.
Agora a atitude do soldado da GNR, excedeu o zelo, não há provas de que os assaltantes tivessem na sua posse armas de fogo, logo não houve agressão com armas de fogo sobre as autoridades, porquê disparar?!... Isto ainda não é a selva americana.
O soldado pode alegar o que quiser, pois seguramente o seu colega não o contradirá, mas já começa a ser um lugar comum, um cliché, o facto de os assaltantes tentarem sempre atropelar o agente interceptor, como se isto justificasse o saque da arma e lá vai disto, disparar à toa.
Sabemos todos, que as forças de segurança e ordem pública não andam contentes e mesmo muito por baixo vai o seu moral, mas que experimentem descarregar em quem os lixa e não em desgraçados que mesmo que fugissem do local, facilmente seriam capturados, via matrícula da carrinha e, com um imediato alerta com correspondente e também imediato apoio de toda a estrutura policial, seguramente ainda seriam interceptados na estrada.
Mas pois, é isso mesmo, as infra-estruturas das forças de segurança e ordem pública deixam muito, mas mesmo muito a desejar.
Isto é um precedente, será que quando um adolescente com a sua usual típica irreverência se negar e "espigar" com um agente da autoridade, quando este lhe solicitar o BI, corre sério risco de ser baleado?!... Será que depois o agente vai dizer que o jovem o tentou atropelar?

Já me estou a estender muito, desculpa, achi que vou fazer um post no meu cantinho sobre isto.

Ouss

Lídia Craveiro disse...

Há muito que perdi a fé na humanidade, talvez por defeito de profissão. Penso que o homem não mudou muito desde a idade das trevas, "poliu-se" um pouco ms a essencia continua igual, e a agressividade é algo que não consegue dominar se as condições de vida lhe foram propicias a isso ( falta de afecto, agressividade a mais, televisão a mais, presença dos pais a menos, educação a menos, etc)levando a um estado alexitimico ( não conhecer os afectos)que perdomina nas personalidades anti-sociais (patologia da personalidade, que, hoje em dia em conjunto com as personalidades perversas é o que mais surge nos consultorios de psicoterapia, agora imaginem, que muita dessa gente tem responsabilidades ao nivel da segurança, porque são trabalhos que lhes acentam que nem uma luva ( tem frieza e controlo de emoções, o que por sua vez pode levar a situações como as que aconteceram ultimamente. Ou seja, há um assalto e alguem é morto como se de coisa se tratasse. São vidas humanas que se perdem. Agora o que está por detrás disso tudo daria uma dissertação: governantes perversos ( todos os conhecemos), uma sociedade cada vez mais doente e sem capacidade para pensar, estupidificada mesmo, pobreza, violencia...por ai.Estou sinceramente preocupada com o estado desta nação, principalmente porque não vejo solução possivel, de qualquer forma obrigado Samuel por estes posts tão bem escritos, e com clareza de pensamento e de opinião, são sempre uma ajuda para que este pais vá sobrevivendo.
Um abraço
Lidia

GR disse...

Uma situação muito preocupante, tanto mais que de norte a sul do país muito disparate se disse.
“Um brasileiro? Haviam de matar todos!”
“Um cigano? Haviam de matar todos!”
“Emigrantes? Todos para as suas terras!”
O pobre jovem não teve culpa. O pai do adolescente, nunca devia ter levado o miúdo “para o seu emprego”, o pai é ladrão com antecedente.
Penso que a polícia tem de mostrar que é valida, competente e activa, desde que sofreram as humilhações dos McCann & Cª.
O caso do BES, é também verdade que não se pode andar por aí a assaltar bancos, mas o “tiro certeiro”, não podia ter sido evitável?
Preocupa-me o racismo camuflado. A facilidade de puxarem o gatilho, com a conivência e compreensão de muitos.
Continuo a dizer, os polícias são como caixões, às vezes são necessários mas, ninguém gosta deles.

Samuel,
Um grande beijo para ti.
Na Festa digo-te onde estive.

GR

Justine disse...

Samuel, o teu post é muito importante. E infelizmente penso que, no último parágrafo do teu texto, pões o dedo certeiro mesmo "dentro da ferida".
Raisparta esta cultura imperialista, que tudo destroi, inclusive o carácter dos homens!

Anónimo disse...

É pá ó Samuel o que aconteceu realmente que o miudo (dizem) meteu-se à frente do carro da bófia e ao que parece dizia:"Sacudam-se policias de um raio, senão eu furo-lhe os pneus", o agente ainda parou e avisou a criancinha, ao que parece 50 vezes, e ela não se demoveu da frente do carro da patrulha e ao fim das 50 avançou para o carro com um ar "Extremamente ameaçador" e ameaçou a familia dos agentes em questão. Pelo menos era o video jogo que estava a "passar" nos óculos tridimensionais e um bocadito transparentes da autoridade publica do estado. Chegamos ao fim do mundo. Decididamente. Lamentávelmente!

oasis dossonhos disse...

Samuel
Obrigado por esta reflexão.
Partilho-a hoje no meu blogue, juntamente com um texto da antropóloga Helena Galante, a propósito da guerra na Geórgia. Reflexões pertinentes e perturbantes deste Verão.
Um abraço
Luís Filipe Maçarico

Lúcia disse...

Mais um caso tristíssmo!
Beijos