sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Na natureza nada se cria, ninguém “se perde”... tudo se branqueia




Eu sei que o título não reproduz textualmente a famosa Lei de Lavoisier, mas é mais do que evidente que também define fielmente a “Lei de Conservação das Massas”... sendo aqui as “massas” entendidas enquanto “carcanhol”, “arame”, “guito”, “el contado”, etc., etc.

E a que propósito é para aqui chamada uma lei da física, ainda por cima “trucidada” com uns trocadilhos? Vem a propósito de uma pergunta feita por um amigo, mais em tom de afirmação do que pergunta: “Porque é que neste país os grandes safam-se quase sempre de sofrer as consequências das suas trafulhices?”

Muito contra o meu costume (e apenas porque sou diariamente bombardeado com o caso) respondi-lhe com um exemplo tirado do mundo do futebol, o já insuportável caso das escutas envolvendo Valentim Loureiro, Pinto da Costa, juízes, árbitros, amantes, rapariguinhas, rapazinhos, fruta, o diabo a sete... naquele desfilar de nojeiras de linguagem e de comportamento, de abjecção moral, de corrupção descarada, de absoluto sentido de impunidade.

Não se pense que sou suficientemente ingénuo para pensar que aquilo, mesmo se estivermos a falar apenas de futebol, se passa apenas para aqueles lados... uso este exemplo por neste momento ser o que está na ribalta. Se alargarmos a visão para o mundo das negociatas, dos bancos, do casino da Bolsa de Valores, das mentiras continuadas dos “alternadeiros” governantes e do seu rasteiro servilismo para com os seus verdadeiros mandantes, os “mercados”... então o cenário é desolador.

Primeiros-Ministros, Ministros, gestores, empresários, presidentes de clubes, negociantes de jogadores e todo um imenso cardume de peixes mais pequenos que andam à babujem do que sobra aos grandes, todos eles, desde que possam escudar-se atrás de um resquício de respaldo legal, garantido por uma qualquer das centenas de leis que foram, muito convenientemente, fazendo aprovar, não têm a mínima vergonha em aparecer em público e manter os cargos e os tachos, mesmo sabendo que toda a gente sabe o que efectivamente fizeram, quanto roubaram, quanto mentiram. E aqui voltamos à pergunta do meu amigo e à minha resposta.

“Porque é que neste país os grandes safam-se quase sempre de sofrer as consequências das suas trafulhices?”

Porque o cidadão eleitor, nas próximas eleições, vai votar nos mesmos. Porque o cidadão pagante continua a ir ver os jogos. Porque na grande maioria e desgraçadamente, o cidadão se fica nas encolhas.

Voltando à Lei de Lavoisier, segundo a qual, “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, mesmo aceitando como certas as duas primeiras premissas, concentremos energias na terceira: tudo se transforma. É essa a nossa tarefa!

8 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Tudo se transforma. mas para isso é preciso haver reacção e a nossa reacção é a luta.

Um beijo.

Sérgio Ribeiro disse...

Ora aí!
nem se comenta...

Um abraço

Antuã disse...

Havemos de transformar.

trepadeira disse...

Oxalá.
Pode ser que o povo atezanado e encurralado reaja.
Um abraço,
mário

Justine disse...

Excelente post, Samuel! Ah se as pessoas quisessem...

Fernando Samuel disse...

Por isso a luta tem que ter - sempre - um conteúdo transformador.

um abraço.

maia disse...

Um post importante, muito bom e colocando a questão que mais dói e preocupa. Porque é que o cidadão votante, assiste a estas trafulhices, onde os tachistas ficam sempre de fora e depois vão votar nos mesmos? Ele próprio, o cidadão comum, é sempre prejudicado e vai votar em quem provoca a crise, não responde por ela e o espartilha de sacrifícios.
E depois mandam o futebol, para entreter as gentes. O Queiroz, o Mourinho, o Cristiano, eu sei lá.
E dão a palavra ao cidadão para analisar a situação ( do futebol, claro) e ele fala, fala, e amolece a crise...
Nada disto é por acaso e está estudado, mas dói, dói e dói.
Temos que lembrar, sempre.
É um trabalho hercúlio.
Este blogue faz esse trabalho.

Maria disse...

Quando o 'people' entender que tem essa possibilidade nas mãos... sei que virá o dia!

:)