segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Duarte


Viveu 92 anos, entre 1913 e 2005. "Tomou partido" aos 17 anos. Dedicou sete décadas da sua vida inteiramente aos outros, não regateando o esforço, o tempo e a total dedicação a essa tarefa, ainda que isso lhe custasse – e custou! – muitos anos de prisão, muitos meses de isolamento, muitos dias de tortura.
Pelo caminho, teve a arte de nos legar livros teóricos sobre política ou arte, intervenções soltas, centenas de discursos, romances, desenhos...
Alguns milhares de companheiros de sempre e outros amigos mais recentes, decidiram comemorar o centenário do seu nascimento. As iniciativas são as mais variadas e não faltarão, a seu tempo, os anúncios de cada uma delas ao longo de todo o ano. Eu próprio estarei ligado a algumas, se e onde o que sei puder ser útil.
Apesar de ter dedicado toda a sua juventude e depois o resto da vida a lutar pela liberdade, defendendo para o Portugal então esmagado pelo fascismo, uma nova realidade, uma sociedade livre e plural assente num sistema económico em que convivessem o público e o privado, uma sociedade socialmente evoluída apostada na liberdade religiosa, na liberdade de pensamento, na liberdade de costumes, na igualdade de direitos e no pluri-partidarismo como prática política... há quem não consiga enxergar a dimensão da figura humana, para além da divergência ideológica. Apesar, resumindo, de ter sacrificado a sua liberdade pessoal como contribuição para a luta pela liberdade de todos, estou certo de que não faltarão “comentadores” (o caixote do lixo já está ali à espera de alguns) que não hesitarão em usar essa mesma liberdade para aqui tentarem insultá-lo... o que não deixa de ser uma vergonhosa ironia.
Uma ironia que alguns, por não passarem de canalhas, não admitem. Outros que, por puro preconceito, não querem ver. Outros ainda que, apenas por ignorância ou estupidez... não entendem. 

Aparte estes casos particulares, o sentimento geral é de respeito pela dimensão humana, pelo valor artístico, pela importância política e pela coerência de vida deste português.
Um punhado de homens e mulheres, escolhido muito cuidadosamente ainda no tempo em que era um jovem-adulto, conheceu-o como Duarte. Um número bem maior de amigos e outras pessoas interessadas, conheceu-o igualmente e mais tarde, como Manuel Tiago. Para todos os restantes, foi Álvaro Cunhal.

15 comentários:

Anónimo disse...

É preciso ter muita consciência politica e um grande amor ao próximo para persistir e lutar como Álvaro Cunhal.
Muitos de nós gostariamos de ser assim mas vamos vacilando e abandonando a corrida se bem que a esperança de voltar à mesma nunca morra sobretudo quando somos incentivados por exemplos destes.

Luis Filipe Gomes disse...

Não sei de melhor publicação para o dia de hoje nestes tempos que correm.
O teu discernimento e a tua objectividade são realmente preciosos.
Bem hajas.

No outro dia reli uma entrevista em que Álvaro Cunhal respondeu à euforia jornalística que demandava sobre a "europa connosco" e a sua fartura festiva. Álvaro Cunhal perante o mar de certezas e benesses descreveu e caracterizou a situação futura até a este nosso presente em que é óbvia a exploração dos desfavorecidos de sempre.
O que causa pasmo é que o fez com mais de vinte anos de antecedência e contra todos os indícios.

Fazem falta pessoas assim, com capacidade de ver através do nevoeiro.

trepadeira disse...

Até sempre porque sempre presente.
Um exemplo,para seguir mas,difícil,ou impossível,de igualar.

Podem atirar a lama que quiserem,alguns pulhas néscios,não o atingem,estão a um mundo de distância.

Um abraço,
mário

Graciete Rietsch disse...

Que texto tão comovente, tão sentido, tão sério!!!!!!
Se fosse possível estas palavras far-nos-iam ter, ainda, uma maior admiração por Álvaro Cunhal.
Obrigada, Samuel.

Um beijo.

Rogério Neves disse...

Que pena que alguma gentalha politica de agora não tenha a estirpe deste grande homem.

Anónimo disse...

Já não se fazem homens assim, com a dimensão humana e estirpe intelectual do Álvaro, que continua e continuará a ser um exemplo para todos nós. Nem o país, mas também o próprio PCP, estariam como estão se a tempo e horas lhe tivessem dado ouvidos.
Ficámos mais pobres, sem ele, mas o seu percurso e a sua memória permancerão imortais. Foi, sem dúvida, alguém que vivei avançado no tempo.

Saudações

António Ramos

Antuã disse...

Rumo à Vitória!

Afonso Jorge disse...

Obrigado Samuel por este texto. Sinto esperança pois Álvaro Cunhal deixou-nos o seu exemplo de rectidão e militância e estou certo que a grande parte dos camaradas seguirá esse exemplo. Todos sabemos que a luta será longa, maior que a nossa vida, mas num futuro a sociedade mais justa porque lutamos será uma realidade.
Um abraço. Afonso Jorge

lino disse...

Excelente texto!
Abraço

Maria disse...

Ia jurar que tinha comentado este post ontem à noite. Parece que não.
Está tudo dito sobre o Álvaro e, no entanto, parece que ainda muito pouco foi dito. Porque ele é TANTO!

Abreijo.

Carlos Fernandes disse...

Em homenagem a todos os que deram a sua liberdade e alguns até a própria vida,nós em Almada temos um monumento a eles dedicado.
A vida do nosso camarada Álvaro será sempre um estímulo para todas as lutas que se avizinham, até que exista uma verdadeira sociedade sem classes onde a exploração do homem pelo homem tenha terminado.
Pelo Socialismo, a Luta Continua! VENCEREMOS!

Olinda disse...

Bom texto.Âlvaro Cunhal,foi um ser completo e ao mesmo tempo tao simples,com uma sensibilidade rara.Prosseguir a luta,ê a melhar homenagem que podemos dar ao nosso camarada sempre presente.

Pedro Penilo disse...

Que sorte temos em partilhar e prosseguir o seu projecto!

Abraço, Samuel!

Maria João Brito de Sousa disse...

Até amanhã, camarada! A luta continua!

Anónimo disse...


Até amanhã camarada! A luta continua pois tivemos e temos bons exemplos.
O mais solidário bem haja por tão belo texto!
Vicky