Um querido amigo, com mais uns anitos do que eu e uma vida cheia, moldada por muitos anos de luta contra o fascismo, alguns passados na prisão, voltou, há dias, a ter um “encontro imediato” com a polícia.
Contou-me que, ao ter-se desviado da sua rota normal, pelo facto de ter dado uma boleia, regressou para junto da família por caminhos desconhecidos. Depois de várias hesitações numa rotunda, acabou abordado por uma brigada da PSP. Aí o caldo entornou-se!
Por conta de um mal entendido relacionado a “viatura” em que seguia, mal entendido que só seria desfeito várias horas depois, às tantas da madrugada, acabou o meu amigo por "conviver" com os agentes de uma forma que não esperava.
Quando entrou, aparentemente, em contradição, ao dizer que em tantos anos de vida nunca tinha entrado num carro da polícia, para depois “confessar” que tinha sido preso por várias vezes... respondeu-lhes: “Faço-vos a justiça de não vos confundir com os pides que então me prenderam!”
Os jovens agentes, ao que parece, gostaram da frase... e pronto! Lá ficou o meu amigo satisfazendo-lhes a curiosidade, descrevendo as prisões, as razões por que tinha sido preso, quantas vezes, que a última e derradeira libertação foi já depois do dia 25 de Abril, juntamente com muitos outros presos políticos de Caxias. Os jovens agentes da PSP mostraram-se particularmente interessados em saber “como era aquela coisa da tortura do sono”. E o meu amigo contou...
Poderia ter contado muitas outras páginas da nossa História, em que esteve presente, relatos do tempo em que “A morte saiu à rua”... mas a esta altura do texto já vocês estarão a perguntar onde raio é que está a “ironia da História” neste longo relato. É simples!
Toda esta insólita “aventura” seguida de “sessão de esclarecimento”, vivida pelo velho lutador pela conquista da liberdade e da justiça, teve lugar numa esquadra da PSP que ostenta uma placa que, mais palavra menos palavra, diz:
“Esta esquadra foi inaugurada por Sua Exa. o Ministro da Administração Interna, Dr. Manuel Dias Loureiro e pelo Exmo. Sr. Presidente da Câmara, Dr. Isaltino Morais”
7 comentários:
E suponho eu que estava tão perto e não ouvi essa estória. Mas também quase não ouvi nada...
Ainda por cima essa esquadra é numa zona nossa conhecida. Tenho de tirar isso a 'limpo'.
Bem a propósito, neste dia segundo do congresso do Partido a que pertence o teu amigo.
Abreijos.
o seu amigo não devia ter dado informação sobre tortura a policiais que aquilo não anda bom, quer-me parecer.
Grande contradição, mas também grande ação de esclarecimento.
Um beijo.
Pertinho de mim... ou nem por isso que, agora, as distâncias medem-se, quase todas, pelo "demasiado longe para lá chegar"...
Ironia, sem dúvida. Muitíssima.
Abraço!
E não é que os inauguradores deviam estar presos?!...
Não seria possível dois portugueses como esses inauguradores que um dia chegariam onde chegaram se não fosse os 25 de Abril e 25 de Novembro e seguintes.
Se bem que Marcelo Caetano já titubeava.
A história como ela foi, não se repete.
Ninguém o manda trabalhar tanto! Se estivesse, sossegado, num sítio que bem sabemos e não tivesse carro nada disto teria acontecido! Ou melhor, se não fosse comunista, nem desta vez, tinha sido preso!
Um abraço entre com amigos ao meio
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