«Sei muito bem aquilo que posso fazer, o que não posso e o que me recuso a fazer. E – pode ter certeza – política é uma das coisas que me recuso a fazer. Não me entusiasma.»
Estas terão sido declarações do senhor João Cordeiro à “Visão”, em 2005.
O senhor João Cordeiro dirigiu, durante anos, aquele que é considerado um dos maiores lobbies da economia portuguesa, a Associação Nacional de Farmácias.
Ainda me lembro do tempo, nada distante, em que se acaso uma farmácia saísse das mão da família que a detinha havia gerações, o valor de trespasse do negócio que era anunciado, ainda que se tratasse de uma simples farmácia de bairro com três ou quatro funcionários, faria inveja a muitas médias empresas com cem ou mais trabalhadores e boas carteiras de encomendas.
À frente dessa poderosa máquina de fazer dinheiro, João Cordeiro notabilizou-se, nos últimos tempos, pelas guerras violentas que travou com o Partido Socialista. Desde Ferro Rodrigues, que lhe terá devolvido uma carta em que a Associação protestava contra a ideia da criação de farmácias sociais, pelo facto de esses “protestos” estarem alagados em insultos; passando pelas violentas trocas de galhardetes com o ministro da Saúde de Sócrates, Correia de Campos... até chegar ao próprio Sócrates a quem chamou publicamente «mentiroso e traidor»... o aguerrido Cordeiro foi dizendo do PS, dos seus ministros e dirigentes, aquilo que Maomé não ousou dizer do toucinho.
Notícia súbita... o senhor João Cordeiro é candidato à presidência da Câmara de Cascais!
Não! Não seria sequer notícia o facto de o homem aceitar um cargo político, depois de afirmar taxativamente que era uma coisa que se recusava a fazer. Isso é o pão nosso de cada dia... ainda que a “habilidade” de vir pretender, numa patética tentativa de justificar a "mudança", que o lugar de presidente de uma autarquia "não é bem política"... revele um pormenor de carácter que pode levá-lo ainda mais longe do que a anterior profissão ligada ao negócio da morte.
Não! Aquilo que realmente é notícia é o facto de o homenzinho se ter deixado convencer a ser candidato à Câmara de Cascais... exactamente pelo PS!
O que é indesculpável é que homenzinhos desta estirpe continuem, impunemente, a atirar gasolina para a fogueira onde arde a honorabilidade da nobre actividade política, no que ela encerra de sentido de serviço público, de dádiva de si aos outros. Actividade nobre que, por entre tanto fumo de corrupção, interesses e oportunismo, acaba por ter colado o rótulo sujo do “Eles são todos iguais!”... por mais injusto que isso seja para tanta gente honrada que entende a política como ela deve ser entendida, sejam autarcas ou políticos em geral que, manda a justiça e a mínima honestidade intelectual que se diga, podemos encontrar em várias áreas do espectro político-partidário e entre muita gente independente.
Isso é que é indesculpável! Quanto ao resto... é apenas mais um!
9 comentários:
O homem não é um cordeiro, é um grande carneiro.
E o papel do PS?
E o papel do PS?
Estes gajos, os que são todos iguais, metem-me cada vez mais nojo!
Abreijos.
Sim, apenas mais um!!! Mas destes é que a desgraçada política deste país se vai fazendo.
Um beijo.
ainda "eles (não) são todos iguais!" ainda... ou serão?... "ele" há belos discursos, que ainda não foram actos...seria interessante experimentá-los. talvez me livrasse de "certos e determinados" cepticismos :)
vovómaria
"Um lobo com pele de cordeiro", com todo o respeito que os lobos me merecem
Que qualquer cordeiro queira ser presidente de câmara... do lixo, qualquer coisa, mas presidente; o poder! Mas o PS aceita, propõe?
Que nojo de memória curta. O dono do mundo das farmácias! Dinheiro, dinheiro, poder! Tanto, que conseguiu fechar a farmácia dos Sams. Uma luta que o grande capitalista cordeiro ganhou! Sempre o poder do lado do grande capital! Os dirigentes sindicais dos bancários (em maioria) eram do PS.
Quem foi aqui amansado: o cordeiro ou o PS? Que nojo!!!!
Sobre o mesmo assunto, sugiro leitura: http://jornalistasdesofa.blogspot.pt/2013/01/agora-e-nossa-vez.html
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