quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Nuno Crato e o "novo" ensino – Salazar revisitado...


“Para a mentira ser segura
E atingir profundidade
Deve trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade”
(António Aleixoin “Estas quadras que vos deixo”)

Não duvido que muitos dos velhos maoistas portugueses, querendo dizer com “velhos” aqueles que são da minha geração, ou com mais, ou menos uns anitos... foram gente que se opôs a Salazar e Caetano. Não ponho em dúvida nem essa atitude, nem as consequências que alguns tiveram que suportar pelo facto de publicamente a assumirem.
Ainda assim, vendo a evolução política de alguns e algumas, como o caso de Durão Barroso e mais uma pequena multidão que se pulverizou pelo espectro partidário... até chegar ao protagonista deste texto, o ministro da Educação Nuno Crato, parece que alguns sofreram de uma espécie de variante da Síndrome de Estocolmo, patologia que ataca seres humanos vítimas de sequestro, que sujeitos à tremenda pressão psicológica que essa provação implica, acabam por desenvolver, por auto-defesa e instinto de sobrevivência, uma espécie de irresistível empatia pelos agressores.
Só isso explica esta atracção fatal que Nuno Crato manifesta por conceitos pouco menos que “salazarentos” de educação, como esta novidade, em que alunos ainda no princípio da vida escolar, no caso de apresentarem más notas, serem automaticamente “empurrados” (como diz, e bem, a FENPROF) para cursos profissionais do tipo electricista, cozinheiro, talhante, canalizador, etc., deixando no ar a ideia de que haverá algo de errado com estas dignas profissões, já que aparecem como castigos.
E assim, de uma assentada, matam-se dois coelhos. Refina-se o carácter elitista de um ensino para mais ricos, que de uma forma geral conseguem melhor aproveitamento, dado o enquadramento familiar mais propício à aquisição de conhecimentos e ao estudo necessário para tal... e, ao mesmo tempo, desclassifica-se socialmente toda uma classe de futuros trabalhadores que entram na vida activa com o estigma de terem sido empurrados para os “cursos dos burros”. A meta do ministro é atingir rapidamente os 50% de estudantes “encaminhados”.
É o velho sonho canalha da superioridade da classe dirigente sobre uma classe trabalhadora “desclassificada”... a que deve corresponder uma realidade de salários igualmente “desclassificados”. É a velha e sempre, sempre actual luta de classes!
Sim, eu sei que no universo de alunos de qualquer escola há sempre um grupo que não tem, nem terá capacidade intelectual, ou sequer o interesse, em seguir estudos teóricos seja do que for. Esses ficarão a ganhar com a oportunidade de logo no ensino básico, se for o caso, terem contacto com uma profissão que lhes garanta a sobrevivência.
Sim, eu sei que existem! Mas sei também que são a excepção. São exactamente a conveniente “qualquer coisa de verdade” que serve de pretexto “para a mentira ser segura e atingir profundidade”.

13 comentários:

De disse...

Grande posta!

São disse...

Excelente texto!

Para mim, profissional de Edicação, uma indignação e uma dor de alma, esta política de Nuno Crato.

Bom dia para vós.

do Zambujal disse...

É isso mesmo.
E é assim mesmo...

Um grande abraço

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Sem catastrofismos, mas estamos perto de mais um lectivo (básico - 1º e 2º ciclos; secundário; superior) que se vai iniciar dentro de alguma confusão, devido a muitas indefinições e algumas medidas avulsas. Não deveria ser assim, porque a Educação e toda comunidade nela envolvida deveria merecer mais respeito, por parte do Ministério da Educação.
Falando do titular da pasta, era bom que retornasse à Sociedade Portuguesa de Matemática; isto é que era prestar um serviço a Portugal.

Graciete Rietsch disse...

É exatamente o regresso ao salazarismo em que os próprios professores "primários" decidiam quais os meninos que iam para o Liceu e quais os que só podiam concorrer à Escola Técnica.
E assim se faziam os operários e os trabalhadores incultos e se aumentava a discriminação.
Com o 25 de Abril criou-se o Ensino Unificado até ao 9º ano, o que veio dar oportunidades a muitas alunos atirados para um ensino menos qualificado. Claro que este primeiro esboço de reforma foi depis desvirtuado pelos governos que vieram a seguir e que transformaram Portugal neste "inferno" que hoje vivemos.


Um beijo.

RC disse...

É... o ensino nunca esteve tão elitista como agora. Fazem-se curriculos escolares a pensar nos meninos com uma boa retaguarda mas os "infelizes" que não têm onde cair mortos, salvo seja, ficam à mercê do sistema que lhes dá um apoiosito (quando dá) para tapar os olhos a quem os quiser tapar. Raios parta esta m*+++a! Mas que gente me havia de aparecer para desgovernar ainda mais este país!

Anónimo disse...

Neste momento sinto-me frustrado por não ter ido para Lamego, para os Rangers e não ser um comunista louco, e cheio de talento para a tropa, assim já tinha posto na ordem esses canalhas lá de cima.

trepadeira disse...

O ensino unificado sempre incomodou essa cambada,destruí-lo é parte do caminho para uma sociedade mais injusta a caminho da barbárie.

Ou esta gentinha cai depressa ou esfanicam tudo.

Muita luta pela frente.

Um abraço,
mário

Luis Filipe Gomes disse...

Há pouco estava a ver na televisão, um destes jovens cozinheiros portugueses da moda, agora chamam-lhes "chefs". O sujeito é tão chique tão chique nas manipulações que faz e nas receitas que apresenta que consegue transformar o chique num chiqueiro.
Este cozinheiro não terá nem talento nem técnica em termos de pasto e repastos mas tem uma habilidade particular para vender gasosa americana.
O menistro da matemáteca possui também este refinamento chique. A ponto de conspurcar tudo em que toca. É certo que mão de ministro poderia ser talvez comparável à mão do cozinheiro, ou seja, estaria sempre limpa, mas neste caso parece-me que o ministro foi à retrete e esqueceu-se de lavar as mãos.

Olinda disse...

Estes ministros defendem a classe a que pertencem.

Anónimo disse...

Camarada o teu nome vem hoje no Avante, num texto sobre o Canto Livre.

samuel disse...

Provoca-me:

É o que eu digo, companheiro!
Já nem o "Avante!" é o que era. Vem lá "cada coisa"!!!… :-) :-) :-) :-)

Abraço.

O Rural disse...

"com mais, ou menos uns anitos... foram gente que se opôs a Salazar e Caetano."

Era o que estava a dar, era ser do "contra", era uma barbicha à Ché, umas barbas à Fidel, enfim, como elites que eram muitos chegaram a ministros de toda a ordem e muitos ainda enganatram gente simples que as fábricas eram dos operários e a terra de quem a trabalha.

Mas que malta porreira!!!