terça-feira, 12 de agosto de 2008

Operação "perfeita"



No rescaldo do lamentável assalto falhado à dependência do BES, na Marquês de Fronteira, antes de mais devo esclarecer que a minha ignorância sobre tácticas policiais, negociação em cenário de sequestros, etc, é total. 
Sobre o acontecimento em presença, esgotadas as vias negociais (se é que o foram) e perante a situação de reféns sob ameaça directa de armas de fogo, se calhar, a única solução possível à mão do comandante das forças policiais é julgar sumariamente os assaltantes, condená-los à morte e ordenar a sua execução imediata.
Quer esta introdução dizer, que estou satisfeito, obviamente, com a libertação dos reféns, só que ao contrário do lamentável Ministro da Administração Interna, não sou capaz de ficar idiotamente feliz com o resultado “perfeito” da operação e guardo um espaço no coração, como felizmente, muitíssimas pessoas, para lamentar a morte de um dos assaltantes.
Feita a introdução e depois de muitas conversas de rua e café ouvidas mesmo sem querer, das frases extraordinárias lidas em caixas de comentários de blogs e infelizmente, mesmo em textos de blogs onde não esperava tais climas de “justiceirismo” cego, o que eu gostaria mesmo de saber é qual o momento, na evolução do ser humano (pelo menos, destes) em que se passa a festejar mais ruidosamente a morte do sequestrador do que o salvamento do sequestrado.
Lendo alguns desses textos, fico com a impressão de que o destino dos sequestrados não lhes interessa para rigorosamente nada e do que gostariam mesmo, mas mesmo muito, era de ter uns DVDs em alta definição com as imagens em câmara lenta, das balas atravessando o cérebro do assaltante.
- Eh, pá... já "vistes"? Tá altamente! É pena é o outro gajo ter escapado!...

23 comentários:

O Puma disse...

Alguem é responsável por esta

sociedade mórbida

AC disse...

Os atiradores são muito nervosos, ou têm ordem pra matar o alvo!

Anónimo disse...

Há uma coisa que intriga nesse episódio (já escrevi isto em qualquer sítio) suponhamos que a refém em vez de fugir após o primeiro tiro, tivesse ficado paralisada, o que é perfeitamente natural. Não esteve em altíssimo risco a sua vida uma vez que surgiu um disparo do interior do banco e que atravessou o vidro?

Estaria tanta gente a congratular-se com o feito?

Se calhar estavam...

Maria disse...

O meu vício de estar aqui a teclar e com a tv no sic notícias "obrigou-me" a ver os vários directos que se foram fazendo ao longo da tarde e noite.
Ainda sem saber dos resultados, o que mais me impressionou foi ver, em directo, ao vivo e a cores, o segundo em que é feito o primeiro disparo e a mulher foge. Nem queria acreditar que estava no meu País.
Já um dia destes li por aí que uma mulher, na Costa da Caparica, também atirou sobre assaltantes de sua casa, e chamaram-lhe "grande mulher".
Preocupa-me muito o facto de estarmos, lentamente, a absorver os costumes "sociais" dos estadunidenses...
Não sei onde vamos parar, muito menos sei o que vale uma vida humana (esta sim, uma vida humana), para estes goe's e ministros....

Estiquei-me demais, desculpa

Abreijos

Mar disse...

Desde o incidente que me tenho dividido entre um misto de sentimentos: o primeiro foi esse - o do pensamento em incredulidade total me fugir de imediato para um qualquer lugar recôndito do Brasil, de onde o rapaz emigrou, supostamente em busca de uma vida melhor...que acabou a perder, afinal, tão depressa. Depois o de tentar convencer-me que, se calhar tinha que ser, não houve mesmo outra hipótese, os reféns é que era preciso salvar, a todo o custo.
Fica-me a dúvida.
O teu post acabou a explicar muito bem o que ainda não tinha sabido com escrever.

Mar disse...

ups..."como".

outro disse...

Pois é nestas alturas que eu me congratulo pessoalmente por fazer parte desta comunidade de leitores do "cantigueiro", uma vez que, antes de ler o post, tive, como aliás todo o povo, variadíssimas dissertações com pessoas das mais variadas indoles e estratos sociais e todas, à execepção dos carrissimos leitores deste blog, sempre apontaram friamente o dedo ao assaltante e ao acto por ele cometido, e lá iam sempre reafirmando que seria esta, a única forma de resolver o assunto, uma vez que os assaltantes eram extremamente teimosos e inflexiveis, e estavam ali para "praticar o mal".
Pois bem, custa-me muito a entender este espírito mediaticamente impulsionado, uma vez que não tinha até à data encontrado ninguém que podesse pôr em causa a actuação nomeadamente, dos negociadores, e da forma como estes actuaram; não tinha encontrado ningém que contestasse a decisão impulsiva e lamentável de tirar a vida a outra pessoa. Obrigado por pensar como eu, já vou dormir muito menos "sozinho".

BlueVelvet disse...

Samuel,
há coisas fantásticas: acabei de deixar um comentário na Jasmim do meu Quintal, como o seu.
Tinha que chegar aqui para ver finalmente uma análise decente do que se passou!
Vi uma reportagem àcerca da vida do assaltante que ainda está vivo, estava de casamento marcado para Dezembro, sempre foi um menino/rapaz comportado e cumpridor nas palavras dos anteriores patrões.
Veio em busca de um sonho, de uma vida melhor.
Era bom que avisassemos que aqui, já nem os locais cumprem os seus sonhos.
E os fantástcos snipers que matam uma formiga a não sei quantos metros, tinham mesmo que atirar a matar?
E tinha toda a gente que ficar aos saltos de contentamento porque a polícia matou? É que se matou alguém morreu.
Mas pelos vistos, por aqui a vida humana anda a valer pouco.
Triste consolação ver que estando de acordo consigo devo estar certa.
Abreijinhos

Ps: tenho sentido a sua falta:) Tudo bem?

ferroadas disse...

Eh, pá... já "vistes"? Tá altamente! É pena é o outro gajo ter escapado!...

Esta frase diz tudo.

Condeno a violência de quaquer quadrante. Mas será que foram esgotadas todas as formas de "nogociação" com os assaltantes? não estaremos a copiar o que de mau têm os filmes americanos e até a TV RECORD. Bem sei amigo Samuel que "pimenta no rabo do outro, é refresco" se nos tocasse a nós era mais difícil de ajuizar, mas é sempre uma morte, talvez assassinato e em directo, à boa maneira estadoudidense.....


Abraço

Anónimo disse...

Já somos um país "moderno", já podemos montar uma indústria cinematográfica à boa maneira americana.

Anónimo disse...

Ontem mais uma criança [estava no carro de alegados assaltantes] morta por GNR em tentativa de assalto por "tiro aos pneus"...Anda tudo muito nervoso...O ministro dos óculos de lente grossa estará mais uma vez orgulhoso dete dano colateral ? Associação da Guarda diz "mais prevenção menos repressão" e eu digo:-Abril vencerá, porque a luta continua!

Anónimo disse...

Eh,pá...Já "vistes", a massa que temos para dar a volta a isto?
Temos mesmo de ser bons executantes.
Estou de acordo com a tua anti-tese, quantos saberão fazê-la?
A luta está para durar!
Abraço

Ana Camarra disse...

Samuel

Horrivél foi as televisões transmitirem quase em continuo aqueles momentos brutais.

Explorando ao máximo a estupidez, a cupidez, a curiosidade, a especulação...

Depois quanto mais degredantes forem as condições de vida das pessoas mais cenas destas haverão...

bjks

Isabel Faria disse...

Samuel, tem-se visto coisas incríveis por essa Net fora...ouvido coisas incriveis por essas ruas, esses cafés, esse País fora, mas deixa-me apenas "sossegar" o "homem fantasma". Felizmente também não é só aqui, em casa do Samuel. que se encontram pessoas que dão valor à vida humana. Entre muitos carrascos de sofá que por ai pululam, sempre se vai encontrando gente.
Não me sossega, mas não me torna tão pessimista. Ainda é possível ser humano num Mundo cada vez mais deshumanizado. Basta não desistir.

Lúcia disse...

Eu nem vou pôr em causa a actuação das forças de segurança. Vou partir do princípio que a coisa teve que chegar até àquele ponto (?).
O que me enraivece são as conclusões de alguns sectores da nossa sociedade: que agora estamos mais seguros porque a polícia está preparada; que é assim que se tratam os meliantes; e que isto foi uma lição. Lição? Para ninguém: houve uma vida que se perdeu e houve alguém, que a tirou. São duas vidas que se cruzaram. De dois seres humanos.
E a vida de cada um não pode valer mais de acordo com o registo criminal.

Caçadora de Emoções disse...

Samuel,
Parabéns pelo post!
Estou totalmente de acordo.

Boas férias com muitos sorrisos :))

fj disse...

Deu-se mais importancia à parte da noticia que mais prenderia as ppls aos jornais e TVs e que mais discussão publica provocaria...não vivi muito nesse tempo, mas faz-me lembrar algo, dessa altura...sei lá...
Discute-se este tipo de coisas pq interessam muito mais que outras camufladas por aí e muito mais graves...mas que não aparecem na tv. Sendo assim como assim o povo entretem-se com estas.
Ah e tb não acredito que o sr agente tenha feito para acertar...até pela pontaria q têm demonstrado-as nossas forças de segurança-com as armas q têm, é facil acertar num alvo sem querer.
Abraço

Fernando Samuel disse...

Talvez a reacção do ministro confirme que ele julgou sumariamente os assaltantes, condenou-os à morte e... ordenou um «resultado perfeito»...
Por isso ficou satisfeito - e com ele a legião de mentecaptos que em TODOS OS MOMENTOS festejam acima de tudo a morte, o sangue, o horror...

Abraço.

Anónimo disse...

-Este ministro é perigoso e cobarde! -Eu queria era ver o tipo a dar a mesma ordem, se um dos reféns fosse seu familiar. Ai sim gostava de ver o sonso a ter a mesma atitude.

Este ministro já conta com duas mortes uma delas uma criança de 11 anos.
-Isto é como uma bola de neve começando nunca se sabe onde vai parar.
a.ferreira

Anónimo disse...

Não comento a intervenção policial. Fiquei feliz pela libertação dos reféns, mas tive pena de ter sido necessário (acredito nessa necessidade) sacrificar os assaltantes. No entanto o que eu continuo a achar estranho é que, num país onde a morte humana pode ser vista em directo, e depois as imagens repetidas até à exaustão, continue a ser proibido ver na TV um toiro morrer na arena.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá Samuel, gostei do que li no teu texto e dos comentários que aqui foram feitos... Concordo plenamente!
Beijinhos,
Fernandinha

ferroadas disse...

Leiam o exelente artigo do Joaquim Letria no "24 Horas" de hoje acerca do assunto.

Justine disse...

'Tá tudo doido, não 'tá?
'Tá o mundo a entrar na barbárie...