Por vezes perguntam-me de onde me veio o indisfarçável desamor pela realidade do futebol profissional, o que tem uma resposta muito simples. Não se trata de nada muito profundo. Simplesmente, a educação a que, para o mal e para o bem, fui sujeito em criança, manteve-me afastado da influência do fenómeno da bola. Esse “vírus” dificilmente se apanha depois, na idade adulta.
Agora passamos à questão “o que é que está aqui a fazer a cantora “pop” Shakira? Faz parte da estória de hoje. A Shakira, cuja música ligeira ou as coreografias incendiárias não me fariam escrever, em princípio, uma linha, é uma miúda simpática, simples e inteligente, a quem a fama planetária acompanhada do rio de dinheiro que normalmente vem atrás de um tão grande sucesso, não cegou. Não é notícia pelos consumos de álcool ou drogas, nem por orgias em casa do Berlusconi... mas sim por ser uma cidadã atenta, empenhada (seriamente e não para a fotografia) em várias causas humanitárias, algumas ligadas às crianças pobres e órfãs, filhas de gente miseravelmente explorada, injustiçada e assassinada no seu país, a Colômbia. Fez, no entanto, uma coisa que de todo não deveria ter feito: apaixonou-se pelo rapaz errado... pelo menos para alguns.
E aqui voltamos ao futebol, quanto mais não seja para, além de "admirar" esta estória, termos a consolação de confirmar que não é só em Portugal que alguns clubes de futebol são dirigidos por energúmenos, por vezes a roçar o débil mental (entre outras grandes e similares qualidades) e, ao mesmo tempo, perceber aonde é que algumas “claques” de “adeptos” vão beber a inspiração para os ventos de fascismo que transportam consigo.
Em poucas linhas, a jovem Shakira apaixonou-se pelo jogador do Barcelona, Gerard Piqué (pecado mortal!) e ambos já assumiram publicamente o seu namoro... razão considerada suficiente por quem manda no Real Madrid, para a banir do seu estádio, ou mais precisamente, decretar que as suas músicas passam a estar proibidas de passar no sistema sonoro do Estádio Santiago Barnabéu.
Brilhante! Está dado o mote. É meio caminho andado para que elementos das claques madrilenas vão aos concertos da cantora, insultá-la, boicotando e espalhando a violência nos espectáculos.
Lá, como cá, serão mais umas centenas, ou milhares, com coisas “bem mais importantes” em que pensar... do que a maçada da situação económica, capitalismo, exploração, precariedade, desemprego, partidos, eleições, alternativas políticas...