Federico Garcia Lorca tinha “dedo” para as cantigas. Para além dos muitos poemas que escreveu, em que, como costumo dizer, parece que a música já vem incluída, tal a sua musicalidade e ritmo... chegou mesmo a compor, quase por brincadeira e ao piano (em que dava uns toques) algumas canções simples, ao gosto mais popular da época. É o caso da canção de hoje “Los quatro muleros”.
Ter cantado e gravado Lorca é uma “medalha” que fica sempre bem em qualquer “lapela”. Assim, das cantigas de Lorca é possível encontrar inúmeras versões de canções, incluindo estes “quatro muleros”, de que se pode ouvir interpretações que vão da grande cantora lírica Teresa Berganza, acompanhada pelo monstro da guitarra clássica Narciso Yepes, até ao jeito mais “jazzy” de Ana Belén... ou de Estrella Morente, a nossa cantora de hoje.
A Estrella Morente e as suas interpretações escapam a qualquer classificação precisa. Pelo menos uma que eu seja capaz de produzir. As suas “versões”, seja do que for, são uma coisa muito sua, “flamenca” e inexplicável... de que se gosta muito, ou nada. Eu gosto!
Mas então, perguntam vocês, se a cantiga é do Lorca e a interpretação é da bela Estrella Morente... o que é que faz aqui em cima uma fotografia velha do Zeca Afonso, ainda com um ar jovem e em plena forma, acompanhado de um bando de guedelhudos? Simples. É que, para além dos três mais à esquerda, que não faço ideia de quem sejam, o Zeca está no palco com uma cantora da Catalunha, Marina Rossel, seguida (para o lado direito do público) do cantor galego Xico de Carinho (com quem ainda há pouco tempo cantei no Porto, exatamente numa homenagem ao Zeca), logo seguido de outro galego, o Bibiano, que se fartou de cantar (com o Zeca e com o Benedito) por cá e por lá... e, finalmente, por um ainda jovem cantor de flamenco, que foi responsável por uma verdadeira revolução nessa grande música, tanto em termos musicais como temáticos. Chamava-se Enrique Morente e era o pai da nossa cantora de serviço.
Sim, isto anda tudo ligado...
“Los quatro muleros” – Estrella Morente