terça-feira, 21 de agosto de 2012

Jornalismo - Uma certa maneira de contar *


“Quem conta um conto, acrescenta um ponto” – diz o ditado popular. Acontece com todos, mas os jornalista fazem disso profissão. Nem todos bem. Muitos pecam por defeito, cortando muitos “pontos”, acto que da última vez que fui ver, se chamava censura... outros, são tão pródigos a acrescentar pontos, que estão sempre com um pé (ou os dois) na mentira, na demagogia, na baixa política...
Claro que muitos destes “jornalistas” têm a vidinha facilitada pelo (triste) facto de alguns dos seus colegas serem ignorantes de uma estupidez reincidente que tende a abafar as malfeitorias dos primeiros... como é o caso de alguém, na RTP, que pela enésima vez, ao fazer um gráfico descrevendo a subida para a Senhora da Graça, que os ciclistas teriam que enfrentar, disse qual a altura do Monte Farinha, qual a média da inclinação da ladeira e, como já vai sendo fatal, aos cerca de oito quilómetros de distância que separam o início da subida da linha de meta... voltou a chamar “longitude”.
Seja como for, a repetição desta triste calinada não me desviou a atenção de dois excelentes exemplos do que escrevi no primeiro parágrafo.
Quanto à censura:
É absolutamente “delicioso” percorrer com os olhos um trabalho de várias páginas da última “Visão”, onde se analisa a situação de vários municípios em que os actuais presidentes não podem recandidatar-se. O trabalho não me interessou particularmente. Nem pelo assunto, nem pela arte com que foi feito. Ainda assim, deliciou-me a calma com que os “jornalistas” percorreram o país em busca de exemplos, não tendo encontrado uma única Câmara Municipal gerida pela CDU (à excepção de uma referência minúscula, em três linhas de uma coluna, numa caixa à parte e em letras mais pequeninas)... embora várias dessas autarquias estejam a enfrentar o problema de que o artigo trata.
Presumo que para quem fez o trabalho “jornalístico”, ignorar a existência de autarquias comunistas, no número de 28 e tão insignificantes como, por exemplo, Almada... seja uma questão de princípio. Uma espécie de “sonho molhado”: se não se falar delas... não existem!
Quanto à mentira, demagogia e baixa política:
Num telejornal qualquer, um(a) “jornalista” apontou o microfone a Jerónimo de Sousa e pediu-lhe uma opinião sobre a sucessão na direcção do Bloco de Esquerda... e se ia sentir saudades de Francisco Louçã.
Jerónimo de Sousa respondeu que não se imiscuía nos assuntos internos do BE e, sobre o resto da “pergunta”, acrescentou que «não terá saudades, porque a vida e a luta continuam... não se trata aqui de uma questão de saudades, os indivíduos são, sem dúvida, muito importantes, mas mais importante é o colectivo»... resposta que desgostou o(a) “jornalista” e a sua estação de televisão, ao ponto de terem transformado (como o Correio da Manhã e outros) esta resposta, no texto que resolveram inserir por baixo das imagens, em letras garrafais:
Jerónimo de Sousa
Francisco Louçã: Não deixa saudades!

Brilhante! Depois... sou eu que tenho mau feitio...
Felizmente ainda há excepções! Felizmente conheço algumas dessas excepções e conto mesmo com um punhado de jornalistas a sério entre os meus amigos!
* Com um pedido de desculpas ao poeta José Gomes Ferreira

5 comentários:

do Zambujal disse...

O teu exemplo dedesinformação Mada inocente é excelente. Deveria fazer parte de um manual de mau jornalismo, ou do jornalismo que não se faz.

Um abraço

trepadeira disse...

Dada a má qualidade da tinta litográfica usada,não sei se continua a ser a mesma do antigamente,nem sequer posso seguir o conselho do escritor:
"Dos três que deus me deu só um o pode apreciar.".

Um abraço,
mário

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Eu penso que o jornalismo deve ser uma maneira de contar algo, mas com serieddae e sem omissões, ou frases descontextualizadas.

Graciete Rietsch disse...

Tanta demagogia, tanta alteração de opiniões, tanta mentira na desinformação e tanta gente a acreditar!!!!!!

Um beijo.

Judite Castro disse...

Cera,ruído ruim?
(...). E Jerónimo de Sousa, bem ao seu estilo, respondeu a Zita dizendo que "não se devia gastar mais cera com tão ruim defunto". Quem interpretou de outra maneira as palavras do comunista foi a Lusa, que citou Jerónimo como tendo dito: "Não se devia gastar mais cera com ruído de fundo." Um problema de comunicação?

http://expresso.sapo.pt/relvas-nao-para=f747422#ixzz24DWo4UZ5

(...) Especialista em pontuar as suas declarações com provérbios populares, Jerónimo afirmou que “tendo em conta a situação dramática que se vive neste país, não devíamos gastar mais cera com ruim defunto [Zita Seabra]. A Lusa transcreveu inadvertidamente que não se devia “gastar mais cera contra o ruído de fundo”.

http://www.ionline.pt/opiniao/gasto-cera-ruido-fundo