Não é a primeira vez e, suponho, não será a última, que leitores mais ou menos ou mesmo nada identificados, deixam na caixa de comentários considerações que nada têm que ver com o assunto do post, ou “convites” para que me pronuncie sobre este ou aquele acontecimento da actualidade, igualmente fora do contexto do post que estão a “comentar”. Não vem daí mal algum ao mundo! Desafiado, desta vez, a dizer o que penso, curiosamente não sobre a atribuição do Nobel da Paz ao chinês Liu Xiaobo, mas sim sobre a posição do PCP sobre essa atribuição... e antes que a “pergunta” se repita, feita por outros... aí vai:
1. Quanto à posição do Partido Comunista Português sobre a entrega do Nobel a este cidadão chinês, não vejo o que possa acrescentar, já que, de forma bastante sucinta, está lá tudo.
2. Quanto ao prémio em si e sobre quem recaiu a escolha da Academia Sueca, apenas posso alinhar umas considerações privadas que, obviamente, não comprometem mais ninguém, considerações forçosamente muito subjectivas... e que valem o que valem.
a) Na verdade, não tenho uma boa relação com o “estilo” chinês de fazer as coisas. Acho que nunca ultrapassei a profunda aversão ao maoismo e o grande frete que foi aturar o insuportável ridículo, sempre ruidoso, atrevido e objectivamente ao serviço da direita, dos maoístas que conheci.
b) A manobra política por detrás desta nomeação é tão evidente como já foi antes a entrega do prémio a Barack Obama. É apenas a segunda parte do mesmo filme.
c) Confesso a minha ignorância, mas até hoje mal tinha ouvido falar deste premiado. Não estou, portanto, suficientemente informado sobre aquilo que na sua acção cívica pela causa da Paz justifique a atribuição de um Prémio Nobel.
d) Ainda sobre a escolha do Nobel, devo dizer que há dois anos assinei, com muitos milhares de pessoas em todo o mundo, uma petição, propondo o nome de Pete Seeger para Nobel da Paz... e que ainda se mantém válida.
e) Finalmente, não querendo entregar o Nobel da Paz a um artista livre... então o Comité do Nobel, já que queria galardoar um cidadão preso, podia e devia ter entregue o Nobel aos cinco cidadãos cubanos presos injustamente no EUA, cujo “crime” foi lutarem contra o terrorismo feito a partir exactamente dos EUA contra cidadãos cubanos e que com a sua acção, não só pretenderam defender as vidas dos seus compatriotas, como até a de alguns cidadãos norte americanos... já que os atentados terroristas, muitos deles perpetrados a partir de Miami, já por várias vezes têm escolhido como alvo estâncias turísticas cubanas.
E pronto. De momento não me ocorre mais nada para dizer sobre o Nobel da Paz 2010.
11 comentários:
E pronto. O meu pedido está satisfeito.
Um abraço
RS (Rui Vasco Silva, Algés).
Post-Scriptum
Três notas minhas sobre o tema, se me permite:
* O PCP reagiu com o referido comunicado à atribuição deste Nobel a pedido e por pressão da comunicação social. Tivesse o Nobel sido entregue a um activista de direitos humanos do Bangladesh ou do Kiribati e ninguém iria bater à porta da Soeiro Pereira Gomes para sacar uma caixa no jornal do dia seguinte.
* Se bem percebi, o que o PCP lamenta, ao referir que se trata de mais um golpe na credibilidade deste prémio, é a incoerência entre os critérios de atribuição do Nobel e a tal acção cívica do laureado. Parece-me até um ponto de vista razoável, atendendo à intenção primitiva do Prémio Nobel da Paz, mas que foi expresso de uma forma extremamente sucinta e insuficiente, o que abriu oportunidade para toda a cascata de comentários verificados nos últimos dias. Não beneficiam nada o partido e a sua imagem junto daqueles que mais fielmente o apoiam, como é o meu caso. Ignorar ou relativizar esta consequência parece-me um erro grande.
* Creio que o Partido perdeu uma excelente oportunidade de, não obstante o que referi em cima (se a minha interpretação está correcta), explicitar que a visão de liberdade (política, económica, social e cultural) que propõe para Portugal nada tem a ver com aquela que - sob a falsa capa do socialismo - é espezinhada em países como a China. Posso já imaginar mais de uma dezena de argumentos de contestação a esta minha terceira nota, mas a verdade é que quem fica a perder - por ventura de forma definitiva, junto de alguns eleitores e, mais que isso, apoiantes e amigos - é o próprio Partido e o seu projecto de uma Democracia avançada para Portugal.
Eu, votante do PCP/CDU desde os meus 18 anos, continuarei a apoiar o projecto comunista para Portugal mas lamento profundamente que os Comunistas portugueses e o seu partido tardem tanto em dissociar-se definitivamente do socialismo-da-treta que se vai desenvolvendo na China e do sistema que nem qualificação tem (mas que é tudo menos socialismo) que vai sobrevivendo na Coreia do Norte.
Um abraço
RVS
Excelente a tua última proposta - já que a outra já vem do ano passado.
Alfred Nobel deve estar a dar voltas na tumba...
Abreijo.
Samuel:
Subscrevo na íntegra tudo, tudo, o que escreveste neste post. Está lá tudo!
Abraço
Após Obama
o nobel da paz
passou a ser
um pronto a vestir
Mais um Prémio Ignobel da paz. E tudo dentro do previsto!...
O problema , não é a atribuição do Nobel da Paz a um dissidente chinês.
O problema ´é o PCP achar, que se pode estar preso em Cuba, na China na Coreia do Norte , por delito de opinião, só porque estes países são governados por partidos amigos.
Afinal não me consta que o Samuel, alguma vez tenha estado preso, durante a ditadura do Salazar e do Caetano, por delito de opinião.
Certamente se tivesse estado em CAXIAS, acharia o comunicado do PCP, a todos os titulos condenável.
Porque não se limitou o PCP a dizer, que não tinha nenhum comentário a fazer sobre o assunto?
Anónimo (22:33):
"Afinal não me consta que o Samuel, alguma vez tenha estado preso, durante a ditadura do Salazar e do Caetano, por delito de opinião.
Certamente se tivesse estado em CAXIAS, acharia o comunicado do PCP, a todos os titulos condenável."
Caro anónimo,
Não sei como conseguiu... mas não acertou em uma única coisa do que disse ou presumiu.
Nesta vida não acontece apenas aquilo que "lhe consta", meu caro. :-)))
Cumprimentos.
Concordo totalmente com tudo o que foi dito neste post e lamento as deturpações que vão aparecendo por aí.
Um beijo.
Samuel o teu post diz tudo.
Mas como o RVS penso que o PCP só foi chamado à questão por ser na China e igualmente como tu e o RVS temos algumas aversões ao maoísmo chinês - por isso penso como o RVS que o comunicado do PCP foi...reactivo ( não confundir reaccionário )porque penso que no Partido falta fazer uma reflexão profunda sobre a situação internacional e a relação com alguns Partidos Comunistas...Mas agora temos outras prioridades não é??? Não há tempo para "umbigos" - o tempo é de acção no nosso país!
( e para o ano Nobel da Paz para o Seeger ou para os 5 cubanos - a academia terá coragem?)
Estou cem por cento de acordo com o que escreveu o Rui Vasco Silva, poderia fazer minhas as palavras dele. Acho que o comunicado peca por ser demasido lacónico, mas foi propositado. O PCP não se quis pronunciar sobre o regime Chinês, assim como evita pronunciar-se sobre a Coreia do Norte.
Em tempos difíceis como o que estamos a viver actualmente, convém ir distraindo a população em geral e criar manobras de diversão, para que as pessoas não se centrem no que realmente de grave se está a passar. A história mostra-nos que sempre foi assim e agora não é diferente.
Depois da atribuição do prémio Nobel da Paz, em 2009, a Barack Obama, agora em 2010 a Liu Xiaobo, pensei que já nada me surpreendia.
Aliás, relativamente à atribuição destes dois prémios, que não me parecem indissociáveis, levantam-se-me uma série de dúvidas. Quem era Barack Obama? Para além de ser o Presidente de um País, o que fez em prol da paz no mundo? Mais, considerando que tomou posse em Janeiro de 2009, como é que logo passado uns meses é-lhe atribuído este prémio. Não podendo esquecer, obviamente, que preside um País que tem feito milhões de mortes por todo o mundo ao longo dos anos, mais recentemente com a invasão do Iraque, no Afeganistão, etc, etc, com a conivência deste mesmo senhor que foi galardoado com o Nobel da Paz. É este o expoente máximo da luta pela paz?
Continuando na mesma linha, atribui-se o prémio Nobel da Paz, em 2010 a um activista chinês “pela sua longa e não violenta luta pelos direitos humanos fundamentais na China”. Independentemente da opinião que possa ter relativamente à política daquele país, que muito provavelmente não é positiva, não posso deixar de pensar que esta distinção é tudo menos inocente.
Para terminar, fico hoje a saber que o” Parlamento Europeu atribuiu esta quinta-feira o Prémio Sakharov a Guillermo Fariñas, o dissidente cubano que esteve em greve de fome pela libertação de presos políticos no seu país”. Logo se apressaram a congratular-se com esta vergonha, os nossos queridos eurodeputados do PSD e CDS-PP. O Sr. distinguido com o galardão, considerado um dos mais importantes para os direitos humanos, afirma que o prémio não se destina a si mas ao seu país e ao seu povo. Tenho quase a certeza que o povo cubano não se orgulha da atribuição deste prémio. Porque é exactamente o povo cubano, que tem lutado ao longo dos últimos 50 anos, por uma sociedade verdadeiramente socialista. Onde, mesmo com todas as dificuldades impostas pelo embargo económico (decidido justamente pelo Governo Americano, que actualmente é presidido por Barack Obama, o grande lutador pela Paz) toda a população tem ensino e saúde gratuitos e de qualidade. Pilares básicos, de uma sociedade moderna e progressista. Ao contrário de imensos países da Europa, onde se inclui Portugal. Dos EUA é melhor nem falar.
Mas o que são afinal os direitos humanos? Nós que vivemos num país, em que o ataque aos trabalhadores é cada vez maior, em que as condições de vida se têm degradado de uma forma abismal, em que pretendem acabar de uma vez por todas com o acesso gratuito à saúde e ao ensino, com os apoios sociais, baixam os salários, aumentam o custo de vida, em que há cada vez mais desempregados…
Confesso que estou cansado destas manobras políticas, estrategicamente pensadas, para distrair as pessoas do essencial. Completamente tendenciosas, que pretendem empurrar-nos sempre na mesma direcção. Já um eleito do PS na nossa Assembleia Municipal dizia, a culpa é dos Chineses. E, enquanto formos permitindo, e acreditando no que nos dizem diariamente sem nos questionarmos, lá nos vão enterrando mais um bocadinho. E quando dermos por isso, francamente não sei onde estaremos.
http://agitalpiarca.blogspot.com/2010/10/nao-atirem-mais-areia-para-os-olhos.html
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