sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Prémio Sakharov – Provocação gratuita, fácil e sem riscos...


(Reprodução da capa de um belo disco de música de Cuba, da editora “Putumayo World Music”)

Tal como a eurodeputada Ilda Figueiredo, também eu não quero pronunciar-me sobre a atribuição do Prémio Sakharov ao cidadão cubano Guillermo Fariñas nem sobre o seu merecimento, ou a falta dele. Tal como Ilda Figueiredo, também eu escolheria outras pessoas e/ou organizações, para receberem um prémio em que se fala de luta pela liberdade de pensamento. De qualquer modo, quero dizer mais umas tantas coisas...

Primeiro, confesso que não sei se o Prémio Sakharov honra verdadeiramente quem o recebe... ou se faz exactamente o contrário... mas pronto, pode ser apenas por não achar graça ao nome do prémio.

Segundo, voltando a Guillermo Fariñas, não sei dele o suficiente para me pôr aqui a dar notas ao seu pensamento e militância política, nem arrisco arrumá-lo em lugar nenhum da escala que obrigatoriamente separa e afasta todos aqueles cubanos que, fora de Cuba, são grosseiramente classificados como “presos políticos” ou “dissidentes”. Teria que ser muito estúpido para engolir essa patranha e não ver que entre a população prisional cubana haverá gente que pensa realmente de forma diferente do poder e cujo tratamento por parte desse poder poderia ser discutido (coisa que Cuba já faz internamente); que há gente que está objectiva e conscientemente ao serviço dos inimigos de Cuba, quando não está mesmo a soldo da CIA e cuja única motivação é o ódio profundo à Revolução Cubana; que há outros, finalmente, acredito mesmo que é a maioria, que não passam de delinquentes comuns que, já nas prisões, descobrem o “filão” da política, guiados cá de fora por familiares que por sua vez são “ajudados” a descobrir os encantos da “dissidência”, da “liberdade de pensamento” ou da “democracia à americana”... tudo “palavrões” que desconheciam quando praticaram os crimes que os levaram à prisão... como bem recentemente parece ter acontecido com um súbito e antes absolutamente desconhecido “mártir”, induzido à “dissidência”, desgraçadamente para ele, de forma fatal.

Terceiro, partilhando a ideia, mais uma vez de Ilda Figueiredo, de que, comparado com a atribuição do Prémio, por exemplo, à organização não governamental «Breaking the silence», que luta contra a guerra e os crimes praticados contra o povo palestiniano, não posso deixar de considerar este Prémio, atribuído em vésperas do debate que vai ter lugar na UE sobre as suas próprias relações com Cuba, uma mesquinha e rasteira provocação que demonstra, mais do que a vontade de premiar o que quer que seja, a profunda má-fé com que a maioria dos parlamentares e demais políticos da UE partem para esse debate.

Quarto, aceitando, mesmo que com muitas e justificadas dúvidas, que a intenção dos “premiadores” possa ser boa e o Prémio honroso, já que tanto queriam chamar as atenções do mundo para Cuba, manda a minha chata teimosia que diga que então teriam andado melhor se dessem o Prémio aos cinco heróis cubanos injustamente presos nos EUA, exactamente por lutarem pela liberdade e contra o terrorismo.

Admito, no entanto, estar a pedir demais à maioria dos senhores parlamentares da UE e à sua “consciência”.

15 comentários:

Maria disse...

O prémio não é honroso. Ponto.

Abreijos e até :)

Anónimo disse...

Subscrevo.
Entretanto, eis outros "sakarovs" possíveis, mas muito mais incómodos:
http://www.youtube.com/watch?v=7mUs2fGLZ08&feature=player_embedded#!

do Zambujal disse...

Estes fulanos instigadores e dadores (com o dinheiro e o "sangue" de outros) de prémios já inquinados à nascença ou entrementes parecem apostados em provar uma coisa que negam: a luta de classes! Contra dições!
Os 5 de Miami? Eles são um contra-prémio. Continua com a tua teimosa teimosia, se fazes favor.

Um abraço

trepadeira disse...

Seria de facto pedir muito a eles.À consciência deles não se pode pedir nada porque não a têm.
Um abraço,
mário

Anónimo disse...

Caro Samuel,

Realmente, a liberdade de expressão é uma coisa da qual não sentimos falta porque, graças à luta de muita gente, com os comunistas à cabeça, conseguimos conquistá-la. E como a temos, obviamente, não damos pela falta dela. Mas sabe o Samuel, por acaso, que em Cuba não poderia ter um blog como este? Imagina-se em Cuba a escrever sobre o Fidel e seus apaniguados como o faz, aqui, sobre o Sócrates? Sabe o que lhe acontecia? Desconfio que saiba. Como pode o Samuel defender um regime que faz exactamente o mesmo que fazia o regime salazarista? Sim, tudo bem, Cuba não prende comunistas, como o fazia Salazar, mas manda para a prisão quem contesta o poder e respectivos governantes. Se não lhe der muito trabalho, explique-me lá como pode defender um regime assim. Mas não venha com a cartilha, com a história de que o povo cubano é que decide o seu futuro e mais não sei o quê... Como se isso fosse assim.

Cá ficarei à espera da sua resposta.

Saudações

João A.

samuel disse...

João A:

Meu caro,

Um dia destes vai ter que começar a prestar mais atenção ao que escrevo realmente, antes de fazer o comentário que queria fazer mesmo antes de ter lido. Também seria útil aceitar o facto de que eu penso assim... e não escrevo o que escrevo por distracção... embora aqui ou ali, possa acontecer.

Sendo assim, lembro que não ataquei o premiado, por praticamente não o conhecer, apenas disse que, no meu pleno direito, acho que um prémio dedicado à luta pela liberdade, seria muito mais bem entregue a várias outras pessoas ou organizações... para além de nem achar o Prémio Sakharov uma honra... mais uma vez, uma legítima opinião.

Finalmente, e não pense que digo isto para gozar consigo, não vejo também como é que poderia ter em Cuba um blog onde escrevesse sobre Fidel e os “seus apaniguados”, como lhes chama, o mesmo que aqui escrevo Sobre Sócrates e a “sua quadrilha”, como lhes chamo. Isso é uma “impossibilidade técnica”, pois não sei se reparou, mas eu GOSTO de Fidel e detesto Sócrates... ☺ ☺ ☺

Saudações.

Fernando Samuel disse...

Estes prémios são feitos à medida de quem os merece, portanto... para um Sakharov um Fariñas... Tudo certo.
(também lá fui, como não podia deixar de ser...)

Um abraço.

José Rodrigues disse...

Curiosamente ou talvez não,as TVs,rádios,e jornais cá da terra não fazem nenhuma referência/divulgação da mensagem/alerta de Fidel Castro,(após conversas longas com Chossudovsky)sobre um possível ataque EUA/ISRAEL ao Irão,que pode levar ao holocausto nuclear.

Abraço

Elísio Alfredo disse...

Subscrevo o texto e a resposta ao Anónimo - estes anónimos são assim, vivem no paraíso das liberdades e depois arranjam nomes estranhos...
Mas é claro que podia ser atribuído, o prémio, sim, aos 5 cubanos que continuam presos por terem denunciado terroristas e os actos que se preparavam para perpetrar. Ou aos médicos venezuelanos e cubanos que chegaram ao Haiti ainda os próprios tentavam saber o que lhes tinha acontecido, ou aos milhares de professores e médicos cubanos espalhados por toda a américa latina, engaiolados, claro, - como havia de ser? -, tratando da saúde e ensinando a ler. O Anónimo disto não sabe, embora seja noticiado, mas sabe que não podes, Samuel, ter lá um blog a dizer mal do Fidel. Mas bem podia saber: bastava que pusesse uma mochilas às costas e percorresse a Ilha durante um mês, longe das praias e dos hotéis de Varadero... Se calhar, não sabe o que já hoje ouvi a 2 habitantes das redondezas desta pequena cidade, que se deslocaram ao Centro de Saúde por causa dos seus achaques, e que já não podem voltar por causa da riqueza das suas tristes pensões...

Luis Nogueira disse...

Os anónimos (que, claro, assinam com nome falso...) metem-me o mesmo nojo que as cartas anónimas, as patacoadas do Soares (porque não lhe dão o prémio "sakanov"?) e os euroburocratas que pensam que com merdas destas atemorizam alguém. Já ninguém tem medo do capacho europeu. Não sei que é nem o que fez (mas desconfio) o Fariñas, mas há mais quem mereça prémios:

- Os torturados de Guantanamo
- Os cinco cubanos presos
- O Mumia Abu Jamal
- O povo cubano que resiste há cinquenta anos aos filhos da Grande Potência
- Ao povo portug`^es, saqueado, roubado e explorado há trinta e tal anos pelas pandilhas do PS, do PSD e, por vezes, do CDS...
- Ao povo da Palestina fuzilado pelos sionistas: as prisões em Israle estão a abarrotar de presos políticos...
- Às crianças do Afeganistão, assassinadas por cobardolas a partir de aviões sem pilotos...

E mais... e muito mais. Ora, não tenho paciência para cretinos.

Luis Nogueira

Paulo Assim disse...

Um pouco de humildade intelectual ficaria bem a quem defende regimes totalitários... sejam eles de esquerda ou de direita. Não gostaria de viver em Cuba nem me apaixonam personalidades como Fidel...

samuel disse...

Paulo Assim:
Pronto... é a sua opinião... presumo que tem a humildade intelectual suficiente para aceitar a dos outros.
De qualquer maneira, não me leve a mal, mas acho que Cuba também passa muito bem sem a sua presença... e Fidel, francamente... já tem "problemas" que cheguem, para ter nesta idade que lidar com mais uma "paixão". :-))) :-)))

Saludos.

Paulo Assim disse...

Personalidades que se julgam deuses ou reis ou senhores da verdade... e que crêem fiel e narcisisticamente que vieram a este mundo para orientar o seu semelhante... não, obrigado!!
:-)))

Antuã disse...

O Paulo é Assim! Não há volta a dar-lhe. A propaganda capitalista domina-o. Quanto ao João à m-r-a.

Paulo Assim disse...

Nãoooooo, Antuã, nem capitalismos nem materialismos me dominam. Era o que faltava. Fujo de McDonalds e Coca-colas como o diabo foge da cruz. Não vejo filmes de Hollywood. :-) ... Também vos digo que não gostaria de viver na América de Bush nem Obama me deslumbra com a sua verborreia cor de rosa. Oh não, longe disso.
Sejamos honestos e humildes no que dizemos, só isso. Não é por ter ideias de esquerda que vou defender os senhores de Cuba, ou da Coreia, ou da China...

Abraço.
:)