domingo, 31 de julho de 2011

A trompete – Um post contra as ideias pré concebidas


                    Cliché número um: As trompetes são instrumentos muito barulhentos e com um som irritante.
                    Cliché número dois: As trompetes são tocadas por homens.
Felizmente tem aparecido um bom punhado de trompetistas que se têm encarregado de desfazer o primeiro cliché, a maior parte vindos do jazz... como Chet Baker, ou Winton Marsallis, para falar apenas em dois dos que gosto muito.
Desfazer o segundo cliché é muito mais difícil e raro. Entra então em cena a jovem inglesa Alison Balsom, extraordinária “corneteira”... e como hoje vou aqui deixar três vídeos, opto por cortar na “conversa”.
Direi apenas que se me garantirem ser sempre acordado por “isto”, vou já alistar-me na tropa, onde passarei a dormir sonhando com Debussy e toques de alvorada.
Mais para a tarde, faremos convívios em que a “corneteira” fará coisas loucas, tais como tocar concertos de Vivaldi para violino... transcritos para a trompete.
Depois, à noite, juntamo-nos todos no refeitório, imaginamos que estamos no Royal Albert Hall, acompanhados pela Orquestra Sinfónica da BBC… e pedimos à nossa capitã para fazer a sua imitação da mezzo soprano Sarah Connolly… quando lhe dá para resvalar da ópera para o jazz. Claro que também aqui não passaremos sem a trompete da nossa "corneteira"… e faremos a nossa “guerra” à má música, até que chegue a hora de tocar a alvorada e comece tudo de novo.
Bom domingo!
Syrinx” – Alison Balsom
(Claude Debussy)




“Concerto para violino em Lá menor” – Alison Balsom
(Antonio Vivaldi)




They Can't Take That Away from Me” – A. Balsom/Sarah Connolly
(Ira Gershwin/George Gershwin)


sábado, 30 de julho de 2011

Viva a vida! – Apesar dos ministros...


Esta notícia vinda de Inglaterra, segundo a qual, existe uma cada vez maior pressão sobre os profissionais do serviço público de saúde, no sentido de prolongarem até ao limite as esperas a que os doentes são sujeitos até conseguirem as suas intervenções cirúrgicas e outros tratamentos... deve fazer brilhar os olhos ao nosso novo ministro da “saúde”.
Segundo as associações de utentes inglesas, esta forma de “gerir” a saúde pública tem resultado em desvios de doentes para o sector privado, o principal objectivo!, ou em desistências que, no limite, acabam em mortes, o que evidentemente também é “bom para o sistema”, dada a poupança em tratamentos, para o Ministério das Saúde... e em pensões de reforma, para as Finanças em geral.
Num país normal e com um governo decente, a existir um aperto financeiro ou mesmo económico, é natural que um ministro das Finanças faça o que pode para cortar despesas... mas é por isso mesmo que faz falta um grande ministro da Saúde, que tenha uma formação que o faça dar mais valor aos seres humanos do que aos livros de contabilidade, que lute por avanços na medicina e nos cuidados de saúde. Que fique do lado dos doentes e resista com coragem aos cortes que lhe queiram impor.
Este miserável tecnocrata neoliberal, até agora, continua a parir medidas que visam unicamente a felicidade do seu cúmplice que está à frente da Finanças. Para além do que ordenou a troika. Para além do que é humano. Para além do que é suportável.
Mas que se dane o ministro! Hoje estou feliz! Uma amiga querida teve a notícia de que, depois do medo, depois da operação, depois da violência química e psicológica que se lhe seguiu por muito tempo... está finalmente livre de um cancro que tentou levá-la do nosso convívio.
Este belo milagre não fica a dever-se a este, nem a nenhum dos anteriores ministros da saúde, com as suas mesquinhas políticas de cortes, encerramentos de serviços e ostensivos favores aos amigos negociantes da morte... mas sim ao talento, empenhamento e carinho das equipas médicas, de enfermagem e de toda a outra boa gente que, com coragem e humanidade, está do lado da vida... apesar dos ministros.
É uma prenda para os familiares e amigos que, de coração apertado, apenas puderam contribuir com amor. E uma ou outra piada “parva” em plena enfermaria... porque dizem que rir faz bem a quase tudo... digo eu para me justificar.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Governo Passos/Portas – Tudo o que lhes for permitido...


Esse grande marco da política nacional e farol de cultura que é o novo primeiro-ministro Passos Coelho, está a aproveitar até ao limite o “chapéu-de-chuva” da troika, para justificar tudo o que a canalha que está a representar no governo sempre quis, mas que por falta de condições e de coragem, ainda não tinha conseguido impor ao país.
A terraplanagem de tudo aquilo que foi construído e conquistado desde Abril, está a avançar, às cegas, impelida por um ódio já antigo, levando as “medidas” governamentais muito para além do exigido pela própria troika.
Até onde lhes for consentido, estes tecnocratas ultrarreacionários não hesitarão perante nenhum crime contra os trabalhadores e o povo que dia a dia os enriquece. Mesmo assim, alguns ainda cedem à tentação de se “humanizarem”... de se mostrarem cultos...
Disso nos falou muito bem uma das personagem criadas por Saramago no seu belo romance “Fim de tarde sob as amendoeiras”.
... estão aqui a segredar-me que Saramago nunca escreveu nenhum romance chamado “Fim de tarde sob as amendoeiras”... e depois?! Não posso inventar um livro, de vez em quando? Só o Pedro Passos Coelho é que pode?
Ainda por cima, hão de concordar que "Fim de tarde sob as amendoeiras" é um título muito mais bonito do que  “Fenomenologia do ser”.

As palavras estão gastas *


Não me foi possível deixar de reparar nestes dois títulos de notícias que coexistiram, ontem, no agregador do “google”:
Como devem calcular, seriam dois grandes temas para desenvolver e comentar, se quisesse fazer um post sobre a bandidagem asquerosa e as numerosas quadrilhas de verdadeiros “filhos da pátria” que, realmente, mandam em Portugal.
Isso, como disse... era se quisesse... mas na verdade, ou devido a este exagero de calor, ou porque me faltam as palavras adequadas... não quero!
* ... e que por este abuso me perdoe o Eugénio de Andrade!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Caixa Geral de Depósitos – “BPNnização à vista?


O sonso ministro das Finanças, Vítor Gaspar, confrontado com o pantanal de interesses privados e ostensivas incompatibilidades individuais que invadiu a “gerência” da Caixa Geral de Depósitos, com a entrada em cena destes novos figurões, ao invés de explicar ou refutar essas legítimas questões, resolveu responder como responderia qualquer garoto malcriado, de forma insolente: «Estou orgulhoso da constituição dos ógãos da Caixa Geral de Depósitos.»
Portanto, pouco lhe interessa que Rebelo de Sousa se vá sentar na direção da Caixa, continuando como advogado de negócios, nomeadamente representando os interesses de empresas que têm litígios de muitos milhões com aquele banco. Pouco lhe importa que Nogueira Leite ocupe o lugar, tendo como principal “aptidão” para o cargo, ser conselheiro nacional do PSD e conselheiro pessoal do primeiro-ministro. Pouco lhe importa que, outro dos recém chegados, Nuno Fernandes Thomaznão seja mais do que o “homem do CDS”. Pouco lhe importa que, a fazer fé no que se diz, até o novo presidente, José de Matos, esteja ali como “homem de mão” de Cavaco Silva.
Enquanto vou imaginando coisa melhor e mais assertiva para passar a chamar a este ministro das Finanças, em vez de “sonso”... fico a pensar se não estaremos a correr o risco, com esta fantástica concentração de gente diretamente ligada ao governo de Passos Coelho, ao PSD e a Cavaco Silva, de ver a Caixa Geral de Depósitos transformada num novo BPN... mas em tamanho gigante e com consequências ainda mais trágicas para o país.
Não me levem a mal. Eu sei que estes senhores são todos “gente muito fina”... mas isso também o eram os amigos de Cavaco, ex-ministros do PSD, um ex-secretário de estado das Finanças e até um Conselheiro de Estado, que roubaram de forma grotesca o BPN e os contribuintes portugueses.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Face oculta – Sempre o mesmo “quadro de revista à portuguesa”


Lembram-se do processo “Face oculta”... sim?! Bela memória! Então, para além dos célebres robalos, também se lembram da restante “fauna” que veio à rede, como o rei da sucata, Manuel Godinho, José Penedos e Armando Vara (que também devem ser reis de qualquer coisa) e mais uma catrefada de figuras de menor calibre.
Segundo leio agora, parece que existe a possibilidade de o previsto e aguardado julgamento vir a ser anulado. Então e porquê? Porque parece que há uns sérios problemas com a coisa... pelo menos relativamente ao arguido José Penedos.
Será que foram encontradas provas irrefutáveis da inocência do homem, antes mesmo de se chegar ao julgamento? Parece que não. Os “problemas”, como vai sendo costume, prendem-se com as sempre fantásticas questões técnicas, do género “selo torto na carta”, ou um “envelope amarrotado num canto”, ou o “stress” provocado pela diminuta saia de uma secretária do magistrado, ou o “mau gosto das gravatas” do oficial de diligências... ou qualquer outra razão que, confesso, neste caso não apurei exatamente, mas que podem conhecer indo ler aqui.
Nestes grandes processos, há sempre equipas de especialistas e brilhantes juristas pagos a peso de ouro... para encontrar “o pormenor técnico” necessário.
E assim regresso aos robalos, que aqui em cima já estão devidamente grelhados... o que me fez recordar a minha passagem pelo “Grupo de Teatro Adoque” e a sua primeira revista, Pides na grelha” (1974). Passaram por lá uns milhares de pessoas, riram-se muito com as nossas piadas... mas no fim, quem ficou a rir de todos nós, até hoje, foram mesmo os PIDES.

Paulo Macedo e SNS – Números, números, números, números...



A anedota já tem barbas. O homem vestido de miúdo dirigiu-se ao grupo de miúdos vestidos de... (vocês sabem) e perguntou: “Lobito Diogo, qual foi a tua boa ação de hoje?” E o Diogo, do alto da sua convicção de escuta de quase dez anos de idade, “Ajudei uma velhinha a atravessar a rua.”
Encurtando a estória, quando já vários dos prazenteiros “lobitos” tinham declarado ter ajudado a mesma velhinha a atravessar a rua, o garboso “caminheiro”, intrigado, quis saber por que cargas de água tinham sido necessários seis escuteiros para ajudar a velhinha a atravessar a rua. Responderam todos em coro: “Ela não queria atravessar!”
É no que dá a sobrevalorização da competitividade!
Passando para um assunto sério, o tecnocrata Paulo Macedo, que o liberal de aviário Pedro Passos Coelho achou ser a pessoa mais indicada para se ocupar de um assunto como a saúde dos portugueses, disse, quando iniciou as suas funções como ministro, que já tinha «uma imagem do sector da saúde», imagem que iria agora «aprofundar».
Pelos vistos já aprofundou. A primeira grande "ideia" do tecnocrata Paulo Macedo para o Serviço Nacional de Saúde... é tratar das facturazinhas, das continhas, dos balancetezinhos... e, genial!, organizar uma espécie de “Super-Liga” dos Centros de saúde e Hospitais, com classificações mensais.
Para as pontuações das várias equipas contam vários itens, como, evitar os “tratamentos mais dispendiosos”, promover “internamentos mais curtos”... e várias outras igualmente criativas modalidades a que gostam de chamar, globalmente, "desempenho".
Tudo planeado em estrita obediência às sagradas leis da oferta e da procura, fundadoras de uma sã sociedade, temente a Deus e à economia de mercado.
Mesmo que uma ou outra questão colocada pelo ministro pudesse ser considerada como pertinente – nada de bom se consegue com desperdício – posto o problema desta maneira, como mais uma vulgar competição, desta vez entre gestores hospitalares e profissionais da saúde, espero que esta estória não vá acabar como se desconfia: com os doentes a serem cilindrados por uma competição idiota, em que não são perdidos nem achados. Exatamente como a velhinha que não queria atravessar a rua.
É no que dá a sobrevalorização da competitividade!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Blasfémias – Um post asqueroso


Em doses muito contidas, costumo consumir um ou outro post de blogues de direita. Gosto particularmente dos “neoliberais”! Aí é fácil encontrar “argumentos” do género:
- A liberalização dos despedimentos facilita a “empregabilidade”.
- A obrigatoriedade de um Ordenado Mínimo Nacional, coarta a liberdade que o trabalhador deveria ter, para aceitar trabalhar por um salário mais pequeno... o que combateria o desemprego.
... e poderia continuar por aqui fora, já que “imaginação é o que não lhes falta.
Um desses blogues é o “Blasfémias”, onde habitam alguns “magníficos” sacerdotes do neoliberalismo mais alucinado. Um desses sacerdotes é o inenarrável João Miranda, responsável por algumas das tiradas mais alucinadas da blogosfera.
Num post intitulado “Uma boa medida da troika”, João Miranda defende o brutal aumento dos transportes, num texto dividido em sete pontos. Em cada um deles perpassa o toque de "demência" típico de muitos dos escritos do blogger... mas o ponto dois merece um lugar de destaque no panteão da idiotia mais galopante que me foi dado apreciar nos últimos tempos:
«Utentes passam a ter incentivo para seleccionarem melhor o local onde vivem e a localização do emprego que têm…»
esta? O que dizer desta maravilha? Quem manda os utentes "seleccionar" empregos numa empresa de limpezas de Lisboa... mas não abdicarem do luxo das arábias que é habitar no Cacém, ou na Cruz de Pau... ou ainda mais longe?

Noruega – Lembrando Bertold Brecht




Para além destas linhas em que quero deixar um pensamento solidário para com os familiares e amigos das vítimas do massacre na Noruega, não estou disponível para contribuir, de qualquer forma que seja, para a promoção, divulgação de ideias e muito menos das “explicações” dos motivos (por vezes, quase justificativas) que levaram o bandalho assassino a fazer aquilo que fez.
Os jornais televisivos estão a fazer esse triste trabalho muito bem... sem necessitar da minha ajuda, numa cobertura histérica, onde só falta a divulgação dos nomes, moradas e telefones, das hipotéticas vítimas constantes das dementes listas de cidadãos a abater no futuro, um pouco por todo o mundo.
Já o clima social e político que, num crescendo, vai permitindo o aparecimento de tumores abjectos como este... esse merece toda a atenção e vigilância.
Como escreveu Bertold Brecht, «Isso que aí está, esteve quase a governar o mundo. Mas os povos dominaram-no. No entanto, desejaria não ouvir o vosso triunfante canto: o ventre, donde isto saiu, ainda é fecundo.»
25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Nuno Crato – Ok! Matemática. E...?




Os animais exibidos nos circos fazem coisas extraordinárias! O problema é que, para além daquele número de circo específico para que foram treinados, não sabem fazer mais nada. Daí que os anglo-saxónicos tenham inventado uma frase para definir os humanos vítimas da hiper-especialização que, tal como os animais de circo, pouco mais sabem fazer, ou de pouco mais sabem falar, para além da sua especial "habilidade". São os sobejamente conhecidos e, infelizmente, espalhados por todos os ramos das mais diversas actividades... One trick ponys.
Espero que não venha a verificar-se ser este caso do novo ministro da Educação. Na verdade, começa a ser notória a presença da matemática em quase todas as ações e declarações públicas de Nuno Crato... ou até de notícias sobre ele e o seu gabinete. Para um ministério da Educação que, das artes às ciências, deveria abarcar tanto "universo"... é um pedacinho redutor.
A revelar-se um como um padrão... seria, para além de tudo, bastante cansativo.

António José Seguro – São rosas, senhor!



Está virada a página no PS. Foi, segundo o novo secretário geral, uma campanha «inesquecível». Tão inesquecível, empolgante e mobilizadora... que fez cerca de vinte e três mil militantes votarem nele. Uma verdadeira “vaga de fundo”, portanto.
À semelhança de alguns realizadores de cinema portugueses (e não só), que passam tanto tempo em desespero para fazer um filme, que quando finalmente o fazem, querem lá pôr tudo aquilo que pensaram sobre tudo... durante quase toda a vida, Seguro andava há tanto tempo a preparar o salto, que o discurso de vitória ficou transformado numa espécie de engarrafamento de frases feitas e chavões, colecionados desde que se inscreveu na "jota" do PS.
Finalmente, ganhou o seu lugar no cantinho superior direito da galeria de figuras que ocuparam o cargo de secretário geral desde o 25 de Abril. Cada um deles, Mário Soares, Almeida Santos, Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres, Ferro Rodrigues e José Sócrates, deixou a sua marca pessoal. Com cada um deles, o PS foi fazendo História na democracia portuguesa.
- Com Soares, “enfiou o socialismo na gaveta” e conspirou com os sectores mais reacionários da Igreja Católica e com a CIA, para fazer a contra-revolução.
- Com Almeida Santos... não me lembro.
- Com Constâncio, dormiu uma longa sesta.
- Com Sampaio, fez discursos inexplicáveis e, aqui ou ali, verteu umas lágrimas.
- Com Guterres, virou ainda mais à direita, rezou muito... e ficou a vê-lo pirar-se para outras paragens.
- Com Ferro Rodrigues... não sei o que fez, mas o que quer que tenha sido, foi extremamente rápido. 
- Com Sócrates, cometeu a longa lista de crimes que estamos (quase) todos a pagar.
- Com António José Seguro... aparentemente, decidiu fazer um longo, loooongo “intervalo”.
Como primeira medida para dentro do seu partido, diz que «dá liberdade de voto» à bancada no Parlamento.
Atendendo a que a maioria PSD/CDS necessita de votos do PS para conseguir rever a Constituição, se os deputados “socialistas”, satisfazendo algum interesse particular (a que não deixarão de chamar “nacional”), votarem com Passos e Portas… António José Seguro, para cumprir a sua solene promessa de “recusar” a revisão constitucional, fará o quê? Deitar-se-á a espernear no meio da Assembleia da República e fará uma monumental birra?
Portanto... começa bem! Como disse, vai ser um longo, loooongo intervalo.

domingo, 24 de julho de 2011

Camané – Fado do Campo Grande


Não sou aquilo que se possa chamar um consumidor de música compulsivo. Não tenho, nem alguma vez usei alguma dessas engenhocas para andar a ouvir música com auscultadores enfiados nos ouvidos, por toda a parte e a todas as horas. Mais ainda, sou incapaz de escrever ou ler se estiver a ouvir música ao mesmo tempo... e até nos blogues em que há música a tocar automaticamente, tenho que desligar o som do computador, senão, não leio o texto.
Posto isto, sim, ouço bastante música, tenho discos demais e manias de “apreciador” muito próprias. Por exemplo, é muito difícil achar que uma nova versão de uma canção, mesmo gravada com recurso a melhores técnicas, mesmo tocada por grandes músicos, consegue ser realmente muito melhor do que o original que eu trago na memória. Daí que quando isso acontece... é muito bom!
Primeiro, porque não é nenhuma “despromoção” do original. Segundo, porque é a prova de que a canção ainda tinha muito mais para dar. Finalmente, porque nos mostra que há sempre gente nova capaz de garantir o futuro de tudo... até das canções.
Camané é um desses “novos”. Não fora o recente aparecimento de mais uns dois ou três “miúdos” que também deram para cantar fados... e o Camané seria praticamente o único fadista vivo que me “obriga” a ouvir e me faz gostar de fado.
Camané conseguiu aqui a tal proeza de desarrincar uma versão que (para mim, evidentemente!) passa a ser “o molde”, com esta sua interpretação dos versos do José Carlos Ary dos Santos, musicados pelo maestro Vitorino de Almeida, uma grande canção que todos conhecemos há muitos anos pelo nome de “Fado do Campo Grande”... que ocupou a faixa número três de um disco justamente histórico, “Um homem na cidade”, gravado por Carlos do Carmo em 1977.
Bom domingo!
“Fado do Campo Grande” – Camané
(Ary dos Santos/Vitorino de Almeida)



sábado, 23 de julho de 2011

Seguro versus Assis – Sarilhos de fraudes


A eleição para o futuro secretário geral do PS segue a bom ritmo. Infelizmente, a jornada eleitoral foi ligeiramente ensombrada por trocas de acusações entre a equipa de Francisco Assis e a equipa de António José seguro... com alusões a fumos de fraude.
Daí a palermice do título deste post, resultado de um péssimo e antigo hábito de deixar as sinapses à solta, comunicando parvoíces de neurónio em neurónio. Demasiadas vezes, o resultado são trocadilhos do tipo deste “sarilhos de fraudes”, que me levou direitinho a 1967 e a um glorioso filme que andei a evitar com sucesso durante mais de quarenta anos... até hoje.
Dedicado ao ganhador desta contenda eleitoral, seja ele qual for, aqui fica esta canção desse histórico “Sarilho de fraldas”, protagonizado por Calvário e Madalena Iglésias. Fiquem com um pouco do profundo diálogo, seguido da maravilhosa canção.
“Depois não vais dizer que não cuidámos de ti...”
“Vamos... fala!”

Num dia de sol
(César de Oliveira/Nóbrega e Sousa)

Miúdo como será que tu te chamas
Parece que mexe os lábios pra falar
Teus olhos estão a afirmar
Não me enganas que és feliz
Tem um sinalzinho a espreitar no nariz
Mal sabe quantos sarilhos já nos deu
É estranho... tem um sorriso igual ao teu
Estas mãos o mundo vão vencer
Um dia vais crescer pró conquistar...

... mas o melhor é ouvirem vocês próprios a coisa.

Um bom sábado!

“Num dia de sol” – Madalena Iglésias e A. Calvário
(César de Oliveira/Nóbrega e Sousa)


PSD, PS... papel rasgado




Continuando a cumprir uma espécie de desígnio “divino” que o obriga a fazer exatamente o oposto daquilo que apregoa, Pedro Passos Coelho, em vez de “emagrecer” a administração da Caixa Geral de Depósitos, aumentou-a quase para o dobro. Seja como for, o condimento principal desta estória é outro.
Desde há vários anos que, numa espécie de acordo tácito de “cavalheiros”, ou uma alternância “democrática” de tachos, no fundo, inspirada nos antiquíssimos “códigos de honra” entre os ladrões, PSD e PS trocavam entre si a presidência do grande banco público. Estando no Governo o PS, o presidente da Caixa era do PSD... e vice versa.
Agora que chegou ao poder e com maioria, findo o mandato de Faria de Oliveira, ex-ministro do PSD nomeado por Sócrates para dirigir a CGD, Passos Coelho, em vez de o retirar para, seguindo a “tradição”, nomear alguém do PS, reconduziu-o na administração, promovendo-o até. Agora é chairman. Não contente com isso, inventou “espaço” para mais um presidente (José de Matos), um técnico vindo do Banco de Portugal... e deu a vice presidência executiva a Nogueira Leite, conselheiro nacional do PSD e seu conselheiro pessoal.
E lá se foi às malvas o velho acordo de “cavalheiros”!
Lembrando a velha e famosa cena de teatro amador, na noite em que se esqueceram de acender a lareira onde em todas as representações era queimada em palco a comprometedora carta do amante... e o “marido enganado”, entrando de rompante na sala, na falta do fumo suspeito foi obrigado a improvisar... “Cheira aqui a papel rasgado!”

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Vítor Gaspar – Concurso de interpretação


Depois de termos ficado a saber, na sequência da estória estrambólica do “desvio colossal” das contas (desvio de que ninguém parece conhecer o paradeiro), que teve a vantagem de esclarecer rapidamente que Passos Coelho não passará, afinal, de mais um vulgar aldrabão, o pastoso explicador das frases de Passos... e ministro das Finanças, veio garantir que o roubo do 13º mês «não provoca efeitos recessivos».
Utilizando a técnica entaramelada do ministro Vítor Gaspar, direi que há uma “interpretação abusiva” das palavras do genial governante. Que foi dito “não”... depois foram ditas algumas palavras... após as quais apareceu “provoca efeitos recessivos”.
A minha “interpretação” é que as tais palavras que se perderam pelo meio poderão ter sido:
Não há dúvida absolutamente nenhuma de que provoca efeitos recessivos.”
Não tenho outro remédio se não mentir descaradamente para negar que isto provoca efeitos recessivos.”

Os ladrões rectificativos...


“Ajuda aos bancos obriga a orçamento rectificativo”, diz a notícia. E porque não?! Temos que acomodar nos nossos orçamentos pessoais e familiares aquele pouco com que “devemos” contribuir para a felicidade dos banqueiros. A técnica é perfeita. Rouba-se mais um pouco aos pobres e remediados. Estes são tantos, que a colecta é sempre fantástica... e, convenhamos, que brilharete é que os pobres e remediados iriam fazer com a meia dúzia de euros que lhes são roubados?
Sendo já um dado adquirido que quem está no poder são os ladrões, também conhecidos pela designação de banqueiros e especuladores, que têm nos gabinetes ministeriais os seus fiéis criados para todo o serviço, não faltará muito para que, antes dos casamentos, batizados e festanças variadas que ocupam abundantemente o nosso “jet set” da finança, sejam lançados “impostos relâmpago” para financiar as roupas de marca e alta costura, mais a joalharia avulsa, tudo coisas obrigatórias nessas ocasiões. Pagaremos tudo! No limite... até os pesados camafeus das esposas e os brilhantes “alfinetes de peito” das amantes.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Governo Passos/Portas – Roubar tudo, rapidamente e em força!


O batalhão neoliberal comandado por Passos e Portas continua a sua marcha para o passado, qual desfile da “Legião Portuguesa” ou mesmo da “Mocidade”...
Que tipo de canalhas é que pode defender uma revisão da «noção de serviço público» de transporte, quando essa revisão não passará do corte de carreiras e da diminuição de outras?
Que tipo de canalhas é que pode achar eticamente justificável ou social e politicamente tolerável, numa altura de um já tão esmagador aperto na vida dos portugueses, impor um aumento médio de 15 por cento nos transportes, seja nos bilhetes, seja nos passes (cada vez menos) sociais, única garantia de mobilidade para tantos milhares de trabalhadores e reformados?
Estes delinquentes não merecem o respeito que normalmente se reserva aos adversários políticos. Isso implica que se lhes reconheça lealdade na divergência, honestidade e dignidade na diferença. Não! Estes são vulgares ladrões e declarados inimigos do povo.

Dominique Strauss-Kahn – Uma ocupação a tempo inteiro


Penosamente, página a página, lá vai sendo escrita a novela trágico-erótica de Dominique Strauss-Kahn (DSK), o incontrolável fauno, ou sátiro ex-presidente do FMI, ex-grande figura do “socialismo” à francesa, ex-futuro candidato à presidência da França. Como se não lhe bastassem as humilhações de carácter íntimo (passe a expressão) ficou agora a saber que para além de ser substituído à frente do FMI por Christine Lagarde, uma mulher (deve doer-lhe!), ainda por cima ela vai receber mais do que ele ganhava.
Quanto à escandaleira propriamente dita, essa não para de crescer.
- Continuam as grandes dúvidas sobre a credibilidade da funcionária do hotel, supostamente atacada em Nova Iorque, ataque que ele continua a negar, dizendo mesmo que tudo se trata de uma vingança, por ter-se recusado a pagar o que ela pretendia.
- Segundo o próprio acusado terá confessado à esposa, a impossibilidade de ter violado, ou mesmo tentado violar a queixosa, prende-se com o facto de ter passado toda a noite anterior fazendo sexo, ininterruptamente, com três outras mulheres.
- Entretanto a jovem escritora francesa Tristane Banon, confirma a sua acusação de que foi atacada sexualmente por DSK, há uns anos, indo testemunhar a NY.
- Na dúvida sobre se DSK teve ou não relações com a jovem francesa, a mãe desta confirma que ela própria teve várias vezes sessões de «sexo brutal» com o acusado... mas porque quis.
- A própria filha de Strauss-Kahn é chamada a depor, por, supostamente, ter conhecimento dos factos de que o pai é acusado pela sua amiga Tristane.
Enquanto, na dúvida, a polícia judiciária já anda à cata de sinais de stress no comportamento dos animais domésticos, potenciais vítimas de assaltos libidinosos de DSK e que pertençam a amigos e conhecidos do descontrolado viciado em sexo... eu fico aqui a pensar que nesta altura do campeonato e perante uma tal avalanche de revelações, a questão que se põe já não é a de saber se Dominique Strauss-Kahn, a ser alguma vez eleito President de la Republique Française, teria condições morais ou políticas para exercer a presidência. A grande questão é se teria tempo disponível!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

BPN – Não há limites...


Como parece não haver limites para o saque de que todos estamos a ser vítimas, tudo indica que o BPN, o antro dos amigos cavaquistas mais dados à roubalheira, irá ser vendido à pressão, logo, ao desbarato.
O hipotético comprador que está mais bem colocado na primeira fila é o BIC, banco angolano de que é proprietária a espertalhona herdeira do Presidente de Angola. Parece – imagino eu – que o facto de o BPN estar conspurcado de alto a baixo pelas estórias de corrupção e roubos que se conhecem, não amedrontam a intrépida Isabel dos Santos nem os seus sócios... antes constitui uma espécie de “tempero” extra que torna o negócio mais apetecível.
O homem de mão de Isabel dos Santos em Portugal, ex-ministro de Cavaco e agora presidente executivo do BIC, Mira Amaral, já declarou (por entre a habitual nuvem de perdigotos) que, a dar-se o caso de ficarem com o BPN, a Caixa Geral de Depósitos, logo, o Estado português, terá que, ainda durante bastante tempo, continuar a injetar ali mais alguns milhões, financiando os negócios do BIC e do BPN... pois como já disse, parece não haver limites para o saque de que todos estamos a ser vítimas.
Diz também o cavacal gestor Mira Amaral, que estará garantida «uma redução no número de balcões e de colaboradores»… o que me sugere uma reflexão:
Se isto fosse uma espécie de “Olimpo”, atascado em deuses, e se existisse um “Deus” específico para os assalariados, de cada vez que um destes canalhas dissesse a palavra “colaboradores” quando se está a referir a trabalhadores que vivem exclusivamente da sua força de trabalho… desceria qualquer coisa dos céus, que os deixaria de dentes partidos.
Infelizmente… a mitologia não passa disso mesmo.

Cavaco, Europa, caretos e alertas...


Aníbal Cavaco Silva disse esperar que «tenham soado as campainhas de alerta na UE» e que os dirigentes europeus tomem decisões firmes, determinadas e claras, quanto ao Euro... e demonstrem estar à altura dos "Delores, Helmut Kohles e Miterrãns" que os precederam.
Depois, só para garantir, agitou-se energicamente mais umas quatro ou cinco vezes... e foi pra dentro.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Via do Infante e Macário Correia – Inevitável...


As últimas ocasiões em que tive a oportunidade de ver o autarca do PSD, Macário Correia, atual presidente da autarquia de Faro, foi nas (justas) manifestações contra as portagens na “Via do Infante”, noticiadas pelos telejornais, onde aparecia afogueado, irredutível e acompanhado por outros autarcas do PSD. Agora diz que as portagens são «inevitáveis».
À hora em que escrevo, tanto ele como (pelo menos) um outro autarca do PSD, Desidério Silva (Albufeira) continuam a desdobrar-se em explicações sobre o facto de a sua mudança de posição não ter nada que ver, “não senhor!, nem pensar!”, com a chegada ao governo do seu partido e de Passos Coelho.
Lembrando a época em que o Macário Correia secretário de estado do ambiente de Cavaco Silva, afirmou, com extrema “elegância”, diga-se, «Beijar uma mulher que fuma é como lamber um cinzeiro!», também eu poderia ficar aqui a tentar competir com o maleável presidente da câmara, produzindo igualmente umas quantas frases nojentas... só que desta vez sobre a sua coluna vertebral e honestidade política... mas não estou com estômago para um tal exercício.

Entretanto, a luta contra as portagens na "Via do Infante", se era justa há uns meses, continua a ser justa... pelo menos para estes e muitos outros cidadãos cujo carácter foi moldado em materiais mais nobres.

O nome da rosa... “light”


Embora desejando que a explicação para esta estória não se prenda com os oitenta anos que Umberto Eco já leva de vida, a verdade é que não consigo encontrar uma boa justificação para ela.
Umberto Eco vai reescrever o seu romance "O nome da rosa" numa versão mais ligeira, para atrair novos leitores.
O potencial desta ideia é esmagador! Já estou a ver “Os Lusíadas” em versão SMS, Eugénio de Andrade todo em quadras para espetar em manjericos... e, como seria fatal, fico a imaginar que já deve estar em preparação uma versão do (belíssimo) filme “O nome da rosa”, mas feito para televisão, em formato de telenovela juvenil de fim de tarde... para a TVI.
Na impossibilidade de se poder contar com Saramago e não vá dar-se o caso de a moda pegar, meti mãos à obra e depois de muito trabalho consegui uma versão igualmente ligeira do meu romance preferido do nosso Nobel da Literatura:

“O ano da morte de Ricardo Reis”
Capítulo... tipo... único
Meu... o Rikardo estava bué da mal. Morreu. Tásse.


Fim