Há-de existir uma boa razão para esta cantiga se me ter imposto como a escolha óbvia para este dia. Não pode ser apenas porque gosto dela. Não pode ser por acaso. Não há-de ser apenas porque sim...
Que diacho!... Alguma coisa deve estar a passar-se, para eu me lembrar logo desta cantiga.
Enquanto não me ocorre o que possa ser, olhem... bom domingo!
O charlatão
(S. Godinho/J. M. Branco)
Numa rua de má fama
faz negócio um charlatão
vende perfumes de lama
anéis de ouro a um tostão
enriquece o charlatão
No beco mal afamado
as mulheres não têm marido
um está preso, outro é soldado
um está morto e outro ferido
e outro em França anda perdido
É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra
Na ruela de má fama
o charlatão vive à larga
chegam-lhe toda a semana
em camionetas de carga
rezas doces, paga amarga
No beco dos mal fadados
os catraios passam fome
têm os dentes enterrados
no pão que ninguém mais come
os catraios passam fome
Na travessa dos defuntos
“charlatões” e charlatonas
discutem dos seus assuntos
repartem-se em quatro zonas
instalados em poltronas
Prá rua saem toupeiras
entra o frio nos buracos
dorme a gente nas soleiras
das casas feitas em cacos
em troca de alguns patacos
Entre a rua e o país
vai o passo dum anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão.
“O charlatão” – José Mário Branco e Sérgio Godinho
(Sérgio Godinho/José Mário Branco)
7 comentários:
E vêm-nos à memória 'cantigas batidas'...
Abreijo.
.... Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.
Dalai Lama
Eu gosto muito do poema e da música, e penso que esta versão está muito conseguida.
Pois bem temos ou não na nossa actual cena política: quem se faz passar por aquilo que não é, e quem explora a boa-fé do público?. Por isso vem muito a paopósito ...
Agora parece que são dois...
Acho que há um colectivo enorme a lembrar-se desta canção por estes dias...:))
beijos,
Pois é, por que raio é que te foste lembrar hoje de tal cantiga!?...
Um abraço.
Olha, eu só a ouvi hoje, mas continuo sem perceber porque diacho a escolheste...
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