sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Não, não é tarde!




Primeiro levaram os comunistas,

Mas eu não me importei

Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,

Mas a mim não me afectou

Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,

Mas eu não me incomodei

Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez

De alguns padres, mas como

Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim

E quando percebi,

Já era tarde.

Nos últimos tempos tenho sido assaltado frequentemente pela memória deste texto do Pastor protestante Martin Niemoller, texto que toda a gente se foi habituando a atribuir a Bertold Brecht e de que existem tantas versões quantas as traduções e realidades em que é citado. De qualquer modo é o seu profundo significado que realmente conta.

Na verdade, a cada dia que passa e pelo caminho que o país está a trilhar, é cada vez maior o número de pessoas (algumas conheço-as pessoalmente) que confessam o seu arrependimento por não terem, há já muito tempo, começado a envolver-se activamente na transformação da nossa triste realidade, participado na luta, nas manifestações, ter erguido a voz... ter estrilhado.

Outros, infelizmente, ainda não são capazes de o admitir publicamente. Outros ainda, desgraçadamente, estão convictamente do outro lado da barricada.

A mudança vai tardando, mas como escreveu o José Carlos Ary dos Santos,

«Levanta-te meu povo, não é tarde
Agora é que o mar canta, é que o sol arde
Pois quando o povo acorda é sempre cedo.»

11 comentários:

Antuã disse...

Cantemos "A Jornada".

Pata Negra disse...

Tantas vezes, quase todos os dias, me dá vontade de atirar com esse texto à cara dos meus pares.
Obrigado pelo esclarecimento do equívoco. De tanto o pensar eu até já me estava a convencer que ele era meu. Que importa?! De um pastor, de um poeta!... tal como o Ary ou Abril, é nosso!!!! E se "o povo acorda sempre cedo" que façamos novamente uma madrugada...
Um abraço que é tarde e amanhã vou-me levantar cedo

Maria disse...

E eu que pensava que era de Brecht...
E este povo vai acordar, um dia!

Abreijo.

trepadeira disse...

Esperamos,esperamos e desesperamos.
Um abraço,
mário

do Zambujal disse...

Conseguiste uma coisa que, sendo útil, desvaloriza a oportunidade do teu "post": a autoria do poema, tantas vezes citado, recitado, sentido "cá dentro", como se fosse do Bretcht... Olha... obrigado pela informação e parabéns pelo "post" (mais um!), com a "ponte" para o Zé Carlos.

Abraço

Fernando Samuel disse...

Ou: «isto vai, meus amigos, isto vai»... «acordai, homens que dormis...»...

Um abraço.

Lídia Craveiro disse...

Quando já não tiverem o que comer(como no tempo do Salazar)é que o povo irá acordar. Espero que não seja tarde, senão o for já.

Lídia

Graciete Rietsch disse...

Mais um verso de Nicolas Guillén
"A aurora é lenta, mas avança"

Um beijo.

Mário disse...

Bonito post, bonito mesmo.

Abraço

José Rodrigues disse...

Provérbio popular:"Nunca falta um chinelo velho(PPD/PSD)a um pé manco(Governo PS/Sócrates)".Por isso dia 24 de Novembro todos à GREVE GERAL!

Abraço

Cloreto de Sódio disse...

Brecht e Ary, homens do seu tempo, homens de hoje, cada vez mais actuais, cada vez mais invocados, cada vez mais necessários. Falta o resto: a vontade indomável do povo que eles elevaram nos seus textos imortais. A vontade indomável.