Tomé Feteira & Soares – Percursos

Na revista “Visão” que fenece hoje, vem um trabalho defunto... perdão, de fundo, sobre o defunto Lúcio Tomé Feteira. Aí ficamos a saber que o indivíduo não passou nunca de um reles bandido que definiu logo o que iria ser toda a sua vida de empresário aventureiro, começando a actividade empresarial com um roubo. Nunca mais parou!

Enquanto foi refinando os seus dotes de canalha, descobriu o truque que lhe possibilitou ir “vendendo”, pelos menos a alguns incautos, uma imagem de cidadão benemérito e amigo dos desvalidos. Enquanto explorava impiedosamente quem se lhe atravessava no caminho, ia, ao mesmo tempo, espalhando notas de conto de réis pelos aflitos que tinha mais à mão, ambulâncias pelos bombeiros... a farsa do costume.

O segundo grande truque, que tal como o primeiro, revela a total ausência de carácter do escroque, foi, durante anos ir fazendo de conta que apoiava a oposição a Salazar, enquanto simultaneamente, era capaz de denunciar à polícia política as “movimentações contra a pátria” de operários vidreiros da Marinha Grande, açular a GNR e a PIDE contra os seus próprios trabalhadores, nunca perdendo os valiosos contactos e favores dentro do regime fascista.

Esta última posição, alinhada com o fascismo, permitia-lhe manter, florescentes, os seus negócios “domésticos”, enquanto a fachada oposicionista lhe ia abrindo portas, internacionalmente, para negociar com governos e empresários estrangeiros que não simpatizavam com Salazar.

Depois desta grande apresentação da besta, acho que é a altura ideal para dizer que não me interessa para nada que tenha morrido, a quem tenha deixado o dinheiro sujo e muito menos quem matou a “herdeira” Rosalina. A única Rosalina por quem tenho (muitíssimo) apreço não passa de uma belíssima criação poética e musical do Fausto Bordalo Dias (pronto... não é bem Rosalina... mas é quase, não é?). De qualquer forma, este meu interesse súbito pela história do reles bandidozeco e a vontade de o partilhar convosco... tem uma explicação.

Lá mais para o fim do tal artigo da “Visão”, li uma passagem que me deixou a rir com vontade... e logo numa dependência da casa que raramente me vê rir... a não ser quando olho para o grande espelho... coisa que evito o mais possível. Nela se conta que, numa altura em que o “decepcionado” e ressabiado Feteira - que brevemente viria a participar em romagens saudosas e inflamadas ao túmulo de Salazar - já vociferava muito e publicamente contra o 25 de Abril, contra a «canalha comunista» e contra «esse assassino Cunhal»... ainda, em cartas, se referia ao amigo de longa data, feito nos tempos da tal “oposição”, o seu amigo Mário Soares, como «O nosso Mário». Enternecedor!!!