terça-feira, 10 de novembro de 2009

Por uma humanidade sem muros


(Muro da Cisjordânia, que continua a ser construído pelo regime israelita)

É legítimo opinar sobre a antiga RDA, mesmo que algumas das opiniões estejam erradas. É importante ter a liberdade de contar estórias sobre a antiga RDA, mesmo que uma grande parte das estórias seja muito “mal contada”.

Já é menos legítimo organizar um “muro” de propaganda realçando unicamente os aspectos negativos da vida na antiga RDA e nos restantes países chamados de leste, mesmo sendo aspectos negativos e contradições entre princípios e prática, de tal maneira graves, que levaram à derrota política de todos esses países. Claro que o fazem com o fim único de esconder uma parte importante da verdade histórica.

Os nossos jornalistas e comentadores, sempre tão prontos a tirar ilações de tudo e mais alguma coisa, mesmo quando por descargo de consciência incluem nas suas peças declarações de cidadãos da RDA, alguns mesmo declarando que não concordavam com muito do que se passava no país, mas ainda assim, defendendo, no essencial, o socialismo e dizendo sem rodeios que então viviam melhor... passam rapidamente em frente, como se estas declarações não tivessem qualquer significado e não fossem repetidas por mais de metade dos alemães da ex RDA. Assim, bem escondida atrás do “muro” da propaganda, fica a triste realidade que por lá se vive. Os trabalhadores e cidadãos em geral da Alemanha de leste são discriminados, sofrem uma taxa de desemprego que ronda os 20%, têm salários médios que chegam apenas a pouco mais de metade dos salários médios dos alemães ocidentais e, embora não tão gravemente como os cidadãos de outros países, como a Rússia ou a Roménia, onde está instalado o caos social, ficaram nas mãos de bandos de criminosos organizados em verdadeiras máfias... a outra face do capitalismo.

Em termos pessoais, sou a favor de uma democracia pluripartidária e da mais transparente liberdade, no que sou, aliás, apoiado pelo programa do PCP e muitos milhares de portugueses sem partido, logo, não era o que se pudesse chamar um simpatizante do Muro de Berlim. Mesmo tendo sido muito bem tratado quando por lá andei não deixei de o dizer...

Os dirigentes da RDA e de outros países da área socialista, consideraram que a construção, ou melhor, a manutenção do muro, tal como outras medidas diferentes na forma mas iguais em significado e grande dureza, eram a melhor maneira de os seus países se defenderem dos ferozes ataques que o mundo capitalista lhes moveu desde a primeira hora. Estavam errados! Não só não foram grande defesa, como contribuíram objectivamente para o afundamento dessas sociedades e para o descrédito internacional de todo o projecto do socialismo, por muito injusto que isso seja.

Agora é necessária muito mais energia e convicção para lutar pelo socialismo, para lutar pelo derrube destes “muros” de propaganda paga a peso de ouro em todos os jornais e televisões pelo grande capital internacional, o qual quer esconder custe o que custar, o que a Revolução significou para os trabalhadores de todo o mundo, em termos de alteração das condições de trabalho e de vida e de conquistas efectivas de dignidade individual e colectiva. O grande capital internacional não perdoa os sustos por que passou (e passa) sempre que os trabalhadores levantam a cabeça.

Pena é ver tanta gente que se reclama de esquerda e que, no seu direito, foi e é contra os tais erros graves da aplicação prática da política nesses países, não ser capaz de se demarcar claramente da festança boçal regada a champanhe que a direita mais retrógrada faz por esta altura, enquanto esfrega as mãos de contente perante as perspectivas de belos negócios alimentados de baixos salários e precariedade e trabalho sem direitos que esses “novos” países proporcionam.

Uma coisa boa resta de tudo isto. É de esperar que pelo menos uma pequena parte destes entusiastas e festivos “comemorantes” do fim do Muro de Berlim, passadas que estiverem as ressacas, se mostrem disponíveis para lutar mais activamente contra os novos muros, não simbólicos, mas bem reais, que estão a ser erguidos, por exemplo, na Palestina, por Israel, para roubar as terras, a água e as vidas dos palestinianos (quando estiver pronto terá mais de 700 quilómetros), nos EUA, o muro na fronteira com o México, para manter os pobres fora do país, exceptuando os muitos milhares de trabalhadores sem papeis, que dão milhões de lucro aos seus patrões (quando estiver pronto terá cerca de 700 quilómetros, mais 800 de barreiras adicionais), o muro de Ceuta, com que a Espanha e a fina Europa se “defendem” dos emigrantes africanos, etc., etc., etc., até pequenos muros para cercar comunidades ciganas, como este, muito recente, na cidade de Ostrovany, na "libertada" Eslováquia.

Abaixo os muros!

20 comentários:

Maria disse...

Grande post! Muitos mais muros poderias mencionar, mas estes chegam. No entanto, hoje e ontem parece, para os media, que apenas existiu o que caiu há 20 anos...

Abreijos

Eu disse...

Brilhante...

salvoconduto disse...

Não sejas assim, não há mais muros, são "vedações protectoras"...

Abraço.

amigona avó e a neta princesa disse...

Além dos que referiste há, infelizmente, um outro conjunto de vários muros! Mas estes são "democráticos"!Não há pachorra!
Abreijos

zemanel disse...

Temos tantos muros para derrubar, tantos muros!
Sobretudo esse muro mostrengo que impede os povos ao lgítimo direito a cuidados de saúde, educação, alimentação!
O muro que afasta a humanidade da dignidade e do respeito entre Homens.
O muro que derrubado, nos deixe esta Terra, sem amos!
Um grande abraço Samuel!

Antuã disse...

Havemos de derrubar esses muros.

Graciete Rietsch disse...

Parabens Samuel. Já não sou nada nova mas enquanto cá estiver não deixarei de tentar derrubar os muros que envenenam os pensamentos. Abraços

César Marrafa disse...

Ora aí está o que todos deveriam ler.
Muito bem, Samuel.
Muito bem mesmo!

Justine disse...

Pois é, amigo, há muros que se vão construindo mas é como se fossem invisíveis...não há comunicação social que os consiga ver!
Grande post:))

Zé Monsaraz disse...

Genial Samuel, o que prometes cumpres! Uma no Cravo de Abril e dez beijinhos no muro, só não sendo vinte por causa de uns malandros, meia dúzia se tanto, que terão cometido erros de planeamento e exageraram nas praxes.E o muro foi para impedir a importação de cocacola com excesso de gás.
Já nos tinhamos despedido? Ainda bem.

samuel disse...

Maria:
É para o que são pagos...

Eu:
☺ ☺

Salvoconduto:
Ah... bom!...

Amigona:
Milhões de muros...

Zemanel:
É quase um muro por habitante...

Antuã:
Passo a passo...

Graciete Rietsch Monteiro Fernandes:
Esses são os mais altos...

César Marrafa:
Lá chegaremos... ☺

Justine:
E se a comunicação não os faz ver... são invisíveis.

Zé Monsaraz:
A provar que é um “indigente” agora acha que o Fernando Samuel do “Cravo de Abril” sou eu. Embora seja um elogio involuntário, apenas prova que não sabe ler.
Ah... e sim, já nos tínhamos despedido. Qual foi a parte que não percebeu?
Passar bem!


Saudações (quase) gerais! ☺

Nozes Pires disse...

Excelente! Subscrevo!

Anónimo disse...

Ora, até que enfim, alguém que menciona o muro construído por Israel.

LAM disse...

Só para dizer que foi dos posts mais lúcidos que li na net sobre este tema.
Nem as nossas modestas comemorações de Abril a cada ano têm tanta cobertura mediática, no entanto são aqui ao pé. E gosto de ver a quantidade de "especialistas" que bota faladura sobre o muro. Temos mesmo muitos comentadores mediáticos "especialistas" para as-coisas-que-vão-abaixo, ficou-lhes da ponte de Entre-os-Rios em que também apareceram "especialistas" de pontes como cogumelos.
Parabéns.

Zé Monsaraz disse...

Ó Samuel, você é um génio a fazer interpretações sobre o que eu escrevo! E a meter na carroça o outro Samuel que por aí anda a bater-lhe palmas de vez em quando."Indigente" é o seu marido. Não percebeu paciência, porque a julgar pela sua teoria sobre muros e enquanto não perceber para que lado deles saltam as pessoas e porquê, seria tempo perdido da minha parte.

samuel disse...

José Augusto Nozes Pires:
Abraço!

Anónimo:
Com aquele tamanho é bem fácil de ver...

LAM:
Especialistas é o que não nos falta.

Zé Monsaraz:
Ó Zé! Então e essa tão anunciada despedida, sai ou não sai?!
Você está em campanha eleitoral, ou o quê, criatura?! Promessas, promessas, promessas... ☺ ☺
Não lhe adianta nada tentar fazer descer isto ao seu nível, porque daqui não leva nada. Se calhar, na vida real você nem é assim, homem... vá lá ter com a sua turma. Já chega, não?
Passar bem!!!

Fernando Samuel disse...

E há. ainda, este murozinho chamado política de direita que barra o caminho à imensa maioria dos portugueses.
Um abraço.

Ana Loura disse...

Mais uma vez valeu a pena ter entrado aqui. Excelente! De leitura obrigatória.

Beijinho

Monsaraz (para os amigos) disse...

Samuel,não empurres pá! És um menino mimado, andas de Samuel(a sombra) às costas e estás habituado a dizer parvoíces sem contraditório. Quando eu precisar de certificação tua para pensar podes então pedir para me entregarem ao PCP, o castigo é merecido. E vou-te dizer: Estou desvanecido por achares que na vida real não sou assim tão mau! Não estamos portanto na vida real, coisa que eu já tinha desconfiado. Se até já trocas as fotografias dos muros!

samuel disse...

Monsaraz:
☺☺☺☺☺☺☺☺