Seja qual for o “achismo” do dia, partilhado com o país pelo Dr. Mário Soares, salvo raras exceções, aquilo que ele vai produzindo aqui e ali... é para o lado que eu durmo melhor. Esta foi uma semana com, pelo menos, duas dessas raras exceções.
A primeira: Na ânsia de dinamitar a candidatura de Alegre já o vimos inventar do nada a candidatura do reacionário populista Fernando Nobre, pondo meia família a trabalhar na sua campanha; já o vimos decidir diversificar, passando a elogiar publicamente as “performances” de Cavaco; agora, para baralhar ainda mais as coisas e, de caminho, tentar fazer com que uns milhares de eleitores fiquem em casa no dia da votação, decidiu que as Eleições Presidenciais
«interessam relativamente pouco». Fantástico, não é?
A segunda: Na sua mais recente homilia semanal no DN, entre o “bric-à-brac” normalmente mal escrito com que enche uma página inteira do jornal, decidiu tecer uns comentários sobre o Nobel chinês Liu Xiaobo e o erro que as autoridades de Pequim estariam a cometer ao darem-lhe tanta visibilidade, comparando mesmo esse alegado erro a outros casos, que na sua opinião foram igualmente grandes erros, por parte de Moscovo e em relação a Pasternak, Sakharov e Soljenitsin...
Claro que esta opinião é um direito que assiste ao Dr. Soares, mas a frase que me prendeu a atenção foi aquela em que diz que esses erros de Moscovo foram cometidos
«quando a Grande Rússia ainda era apenas URSS». Delicioso, o pormenor do
"apenas"...
Ficamos então a saber que, na turbulenta cabeça de Mário Soares, independentemente do papel que a Revolução de Outubro e a própria existência da URSS tiveram nas mudanças operadas no mundo e no avanço das conquistas dos trabalhadores, internacionalmente, mudanças e conquistas respaldadas naquela realidade, agora que, depois do acumular de erros que levaram à sua derrocada (sem, mesmo assim, conseguir fazer ruir os ideais!)… agora é que “aquilo” é a Grande Rússia! Fantástico, não é?
Mas já chega! Aqui neste estabelecimento, aos domingos e sempre que se pode… ouve-se boa música. Portanto, já que falámos de “grande Rússia”, concentremo-nos nalguma coisa realmente grande e ostensivamente russa. Façam-me o favor de escutar estes jovens ortodoxos de Moscovo, dentro de uma igreja ortodoxa, a cantar o mais ortodoxamente que sabem. E como sabem!!! Reparem no moço com cara de ser o mais novo de todos (Chernegov-Nomerov Egor), que está mais à frente e que canta um pouco mais “alto”.
Eu e as religiões, há muitos anos que só nos conhecemos de vista... mas juro que se tivesse ao pé de casa uma igreja assim, muitas vezes haveriam de me ver, discretamente sentado lá ao fundo, mas cantando por dentro.
Bom domingo!
“Gabriel apareceu” – Coro Ortodoxo Russo
(Pavel Chesnokov)