domingo, 2 de agosto de 2020

PARA O ZECA (2 de Agosto de 1929)






Texto escrito para o Zeca, aquando da sua prisão em Caxias. 

Vivia eu então na Cruz Quebrada, corria o ano de 1973.


 

E DE SÚBITO A VOZ

(Samuel)


E de súbito a voz 

não que se cale o mar 

de encontro à muralha 

nem morte deixe de bater

A porta de quem grita pela vida 

é o poiso escolhido

          

As aves continuam a cantar de longe

o Sol ainda passa retalhado nas grades

As grades filtram tudo: 

o ar, a luz, a vida

a vida lá de fora.

          

Mas o mar continuou a bater 

e o Sol mesmo retalhado 

continua a aquecer 

os pés do magro cantor

cantor ou não.

          

E é de súbito a voz 

a por na força bruta da paisagem 

uma nota de cor 

de vida não domada 

em jeito de ameaça e cumprimento:

          

Tereis notícias minhas!