sábado, 8 de agosto de 2020

Vasco - 8 de Agosto de 1975








Nesta data, há 45 anos, tomava posse pela última vez aquele que foi o meu primeiro-ministro. O único que me merece saudade.

Escrevi estas palavras há uns anos, para incluir num livro que lhe foi dedicado (“Vasco Nome de Abril”)… e não vejo razão para escrever outras.



Vasco Gonçalves – Reconhecer os sinais!


Não podemos somar bondade aos homens bons. Não podemos acrescentar coragem aos heróis. Não podemos somar mais dor às prisões e torturas sofridas por Mandela ou Cunhal. Não podemos somar bravura desinteressada a um Salgueiro Maia.

Não podemos, não porque nos falte a boa-vontade… mas sim por falta de talento, ou de valor.

Vasco Gonçalves pertence a essa galeria de seres humanos a cujos nomes já nada se pode acrescentar. Porque já foram inventados todos os insultos que era possível ele ter sofrido… da mesma forma que, do outro lado da barricada, nos faltam as palavras para mais e melhor o honrarmos.

Vasco Gonçalves é hoje, como era então, uma luz que não é possível agarrar. Um estado de espírito. Uma porta para chegar ao amanhã. Uma ideia motora.


Naquele tempo, de repente, estivéssemos numa cooperativa do Alentejo, numa fábrica do Barreiro ou da Marinha Grande, ou num barco de pesca dos Açores, tínhamos em comum, para além da luta, das canções e dos sonhos... um mesmo companheiro. Um nome para dizer em coro. Um companheiro que grudava a nossa diversidade e forjava toda a unidade. De cada vez que se cantou “força, força, companheiro Vasco”, foi quem cantou que ficou mais forte. Infelizmente, não o suficiente.


Durante um curto espaço no tempo, vislumbrámos a forma real da “utopia”. Conseguimos colocar legendas nos nossos sonhos. Conseguimos demonstrar que as utopias são apenas projectos por concretizar. Quase conseguimos ver a forma e sentir o sabor do futuro. 

Pela primeira vez em muitas décadas, adormecíamos com a profunda convicção de que o dia seguinte ia ser melhor. Com vontade de acordar para esse dia. Com vontade de participar na sua construção e orgulho nas marcas que as nossas mão iam deixando. Com vontade de fazer filhos que o vivessem. Tal era o efeito de ter no poder, pela primeira vez nas nossas vidas, um dos nossos. Um companheiro. Um amigo. Um camarada.


Não fomos, então, como cantando prometíamos... uma “muralha de aço”. Estamos a pagar bem caro por isso! 

Saibamos agora ser a casa onde se guarde, carinhosamente, a sua memória e o seu exemplo. Para não esquecer e, sobretudo, para nos mantermos familiarizados com os sinais que distinguem estes raros homens bons. Para, sempre que a nossa História colectiva se cruzar com mais um deles, não desperdiçarmos a oportunidade de lhes dar, sem reserva, as nossas mãos e fazermos com eles o caminho para o futuro.

11 comentários:

ferroadas disse...

Então estás de volta. É para continuar, ou deu-te dor de cabeça no facetas?
Abraço

samuel disse...

No Facebook estou em "férias" de trinta dias... até ao final de Agosto.
Por aqui, se vir que há reacção ao regresso e for sendo positiva... irei continuando.
Abraço.

Anónimo disse...

Quanto eu gostava de ter escrito isto!...
P.F. nao voltes a desaparecer daqui.

Anónimo disse...

Quanto eu gostava de ter escrito isto!...
P.F. não voltes a desaparecer daqui.

Justine disse...

Homem íntegro, ético, inteiro! Saudades dele, tristeza por existirem tão poucos como ele a chegarem ao serviço público!

(Se for para ficares por aqui, até venho comentar 2x/dia!!!)

Sérgio Ribeiro disse...

Forte abraço, Samuel!

Sérgio Ribeiro disse...

Forte abraço, Samuel!

samuel disse...

Aqui está o que se pode chamar um bom incentivo, Justine!

Mar Arável disse...

Memórias vivas
Abraço

Maria disse...

Saudades do único PM que me pôs a trabalhar, de borla, a um domingo. Que pena tenho de não o ter podido continuar a fazer os domingos todos dos anos todos até agora...

Jota Daniel disse...

O facebook é mais "visível", mas um blog é sempre um blog.
Abraço e boas férias