Ontem, no convívio em Alpiarça, onde como estava previsto fui cometer umas cantigas, correu tudo muito bem... e a ele havemos de voltar...
Nestas sessões musicais ao ar livre e em ambiente de festa, para além de quem vai cantar ao vivo, há sempre os “acidentais” companheiros e companheiras de cantigas que, abnegadamente, preenchem os tempos mortos em que ninguém sobe ao estrado para anunciar alguma coisa, fazer um discurso, ou cantar. Em Alpiarça não foi diferente. Assim, lá foram desfilando as gravações mais ou menos recentes do Vitorino, Fausto, Sérgio Godinho, Adriano, Zeca Afonso, Deolinda... e subitamente, uma bastante menos provável, Amália Rodrigues. Com uma canção igualmente improvável do seu reportório discográfico... a “Grândola Vila Morena”.
Embora isso não seja assunto para hoje, na verdade, o facto de Amália “estar ali” num convívio de comunistas, cantando a “Grândola”, é muito menos estranho do que possa parecer à primeira vista...
Uma coisa sei. Ela tinha um belo sentido de humor, tinha um excelente gosto para escolher poetas e compositores para uma grande parte dos seus fados... a que se somava um talento inesgotável. Tudo isto vem a propósito desta música que há tempos encontrei, interpretada por um dos mais criativos intérpretes do “Swing Manouche”, género musical praticamente criado pelo enorme guitarrista de jazz, um belga e cigano, que conseguiu escapar ao Holocausto nazi, Django Reinhardt. O moço chama-se Sanseverino. Ando sempre acompanhado com alguma da sua música meio louca e transbordante de energia, para ouvir em viagem... e já que me cruzei acidentalmente com a Amália, aqui fica um tremendo divertimento do Sanseverino e do seu grupo de músicos, uma adaptação do “Vou dar de beber à dor” (Casa da Mariquinhas) transformada em “La maison sur le port”, versão que certamente teria feito as delícias da grande artista portuguesa. Primeiro, porque sabia reconhecer o talento. Segundo, porque gostava de gente nova. Terceiro, porque devia ficar contente vendo alguém usar a sua música e o seu nome apenas pelo grande divertimento musical da coisa e não para se servir dela... ao contrário de outros, por cá...
“La maison sur le port” – Sanseverino
(Alberto Janes/Sanseverino)
12 comentários:
Ia perguntar-te que tal correra Alpiarça... origado pela resposta antecipada. Ainda tentei arranjar as coisas para lá darmos um salto, mas não foi possível. Era um salto muito grande.
Obrigado, amigo, pelas notícias, pela Amália, pelo resto.
Abraço
Simplesmente delicioso...
Abreijos.
Estranho... que agora teçam tão rasgados elogios à Amália, quando todos ainda nos lembramos que os comunistas lhe fizeram a vida negra, a votaram ao ostracismo e pouco faltou para a enterrarem viva... só porque entenderam que a Amália tinha colaborado com o regime de Salazar!!!
Coitada da Amália, que tanto teve de sofrer; antes, com o Salazar, quando este lhe fazia desaparecer os amigos mais próximos e importantes, como o Alan Ulman, entre outros; depois a arder, ela própria, na fogueira que os grandes antifascistas e democratas comunistas lhe atearam!!!...
Descansa em PAZ, Amália... finalmente!...
Em jeito de nota de roda-pé: -sempre quero ver, Samuel, se aqui se pratica o tão apregoado por vós direito de cidadania democrática, publicando o comentário que aqui deixei há instantes!!!... já que o outro do almirante vermelho, esse foi direitinho para o LIXO!
Os meus democráticos cumprimentos!
Essas e outras surpresas da Amália ao teu dispor:
http://ocastendo.blogs.sapo.pt/tag/am%C3%A1lia+rodrigues
Obrigado Samuel
Notável acima de tudo o divertimento que os musicos tiveram nesta performance
Sobre uma melodia de Alberto Janes, como já disse por aí Farmaceutico em Mourão ou será Reguengos ??
Tu descobres tanta coisa bonita, camarada Samuel. Eu gostei e a Amália também teria gostado, ela que até contribuiu para o apoio aos presos políticos!!
Um abbraço, camarada.
Que coisa mais bem feita e divertida!
Que seria da minha cultura musical sem a tua contribuição???Obrigada:))
Deve ter sido uma bonita festa e o teu contributo, abrilhantou-a ainda mais.
Gostei imenso de ouvir Sanseverino.
Quanto ao fado, já fiz TUDO para gostar de fado, não tenho remédio e tenho pena!
Bjs,
GR
As minhas visitas ao teu Cantigueiro são sempre altamente proveitosas: no caso de hoje, para além de ficar a conhecer esta magnífica e divertida versão de Dar de beber à dor, fiquei também a saber que as vezes que me encontrei e falei com a Amália (antes e depois do 25 de Abril) foi para lhe fazer a vida negra e lhe atear a fogueira...
Um abraço
Alto! Alguém aqui veio pôr em causa o que Samuel escreve???Conhecem-no mal, certamente...
Tenho para mim que Samuel só escreve o que acha que deve ser escrito e é sempre muito bem escrito.
meu caro,
vim parar ao seu blog pelo saramago mas acabei aqui com a amalia :)
escrevo so estas linhas para informar que a propria amalia cantou esta versao e gravou-a, existe um disco chamado amalia universal em que pode encontrar as gravaçoes que amalia fez em varias linguas de versoes e outas musicas como a tarantela de italia ou esta musica.
um abraço amigo e obrigado
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