quinta-feira, 31 de julho de 2008

Cavaco Silva ao jantar




Ver Aníbal Cavaco Silva com a boca aberta cheia de bolo-rei é deprimente. Vê-lo com a boca aberta para falar ao país sem ter nada para dizer ao dito, é ainda mais deprimente. 
Mas lá está... o defeito deve ser meu, que acho que tudo em Cavaco Silva é deprimente.
A menos que alguma alma caridosa me explique muito bem e devagar para que serviu realmente esta "teatrada" do Presidente, por muito certas que estejam as tecnicalidades de que falou, ficarei convencido de que perdeu uma soberana (ou presidencial) oportunidade para continuar de férias e calado.
Peço desculpa pela fotografia também algo deprimente...

Cunhal, Soares... e Marx





Acabei há pouco de ver na RTP1 o programa de Mário Soares com a Clara Ferreira Alves, hoje uma (sem dúvida) interessante viagem pelo imenso e valioso conjunto de livros que ele foi juntando ao longo da (próspera) vida. A parte em que Soares confessou o grande aborrecimento que era para ele (quando mais jovem) a obra de Karl Marx, cujos livros, ou pelo menos alguns, só conseguia ler até à página cinco ou pouco mais, reacendeu-me a esperança de que fosse ali, na célebre casa do Campo Grande, que estivesse a "célebre gaveta" do socialismo... se está, não se viu.
De qualquer maneira, não resisto (inspirado por esta passagem do programa) a fazer aqui a adaptação livre de uma história que costumo contar, embora com outras personagens e outro assunto, esperando que a dita, a acontecer realmente, seja daqui por muito tempo, pois não quero pessoalmente que nada de mal aconteça ao Dr. Soares.

A história passa-se no céu (e por quê não?). Está Álvaro Cunhal bebendo o seu cafezinho a seguir ao almoço (sim, tal como na Soeiro), muito descansado e perdido nos seus pensamentos, quando chega Mário Soares, com o alarido do costume:
- Ó Cunhal. Tá bom? Você vai-me desculpar, mas ainda ontem estive ali no "auditório 2" a assistir a uma palestra do Marx... e não há volta a dar-lhe! Não me disse nada!... 
Cunhal, calado a olhar para o café. Soares insiste:
- É que passam os anos e não adianta... Não me disse nada!
Cunhal, finalmente levanta os olhos da chávena.
- Ó Soares. Você não me diga!... O Marx não lhe disse nada? A sério? Nem sequer o mandou à merda?

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Mudasti, Mudasti!...



O entusiasmo de certa alegada esquerda europeia que se apressou a justificar a sua "obamamania" com a pretensão de que o candidato do Partido Democrata norte americano é "um dos seus", sofreu um revés no mínimo humilhante. É que para Barack Obama, os únicos "socialistas" minimamente toleráveis, são os que estão no poder. Os que não estão, são pouco mais que "terroristas", como os dirigentes do PS francês que tudo fizeram para se encontrarem com ele, durante a (curta) visita a Paris, sentiram na pele, ao verem as suas pretensões liminarmente recusadas pelo putativo futuro presidente estadounidense.
Desde que ouvi esta notícia, vou-me lembrando dela várias vezes ao dia e de todas a vezes rio muito... depois penso nos entusiasmos de Soares e seus pares... e rio ainda mais.
A vitória de Obama vai produzir uma grande e profunda mudança, no mínimo, mundial!
Como dizia uma personagem dum filme italiano (daqueles muito bons), "Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude!"

terça-feira, 29 de julho de 2008

Que falta lhes faz uma boa lição...



Sobre os pedidos de várias famílias para fazer exercícios mais ou menos bem humorados sobre aquela coisa da Madeira... não adianta!... Gostava muito de vos fazer a vontade, os deuses sabem que eu próprio bem precisava de rir um bocado (mesmo com algo escrito por mim)... mas não há por onde pegar. O nosso incomparável Jardim foi mesmo muito brando. Aquilo dos Tribunais e a PSP serem “forças de ocupação colonial” não é realmente nada se comparado com o que ele consegue produzir numa qualquer tarde inspirada.
Claro que podia contar com as declarações sempre mais “hardcore” do delicado Jaime Ramos, só que aí a coisa está pior. Enquanto não conseguir algum técnico que me conserte o “Grunhómetro” (sim, é o aparelho de áudio, por sinal, caríssimo, que se vê na fotografia), não consigo entender um único som cometido por esse ilustrado orador.

Assim, para remediar a situação, socorro-me do sempre inspirador PS, que como sabemos, segue a doutrina, princípio, atitude (ou lá o que é...), que mais tem contribuído para o avanço das Ideias e da Humanidade e que é... “Não recebemos lições de ninguém!”. E acrescento eu, sobre coisa nenhuma e “jamé”.
Desta vez calhou ser sobre a corrupção e o “inimigo” foi o Eng. Cravinho (e as suas declarações), logo devidamente insultado nos jornais e rádios, nomeadamente por ter deixado a “sua” luta contra a corrupção a meio. Este “a meio” corresponde à sua ida para fora do país, para ocupar um cargo oferecido exactamente pelo PS. Se João Cravinho pensava que não lhe iam atirar com a “ausência” à cara logo na primeira oportunidade, é bastante ingénuo.
De qualquer maneira, isso não interessa nada. O que eu quero mesmo dizer é que esta verdadeira ânsia de alguns membros e dirigentes do PS de não aceitarem lições de ninguém sobre seja o que for, não passa de uma tentativa patética de imitar o actual chefe, só que isso é verdadeiramente uma missão impossível.
Sócrates já domina com grande arte a técnica do “não aceito lições de ninguém e sobre seja o que for” desde os bancos da escola. A antiga primária, a secundária e com o estrondo que se conhece, a Universidade.
Os resultados começam a estar bem à vista!...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Ideologia "sonante"




O irrepetível ministro António Pinho, disse do seu ministério e do próprio governo, que são "uma direcção comercial de luxo". Que raio de dirigentes políticos é que se referem ao seu trabalho nestes termos?! Mas não é isso que interessa.
Para comentar esta frase feliz do ministro, eu recorreria a uma qualquer referência de uma letra de uma cantiga, a uma historieta passada com algum amigo, ou o que seria o mais comum, a uma piada meia aparvalhada. É o dia a dia neste blog...
Já o Sérgio Ribeiro, do "Anónimo do Séc.XXI", não! Valendo-se da grande vantagem que lhe dão os seus "50 anos de economia e militância" (isto daria um bom título...), lembrou-se imediatamente de um alemão barbudo que há uma data de anos escreveu um "Manifesto", onde a páginas tantas, disse:
"O moderno poder do Estado é apenas uma comissão que administra os negócios de toda a classe burguesa." 
Quem sabe, sabe e parece que este já conhecia Sócrates e os seus ministros de ginjeira.
Depois desta tirada do tal de Karl Marx, como é que eu comento a triste frase do pateta Pinho?

Muito havia para dizer deste Sábado e Domingo, sendo que o que me apetecia mais comentar era aquela coisa da Madeira, que parece um comício político mas não é, parece uma festa mas é extremamente triste, parece mentira mas infelizmente é verdade. Não me atrevo a tanto, assim sem maior e mais profunda reflexão. Embora na escola achasse alguma graça às Ciências Naturais, a evolução das espécies nunca foi bem o meu forte e francamente, "aquilo", confesso que não sei bem como classificar.
Venha mais uma semana!

domingo, 27 de julho de 2008

Disparada




E perguntam vocês: "Porque é que o Chico Buarque estará abraçado àquele rapaz bem parecido e extremamente moreno?"
Primeiro, porque não é racista. Segundo, porque são amigos e os amigos têm esta mania de se abraçarem por tudo e por nada. Terceiro, porque tinham acabado de dividir o primeiro lugar num Festival de Música Popular Brasileira. Foi em 1966, no princípio da ditadura militar no Brasil.
A cantiga do Chico foi "A Banda", cantada por ele e Nara Leão. A do amigo do Chico foi a "Disparada", grande e surpreendente cantiga, com música de Theo de Barros e letra de Geraldo Vandré. Esse mesmo... que dois anos depois ganharia outro festival cantando a sua cantiga mais conhecida, "P'ra não dizer que não falei de flores", mais conhecida por "Caminhando e cantando" ou "Vem vamos embora".
Ah... o amigo do Chico tem nome. Chama-se Jair Rodrigues, grande figura da MPB.
Esta "Disparada" tornou-se um êxito instantaneamente. Por mérito próprio e com a "ajuda" da imediata proibição de que foi alvo.
O vídeo que proponho tem má imagem e um som muito fracote, mas é um grande documento.
Reparem ainda na piada que tem o espanto de algumas das senhoras muito "bem" que decididamente não tinham ido ali para ouvir cantigas destas e nas cataduras sombrias dos polícias e militares misturados entre o público, que têm a perfeita noção de que aquela canção "não devia ter acontecido ali".
Lindo é o verdadeiro "levantamento popular" que se dá em algumas passagens da letra e da "atitude" do cantor. Por vezes quando assisto a este tipo de sintonia em reacção a cantigas de intervenção, incluindo algumas "das nossas", penso que se é certo que uma cantiga não pode mudar o mundo, mesmo assim... que aconteceria se repentinamente milhões e milhões de pessoas começassem a cantar bem alto "a mesma música"?

Actualização: Desde há quase um mês, altura em que vi este vídeo em dois blogs praticamente no mesmo dia, tinha decidido fazer igualmente um post com ele. Coloquei o vídeo nos meus favoritos no Youtube, copiei a fotografia a preto e branco (a mais bonita), tomei nota num papel dos nomes dos blogs, mas... o "bendito" papel perdeu-se na bela confusão desta "espécie de estúdio". Fiz mesmo assim o post, embora sem poder fazer a referência devida aos blogs que me deram a ideia. Um leitor atento (Jorge???), resolveu-me metade do problema. Um dos blogs foi "O Castendo" do António Vilarigues. Obrigado!

Divirtam-se e bom Domingo!


Disparada
(Geraldo Vandré e Theo de Barros)

Prepare o seu coração
Prás coisas
Que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar...

Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo prá consertar...

Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu...

Boiadeiro muito tempo
Laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
E boiadeiro era um rei...

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos
Que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei...

Então não pude seguir
Valente em lugar tenente
E dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente...

Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto prá enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe
Do que eu...

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei

"Disparada" - Jair Rodrigues
(Geraldo Vandré/Theo de Barros)

sábado, 26 de julho de 2008

Barack Obama



Barack Hussein Obama, em visita a Berlim, entre outras coisas falou da grande importância de "impedir novos muros". É uma bonita frase!...
Pena que não se tenha lembrado de a dizer quando esteve recentemente em Israel, prometendo uma "Jerusalém indivisível" e dando o seu apoio "inequívoco" ao criminoso governo israelita e ao seu (alegadamente) corrupto primeiro-ministro. É que este crime contra a humanidade, em forma de muro, com que Israel decidiu tornar a vida ainda mais impossível aos palestinianos vê-se tão bem!... Como raio é que lhe foi "escapar"?

Devo estar mesmo a ir para velho e a perder completamente a paciência. A verdade é que o homem ainda nem é presidente e eu já lhe acho muito menos graça, que me desculpem as resmas de portugueses que estão apaixonados por ele.
Não é que eu esteja interessado... mas haverá alguma medicação para esta minha maleita?

Adenda:  É evidente que se eu fosse "estadunidense", teria preferido Obama a Hillary Clinton e que em dia de eleições, não teria a menor dúvida (que remédio!...) em votar neste candidato do Partido Democrata, mas lá está... não sou. Logo, sou livre de "valorizar" como bem entendo os suaves desvios de rota no sentido dos discursos de Barack Obama, que quanto mais se aproxima o dia dos votos, mais se afasta do "poético" início de campanha, para se aproximar do pragmatismo que se calhar é necessário para ganhar eleições nos EUA, sem arriscar ser assassinado na semana seguinte à tomada de posse (longe vá o agouro!).

quinta-feira, 24 de julho de 2008

"Viva la muerte!"



O Fernando Samuel do blog "Cravo de Abril" utilizou uma frase tristemente célebre do general fascista espanhol Millán Astray (em cima, a preto e branco, à direita do seu dono, o criminoso "generalíssimo" Franco), para ilustrar um texto sobre o assassino Álvaro Uribe (em cima, a cores, à direita do seu dono, o criminoso Bush). O texto está tão bem feito que me limitarei a aqui à sua reprodução integral, dada a grande importância de se ir entendendo o que se passa realmente na Colômbia e sendo certo que não veremos estas informações na nossa, digamos assim, comunicação social.
O meu contributo limita-se a esta introdução e à montagem fotográfica, que mais parece uma lixeira a céu aberto.
Um abraço.


«Viva la Muerte!»

«Viva la Muerte!», era uma das frases utilizadas pelo general fascista Millán Astray para exibir a sua dimensão... humana.

Em 12 de Outubro de 1936, no decorrer de uma sessão na Universidade de Salamanca, Millán Astray enriqueceu a ideia, acrescentando à frase um novo condimento: «Muera la Inteligencia! Viva la Muerte!».
Aí está o que bem poderia ser a palavra-de-ordem do poder capitalista dominante, hoje.



Vem isto a propósito da forma como os jornais portugueses têm tratado os acontecimentos na Colômbia.

Com efeito, lendo-os parece estarmos perante uma tradução adaptada ao tempo actual da frase do fascista espanhol, em que os elogios a Uribe e aos seus homens de mão soam como autênticos gritos de Viva la Muerte! gritados à maneira actual, ou seja, decorados com os habituais enfeites pseudo democráticos - e complementados com a desinformação dos leitores, quer divulgando notícias falsas sobre a realidade colombiana, quer silenciando cuidadosamente os brutais crimes do regime de Uribe.



Por isso aqui ficam mais alguns dados sobre a realidade colombiana nessa matéria, desta vez tirados de um relatório da Amnistia Internacional (AI).

Informa esse relatório que, «em 2007, aconteceram na Colômbia 280 execuções extra judiciais». As vítimas, na maioria camponeses, foram apresentadas pelos militares como sendo «guerrilheiros mortos em combate».

Por seu lado, os grupos paramilitares cometeram 230 assassinatos no mesmo ano de 2007.

Ainda em 2007, estes grupos paramilitares - ligados, como se sabe, ao narcotráfico - «roubaram 4 milhões de hectares de terra a camponeses pobres».



Sempre segundo o relatório da AI, os que se queixam destes crimes à justiça correm sérios riscos, tal como os seus advogados de defesa. 
Exemplos: Yolanda Isquierdo, advogada de várias famílias vítimas dos paramilitares, foi assassinada no dia 31/1/2007; a advogada Carmen Romaña, que representava vítimas de roubos de terras, foi assassinada a tiro no dia 7/2/2007.



Quanto aos sindicalistas - que Uribe considera serem «elementos subversivos» - são alvos preferenciais da repressão.

Assim, informa a AI, durante as duas últimas décadas, foram assassinados 2. 245 sindicalistas e desapareceram 138 (estes desaparecimentos correspondem, regra geral, a assassinatos) - e 3. 400 sindicalistas estão ameaçados de morte.

Mais de 90% destes casos não foram sequer investigados - aliás, segundo a AI, «mais de 40 legisladores são suspeitos de ligação aos paramilitares»...



Eis, em resumo muito resumido e parcial, um retrato do governo de Uribe - que os média portugueses não se cansam de elogiar e apresentar como um exemplo de governo democrático...

Publicado por Fernando Samuel, "Cravo de Abril", em 24.07.08

José Sócrates, cárdio-torácico




Animado pelo facto de estar perante um público composto maioritariamente por deputados do PS e tendo, por isso, a garantia de que pelo menos de forma ostensiva ninguém se riria, José Sócrates aproveitou para arejar algumas das suas ideias e frases em que ostenta uma profundidade político-intelectual só (talvez) comparável às conversas que eu ouvia deliciado, vindas de dentro de um pequeno aquário de uma colega de escola que tinha a paixão dos "guppies".
Aqui é que a porca torce o rabo! Por razões que não vêm ao caso, tive recentemente o prazer de ser agraciado com 3 bypasses coronários e considero portanto que pertenço ao número de pessoas de coração razoavelmente limpo e (pelo menos durante três horas e meia) completamente aberto, direi mesmo, escancarado. 
Como constato que, para meu espanto, não acredito nas qualidades deste Código de Trabalho da mesma maneira que não acredito numa palavra dita pelo nosso Presidente do Conselho, tenho duas atitudes possíveis a tomar:
1. Continuar a não ligar a ponta de uma haste ao que diz a criatura.
2. Pedir uma choruda indemnização à equipa de Cirurgia Cárdio-Torácica do Hospital de Santa Maria.
Que fazer?

Observação extra e final:
A última vez que me cruzei com o Evangelho segundo São Mateus, o capítulo 5 no seu versículo 8, dizia: 
"Bem aventurados os limpos de coração, pois eles verão a Deus!"
Não diz nada sobre códigos laborais... o que me leva a desconfiar que José Sócrates fez também a catequese...  por fax.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ciganos



"Com os ciganos aprendi a tocar guitarra e a fazer umas pequenas aldrabices... as grandes aldrabices nunca são feitas pelos ciganos!"

Esta é uma frase habitual do cantor Paco Bandeira e que lhe serve há mais de trinta anos para nos espectáculos fazer a introdução à cantiga "Marilúcia" (...era a moça mais bonita das ciganas), cantiga que (entre outras) lhe garantiu a amizade sem reservas da comunidade cigana em Portugal.
Eu não tenho competência para analisar as gerações de asneiras sociais, políticas, humanas, urbanísticas, etc, que levaram à idealização e construção à volta das grandes cidades, cá como noutros países, desses monumentos à intolerância e racismos de todos os tipos, disfarçados de assistencialismo e preocupação social, que são os vulgarmente chamados bairros "sociais".
Pessoalmente, lamento que um povo historicamente ligado a uma noção de indomável liberdade, cultura própria por vezes com manifestações brilhantes, por força de tantas caras e portas fechadas, Santas Inquisições, Holocaustos, incompreensão e o nosso imenso medo do desconhecido, se tenham deixado aprisionar pela triste imagem que alguns dos seus dão, uma imagem de criminalidade, pedinchice hipocritamente humilde, hábitos de violência, problemas com droga... que a nossa sociedade se encarrega de colar como rótulo em toda a comunidade, como faz aliás com todas as "diferenças", sejam pretos, árabes, ciganos, etc, os quais são quase sempre "todos" uma coisa qualquer e quase sempre sempre má.
Adoraria ter uma solução para estes problemas... mas não tenho. Para manter o espírito aberto e ajudar a acalmar uma certa paranóia securitária que sempre se instala nestas alturas, fico-me por esta ideia que não passa de um desenvolvimento "à minha moda" da tal frase do Paco Bandeira com que comecei.
"As grandes aldrabices nunca são feitas pelos ciganos!"
Pois não!... Alguém ouviu falar de algum cigano ligado àquele negócio de quase 500 milhões em material de comunicações que afinal valia um quinto
Algum cigano passou recentemente de algum Ministério directamente para o Conselho de Administração de alguma empresa com que "despachava" enquanto ministro, especializada em, sei lá...  Lusopontes?
Algum cigano esteve embrulhado no negócio da concessão do Casino Lisboa?
Agora podia ficar aqui um bom pedaço de tempo a acrescentar histórias em que nunca vi ciganos, mas a hora vai tardia. Repito, não tenho soluções para os problemas das minorias, mas uma coisa de que gostaria (quem sabe... um princípio de solução) era de não ver os nossos "responsáveis" tratarem estas comunidades como peças de quinquilharia que se podem mudar daqui para ali e depois para acolá... até ficarem a "dar com a decoração".

terça-feira, 22 de julho de 2008

Colombo



Para quem não conheça de todo Lisboa, informo que a aberração da imagem acima é o famoso Centro Comercial Colombo, uma criação (mais uma) do génio criador da "sonae". O CCC é tal como outras invenções destas gerações de medíocres que nos têm governado, o que eu costumo comparar a um belíssimo bolo, com uma cobertura bonita, colorida e doce, mas que por dentro é de esferovite.
Por mais que as pessoas viciadas no consumismo se encantem com as (cada vez maiores) "grandes superfícies" e com a comodidade e a maravilha que é poder ir a um sítio e ter à disposição quase tudo o que existe à face da Terra, como se alguém alguma vez saísse de casa para ir comprar tudo o que existe à face da Terra, não consigo deixar de pensar nas consequências do aparecimento de cada um destes "paraísos", a saber, a destruição de muitas centenas de lojas de pequeno comércio de proximidade, em que se devia ter investido para que oferecessem serviços de qualidade, na destruição da vida de bairro e animação das ruas que esse pequeno comércio garantia (entre muitas outras coisas) e na destruição da qualidade de vida dos milhares de pessoas que trabalham diariamente dentro destas gigantescas catedrais do dinheiro.
Têm muitas coisas em comum. São jovens, são explorados, não têm esperança alguma no "futuro" daqueles empregos, que não os deixam morrer de fome mas que também não lhes permitem partir para voos mais altos, como pagar e acabar melhores estudos, etc, etc... e muito importante, têm como ordenados quantias fantásticas que vão do ordenado mínimo nacional até aos... 500 euros!...
Têm ainda, neste país cor-de-rosa de Sócrates, mais uma coisa extraordinária em comum: o medo! Todos os que falaram para este trabalho do DN, "preferiram" manter o anonimato.
Dá que pensar... ou não dá?

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Festa da Alegria em Braga???




Uma certa noite, estando El Rei de Portugal na entrada do seu palácio à espera de um transporte que o levasse a uma noitada de fados "num salão de um titular, lá para o Paço da Rainha", apanhou o seu secretário numa mentirola (o termo "inverdade" só seria descoberto muitos anos mais tarde) e terá dito a célebre frase "Mais depressa se apanha um mentiroso do que um Coche!" (os ditos, antepassados dos táxis, já nessa altura nunca apareciam quando eram precisos).
Passou-se o mesmo com alguns dos meus amigos, vá lá... uns milhares, que quiseram combinar uma patuscada sem que eu soubesse para onde iam e vá de "inventar" uma tal Festa da Alegria, que teria lugar em Braga. 
Foi uma desculpa esfarrapada que não resiste a uma simples pesquisa no Google. Tirando o "Avante", que nitidamente está feito com eles e um ou dois pequenos jornais que por qualquer razão particular alinharam em lhes confirmar a peta que me quiseram pregar, a "realidade" é só uma: ao que parece, não existiu Festa da Alegria absolutamente nenhuma. Desde as televisões ao "órgão central da sonae"... nada!!!
Vá lá... dando ainda o benefício da dúvida aos amigos e acreditando que de facto se passou qualquer coisa "género" festa em Braga este fim de semana, fico absolutamente certo de uma coisa: não esteve lá ninguém nem nada que se assemelhasse mesmo que vagamente às FARC, senão todos os "media" acompanhados de 10.000 blogues, estariam hoje em polvorosa.


Festival Músicas do Mundo - Sines 2008



Por qualquer razão "misteriosa", aquele que é talvez o mais interessante festival de música a decorrer no nosso país neste momento, é o que quase não tem nenhuma espécie de atenção por parte dos órgãos de comunicação social.
Não quero pôr defeito algum nos trezentos e vinte e sete festivais rock e pop (e foleiro, em alguns casos) que invadem o Verão um pouco por todo o lado, nem tentar explicar aqui, à uma da manhã, o que acho da "razão misteriosa" com que comecei o post. Deixo apenas o link para a página da net do Festival Músicas do Mundo 2008, a decorrer em Sines (e não só), esperando que apreciem o programa disponível e façam vocês mesmos as considerações que acharem pertinentes.
O facto de (possivelmente) quase não conhecermos nenhuns dos nomes dos grupos ou solistas presentes é talvez a maior qualidade deste programa. Quer dizer que em muitos dos casos é a cultura desses artistas e dos seus povos que nos visita, em vez dos "produtos" de marketing de outros festivais, em que tudo tende a ser cada vez mais igual e em que os grandes motivos de interesse para os programas de TV da especialidade, serão como já vai sendo hábito, as manias das vedetas, as exigências parvas, etc, etc, etc.
Ah... e como me lembrou o leitor que me "provocou" este post, o Festival ainda não acabou e Sines não é longe...

domingo, 20 de julho de 2008

Caetano Veloso, Bethânia e Dona Canô


Caetano Veloso nasceu há quase 66 anos, perto de Salvador da Baía. Quatro anos depois nasceu Maria Bethânia, sua irmã. São dos mais miúdos (há um mais jovem) de uma ranchada de sete irmãos, filhos do amor de "seu" José Telles Velloso e Dona Claudionor Vianna Telles Veloso, que para facilitar, toda a gente chama apenas Dona Canô.
Dona Canô já leva mais de 100 anos de uma vida cheia, a maior parte dela ouvindo cantar estes seus "filhotes". Por mais extraordinário que possa parecer, ainda gosta... :)
Para quem possa ter ficado com a impressão (errada) de que eu não engraço com Caetano Veloso, aqui fica um vídeo dos três, Caetano (babado) apenas a ouvir a "mana caçula" cantar para a mãe (que vai cantarolando) a canção de Dorival Caymmi "Oração da Mãe Menininha", dedicada à (talvez) mais famosa Mãe de Santo do Candomblé, exactamente a Mãe Menininha do Gantois (diz-se "gantuá"), figura muito interessante da resistência pela preservação das tradições e da "dignidade negra", o que chegou a levá-la à prisão.
É um grande momento em que a ternura corre livre, tal como a música. Bom Domingo!

O vídeo foi descaradamente surripiado ao blog "Pronome Possessivo", da escritora Rita Ferro.

"Oração da Mãe Menininha" 
Caetano, Bethânia e D. Canô
(Dorival Caymmi)


sábado, 19 de julho de 2008

Festa da Alegria 2008




A organização da "Festa da Alegria" de Braga, que este ano retoma a sua vida, teve a simpatia de me convidar para visitar a sua festa, com bilhete e tudo que está aqui na secretária a rir-se p'ra mim. Obrigado!
Por uma mistura de razões de trabalho e de ordem privada, não me é possível deslocar-me a Braga para a passagem dos trinta anos de um evento político-cultural da maior importância para a região e não só, pois é difícil explicar por palavras a maneira que os bracarenses e minhotos em geral têm de receber os "forasteiros" que ali vão, seja do Sul do país ou da Galiza.
A "Festa da Alegria" está ligada a algumas das minhas melhores memórias enquanto cantor e pessoa, feitas de histórias fantásticas envolvendo o Carlos Paredes, o Adriano Correia de Oliveira, o Manuel Freire, etc, etc, etc...
Nada está perdido. Não faltarão ocasiões de ir à grande festa de Braga em futuras edições, quem sabe, para fazer aquilo que os cantores como eu devem ir lá fazer, que é ir para um palco, cantar.
Uma parte "interessante" dos visitantes deste blog foram para lá. Eu, é como se lá estivesse...
Obrigado, amigos e boa Festa!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Nelson Mandela - Parabéns!



Este homem, ao contrário de tantos outros, não estava destinado a ser mais um "preto" quebrado e destruído pelas prisões do regime racista (até há bem poucos anos) da África do Sul.
Este homem, contra todas as expectativas e mesmo sem a solidariedade dos "grandes países democratas", que sempre preferiram fazer os seus negócios com os racistas e criminosos no poder, resistiu décadas na prisão, conquistou a sua liberdade e com a ajuda de muitos camaradas de luta que em alguns casos pagaram com a vida o seu sonho, arrastou toda uma nação com ele.
Este homem, Nobel da Paz, ex-presidente do seu país, amado por milhões de pessoas e respeitado e admirado ainda por muitos mais, só muito recentemente saiu da lista de "terroristas" que os Estados Unidos da América elaboram para gerir, condicionar e fazer avançar os seus negócios sujos pelo mundo.
Aqui, lamento informar que "concordo" com os EUA. O espírito e a força que anima homens como Nelson Mandela, sempre tiveram o condão de aterrorizar canalhas como Bush, os seus antecessores na Casa Branca, no Pentágono e na CIA... mais os seus cúmplices/criados estrategicamente espalhados pelo mundo.
Nelson Mandela chegou hoje aos noventa anos de idade! Parabéns!!!

José Saramago - Casa dos Bicos



Dando de barato que as declarações públicas de Saramago nos dias pares agradam a uns e incomodam outros, acontecendo exactamente o contrário nos dias ímpares, que alguns o odeiam mesmo sem saberem muito bem porquê e outros que o "adoram", têm os livros todos na estante mas pouco mais leram deles que os títulos, a notícia de que a Fundação do escritor se vai instalar em Portugal, mais precisamente na Casa dos Bicos, é uma boa novidade.
Para Saramago, porque tudo o que nesta altura da vida do autor de "O ano da morte de Ricardo Reis" (o meu preferido) venha ajudar a atenuar a mágoa constante em que deve ter vivido durante estes já demasiados anos de desamor, é mais que justo.
Para Portugal, porque nem toda a gente se satisfaz com Futebol & Fátima, Lda, e portanto, mais uma alternativa culturalmente interessante nunca é demais, além de que um Prémio Nobel e a sua Fundação devem estar no seu país.
Para a Casa dos Bicos, porque já era tempo de aquela estranha e original casa quinhentista, de vida tão cheia de histórias como de atribulações, ter finalmente um regresso à vida, respirar cultura, ser visitada, ser útil.
Parabéns a quem teve a visão de avançar com este projecto, apesar da pequenez dos eternamente "anões por dentro"  que com desculpas mais do que esfarrapadas, votaram contra
Curiosamente, os comerciantes e demais vizinhos da Casa dos Bicos, mesmo que seja para vender mais uns tantos almoços por dia ou umas peças de artesanato, estão bem mais contentes com a notícia do que alguns dos seus lamentáveis representantes políticos e dão as boas-vindas à ideia.
Venha pois a Fundação Saramago, mais os seus livros, documentos, memórias, animação cultural, gente genuinamente interessada, curiosos... e muitos turistas.
Parabéns, Lisboa!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Robin Hood (ou dos bosques...)



Pintarroxo Esfarrapado

Sabendo que esta coisa do "Robin" é uma palavra inglesa, fiz o que pude para encontrar uma tradução decente para português. O melhor que consegui arranjar depois de batalhar com vários dicionários on-line (como se pode ver na imagem), foi este "pintarroxo esfarrapado".
Reconheço que esta tradução não vem melhorar em nada a situação de José Sócrates e a sua genial medida (que ninguém leva a sério, muito menos as petrolíferas) a tal medida "Robin dos Bosques". Para quem estiver mais esquecido desta personagem, convém lembrar que:
1. É uma figura de ficção.
2. Lembra imediatamente um bando de homens a correr alegremente pelos bosques... em collants.
3. Implica a utilização de frases feitas onde as palavras roubar e assaltos estão sempre presentes.

Se isto não é "pôr-se a jeito"...
Quem no seu juízo perfeito escolhe este nome para uma medida governamental?
Portanto (mais uma vez) a culpa não é minha!...

Guillermo Rivera Fúquene, assassinado!



Da esquerda para a direita.

Guillermo Rivera Fúquene:
Colombiano, trabalhador da "Contraloria de Bogotá" (organismo de controlo fiscal e de gastos de dinheiros públicos que muito deve incomodar os corruptos que estão no poder), dirigente sindical, comunista.
Foi visto vivo pela última vez em Abril, depois de levar uma filha à escola, altura em que segundo testemunhas e câmaras de vigilância, foi forçado e entrar num carro da Polícia por homens ao serviço do presidente Álvaro Uribe. Depois destes cerca de três meses de sequestro, apareceu agora, abandonado na rua. Assassinado!

Ingrid Betancourt:
Franco-colombiana, oriunda da alta burguesia da Colômbia, ex-senadora, ex-candidata presidencial, ideologicamente algo vagamente "verde" e liberal.
Sequestrada (infelizmente) durante a campanha eleitoral, por guerrilheiros das FARC, há seis anos, apareceu agora, libertada (e ainda bem) numa operação (extremamente mal contada) pretensamente protagonizada pelo seu novo herói, exactamente o presidente-assassino Álvaro Uribe.
Foi vista recentemente recebendo a "Legião de Honra" francesa, das mãos do presidente Sarkozy. Está bem, de saúde, e feliz junto dos filhos e demais família.

Qual foi afinal a grande diferença no percurso destas duas pessoas?
Guillermo Rivera tinha a origem social, actividade profissional, militância e ideologia... completamente "erradas" e que juntas numa só pessoa, num país sob as patas do narco-assassino presidente Álvaro Uribe... são uma mistura mortal!
Só em 2008, já foi mortal para mais 28 sindicalistas colombianos, assassinados pela polícia e para-militares de Uribe.

Não lerão nada disto em jornais nem verão em televisões, mas em alguns (poucos) blogues que saem do rebanho, podem ler sobre isto, com mais referências, acesso a documentos, etc, como por exemplo (os que não menciono por desconhecimento, que me desculpem), no "Cravo de Abril", "O Castendo", "O Cheiro da Ilha", "O Tempo das Cerejas", o "Anónimo do séc.XXI", "Mar sem Sal", "Que diz o pivô", "Blue Velvet", "Troll Urbano", "Aldeia Olímpica", "Catrina", "Aldeia de Paio Pires"...  se souber de mais, irei acrescentando.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Os "escolhos" de Marcelo



O programa da RTP "As escolhas de Marcelo" era patrocinado por uma empresa de produtos farmacêuticos (Generis). Digo era, porque ao que parece, embora algo recalcitrante, a RTP vai retirar o patrocínio do programa.
A ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) moveu um processo à estação de televisão (e não só...) por achar que aquele programa de comentário político está no grupo de programas de televisão que estarão proibidos de serem patrocinados por empresas privadas. Acha a ERC e acha qualquer pessoa de bom senso.
O professor Marcelo Rebelo de Sousa confessa-se melindrado pelo facto de não ter sido informado, diz estar totalmente de acordo com a ERC e afirma "Tive muita sorte em nunca ter falado da Generis!". 
E teve mesmo! Dificilmente se livraria da fama de receber umas "luvazitas" por fora...
Apesar de estar tantas vezes em desacordo com as opiniões que Marcelo Rebelo de Sousa exprime no seu programa, não me custa muito acreditar que a sua posição neste assunto é sincera. O que me custa a "acreditar" é que uma estação pública de televisão não compreenda que o patrocínio por uma empresa privada de um programa onde fundamentalmente se faz comentário político, é totalmente inaceitável e tenha ainda a lata de questionar a decisão da entidade reguladora.
Será que na RTP já tudo pertence à rubrica do "entretenimento"?

Rápido como o raio...



Tão lesto como me foi possível, lá fui tirando umas fotografias, durante a palestra de Vítor Constâncio, sobre o estado da nossa economia, economia essa que não pára sossegada, ora andando para os lados, ora andando para trás, ora avançando vertiginosamente... como podem ver pelas duas únicas imagens nítidas que consegui, tal é o frenesim...
Igualmente frenética é a torrente de informações que brota do cérebro de Constâncio a uma tal velocidade, que se não fossem as doses cavalares de calmantes que toma antes de fazer estas comunicações, não apanharíamos uma só palavra, quanto mais uma ideia. Assim a coisa fica insuportavelmente analgésica, mas entende-se praticamente tudo.
A função deste governador tem sido basicamente a de estender a passadeira para as medidas do governo avançarem devidamente "justificadas" pelo Banco de Portugal, mesmo quando vem apenas confirmar coisas que já todos sabíamos e que só o governo não admitia, mas atendendo a que o que um Governador de um banco central pode fazer realmente de decisivo num país integrado na Zona Euro não justificaria nem metade do ordenado que Constâncio ganha no Banco de Portugal, para "merecer" o resto do gordo vencimento o homem tem de fazer estes fretes a José Sócrates.
Ficamos assim a saber que o crescimento vai ser bastante menor do que o "previsto", que a inflação vai ser bastante maior do que a "prevista" e que a existirem variações nestas novas "previsões" será sempre para ainda pior.
A reter, fica a recomendação de nem pensar em baixar impostos, de nem pensar em fazer uma actualização intercalar dos vencimentos daqueles milhares de portugueses que já por vários anos consecutivos vêem o seu poder de compra baixar por serem liminarmente intrujados exactamente quanto à inflação "prevista". Poucas horas depois lá estava na televisão o genial Sócrates confirmando que realmente, "aumentos agora nem pensar pois isso iria prejudicar justamente os que precisam"... (confesso que esta não "apanhei" na totalidade).
Como excepção numa tarde de revelações e previsões negras, uma única boa notícia. Segundo o imparável Constâncio, esta altura é a ideal para o governo lançar reformas e tomar medidas ainda mais restritivas e gravosas, pois dada a dura e generalizada crise, as pessoas podem "compreendê-las melhor".
É essa a chave da questão. Não temos compreendido devidamente os nossos esforçados governantes!

terça-feira, 15 de julho de 2008

Crimes de guerra




Por vezes há notícias assim... que nos sobressaltam. A novidade desta era o facto de pela primeira vez o Tribunal Penal Internacional, pela mão de um dos seus promotores, fazer a acusação pública e respectivo mandado de detenção a um presidente ainda em exercício. (Eh, pá! É obra!...)
A acusação, como seria de esperar, prende-se com a guerra, muitos milhares de mortos, a maior parte civis, centenas de milhares de deslocados, crimes de guerra vários, genocídio, torturas, violações dos Direitos Humanos...
Cada vez mais animado e a fim de fazer uns tantos telefonemas para os amigos e ir buscar umas cervejas, embora sem perceber por que raio não constava da acusação um dos argumentos mais importantes, ou seja, o facto de a guerra ter sido declarada com base em argumentos mentirosos, portanto falsos pretextos, reparei para minha grande desilusão que afinal a notícia se referia a Omar Al-Bashir, presidente do Sudão e não a George W. Bush, presidente dos EUA. Santa ingenuidade!...
Moral da história: 
Ler as notícias com os "óculos" certos é fundamental.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Neoliberais da treta




Embora não avançando para a nacionalização, como chegou a ser falado, o governo dos EUA, por intermédio do seu Banco Central, foi acudir a entidades de crédito privadas, injectando-lhes os milhões de dólares necessários para não fecharem as portas, na sequência dos verdadeiros crimes que estas e outras praticaram contra as economias dos cidadãos provocando uma "bolha" que só rebentou porque como quase sempre, tiveram mais olhos que barriga.
Assim que as referidas instituições de crédito estiverem já a salvo e novamente a dar milhões, "aqui del rei, que há estado a mais e o estado não tem nada que meter o nariz nas empresas privadas, etc, etc"...  a mesma reza que lhes ouvimos aqui, só que com o nome pomposo de "Compromisso Portugal".

Isto vem apenas confirmar que mesmo na pátria dos "Chicago Boys", dos "Milton Friedmans", dos "neoliberais", dos "neocons", ou como se quiser chamar a estes alegres defensores e praticantes do capitalismo mais selvagem, esta gente é tão inútil, nociva e parasita como em qualquer parte do mundo.
Se não estivéssemos a falar de canalhas que são capazes de arruinar a vida a milhões de pessoas sem pestanejar, se isso lhes der algum lucro, daria para rir, de tão patético.

Agora eu tocava violoncelo e tu, violino...


Todos os sobrinhos adoravam aquela excêntrica tia já velhota, que dizia sempre coisas muito diferentes dos outros tios e dos pais. Numa tarde de brincadeira em que todos confidenciavam o que "iam ser", bombeiros, professores, médicas, cientistas, cabeleireiros... 
A velha tia reparou no franzino Itzhak, sentado numa pequena cadeira de rodas e perguntou-lhe "e tu, o que vais fazer?". E o pequeno Itzhak, muito concentrado, "Vou crescer e ser um grande artista!". A tia abriu um sorriso como um sol e disse uma das suas famosas frases, "Meu filho... acho que não podes fazer as duas coisas!..."
A história não se passou nem com este Itzhak Perlman nem com Yo-Yo Ma, duas crianças grandes que brincam ainda "a ser grandes artistas", e se esqueceram de "crescer".
Por vezes quando os ouço tocar, regresso nem sei bem aonde e fico lá... sentado de olhos e ouvidos escancarados... um miúdo.
"Humoresque" - Itzhak Perlman e Yo-Yo Ma
(Antonin Leopold Dvorak)


domingo, 13 de julho de 2008

Caetano Veloso ao Domingo




Se houvesse, por absurdo, que escolher entre o Chico Buarque e o Caetano Veloso (ainda bem que não!), cá em casa sem dúvida ganhava o Chico. Ao contrário deste, que desde "A banda" até aos discos que irá ainda fazer, consegue vender-me sem dificuldade as obras completas, o Caetano sempre me "obrigou" a colocar na beira do prato uma grande quantidade das suas canções, por vezes quase discos inteiros, não por razões musicais, mas por alguns dos temas pelos quais sempre se interessou, desde a fase muito "hippie", até aos vários misticismos, esoterismos e etc, tão do agrado de grande parte dos brasileiros e alguns portugueses.
De qualquer modo, como todo o grande autor e compositor, quando Caetano Veloso resolve pousar os pés na Terra e fazer uma "canção de intervenção" é capaz de o fazer com grande arte e o tremendo estrondo que se pode escutar nesta extraordinária versão do seu "Haiti", uma espécie de murro no estômago vestido de versos.
Entre as várias versões possíveis, todas boas, escolhi esta por ter um arranjo musical do Jaques Morelembaum (o homem do violoncelo) que "é obra"!
Como de costume, leiam, ouçam, vejam... em separado ou tudo ao mesmo tempo e digam coisas... 
Bom Domingo!


Haiti
(Caetano Veloso)

Quando você for convidado pra subir no adro da
Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro possam
estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque com a pureza de
meninos uniformizados
De escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô
E se você não for
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer qualquer
Plano de educação
Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua
sobre um saco brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

"Haiti" - Caetano Veloso
(Caetano Veloso)

sábado, 12 de julho de 2008

Nervos de aço



Para quem não conhece, Vital Moreira é um senhor de Coimbra de que eu, de vez em quando (mas mesmo muito de vez em quando) falo aqui, quase sempre para comentar alguma coisa que tenha escrito no seu blog, comentários esses que faço invariavelmente com as mais nobres intenções. 
Vital é o que se pode chamar o "Abrilhantador Oficial da Corte".
Vital é um sábio que adora dizer coisas. Desta vez, analisando a crise que assola toda a Europa, com o crescimento em níveis medíocres, os mercados financeiros de pantanas por culpa, entre outros, dos trafulhas americanos que para fazer uns dólares rápidos, atiraram para as ruas da amargura milhares de famílias, à força de créditos à habitação de contornos absolutamente criminosos, a subida imparável do preço do petróleo, provocada pela instabilidade no Médio Oriente, que os poucos que ganham com isso se vão encarregando de atear ainda mais, políticas erradas em catadupa, etc, etc... resolveu partilhar connosco a sua catedrática convicção de que só se safarão neste contexto os raros dirigentes políticos que tiverem "nervos de aço" como... (adivinharam!) José Sócrates!
Fica-se com a impressão de que Sócrates é assim uma espécie de governante metalizado. Ele por um lado é "o menino de ouro", por outro, tem "nervos de aço", de uma forma geral é dono de uma "lata" de dimensões bíblicas...
Chamem-me pessimista, se quiserem, mas eu cá não sei não!... Com os oceanos de água que este governo mete constantemente, não auguro nada de bom para o aço dos nervos do homem.
A menos que tenham a intenção de o cromar... 
Ei!!! Ó mentes tortuosas! Eu disse "cromar"! (mas que coisa!...)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Ingrid Betancourt e a "outra" Betancur




Os poderosos "holofotes" de propaganda apontados à agora ainda mais mediática figura de Ingrid Betancourt, passados que são os mais que justificados momentos de felicidade junto da família e amigos, mostram-nos com estrondo que a ex-refém iniciou uma "cruzada" pela libertação (que se deseja) dos restantes homens e mulheres retidos na selva pelas FARC. Para isso, ainda não se sabe se vai utilizar peças de teatro, livros, filmes, séries de televisão, peregrinações a Fátima para somar à peregrinação a Lourdes, se tudo ao mesmo tempo... mas vê-se que a actividade é frenética. Curiosamente, talvez para não aborrecer o seu mais recente "ídolo, herói e benfeitor", o narco-fascista e mandante de assassinos Álvaro Uribe, Ingrid continua a não ter uma palavra para os muitos milhares de colombianos que foram já assassinados por Uribe e seus antecessores e para as suas famílias (muito menos selectas que a sua!...), nem para os milhares de presos políticos que o presidente mantém nas suas prisões, nem para os milhares de "desaparecidos", que só muito raramente aparecem e quando o fazem... é enterrados em valas comuns.
Todos faríamos bem em desviar a vista da brilhante luz dos holofotes que estão sobre Ingrid Betancourt e olhar à volta... para a realidade de um país controlado pelo negócio da droga, pelos assassinos das forças "para-militares", por forças militares regulares e de polícia minadas pela corrupção e ao serviço do capacho da CIA, Álvaro Uribe. 
O que posso fazer hoje para ajudar é, por exemplo, copiar aqui a seguir o post publicado por Vítor Dias, no "O tempo das cerejas", já que é possível alguns dos meus leitores não serem visitantes do seu blog (o que é pena).


E agora solidariedade com

outra Betancur colombiana

(e seu marido)


Uma vez mais graças a uma preciosa informação do meu amigo e camarada Carlos Almeida, é importante que se saiba: nestes dias de regozijo pela libertação de Ingrid Betancourt, há uma outra mulher colombiana também com esse mesmo apelido - só que escrito Betancur (por ser hispânico e não afrancesado) - de seu primeiro nome Sónia que, desde 22 de Abril, vive horas, dias, semanas e meses de angústia e de dor com a sua pequena filha Chiara Rivera.
É que, desde aquela data, não sabem do paradeiro, estado ou situação de Guillermo Rivera Fúquene, seu marido e pai, comunista e membro do Polo Democrático Alternativo que governa o munícipio de Bogotá, e ainda e sobretudo Presidente do Sindicato dos funcionários da autarquia da capital do país.
Foi visto pela última vez no já referido dia 22 de Abril, às 6.30 da manhã, numa rua do bairro «El Tunal» onde tinha ido levar a filha à escola, em Bogotá, onde reside. Uma testemunha e câmaras de video instaladas no local atestam que foi abordado por um grupo de agentes policiais e foi forçado a entrar num carro da Polícia Metropolitana.
Apesar de todas as iniciativas da família e dos seus companheiros e dos apelos de organizações sindicais internacionais (ver aqui comunicado e carta a Uribe da ITUC (International Trade Union Confederation), quatro meses depois do seu desaparecimento, as autoridades dependentes do Presidente Álvaro Uribe não prestam nenhum esclarecimento cabal sobre este drama (que se deseja não se transforme em mais um crime.)
Daqui lanço um apelo sincero à expressão de formas de solidariedade com Sónia Betancur que permitam salvar a vida de seu marido e do pai da pequena Chiara Guillermo Fúquene. E conto, daqui por 15 dias, poder informar os leitores de «o tempo das cerejas» do número de blogues que se referiram a este assunto.
(Publicado por Vítor Dias, em 10.07.08)