Com a aproximação das autárquicas o país prepara-se para ficar cada vez mais inundado de propaganda de candidatos do PSD que, nestas eleições, optam por cartazes cobardes, onde os símbolos do partido mal se distinguem, tal é o incómodo que lhes causa o actual estado do PSD... ou que nem têm identificação alguma, como é o caso deste que aqui vemos, em que o músico, autor e cantor Luís Represas dá a cara (e algumas justificações), como mandatário, por Pedro Pinto, um histórico do PPD-PSD. Também já foi de Fernando Nobre, lembram-se?
O caso geral dos cartazes “envergonhados” não me convoca particularmente. Revelam apenas a verdade de que o ser humano é um organismo muito “complexo”.
No caso deste cartaz em particular, sinto exactamente o mesmo. A sinuosa “carreira” do Represas algum dia haveria de passar por esta estação.
Este texto poderia parar aqui, atendendo a que o Represas tem o direito de apoiar quem quer, quando quer, e seja de que partido for... já que, pelo menos que eu saiba, nada o liga a qualquer organização partidária... só que não foi a opção pessoal do Represas que me fez escrever sobre o tema.
O que me convocou nesta estória foi o sururu que a divulgação do cartaz e a notícia do apoio provocaram nas redes sociais. O súbito espanto, choque e escandalizada reacção dos, presumo, antigos e habituais consumidores de “Trovante” é que me deixou algo perplexo. Ora deixa lá ver...
Então, quando os “Trovante” (há muitos anos!) passaram a integrar novos elementos, nalguns casos com origens na direita “pura e dura”, que rapidamente começaram a “ensaiar” com os elementos originais a velha peça teatral do “tudo isto te darei se me adorares”, mostrando-lhes as maravilhas do mercado que havia fora dos concertos e “cantos livres” onde eles tinham nascido e crescido... não houve nenhuma luz de alerta que se acendesse?!
Então, quando pouco mais tarde o João Nuno Represas, o único que ainda se mantinha (e mantem) ligado aos comunistas, foi expulso dos “Trovante”... por razões “musicais”... não soou nenhum alarme?!
Então, quando já a solo, as canções do Represas passaram a ser aquilo que hoje são... não tocou nenhuma campainha?!
Na verdade, tudo não passa de história antiga! Só não sabia quem não estava mesmo informado, uma minoria... e quem, mesmo vendo, opta por fazer de conta que não vê a verdade inconveniente, na ingénua tentação de que, assim, nada aconteça.
Disse eu (ironicamente e a quem de direito) aquando da recente e copiosa homenagem ao grupo em “horário nobre” da Festa do Avante, que foi uma maneira engenhosa que a organização encontrou para garantir que o Represas, pelo menos durante os 45 minutos de permanência no palco, não estaria a dizer horrores do PCP e dos comunistas, como é seu timbre há muitos anos e em quase toda a parte.
Seja como for, nem isso é surpreendente. A forma como o artista em causa fala dos “camaradas” e o tom insolente das “bocas” que produz (infelizmente já o presenciei num palco em que a esmagadora maioria do público, que o aplaudia, era comunista), para além da tal confirmação da “complexidade” do ser humano, é também o clássico comportamento dos “cristãos novos” que, como se sabe, conservam para o resto das suas vidas a necessidade doentia de negar e enxovalhar o seu passado, juntamente com as pessoas que dele fizeram parte.
Adenda: O meu gosto por algumas das canções dos “Trovante” (feitas pelo Luís Represas ou não) não se alterou ao longo dos anos. Não se alterará agora!