Dificuldade de governar
Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar.
Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente.
Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida.
Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra.
E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.
E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica.
Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses:
Quem, de outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados?
E que seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.
Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.
Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?
Bertolt Brecht
(Tradução de Arnaldo Saraiva)
Como podemos ver, Bertold Brecht já nos tinha explicado, há muitos anos e como só ele sabia, a grande dificuldade que é governar. Agora foi a vez de Cavaco Silva dar o seu contributo, explicando a um miúdo, durante uma visita a uma escola, que talvez ainda mais acima da dificuldade de governar esteja a enorme dificuldade... de coordenar. Disse ele, depois de uns exemplos tirados do futebol, em que jogam só onze, por contraste com os dez milhões de portugueses, que «é preciso milhares de pessoas a coordenar, uns são Presidentes da República, outros são membros do Governo, outros são presidente de Câmara», acrescentando ainda que existe como que «uma mão invisível a fazer a coordenação».
Afinal o homem é muito bom! Acho que raramente terei ouvido uma definição tão boa de capitalismo.
11 comentários:
Este teu post acompanhado pelo poema do Bertolt Brecht é uma das melhores críticas à farsa destes mandantes. Queria ver onde os países iriam parar sem o esforço extrordinário do povo trabalhador desde o pedreiro ao engenheiro. Mas para se chegar a uma aceitação de igualdade e necessidade de todos é necessário muita luta entre as contrdições existentes na sociedade.
Um beijo.
Selvático e de estado.
Afinal é mesmo muito bom,até comparou as multinacionais a Deus que,como todos sabemos,se tivesse feito bem o mundo também vivia nele.
Cordial abraço,
mário
Não me importava de conhecer os 'outros' presidentes da república...
De Brecht já sabemos, continua mais-que-actual...
Abreijos.
E o miúdo, o miúdo? Mandou-o a algum lado?
Ainda bem que há Cavaco! Onde iríamos encontrar um bronco assim?
Tinha um colega e amigo, Leal de seu nome, que dizia que não havia definição para Brecht. Brecht É. Assim o definia. Brecht é actual, lúcido, profundo na visão da sociedade. Ele não morreu, bem o querem matar. Nós não deixaremos. O Cavaco explicou-se bem e até deu razão a Brecht: Cavaco tem ficuldades , de governar, de coordenar, de gerir, de saber...Então, que raio fazem eles lá? Nós sabemos e eles também!!!
But, we shall overcome, some day.
Abreijo
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Mais: no futebol é mais fácil porque «é só um a mandar»...
Um abraço.
Grande poema de Brecht...
Fernando Samuel:
Evidentemente! Qundo é "só um a mandar"... é sempre a "aviar".
Tu és dos que se lembram muito bem disso...
Abraço.
Afinal, governar/coordenar/mandar, é tudo uma questão de "mão"?
... e eu a pensar que, com a mão era só masturbação...
Rui Silva
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