Entendo pouco de ministérios da Cultura. Depois de Abril, os sucessivos governos centristas do PS e do PPD-PSD, aqui e ali com umas pinceladas de CDS, adoptaram para com a Cultura uma atitude que, embora não sendo já a atitude do Estado Novo, tem sido , para dizer o mínimo, bastante fria. Os sucessivos governos do “centrão” têm nutrido pela Cultura sentimentos que oscilam entre o simples desprezo e o medo... com uma ou outra pincelada de ódio.
Uma dos indicadores para avaliar a sua concepção sobre importância da Cultura na vida do país é, por exemplo, o facto de, o mais das vezes, nem existir sequer Ministério da Cultura, mas apenas Secretaria de Estado.
Quanto aos ocupantes dos cargos de ministro, ou secretário, podemos encontrar de tudo. Desde, de um lado, nomes como João de Freitas Branco, David Mourão Ferreira, ou mesmo Vasco Gonçalves (que delegou funções em Rui Grácio), até ao lado oposto, bem no extremo da indigência, cromos como João de Deus Pinheiro, Vasco Pulido Valente, ou mesmo a anedota Pedro Santana Lopes e o seu “sub” Sousa Lara amestrado.
Se entendo pouco de ministérios da Cultura, então do mundo dos seus subsídios, financiamentos e apoios, não entendo rigorosamente nada. O meu ramo de “negócio” musical, embora tenha quase exclusivamente que ver com a Cultura, possui “características” que desde há muito o desqualificaram para que mereça qualquer apoio teórico, quanto mais concreto!
E assim chegamos à actual ministra da Cultura, da qual, embora eu confesse ainda só conhecer a bonita cara e dois ou três discursos “bonitinhos”, já há uma classe quase inteira de criadores artísticos a divergir ruidosamente.
Entramos aqui no que me parece ser o ponto fraco de Gabriela Canavilhas: lidar com a divergência. Há poucos dias, vi-a no Parlamento respondendo de forma malcriada a uma deputada eleita, coisa que ela não foi (embora haja ministros que foram a votos), declarando, agreste, que tendo já respondido a não sei o quê mais de mil vezes... «Talvez a senhora deputada precise que eu lhe faça um desenho!» (disse ela de mão na anca, arriscando uma “lesão” na dita ainda mais grave do que a do Deco). Discutia-se o novo e grande investimento na cultura prometido pelo mentiroso compulsivo que faz de primeiro ministro, investimento que, claro... subiu para baixo!
Na sequência destas dificuldades orçamentais, ou outras, o Director Geral das Artes, Jorge Barreto Xavier, apresentou (pela segunda vez) a sua demissão. Nesta segunda tentativa, não só o seu pedido de demissão foi aceite, como teve direito a um comunicado do MC, em que é absolutamente arrasado, tratado de incompetente e incapaz para o cargo. Como o cargo é de nomeação, não se entende porque é que tanta “incompetência para o exercer” não tinha ainda resultado na sua demissão, mas por iniciativa da ministra, que é, obviamente, responsável política pelos resultados dessa alegada incompetência.
Não tenho a menor condição de saber das qualidades ou defeitos do agora auto-demitido Director Geral. Sei é que os termos em que é redigido o comunicado do MC são de uma má criação que não sei se foi vista antes em documentos oficiais do Estado. Diz a ministra que «é com grande satisfação» que aceita a demissão do Director Geral. Podia perfeitamente poupar o país a mais este número de revista rasca, auto-satisfazendo-se em privado, quero dizer, demitindo ela o colaborador - já que era tão mau - e poupando-nos à descrição das suas “satisfações”.
Vem isto mostrar que, por vezes, mesmo os pés mais inesperados fogem vertiginosamente para a chinela... ou que existem razões que a razão desconhece... constantemente a provocar estas "zangas" públicas.
8 comentários:
Com a Cultura entregue em mãos assim não há quem a safe.
Abreijos.
Ontem, a minha neta, Adriana, trouxe-me um video da passagem do Samuel pela sua escola, em Queluz, a Padre Alberto Neto. Então esqueci as Cana... qualquer coisa ou os canas, antes ou depois, tanto faz. Foi bom ouvir!
Maia:
A passagem por essa escola foi uma experiência extraordinária... que me fez muito bem!
É uma daquelas coisas que acrescentam dias à vida...
(Não suspeitava que existisse um vídeo...)
Abreijo.
Um MC e uma ministra assim não auguram nada de bom...E em pouco tempo coneguiu o inimaginável: uma extensa classe artística em protesto. O Director Geral das Artes, constou-me, era mais do que competente e só se demitiu por discordar das políticas praticadas e por não poder aplicar o que se tinha proposto pelas muitas limitações do ministério.
Quanto ao comunicado da sra ministra... uma vergonha! Malcriada, baixa, vil...
beijos,
Mais um caso típico da política de direita...
Um abraço.
Para Ministra da Cultura portou-se de maneira nada culta!!!!!!!
UM beijo.
A Gabriela Conavilhas é bestial.
Cultura é a palavra mais abrangente, em qualquer Cultura que se preze.
Ela é transversal e não sectária, Ela unifica e glorifica o ser Humano, Ela é intemporal , Ela é Universal.
Quão insignificante o demagogo mandatado "representante" infeliz inculta senhorita.
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