quarta-feira, 2 de julho de 2008

Crítica "literária" 2




Por estes dias viu a luz mais um insulto à memória de Humberto Delgado, em forma de um livro com o título de "O Exitus de Humberto Delgado". Defende a "teoria" de que Delgado foi morto pelos oposicionistas ao regime de Salazar e tem sido acompanhado por grande foguetório nos sites e blogs ditos nacionalistas. 
O novo livro vai buscar o seu grande rigor histórico ao facto de se basear em depoimentos e experiências pessoais... de agentes da PIDE. Para se avaliar a independência e imparcialidade do autor, um tal João Gomes, este é também o criador e administrador do site "Salazar, o obreiro da pátria" (não coloco o link, porque não quero).
Como hoje tirei o dia para fazer estes dois posts de crítica "literária", o que este triste episódio me sugere está bem claro neste excerto de um poema de Ary dos Santos:

"Foi como se não bastasse
tudo quanto nos fizeram
como se não lhes chegasse
todo o sangue que beberam
como se o ódio fartasse
apenas os que sofreram
como se a luta de classe
não fosse dos que a moveram.
Foi como se as mãos partidas
ou as unhas arrancadas
fossem outras tantas vidas
outra vez incendiadas."

É nestas alturas que por vezes, momentaneamente, me assalta uma grande raiva e penso "rais parta a revolução das flores que deixou à solta e a rir esta espécie de canalhas"... mas depois, rapidamente passa, olho para as minhas amigas e amigos, mergulho nos seus olhos, vejo o amor com que fizeram e fazem a História... e volta, serenamente, este apreço e ternura pelos Cravos de Abril.

15 comentários:

MonteMaior disse...

Ora aqui está um bom exemplo de utilização de fontes históricas fidedignas e isentas.

Esta gente não era para estar ainda a apodrecer numa prisão?

Infelizmente não é só do Humberto Delgado que esta escumalha diz que foi morta por oposicionistas do regime.

Já agora escrevam também um livro a dizer que a pide era boazinha e defendia os cidadãos.

Porcos

Maria disse...

Arepiei-me.
E comoveste-me...
Um abreijo, daqui

Maria disse...

Não, não são 5.16, aqui são menos 4 horas e andei nas comemorações da independência da Bahia... :)

Anónimo disse...

isto está ao nível do Partido Sabujo que nos governa.

Fernando Samuel disse...

É muito belo e comovente este teu texto - belíssima e cheia de significado a forma como «volta, serenamente, este apreço e ternura pelos Cravos de Abril».
Abraço amigo.

(quanto ao livro: infelizmente está muito na moda fazer «história» tomando como base verdadeira as declarações de ex-pides. E não é apenas esta escumalha fascistóide que o faz: veja-se o exemplo de Pacheco Pereira que sempre que tem que optar entre a versão da PIDE e a da resistência, opta pela primeira)

Lídia Craveiro disse...

Por vezes distraio-me destas coisas. Fui pesquisar na net e encontrei uma infinidade de sites com referencias ao "Dito Obreiro".
Fiquei mais preocupada. Nunca é demais por estas coisas a nu para que as gerações actuais saibam quem é esta gente, e para que não votem neles.
Abril sempre!

Lúcia disse...

Samuel: de tudo o que dizes, saliento apenas um aspecto: não foi feita justiça neste país. Não consigo conceber que ande gente à solta com sangue nas mãos num país livre, democrático. E quando assim é, a Hitória fica mal resolvida.
Beijos

ferroadas disse...

Ele Humberto Delgado não foi assassinado com um ou mais tiros, foi espancado à paulada até à morte, o que torna o crime mais odiento.
Em relação aos "brandos costumes" dos nossos revolucionários de Abril, ficou por esclarecer a "fuga" de alguns assassinos. Estes andam por aí como nada se tivesse passado, vêm à TV "esclarecer" que não sr., nunca torturamos nem matamos ninguém, apenas dava-mos umas bofetadas sem importância e para verem que é mentira tudo o que os comunistas dizem de nós, até somos condecorados pelo Cavaco.

Espero que um dia a história nos diga porquê.

Abraço

Anónimo disse...

Ainda um dia vem um Cavaco qualquer com a sua suprema sabedoria afirmar que no tempo de salazar os comunistas divertiam-se a prender-se e a matar-se uns aos outros. Não tinham mais nada que fazer!...

XICA disse...

BRAVO! Mais uma vez, fico sem palavras, mexe connosco, sobretudo o ultimo parágrafo.

Anónimo disse...

Conheci um camarada mais idoso que eu,que quando faláva-mos da PIDE, tinha este desabafo "poupa o teu inimigo, e ás mãos lhe irás cair"
Não quero dizer que eles possam voltar!
Mas podem ser criadas novas personagens! ASAE 1 ASAE 2 ASAE 3

amigona avó e a neta princesa disse...

Meu querido Samuel tenho estado ausente e vim ler-te num fôlego! Obrigada por me comoveres...obrigada por me fazeres feliz!
Abreijos

linhadovouga disse...

Quantas vezes esse desejo de que as coisas tivessem sido mais, digamos, claras no 25 de Abril não nos assalta o espírito... Mas é como dizes: olhando para as pessoas, amigos e camaradas, que fizeram a revolução concluimos que só podia ser assim, e que ainda bem que assim foi. As revoluções que tivermos que fazer terão sempre cravos pelo meio.

Susete Evaristo disse...

Sem palavras pois não sei exprimir o sentimento que me suscitaste.
Beijos

Anónimo disse...

E se fosses ler o livro primeiro, à faccioso!
É que vocês, esquerdanhetas, são assim, facciosos!
O livro não assenta promordialmente em testemunhos mas em factos! E esses estão lá todos!
E não percebo esse gosto por Delgado, se condenas quem gosta de Salazar! Delgado foi o seu primeiro apoiante, basle ler o que escreveu em "da pulhice do homo sapiens"
Mas não esperam pela demora e talvez até tenhas vergonha do que escrevestes quando provas e testemunhos mais contudentes até incriminarem alguns que andam por ai a dar nas vistas como aruatos da liberdade!
E já agora, Ary dos Santos, era um poeta muito sensivel, defendia a ponta esquerda, mas frequentava e dava-se com os ditos fascistas, ou não sabes? E do dia 25/4 até ligou aos amigos da Direita, os ditos do regime, a dizer que se a coisa corresse mal à esquerda para eles o defenderem, e que se lhe correse bem ele os protegia. Enfim, o Ary no seu melhor